8 DE AGOSTO DE 1896 - BRASIL: O CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO NUMA CORRIDA DO RIO DE JANEIRO


Touradas no Rio de Janeiro

Na virada do século XIX para o XX, esses eventos atraíam centenas de espectadores


As touradas tiveram origem nos países da Península Ibérica. Mas se espalharam pelos territórios colonizados, onde passaram a ser praticadas nas mais diversas modalidades. No Brasil, o espetáculo se difundiu especialmente no fim do século XIX, quando existiam várias “praças de touros”.

Praça de Touros do Rio de Janeiro (ao fundo da rua Ipiranga, no bairro das Laranjeiras).

A chegada de José Bento de Araújo e Alfredo Tinoco, famosos cavaleiros tauromáquicos, atraiu grande público para as touradas e deu novo impulso a essa festa que começava a cair no gosto da população brasileira, principalmente da carioca.

Foi na capital da República que as touradas fizeram mais sucesso. Na Divisão de Periódicos da Biblioteca Nacional, há diversas publicações que atestam o status que a atividade ganhou com a vinda dos toureiros portugueses. O sucesso fez com que elas passassem a ser notícia em vários jornais da época, culminando, em 1896, com o lançamento do periódico Sol e Sombra, que refletiu o entusiasmo dos cariocas. Apresentando-se como um “órgão da arte tauromáquica” e uma “folha para ricos e pobres – se ricos e pobres quiserem dar por ela 200 réis”, o jornal mencionava o crescente interesse dos cariocas pelo “vibrante divertimento hispano-lusitano” e celebrava o êxito da empreitada:

... se só agora o Rio de Janeiro consente em assistir a touradas e se já vai a elas com a mesma alegria e a mesma impaciência do público português e espanhol nas tardes destas funções inteiramente suas, – é porque o Rio de Janeiro só agora pode assistir a verdadeiros torneios e perceber a graça bizarra e todo o encanto deste divertimento popular, porque só ele tem o condão estranho de confundir, no mesmo momento, o entusiasmo do homem rude do povo com o do mais correto homem do mundo.

O semanal crítico-literário A Bruxa também tratou do assunto em suas páginas. Com texto de Olavo Bilac e ilustrações de Julião Machado, a publicação fez eco ao entusiasmo do público ao divulgar a “importante corrida de touros” ocorrida no sábado, dia 8 de agosto de 1896. A partir de então, A Bruxa passaria a publicar os croquis das touradas. O periódico Dom Quixote, de Ângelo Agostini, também noticiou os eventos, com direito a ilustração do próprio pintor.

Assunto de muita discussão, as touradas fazem sucesso até hoje nos países ibéricos. Aqui no Brasil, a prática perdeu força ao longo dos anos, mas se manteve viva em países como Peru, México, Guatemala e Equador. Uma das formas mais tradicionais dessa prática consiste em atrair o touro com o agitar de uma flanela vermelha (muleta) para golpeá-lo com uma bandarilha – haste de madeira com um arpão na ponta – quando ele se aproxima. O touro é atraído e golpeado sucessivamente até o golpe final, que o leva à morte. Os aspectos violentos e sádicos do ritual angariaram opositores de várias organizações protetoras de animais e estimularam o surgimento de organizações internacionais contra a prática de touradas, que fazem campanhas anuais de conscientização em várias cidades do mundo.

Fabrício Alexandrino

FONTE: Revista de História, Brasil.