TAUROMAQUIA
Campo Pequeno
Dirigida habilmente pelo decano dos cavaleiros, José Bento de Araujo, fez-se ontem nesta praça a festa artistica, do jovem José Casimiro, hoje um dos artistas queridos por grande parte do publico frequentador das touradas.
A casa estava literalmente cheia, retirando-se muita gente por não ter conseguido alcançar bilhete.
Por varios motivos foi alterado o programa, dando em resultado grande parte dos nossos toureiros não trabalharem como sucedeu a Daniel e Custodio, tendo os demais apenas um touro de parceria e daí haver o seguinte:
Um par de Teodoro, outro de Jorge, dois de Torres, par e meio de Rocha, dois meios de Luciano e um de Alfredo dos Santos.
O espada Isidoro Marti «Flores» (NOTA : Isidoro Martí Flores Ferrando, "FLORES" - 1884 - 1921) foi o grande sucesso da corrida, bandarilhando com tanta arte, elegancia e correcção, que não tenho escrupulo em dizer que, depois do grande «Guerrita» (NOTA : Rafael Guerra Bajarano, «GUERRITA» - 1862 - 1941), ainda não tinha visto igual ao que este grande toureiro fazia com bandarilhas.
O sucesso do trabalho de «Flores» tocou as raias do delirio, sendo ovacionado como poucas vezes se tem feito a um toureiro.
Com a muleta, mostrou apenas grande vontade de agradar, tendo comtudo alguns passos muito aproveitaveis; e com o capote esteve incansavel.
Tem cartel feito. Felicito-o!...
Agora vamos aos «festejados»: Manuel Casimiro teve no promeiro touro dois bons ferros; o primeiro comprido e um curto a rematar que foram superiores.
No nono a duo, teve um curto tambem superior.
José Casimiro, que já temos visto em tardes mais felizes, teve bela ferragem sendo o curto no touro a «duo», a fechar a lide, muitíssimo bom.
Colheu grandes ovações e muitos brindes, entre estes, um lindo cavalo arreiado, oferta segundo ouvi dizer, de um amigo.
Houve quatro boas pegas de Ventura, Antonio da Taberna, Eduardo de Santarem, e Chico Marujo, sendo este derrotado e saindo da cornea do touro, por não ter sido ajudado a tempo.
Lamento que não se tivesse consentido a Daniel e Custodio bandarilharem o ultimo touro que lhes pertencia, para ceder a vez a «Flores», que se é um grande bandarilheiro, nós tambem gostamos de vêr os nossos trabalharem, demais quando aparece coisa que os esperte...
Zépedro
In REPÚBLICA, Lisboa - 3 de Julho de 1916