27 NOVEMBRO DE 1898 – RIO DE JANEIRO: UMA TOURADA DIFERENTE... (na imprensa brasileira)


 

Biblioteca nacional do Brasil


Poema sobre as niñas toreras com honras de Primeira Página...
(NOTA: No século XIX apareceram em Espanha cuadrillas de señoritas toreras, que actuaram, por exemplo, nas praças de Espanha, França, Portugal, Brasil, Argentina e Uruguai. Eram matadoras, picadoras ou rejoneadoras. Em 1908, deixaram de poder participar nas corridas de touros. A proibição decretada pelo ministro Juan de la Cierva só foi respeitada durante uns tempos. Romero, citado no poema, era o director da cuadrilha hispano-francesa que se deslocou em 1898 ao Brasil.)

Tourada de amadores

Brevemente terão os frequentadores da praça das Laranjeiras occasião de assistir a uma bellissima festa.

Um valente grupo de rapazes da nossa melhor sociedade dará, em dias do mez de novembro proximo, a exemplo do que commummente se faz em Portugal, uma tourada, á antiga portugueza, em beneficio de uma das nossas instituições pias.

Acha-se á frente desse emprehendimento um aficionado, notavel clinico desta capital, que honrará com sua presença a cadeira da intelligencia.

A julgar pelo enthusiasmo que desde já se nota no circulo dos amadores e graças ao valioso auxilio que, com a gentileza que os caracterisa, prestam a esses distinctos moços os directores de cuadrilla que actualmente trabalha naquella praça, os estimados cavalleiros Alfredo Tinoco e José Bento (de Araújo), auguramos a essa festa o mais brilhante exito.

Opportunamente daremos noticia mais desenvolvida, com os nomes de todos os que tomam parte na tourada.

In O PAIZ, Rio de Janeiro – 27 de Outubro de 1898


ESTUDANTINA ARCAS

Ao toque da alvorada começou antehontem de encher-se o salão desta sociedade.

A’s 6 horas da manhã, uma salva de 21 tiros acordou os moradores da praça General Osorio, que correram ás suas janelas e portas para ver o prestito da estudantina que se organizava.

Antes da partida o grupo executante, sob a regencia do professor Demetrio Silva, tocou magistralmente bella phantasia sobre o hymno da Carta, sendo ao terminar levantados calorosos vivas á estudantina.

Dado o signal, movimentou-se o prestito em direcção á rua da Conceição, onde se achavam os quatro bonds especiaes da Companhia S. Christovão para transportal-o á Tijuca. Pelo trajecto foram erguidos muitos vivas, estrugindo continuadamente os foguetes de salvas.

O bond da frente levava o rico estandarte da sociedade, guardado por socios do grupo executante; o 2º carro transportava as senhoras e os dois ultimos conduziam convidados e representantes da imprensa.

Muitos socios abriram a marcha cavalgando soberbos animaes, emquanto que outros preferiram fazer a tournée montados nas suas velozes bicylettes, garridamente enfeitadas com fitas de cores.

No largo do Estacio de Sá incorporaram-se á comitiva alguns socios e convidados retardatarios, elevando-se o numero dos excursionistas a mais de duzentos, dos quaes um terço, pelo menos, era de garrulas senhoritas em toilettes adequadas ao agradavel passeio.

Em frente á residencia do socio Adelino Moura, á rua Conde de Bomfim, parou o grupo, zendo-lhe servido gentilmente vermouth e varios licores.

Deste ponto á estação terminal da linha da Tijuca foram todos, socios e convidados, enthusiasticamente acclamados á sua passagem.

Eram 9 horas da manhã quando deu-se o signal da partida para a Boa-Vista, occupando a imprensa um char-à-banc, o estandarte do grupo um vis-á-vis e as demais pessoas os carros electricos da empreza. A’s 9 horas e 40 minutos faziam alto, apeando-se todos na casa n. 5, em que devia ser servido o almoço.

Emquanto uns procuravam a sombra das grandes arvores, os caminhos pittorescos que vão ter ás formosas cascatas que gozam da fama tradicional pela belleza imponente das suas crystalinas aguas, que se desfazem nos cachopos em nuves tenues, um grupo de socios improvisava uma tourada, a promettida surpreza de que rezavam os convites.

Em minutos estava feito o circo com as suas archibancadas e os seus camarotes para a imprensa e as senhoras.

Ao meio-dia foi servido o almoço, que, por ser abundantissimo, resistiu aos ataques da comitiva, cujo appetite se exarcebava ainda mais com os passeios a pé.

A tourada, o clou da festa, esteve soberba, provocando do começo ao fim estrepitosas e francas gargalhadas do publico.

A fiera, um animal bravio como os diabos, deu sortes esplendidas, marrando a valer os capinhas, arremettendo furioso para os cavalleiros (NOTA: Alfredo Tinoco e José Bento de Araújo) e peões que a muito custo conseguiram enfeitar o bruto com alguns pares de ferros n’um dos quaes por gentileza da troupe se lia — Viva a imprensa.

Afinal o touro, muito cansado, foi pegado á unha, subjugado completamente pelos peões e capinhas, deixando como trophéos aos seus lidadores a cabeça e os quartos desmantelados. Terminada a funcção, os socios Alvaro Augusto de Souza e Carlos Tavares lembraram-se de juntar o util ao agradavel.

Fizeram uma collecta entre os espectadores, rendendo as duas colchas a quantia de 50$, que foi elevada pelos socios Alberto Coelho Junior, presidente da estudantina, e José de Vasconcellos, a 60$000.

O total foi confiado ao nosso collega representante da União Portugueza, que o fará chegar ao seu destino — á Caixa Beneficente Theatral, em cujo beneficio esmolaram os socios.

In O PAIZ, Rio de Janeiro – 29 de Novembro de 1898