14 DE JANEIRO DE 1906 – RIO DE JANEIRO: UMA ESTREIA DE SUCESSO (na imprensa brasileira)



SPORT

Touradas

Soberba estréa, magnifica mesmo, a estréa da cuadrilla de José Bento (de Araújo), no redondel do Campo de Marte, attrahindo uma concurrencia extraordinaria, enthusiasta, como que a tomar a desforra desses dias aguados em que os aficionados execravam um tempo sem luz, triste, roubando-lhes horas de intensas vibrações, de vivas emoções, de vivas emoções.

Sol, sombra e camarotes regorgitavam.

E de permeio o claro-escuro dos trajes masculinos, as côres alacres das toilettes femininas.

Anciosa espectação a do publico nos momentos que precedem o toque do clarim para as cortezias.

Subito resôam as notas estridulas sahidas da intelligencia; rompe a banda de infanteria de marinha um dobrado; e surge na arena a cuadrilla, garbosa, provocando o enthusiasmo, a custo sopitado, da assistencia.

Feitas as continencias, como de estylo, começam as touradas.

Sáe o primeiro touro para José Bento (de Araújo).

Com a galhardia costumeira, José Bento (de Araújo), depois de offerecer a sorte á officialidade da canhoneira Patria, que de um camarote assistia ao espectaculo, colloca-se na querença.

A féra, fogosa, salta para a arena, mas, nega-se á sorte.

Foi, porém, só dessa vez; pois, o cavalleiro citava o touro, entrando-lhe no terreno afoitamente, ??????  ?????? (NOTA: Texto ilegível) ferros, dos quaes dous curtos, cada qual mais bem posto, irradiando alli Alexandre Vieira e João de Oliveira, os quaes, após algumas sortes infelizes, puzeram, o primeiro dous pares a rigor, muito bons e o Oliveira tres pares excellentes, o que lhes valeu palmas bem merecidas.

Pechuga e Malagueño lidaram o 3º touro.

Já é sabido serem ambos artistas de real mérito, pelo que não se lhes póde levar a má conta a falha de algumas sortes. Comtudo, Malagueño enfeitou o bicho com dous soberbos pares de bandarilhas e Pechuga com um.

Vieira, com extraordinaria precisão e raro brilhantismo, fez o salto de vara, sorte que offereceu á imprensa e aficionados.

As pegas nesta primeira parte estiveram magnificas.

O 2º touro, com pé a valer, não consentiu que Jacaré se lhe arrimasse as armas; por tres vezes não pôde o Jacaré aguentar o derrote do cornupeto. Só o Aureito (???) conseguiu fazer uma péga valente.

O Cabeça tambem fez uma optima péga do 3º touro.

Após o intervallo seguiu-se a 2ª parte, e póde-se dizer, talvez a mais emocionante.

O cavalleiro Morgado de Covas  veiu para arena em bello cavallo negro e, após as continencias, em que offereceu á imprensa a sorte, foi para o cite ao touro que lhe era destinado.

Bem raramente vimos cavalleiros de táo boa estrella, o que alliado á indiscutivel maestria de Morgado, contribuiu para o real successo que hontem teve.

Morgado enfeitou o cornupeto com dous ferros largos a meia volta e com quatro curto (???) mais, com uma gargalhada, que mostrou reconhecer a assistencia levantando-se enthusiasmada a applaudil-o. Foi uma consagração de artista se della ainda carecera Morgado.

Puntaret e Cruz despertaram ruidosos applausos pela limpeza e inexcedivel correcção do trabalho.

O primeiro fez a sorte da cadeira com ferros curtos, e que lhe mereceu uma verdadeira ovação.

Cabeça fez uma excellente péga.

O ultimo touro, um malhado vivo, esperto, foi lidado por José Bento (de Araújo) e Morgado de Covas.

Ambos se houveram com a galhardia que já conhecemos, enfeitando a fera com ferros largos e curtos.

José Bento (de Araújo), sempre de bom humor, provocando risos e applausos, Morgado, ardoroso, sorridente, foram alvo de constantes applausos.

Como se vê, foi auspiciosissima a estréa do José Bento (de Araújo).

E por ella é de augurar-se novos successos, devendo fazer sua apparição domingo 21, a arrojada toureira La Reverte, que de um camarote assistia a funcção de hontem.

In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro – 15 de Janeiro de 1906