16 DE DEZEMBRO DE 1906 – RIO DE JANEIRO: BANDARILHEIROS PORTUGUESES ALEXANDRE VIEIRA E ALFREDO DOS SANTOS SÃO OS BENEFICIADOS DA CORRIDA (na imprensa brasileira)


 

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Touradas

Com uma tarde sem sol e enfarruscada, realizou-se hontem a festa artistica dos sympathicos bandarilheiros Alexandre Vieira e Alfredo dos Santos.

O publico, que conhece a maestria e coragem com que esses dous artistas trabalham, concorreu á festa, levando regular asistencia ao elegante amphitheatro.

O programma da corrida constava de lide de oito cornupetos dos afamados granadeiros (NOTA: ganaderos ou ganadeiros?dos Srs. Estevam Augusto, Marquez de Castello Maior e D. Caetano de Bragança.

O gado, de typo egual e bem alimentado, nada deixou a desejar, sobrésahindo por sua bonita lamina (NOTA: lámina) os quarto e sexto, que deram joego (NOTA: juego) e demonstraram bravura.

Simões Serra, que sejonéo (NOTA: rejoneó) o primeiro bicho á sós e o quinto em competencia com o seu collega José Bento (de Araújo), cravou cinco ferros em cada um. No primeiro, nada de notavel pôde fazer, dados os resabios de seu adversario, recebendo todavia, justos applausos por seu difficil trabalho. No segundo esteve regular, recebendo um testaraso (NOTA: testarazo) o cavallo que montava.

José Bento (de Araújo) enfeitou a féra com dous bons ferros largos.

Os espadas, toureando de cepo, estiveram activissimos e mostraram a sua fina escola e maestria.

Machaquito collocou um par a cambio admiravel, (talvez o melhor da temporada) meio su sitio (NOTA: en su sitio?) e um cuarteando superior.

Segurita marcou com elegancia e arte cambio, mas sahiu sem conseguir cravar as bandarilhas. Em seguida, metteu um par a cuarteo superior, sahindo com toda a limpeza e mais um meio par bom.

Os dous diestros foram muito applaudidos e recolheram charutos e cigarros.

Manuel Pinheiro esteve infatigavel durante toda a corrida, trabalhando bem e fazendo diversos quites esplendidos.

No trabalho com as bandarilhas esteve melhor que nas tardes anteriores, cravando tres pares e meio muito acceitaveis, recebendo no final do trabalho um trompicon sem consequencias.

Muito de proposito deixamos para o final da resenha os nomes dos beneficiados. Ambos elles, tanto Vieira como Santos, trabalharam muito bem e mantiveram-se na altura de seus reconhecidos meritos.

Alexandre Vieira, no primeiro touro que lhe coube, cravou dous pares magnificos á cuarteo e dous meios pares muito regulares.

No segundo touro, em competencia com Santos, metteu um par á sahida da gaiola, tendo um ligeiro trompicon e par e meio em su sitio, sendo muito applaudido.

Santos enfeitou o morrilho do seu primeiro touro com dous pares encarnados muito bons, mettendo os braços, como manda a arte. Em seguida, metteu mais dous, um aproveitando, bem regular e outro a meia volta, muito bom.

No touro, cuja lide foi feita em competencia, metteu Santos um par a cambio de primeirissima, e par e meio acceitaveis.

Com a capa, os dous sympathicos toureiros portuguezes estiveram acceitaveis, trasteando desde muito perto e com frescura, apezar de um tanto deselegantes, por não parar os pés, como manda a arte.

Em meu fraco juizo, o trabalho de Santos foi mais luzido do que o de Alexandre Vieira, apezar de ter este maiores conhecimentos taurinos e mais arte.

Santos dispõe de taes pernas, que, correndo, é uma perfeita bicycletta desenfreada, tem musculos de aço e a sua agilidade, incomparavel. Graças a essas condições, como que sahiu quasi sempre com garbo das differentes sortes que executa.

Sacarey e Lisboa fizeram duas pégas muito boas.

No touro para curiosos o Sr. José Antonio Claro foi o felizardo que conseguiu pegar os 50$000 offerecidos pela empreza.

Em resumo: a tourada foi boa e o publico sahio satsfeito.

Justo Verdades.

In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro – 17 de Dezembro de 1906