1901 - HISTÓRIAS DO CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO : "AFICIONADOS E GANADEROS : PERFIS E CRITICAS, ANEDOCTAS E CASOS PITTORESCOS" (AUTOR: JOSÉ PAMPILHO)

 
Biblioteca nacional de España


Por um triz...

    Era no Cartaxo. No velho circo tauromachico da antiquissima villa, que produz um summo de uva capaz de fazer perder a cabeça de todos os «endireitas» d'este mundo e do outro e com o qual os francezes fabricam varios typos de vinho, realisou-se n'aquelle dia uma toirada, na qual tomou parte o valente e destemido cavalleiro José Bento de Araujo.

    O impavido toireiro farpeou com denodo tres ou quatro cornupetos, que pertenciam a um ganadero, cujo nome não vem agora para o caso.

    Finda a corrida, o lavrador pediu a José Bento (de Araújo) que toireasse, á porta fechada, um cornupeto, que elle queria lanças ás vaccas. O sympathico cavalleiro accedeu do melhor grado e experimentou o tunante. Este, que não era para graças, depois de receber o ferro carregou com uma furia indomita, atirando o cavallo, com estrepito, de encontro ás taboas. O cavallo ficou magoadissimo e José Bento (de Araújo) enterrou n'uma das pernas uma lasca enorme de madeira, que lhe produziu grande ferimento. Conduzido ao hospital quizeram amputar-lhe a perna, mas José Bento (de Araújo) oppoz-se tenazmente a isso. Lá se curou, e um mez depois andava como se nada fosse. Rijo homem!

    Se os alveitares do Cartaxo, perdão, os medicos da laboriosa villa levassem a sua por diante, lá andaria o José Bento (de Araújo) por essas ruas, de perna de pau. Perdia elle e perdiam os seus amigos e a tauromachia nacional.

In Aficionados e ganaderos : perfis e criticas, anedoctas e casos pittorescos,  António Ferreira Barros (aliás, José Pampilho), Lisboa - 1901