31 DE DEZEMBRO DE 1905 - RIO DE JANEIRO: TOURADA NA VÉSPERA DA CHEGADA AO BRASIL DA MATADORA ESPANHOLA, QUE VAI INTEGRAR A QUADRILHA DO CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARÁUJO (na imprensa brasileira)


 

Touradas

No dia 1 de janeiro, deve chegar ao nosso porto, a bordo do vapor Danube, a celebre matadora María Salomé, La Reverte, que vem com destino á cuadrilla do cavalleiro José Bento (de Araújo) e que com certeza vem fazer no Rio um successo egual ao que tem feito em toda Europa.

No dia 31 estréa no Campo de Marte a cuadrilla de José Bento (de Araújo), fazendo estréa nessa mesma tarde o cavalleiro Morgado de Cóvas, que pela primeira vez vem ao Brasil.

In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro – 26 de Dezembro de 1905

NOTA: La Reverte actuará na tourada de dia 21 de Janeiro de 1906.

31 DE DEZEMBRO DE 1905 – RIO DE JANEIRO: CORRIDA DA PASSAGEM DE ANO COM TOUREIROS ESPANHÓIS E PORTUGUESES (na imprensa brasileira)


 

Touradas

Para o proximo domingo, 31 de dezembro, annuncia-se a estréa da cuadrilla tauromachica, dirigida pelo cavalleiro José Bento de Araujo, artista de sobra conhecido e applaudido incondicionalmente, pelo nosso publico.

Na corrida de estréa apresentar-.se-á pela primeira vez ao nosso publico, o cavalleiro Morgado de Cóvas, artista ainda muito novo, mas com uma coragem excepcional para o toureio.

Para a mesma cuadrilla deve chegar a esta capital, em principios do mez de janeiro, a celebre espada Maria Salomé «La Reverte», cujo valor artistico tem feito o maior successo em toda Europa.

In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro – 24 de Dezembro de 1905

Dois retratos de María Salomé “LA REVERTE
FOTOS: Diario de Almería

NOTA: 

O artigo “¿María o Agustín? El torero travestido que engañó a España durante 20 años en las plazas más importantes”, publicado por Israel Viana no jornal ABC, conta a história de “LA REVERTE”.

Pode ser lido aqui: 

https://www.abc.es/historia/abci-reverte-torero-travestido-engano-espana-durante-decadas-pero-hombre-o-mujer-201903040215_noticia.html

“SENÉS. ¿Hombre o mujer?”, publicado no Diario de Almeria por Antonio Sevillano, narra a história de “LA REVERTE”.

Pode ser consultado aqui: 

https://www.diariodealmeria.es/almeria/SENES-Hombre-mujer_0_1615038724.html

O artigo “Mujeres Toreras - Noventa años de feminismo” de DULZURAS, publicado na edição de 15 de Julho de 1909 de LOS TOROS, também resume os percursos de algumas mulheres toureiras espanholas, incluindo o de María Salomé Rodríguez Tripiana “LA REVERTE”, que acabou, segundo aquela revista madrilena, por ter de refugiar-se em Portugal.

O texto da LOS TOROS (páginas 13 e 14) pode ser lido no sítio da Biblioteca Digital de Castilla y León aqui:

https://bibliotecadigital.jcyl.es/fr/catalogo_imagenes/grupo.cmd?path=10100916

28 DE OUTUBRO DE 1905 – RIO DE JANEIRO: CHEGADA DO CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO E DA CUADRILHA IBÉRICA (TOURADAS EM SÃO PAULO E NO RIO DE JANEIRO)


 

Touradas

Acha-se nesta capital o cavalleiro José Bento de Araujo, que trouxe uma excellente cuadrilla, que vae trabalhar no Campo de Marte.

O cavalleiro José Bento (de Araújo) esteve hontem na redacção do Jornal do Brasil, dizendo-nos que a cuadrilla é de primeira ordem e que antes de trabalhar aqui vae dar quatro espectaculos em S. Paulo.

A cuadrilla compõe-se dos seguintes artistas:

Cavalleiros, José Bento (de Araújo) e Victor Marques; matador, Joaquim Peres Pechuga; bandarilheiros, Eduardo Cerco Puntaret e Antonio Bargo Malagueña (hespanhoes). João de Oliveira e Alexandre Vieira (portuguezes).

Com esta cuadrilla veiu o celebre touro Capirote, com o seu domador Manuel Gentil, que depois de bandarilhal-o, o desembolará e com o mesmo bravissiimo touro comerá á mesa.

Vêm mais 18 touros e cinco cavallos.

— E’ amanhã que se realiza no redondel do Campo de Marte, o festival artistico do cavalleiro Victor Marques e do bandarilheiro José da Costa.

Na secção competente vae publicado o bello programma desta tourada.

A los toros!

In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro – 28 de Outubro de 1905

BELO PROGRAMA

27 DE NOVEMBRO DE 1904 – RIO DE JANEIRO: ABERTURA DA NOVA PRAÇA DE TOUROS DO RIO DE JANEIRO COM ACTUAÇÃO DE CAVALEIROS PORTUGUESES


 

SPORT

Tauromachia

Inaugura-se hoje o novo redondel, recentemente construido no campo de Marte.

E’ director technico da empreza o cavalleiro Adelino Raposo.

A’s 4 ½ horas da tarde, abrir-se-á a corrida, na qual serão lidados bravissimos e corpulentos  touros do criador portuguez sr. Emilio Infante da Camara.

A cuadrilla é habilmente constituida e fará sortes das mais atrevidas e arrrojadas.

O intelligente da corrida será o sr. Olympio Mesquita.

Não percam os aficionados tão attrahente corrida.

In JORNAL DO BRASIL, 27 DE Novembro de 1904

NOTA: A arena foi edificada no local onde existia a praça das Laranjeiras.

11 DE DEZEMBRO DE 1903 – LISBOA: A VISITA OFICIAL DO REI DE ESPANHA AFONSO XIII A PORTUGAL INCLUIU UMA TOURADA COM SEIS GRANDES CAVALEIROS


 


O REI DE HESPANHA EM PORTUGAL

Tourada de gala

A tourada, que seria um dos mais bellos numeros do programma, se não estivessemos em pleno inverno, teve que ser adiada por causa do máo tempo, e só se realizou dous dias depois do dia marcado e estando ainda em risco de ter que se eliminar do programma.


O temporal que desencadeou em Lisboa na noite de 11 para 12, destruiu quasi por completo a brilhante e original ornamentação da praça, que foi substituida por outra, á ultima hora.

Ainda assim, apezar de tantos contratempos, a praça offerecia um aspecto encantador, com os seus centenares de colchas de varias côres, em setim, velludo e damasco a guarnecerem os varandins dos camarotes e dos fauteuils, com seus monstruosos leques, cuja pintura representava detalhes de lides á hespanhola e á portugueza, e umas enormes pandeiretas com a effigie de Affonso XIII, guarnecendo a praça em toda a volta. Fitas com as côres nacionaes e hespanhola pendiam destas pandeiretas, davam graciosas voltas pelas cornijas da praça, e iam cahir em molhadas ao longo das columnatas.

A tribunal real de uma simplicidade encantasdora estava decorada com festões de verdura, e a varanda toda coberta de rosas brancas, amarellas e vermelhas., formando á frente uma corôa real sobre um fundo de verdura.

Em pouco tempo não se podia fazer nada de melhor, de mais original e com mais accentuado cacher hespanhol.

Quando a familia real portugueza e o seu real hospede, deram entrada no camarote, as musicas toccaram o hymno hespanhol, ouvido de pé pelo milhares de espectadores, que enchiam á cunha a nossa elegante praça, fazendo-se em seguida uma enthusiastica recepção ao monarcha hespanhol que agradecia effusivamente.

Neste momento o golpe de vista era soberbo, e assim o comprehenderam os photographos amadores e não amadores, que en grande profusão se achavam na praça, assestando as objectivas para o camarote real e outros pontos.

Pouco antes de começar a corrida, um abundante chuveiro fez com que a praça apresentasse outro original aspecto, ainda não visto, pois me parece ser esta a primeira tourada, que temos e em pleno inverno, foram os milhares e milhares de guarda-chuvas que se abriram ao mesmo tempo, parecendo a praça um enorme campo coberto de cogumelos escuros. Uma gargalhada unisona seguida de grandes oh! e ah! admirativos poz toda a gente alegre e bem disposta.

As cortezias, pela profusáo dos lidadores, luxo e garbo com que se apresentou toda a quadrilha, foi um espectaculo, que a nós já não nos surprehende, mas que devia causar a mais deslumbradora impressão no Rei niño.

As cortezias duraram 12 minutos, findas as quaes se seguiu a lide.

Os touros não primaram pela braveza, o que não é para espantar em dezembro com o frio e a pouca abundancia de bons pastos, mas o primeiro cornupeto não quiz deixar o credito por mãos alheias e mostrou o que valia derrubando o cavallo de José Bento (de Araújo), que se desmontou na quéda e atacando de tal fórma a casa da guarda, isto é, grupo de oito forcados que se acha na praça ???? barreira, que ???, para melhor se defenderem, se viram na necessidade de lhe fazer uma pega de recurso. Foi o cabo de forcados Carraça quem o pegou rijamente de cara, aguentando-lhe os derrotes e logo auxiliado pelos companheiros, safou-se da cabeça do touro, recebendo uma extraordinaria ovação pela sua valentia.


Foi este o melhor boi da tarde prestando-se á lide e dando realce ao trabalho de Fernando de Oliveira e José Bento (de Araújo).

Os outros nove bichos sahiram malessos e covardes, todos com vontade de fugir ao castigo fugindo da arena. Um delles pullou a trincheira oito vezes, fazendo tambem pular em sentido contrario os photographos, que ahi estavam com as suas machinas, o que produziu grande hilaridade na assistencia.

A tourada pois, não como tourada, mas como espectaculo deslumbrante e pelos episodios engraçados que se deram, foi um dos numeros, que mais divertiu Affonso XIII.

A’ saida, o povo fez manifestações de sympathia ao monarcha hespanhol, que agradecia tirando repetidas vezes o chapéo.

In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro – 3 de Janeiro de 1904

FOTOS DE ILUSTRAÇÃO: Alfonso ou Alfonso Sánchez García, salvo erro meu - La Ilustración Española y Americana (Madrid - 30 de Dezembro de 1903).

NOTA: Publiquei neste blogue muitos artigos sobre esta corrida que teve lugar na praça do Campo Pequeno, referindo sempre esta mesma data (11 de Dezembro de 1903).

2 DE ABRIL DE 1899 – ARLES: O CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO MENCIONADO NA CRÓNICA SOBRE O INÍCIO DA TEMPORADA NA PRAÇA DE ARLES


 

Bibliothèque nationale de France


TOROS

OUVERTURE DE LA SAISON TAURINE

EN ARLES LE 2 AVRIL

LAGARTIJILLO ET QUINITO

— LES TOROS DE TEODORE VALLE —

Enfin! voici la riante saison...

Partis de Nimes avec un ciel gris, menaçant, nous faisons notre entrée dans la bonne ville d’Arles avec un soleil splendide, où nous trouvons Mireille, très animée ce-jour là, en sa plus belle toilette printanière.

De nombreux amis do toréo s’étaient donné rendez-vous dans la cité provençale afin d’assister à l’ouverture de la saison taurine faite par les matadors Lagartijillo et Quinito, deux anciennes connaissances, qui avaient à combattre six fauves de Teodore Valle.

Le premier matador, Lagartijillo, fit sa première apparition à Nimes en compagnie du célèbre et regretté Espartero, dans une corrida où l’on fit une ovation très légitime, on pourrait même dire légitimiste, au pauvre Manuel; onc roy ne vit flotter autant de petits drapeaux blancs.


Quinito est ce jeune héros qui, par ses prouesses — le plus souvent inopportunes — sauva son directeur par un succés unique dans les annales de la tauromaquie. Il combattit, pour ses débuts, des toros de Concha y Sierra. La course fut si brillante que le public, qui vait crié: À bas Fayot! quinze jours auparavant, acclama le directeur et le caballero en plaza (José) Bento de Araujo traîna l’impresario au milieu de l’arène et lui fit faire le tour de la piste aux applaudissements et aux cris répétés de: Vive Fayot! — En ce temps-là, les écoliers de l’aficion n’avaient pas encore fait leurs études taurines.

Une belle chambrée — 10 à 12,000 spectateurs — applaudit le paseo, qui se déroule brillant, aux accents du Toréador, en garde... et voici le premier toro qui ne produit rien de saillant à signaler. Lagartijillo s’en débarrasse par deux coups d’épée et un descabello., qui lui valent quelques maigres applaudissements.

Le 2ème est expédié par Quinito avec une seule estocade d’une valeur plus que douteuse. Quinito recueille cependant de nombreux bravos pour son jeu de cape et de muleta.

Belle sortie du 3ème. Les picadors calment son ardeur guerrière par de trop nombreuses piqûres. Lagartijillo s’en débarrasse, après un travail des plus laborieux, — l’animal, à moitié mort, tenait querencia — par deux estocs très courts.

Le quatrième bicho roule un picador et jongle avec un banderillero. À ce moment, nous voyons le soleil et la lune sans éclipse, ce qui n’avait pas été prédit par nos astronomes. Quinito reçoit un mérlange de sifflets et de bravos pour trois estocades et deux essais de descabello.

Voici le 5ème, c’est le toro de la journée. Une belle et noble bête qui, dans sa course furibonde, renverse la cavalerie et après avoir chassé les banderilleros de l’arène, s’en prend aux barricades et les fait voler en éclats. Cette course est mouvementée. Lagartijillo se montre le vaillant matador des beaux jours; il terrasse la brute par une forte estocade. L’oreille lui est accordée au milieu d’une grande ovation. Cette oreille, la seule accordée dans cette corrida, est partagée entre les premières et le Club taurin d’Arles. — Mazette! quel honneur.

Le dernier toro donne une course monotone. Il est expédié par Joaquin avec une seule mais courte estocade. Quoiqu’à vaincre sans péril on triomphe sans gloire. Quinito est salué par de nombreux applaudissements.

À part le cinquième, les toros de Vallé virent la mort bien jeunes. Ils furent un peu mous. Le grand soleil d’Espagne n’avait pas encore réveillé leur ardeur belliqueuse et donné à leur sang ce bouillonnement qui fait frémir la chair dans ce combat.

MANDOLINE.

In LA CHRONIQUE MONDAINE, LITTÉRAIRE ET ARTISTIQUE, Nîmes – 8 de Abril de 1899

8 DE SETEMBRO DE 1902 – ALGÉS: O CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO É INFORMADO DO FALECIMENTO DA MULHER DURANTE UMA TOURADA EM SEU BENEFÍCIO


 

Biblioteca nacional do Brasil

PORTUGAL

Lisboa, 8 de Setembro (de 1902).

Fallecimentos. —


No Hospital Estephania a esposa do cavalleiro José Bento de Araujo, a qual sucumbiu a uma operação cirurgica.

José Bento (de Araújo) recebeu a triste noticia na praça d’Algés, ao acabar de tourear o 5º touro da corrida que se realizava em seu beneficio.

In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro – 28 de Setembro de 1902

27 NOVEMBRO DE 1898 – RIO DE JANEIRO: UMA TOURADA DIFERENTE...


 

Biblioteca nacional do Brasil



Poema sobre as niñas toreras com honras de Primeira Página...
(NOTA: No século XIX apareceram em Espanha cuadrillas de señoritas toreras, que actuaram, por exemplo, nas praças de Espanha, França, Portugal, Brasil, Argentina e Uruguai. Eram matadoras, picadoras ou rejoneadoras. Em 1908, deixaram de poder participar nas corridas de touros. A proibição decretada pelo ministro Juan de la Cierva só foi respeitada durante uns tempos. Romero, citado no poema, era o director da cuadrilha hispano-francesa que se deslocou em 1898 ao Brasil.)

Tourada de amadores

Brevemente terão os frequentadores da praça das Laranjeiras occasião de assistir a uma bellissima festa.

Um valente grupo de rapazes da nossa melhor sociedade dará, em dias do mez de novembro proximo, a exemplo do que commummente se faz em Portugal, uma tourada, á antiga portugueza, em beneficio de uma das nossas instituições pias.

Acha-se á frente desse emprehendimento um aficionado, notavel clinico desta capital, que honrará com sua presença a cadeira da intelligencia.

A julgar pelo enthusiasmo que desde já se nota no circulo dos amadores e graças ao valioso auxilio que, com a gentileza que os caracterisa, prestam a esses distinctos moços os directores de cuadrilla que actualmente trabalha naquella praça, os estimados cavalleiros Alfredo Tinoco e José Bento (de Araújo), auguramos a essa festa o mais brilhante exito.

Opportunamente daremos noticia mais desenvolvida, com os nomes de todos os que tomam parte na tourada.

In O PAIZ, Rio de Janeiro – 27 de Outubro de 1898


ESTUDANTINA ARCAS

Ao toque da alvorada começou antehontem de encher-se o salão desta sociedade.

A’s 6 horas da manhã, uma salva de 21 tiros acordou os moradores da praça General Osorio, que correram ás suas janelas e portas para ver o prestito da estudantina que se organizava.

Antes da partida o grupo executante, sob a regencia do professor Demetrio Silva, tocou magistralmente bella phantasia sobre o hymno da Carta, sendo ao terminar levantados calorosos vivas á estudantina.

Dado o signal, movimentou-se o prestito em direcção á rua da Conceição, onde se achavam os quatro bonds especiaes da Companhia S. Christovão para transportal-o á Tijuca. Pelo trajecto foram erguidos muitos vivas, estrugindo continuadamente os foguetes de salvas.

O bond da frente levava o rico estandarte da sociedade, guardado por socios do grupo executante; o 2º carro transportava as senhoras e os dois ultimos conduziam convidados e representantes da imprensa.

Muitos socios abriram a marcha cavalgando soberbos animaes, emquanto que outros preferiram fazer a tournée montados nas suas velozes bicylettes, garridamente enfeitadas com fitas de cores.

No largo do Estacio de Sá incorporaram-se á comitiva alguns socios e convidados retardatarios, elevando-se o numero dos excursionistas a mais de duzentos, dos quaes um terço, pelo menos, era de garrulas senhoritas em toilettes adequadas ao agradavel passeio.

Em frente á residencia do socio Adelino Moura, á rua Conde de Bomfim, parou o grupo, zendo-lhe servido gentilmente vermouth e varios licores.

Deste ponto á estação terminal da linha da Tijuca foram todos, socios e convidados, enthusiasticamente acclamados á sua passagem.

Eram 9 horas da manhã quando deu-se o signal da partida para a Boa-Vista, occupando a imprensa um char-à-banc, o estandarte do grupo um vis-á-vis e as demais pessoas os carros electricos da empreza. A’s 9 horas e 40 minutos faziam alto, apeando-se todos na casa n. 5, em que devia ser servido o almoço.

Emquanto uns procuravam a sombra das grandes arvores, os caminhos pittorescos que vão ter ás formosas cascatas que gozam da fama tradicional pela belleza imponente das suas crystalinas aguas, que se desfazem nos cachopos em nuves tenues, um grupo de socios improvisava uma tourada, a promettida surpreza de que rezavam os convites.

Em minutos estava feito o circo com as suas archibancadas e os seus camarotes para a imprensa e as senhoras.

Ao meio-dia foi servido o almoço, que, por ser abundantissimo, resistiu aos ataques da comitiva, cujo appetite se exarcebava ainda mais com os passeios a pé.

A tourada, o clou da festa, esteve soberba, provocando do começo ao fim estrepitosas e francas gargalhadas do publico.

A fiera, um animal bravio como os diabos, deu sortes esplendidas, marrando a valer os capinhas, arremettendo furioso para os cavalleiros (NOTA: Alfredo Tinoco e José Bento de Araújo) e peões que a muito custo conseguiram enfeitar o bruto com alguns pares de ferros n’um dos quaes por gentileza da troupe se lia — Viva a imprensa.

Afinal o touro, muito cansado, foi pegado á unha, subjugado completamente pelos peões e capinhas, deixando como trophéos aos seus lidadores a cabeça e os quartos desmantelados. Terminada a funcção, os socios Alvaro Augusto de Souza e Carlos Tavares lembraram-se de juntar o util ao agradavel.

Fizeram uma collecta entre os espectadores, rendendo as duas colchas a quantia de 50$, que foi elevada pelos socios Alberto Coelho Junior, presidente da estudantina, e José de Vasconcellos, a 60$000.

O total foi confiado ao nosso collega representante da União Portugueza, que o fará chegar ao seu destino — á Caixa Beneficente Theatral, em cujo beneficio esmolaram os socios.

In O PAIZ, Rio de Janeiro – 29 de Novembro de 1898

30 DE DEZEMBRO DE 1901 – RIO DE JANEIRO: O CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO E A NOVA PRAÇA DE TOUROS DO RIO DE JANEIRO (EM CONSTRUÇÃO)...


 

Tauromachia

— No terreno onde já houve uma praça de touros, em Villa Isabel, procede-se á construcção de um novo circo, cujas obras já foram começadas, no qual José Bento (de Araújo), com sua quadrilha, se apresentarão brevemente.


In JORNAL DO BRASIL, 30 de Dezembro de 1901

23 DE OUTUBRO DE 1898 – RIO DE JANEIRO: UMA TOURADA, POR VEZES, DIVERTIDA COM ALTOS E BAIXOS...


 

Biblioteca nacional do Brasil

A tourada de hontem

Arte?!... Ora, a Arte!... Où va t’elle se nicher? N’uma praça de touros! Póde ser que assim seja na Hespanha e mesmo em Portugal. Mas no Rio de Janeiro? Aqui, onde a Arte, não se encontra nos seus respectivos templos, por mais que a procurem, fazer questão de Arte n’uma arena toureira?

E’ catonismo dispensavel, francamente.

Dispensavel mesmo porque póde chegar ás fronteiras do injusto. Que se façam exigencias onde tudo existe apparelhado para o nom exito, e se não exhibe o que é bom é porque não querem, sim, senhor. No caso, porém, das touradas no Rio de Janeiro a boa razão manda ser tolerante.

E’ o que temos feito, é o que faremos sempre. Não deixaremos de protestar só quando houver proposito de enganar o publico ou não se tiver para com elle o respeito que elle merece. Foi o que se deu algumas touradas atraz, en que houve um pouco de infelicidade misturada com pouco caso: é o que se póde dar ainda hoje, mas só pelo facto de ter constatado do programma uma sorte que não se realizou. O publico fica justamente amolado quando lhe promettem uma coisa para muito facilmente não lh’a dar. Foi o caso da cavalleira Josepha Goni, (NOTA: J. Goñi é uma das cinco niñas toureiras) que é á ultima hora deu parte de doente.

Tudo quanto a empreza não tenha seguranças de poder apresentar não deve garantir, porque causa um enorme máo effeito; ninguem a livra da pecha de haver enganado para attrair concurrencia.

Tudo mais o publico lhe tolera, porque elle o que quer é divertir-se. Desde que haja disciplina na praça (o que aliás não tem havido: hontem, até vimos um bandarilheiro de cigarro na bocca correndo um garraio), desde que haja empenho manifesto de agradar dando bons espectaculos, o publico fica satisfeito, e dá o devido desconto ás ligeiras imperfeições, áquillo a que os aficionados muito exigentes chaman falta de Arte.

Como é que se póde ter aqui as exigencias naturaes em Hespanha e Portugal, quando aqui tudo aquillo é exotico?

O touro é importado, fazendo uma viagem que muito o quebranta, e submettendo-se a um regimem de alfalfa e milho (tudo importado) que, alliado ao acanhamento de um curral coberto de zinco, muito deve concorrer para diminuir-lhe as qualidades.

O toureiro é attrahido ao Rio a poder de ouro. A certeza de que aqui não se coroam de glorias, e o terror da febre amarela, não deixa sair dos centros tauromachicos por excellencia os artistas que ahi tem nome feito e o pão garantido; e uma quadrilha que se consiga organizar para vir ao Rio, mesmo composta de Calabaças, é uma quadrilha de forasteiros que fica onerando a empreza, só trabalha quatro vezes por mez, e está louca para se fazer de vela.

E os cavallos? Quanto soffrem aqui esses animaes, e quantos se tem perdido na praça velha e na das Laranjeiras?

E’ licito considerar tudo isto para não exigir a Arte purissima, de uma empreza que está divertindo, effectivamente divertindo, a grande massa dos espectadores.

Ahi está o espectaculo de hontem. A primeira parte correu muito satisfatoriamente. Talvez não nos deixe mal nessa asserção o incontentavel João Matheus.


Apenas o primeiro touro andou mal com José Bento (de Araújo) ou o José Bento (de Araújo) com elle. Os demais cumpriram, e os artistas cumpriram tambem. Foi uma tourada como se póde ter com tudo... emprestado, tudo vindo de fóra. E, se dos artistas se póde dizer que essa circumstancia não altera, o mesmo não de póde dizer dos touros que são profundamente alterados, e não se podem substituir com facilidade.

A 2ª parte da corrida foi a parte grotesca: niñas e Pai Paulino. pois foi ainda interessante, divertiu e divertiu muito. Felizmente foi a ultima exhibição de garraios e mulheres de calças; mas o povo que não pagou para ficar macambuzio, serio, reverente, de joelhos diante da arte, riu até arrebentar os cós das calças. Sem ousar uma pateada, regalou-se com os baldões daquellas creaturas, que por amor de alguns mil réis vão offerecer o lombo ás marradas de uns bezerrotes de sangue máo.

Cruz, um dos beneficiados de hontem, fez uma lindissima sorte de gaiola, recebendo o touro com o Lisboa aos pés, e brindando a fera com um par de ferros admiraveis.

Os applausos foram estrondosos e geraes. O rapaz ficou que não cabia em si de contente.

Logo em seguida, porém, o touro maltratou-o. Indo Cruz fazer-lhe um passe de rodilhas, o animal colheu-o, e calcando-lhe o rosto com o pesunho deixou-o dolorosamente assignalado.

Não obstante, Cruz, que fôra retirado em braços, voltou á arena querendo continuar a lide, no que foi justamente impedido pelos companheiros e pelo intelligente, que desde o 2º touro era o actor Mattos.

Cruz recebeu varios presentes e entre elles uma capa de seda; na praça mostrou-se agradecido a Pechuga, seu mestre. Morenito recebeu tambem alguns brindes.

Raposo que toureou o 6º foi muito bem succedido.

In O PAIZ, Rio de Janeiro – 24 de Outubro de 1898

16 DE OUTUBRO DE 1898 – RIO DE JANEIRO: UM ESTREANTE E TOUROS DE MUITO PÉ (ALGUNS DE POUCA BRAVURA)...


 

A tourada de hontem

Ora, ahi está uma situação difficil para o chronista das touradas. Dizer que foi uma corrida má, a de hontem, será manifesta injustiça, dizer que não foi boa, será faltar á verdade; dizer que não foi boa nem mã, nivela tudo, dá uma impressão geral de meio tom que não exprime bem o que a coisa foi.

Foi um claro escuro. Tal dia, qual tourada. O domingo esteve de sol e sombra (sem alusão); a tourada tambem teve trechos brilhantes e nevoas pesadissimas.


Começou esplendida. Oh! que bello o primeiro touro! Ou elle era puro ou não ha mais nada puro neste mundo. José Bento (de Araújo) é que montava um corcel puramente enfermo. Empedernido como o coração de um usurario. Que custo para o fazer procurar o touro! Pois, a despeito dessa arrelia, José Bento (de Araújo) castigou a fera com tres magnificos ferros largos e um curto que arrancou applausos calorosos.

Durante a lide salientou-se a diligencia de um estreante, El Martinito que, para collocar o touro segundo as conveniencias do cavalleiro, fez uns quites admiraveis. Tendo-o passado de capote, entregou-o aos moços de forcado que, obedecendo ao inteligente, empregaram mil esforços para realizar uma péga. Afinal, depois de negar-se o touro aos mais valentes forcados, arrancou para Lisboa que lhe batera palmas, e que lhe pegou muito bem.

O 2º, um bicho torrado, foi recebido por Xavier á porta do curro com um par de ferros vistosos que lhe ficaram bem postos no cachaço. Calabaça fez o que pôde. O touro era de muito pé. Xavier metteu outro par, e foi colhido; pareceu que o tombo o aniquilára, mas qual! saiu lesto e prompto, empunhando outro par de bandarilhas que metteu com muita felicidade n’uma meia volta elegantissima.

O 3º, vermelho, foi esperado pelo Rochinha que, á gaiola, fez-lhe um quiebro, e farpeou-o galhardamente.

Como o 2º este touro era vivissimo e colheu Rocha depois de um par de bandarilhas de Cruz. O rapaz, entretanto, fez de conta que aquillo não era nada e continuou a faena. O bicho levou nove ferros dos dois toureiros.

O 4º touro era no programma destinado para ser bandarilhado a sós por Pechuga, o beneficiado. Pechuga é um artista. Se não mostra o que vale é porque não está disposto physica ou moralmente, o que o póde indispor com o publico, ou porque o touro que lhe soltam não se preste para a lide. Isto foi o que aconteceu hontem. Que pena! Uma féra corpulenta que parecia capaz de pôr em prova o mais guapo artista. Pois saiu um trambolho que nem a puxar carro faria figura. Principiava o nevoeiro a sombrear a corrida.

O touro parecia duro de quartos quando corrria, feito cavallo; o touro arrancava de longe sobre o vulto e parava-se quando devia proporcionar a sorte. Burri-cego, disseram os entendidos que se classificava o touro, assim.

Classifique-se lá como quizerem, o certo é que o bucephalo deixou em talas o beneficado que não pôde fazer uma sorte brilhante; metteu-se alguns ferros á má cara; e ficou-se... vexadissimo.

Ao proprio salto da vara que Xavier procurou fazer quando elle entrou na arena faltou a perfeição que o artista costuma dar-lhe. O touro parára diante do bambú.

Depois de uns breves passes de capote, os forcados realizaram uma péga que tambem não enthusiasmou ninguem.

Depois vieram os garraios para as niñas que já toda a gente suppunha que tinham embarcado. Uma ninharia. Não vale mencionar. E’ verdade que ellas offereciam-se; mas de 4 garraios, quatro! que lhes soltaram, só o primeiro tinha laivos de bravura. Parece que ainda não embarca esta semana a niñaria. Se têm creado discipulas que lhes farão concurrencia domingo que vem!...

E diz-se, até, que a que o publico appellidou Viuva toureará á cavallo...

Para Martinito saiu um touro vermelho, tambem de máo sangue, feio, duro de quartos. Estavam infelizes os espadas! Em todo o caso, enfeitou-o; e no capote, ainda que um pouco embaraçado, mostrou que sabe o officio.

Foi pégado á unha para este touro. Depois deu um trabalhão para ser recolhido, e fez-se muita coisa mal feita.

Em seguida é que saiu o 4º garraio para as niñas que haviam descansado, entretanto.

O 8º touro coube a Morenito e ao Bernal que já naquella arena appareceu como espada. Cumpriram...

O 9º foi para Adelino Raposo que metteu uns excellentissimos ferros, saindo, porém, um pouco friamente. Não sabemos como, deixou fazer-se o silencio, e retirou-se com o fogoso corcel que acabava de lhe ganhar a vida fugindo bem do touro após um remate de garupa.

O 10º touro foi para Pai Paulino e seus companheiros. Não houve péga; não por falta de diligencia, mas porque a féra era de muitissimo pé e ludibriou todo o esforço, maltratando mesmo o pai Antonio.

A’s 6 horas e 15 minutos estava concluido o espectaculo.


In O PAIZ. Rio de Janeiro – 17 de Outubro de 1898

9 DE OUTUBRO DE 1898 – RIO DE JANEIRO: UMA CORRIDA PARA ESQUECER OU QUASE...


 

Biblioteca nacional do Brasil

A tourada de hontem

É uma cidade sem divertimentos esta do Rio de Janeiro; cidade triste, monotona, onde o povo aos domingos, não tem para onde ir, a não ser ser o Corcovado ou o Sylvestre, a Copacabana ou a Tijuca. D’ahi, dessa falta de distrações, a obsessão da politica. Todos discutem os mysterios da governação. É um emprego de ociosos. E machina-se, até o mal nessas horas de inactividade.

Por isso nos alegramos quando vemos cheia a praça das Laranjeiras para o espectaculo exotico de uma tourada. Em quanto se está ali, já não digo vendo arte (para concordar com João Matheus) mas para rir a bandeiras despregadas á vista de peripecias innumeras, riscos burlados, accidentes chistosos, e para applaudir sortes bem executados com destreza e pericia, o povo não se preoccupa com a politica nem machina maleficios. Divertimentos taes são uma verdadeira valvula de segurança... social.

Encheu-se a praça hontem, não litteralmente, mas satisfatoriamente para os cofres da Empreza. A’s 4 horas, quadrilha a postos, começou o espectaculo.


O 1º touro deixou José Bento (de Araújo) muito contrariado. O audaz cavalleiro affrontou-o sempre sem exito. Calabaça quiz despertar a attenção da féra com um par de garrochas; conseguiu apenas despertar a attenção do publico para a sua maladresse. Imaginem que metteu-lhe um dos ferros na testa... Depois quiz tiral-o. O touro deixava, ora se deixava! Tanto que deixou Morenito tirar-lh’o depois.

Rocha, El Saltador, metteu um par de bandarilhas no animal que continuou a fugir do cavallo. José Bento (de Araújo) desistiu e retirou-se da arena. O touro levou ainda alguns pares de bandarilhas de Rocha e Calabaça, sendo por ultimo pegado friamente pelo José Cabeça.

O 2º afugentou Calabaça que se postara em frente á gaiola; depois revelou-se parado e d’ahi por diante andavam Morenito, Calabaça e Xavier á procura de uma occasião para empregar os feros que empunhavam: o touro só arrancava quando os via pelas costas. Xavier, emfim, collocou bem um par. E nisso se ficou.

O 3º espantou da frente do curro El Brandão, que logo fez um cambio airoso mettendo-lhe um par de bandarilhas. Rocha foi colhido junto á trincheira pela féra que tinha muito pé. Xavier enfeitou-a muito bem com um par de lindos ferros. Cruz teve dois pares felizes. O touro era vivo e foi bem lidado. Quando ao signal dos forcados, tentaram pegar-lho á unha, rolou gente pela praça que foi um desespero. O touro não foi bem aproveitado.

Para Adelino Raposo saiu o veterano 58. Cumpriu. Levou cinco ferros largos postos a preceito, e mais um curto de quebrar. Terminada a lide, o cavalleiro appareceu na arena, e recebeu muitos applausos e flores.

Seguiram-se os garraios para as niñas. Muito tombo, muita gargalhada. Se as toureiras avançavam, fugiam os garrotes, se ellas fugiam elles avançavam. Um pagode! exclamavam os que estão se niñando para a arte das niñas, e o que querem é desopilar-se, rindo á custa de alguem.

El Pechuga teve uma faena menos brilhante do que no domingo anterior. O touro era perfeito e deu occasião, á saida, para Xavier executar o salto da vara. Os applausos que a sorte arrebatou tenta Rocha a imitar o collega; e apanhando a vara, saltou também. Não fosse elle El Saltador...

El Pechuga, depois de quatro ferros, fez a muleta e a mórte com pouco enthusiasmo.

Para Adelino Raposo saiu o 7º touro esplendido, arracando firmemente sobre o cavalleiro que o enfeitou, a seguir, com quatro ferros largos e um curto, cada qual mais excelente.

A troup Pai Paulino fechou a tourada, quando com a tarde cahia a temperatura. Muita cambalhota, muita pirueta e uma pega decidida levada a effeito pelo Zé Cabeça depois de varias tentativas do velhor preto armazem de marradas.

A’s 6 horas desciam pela rua das Laranjeiras, em carros de todos os feitios, em bonds e a pé, os tres mil espectadores da tourada.

Tres mil pessoas que passaram duas horas sem pensar nas agruras da vida.

In O PAIZ, Rio de Janeiro – 10 de Outubro de 1898