11 DE NOVEMBRO DE 1906 - RIO DE JANEIRO: "CORRIDA DE PRIMEIRÍSSIMA" APESAR DA CHUVA...


 

SPORT

Tauromachia

Eram 3 horas da tarde.

No azulado Céo carioca, salpicado de brancas nuvensitas, luziam as douradas gadelhas do rubicundo Phebo.

A brisa marinha refrescava o ambiente, perfumando-o com aromas de algas, e os aficionados da soberba arte de Montes y Oliveira esfregavam as mãos de contentes.

Subito, mudou-se a decoração, as nuvensitas brancas tornaram-se nuvensonas plumbeas; o Céo, antes azul, vestiu-se de luto e o chuveiro celestial começou a funccionar...

Que lastima de tarde!

Chovia: uma chuva semi-pulverisada, lavava as caras dos poucos espectadores que occupavam as localidades o circo taurino.

Este, engalanado com escudos e galhardetes, ostentava com garridice o camarote especial, destinado ao Sr. Presidente de Republica, e a banda de musica (de não sei que regimento) amenisava o máo humor da concurrencia com alegres e escolhidas peças.

Á hora marcada no programma, occupa a cadeira intellectual o Dr. Daniel de Almeida; fazem as ceremonias rituaes os cavalleiros e começa a festa.

Impertinente chuva.

Sem ella, e com um poucohinho de sol, que inegalavel tourada!

Todos, todos trabalharam muito e trabalharam bem.


Os cavalleiros (José) Bento (de Araújo), Serra e Nobre Infante, portaram-se como tres heroes rivalisando em arte, em destreza e muita coragem.


Madame Clotilde Mejstrick ou Clotilde Maestrick, em Portugal no ano de 1890
Imagem: Câmara Municipal do Porto

Clotilde Mejstrik (NOTA: A cavaleira também é, por vezes, apresentada como Clotilde Mejstrick) trabalhou mais e melhor do que no dia da sua estréa, recebendo muitas e merecidas palmas.

Segurita e Machaquito estiveram immelhoraveis.

Em e outro, trabalhando muito toda a tarde, ganharam applausos, já pondo as bandarilhas, já passando a muleta nas respectivas féras, cambiando como Dios manda; um e outro deram soberbos passes em redondo e depecho (NOTA: de pecho).

Assim, assim é como se ganha applauso, assim se adquire reputação e fama... Olé! por los diestros con verguenza!

Vieira esteve bom, tão bom que, entre outros, pôz um par monumental. Muito bem, Chiquito!

Santos trabalhou como sempre, sympathico, mas sem a sorte de domingo passado.

Canario deixou dous pares bons e ganhou applausos merecidos; parece ter sahido em antypathia; o publico que o acclamou na estréa, recebe-o agora friamente, ironico.

A meu lado, dizia um guazonago.

«Este Canario transforma-se em arara»...

Ou quer dizer que que mais vale cahir em graça do que ser engraçado.

Pinheiro regular, só regular.

Dos moços, o Russo e Pouca Roupa fizeram duas boas pégas.


Resumo: tourada de primeirissima, e tão boa que o respeitavel publico não fez caso da chuva até o fim da festa.

Bem merece, pois, nossos applausos a empreza que soube organizar tão esplendida tourada.

Justo Verdades.

In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro – 12 de Novembro de 1906

NOTA:

A amazona Clotilde Maestrick ou Mejstrick actuou várias vezes com o cavaleiro José Bento de Araújo. 

Na tarde de domingo 3 de Agosto de 1890, por exemplo, celebrou a sua festa artística no Real Colyseu Portuense ao lado dos cavaleiros  José Bento de Araújo e Fernando d’Oliveira.

21 DE OUTUBRO DE 1906 – RIO DE JANEIRO: TOURADA COM ARTISTAS NOVOS E VELHOS, MAS TODOS BONS


 

SPORT

Tauromachia

O dia de hontem...

Ah! O dia de hontem foi simplesmente soberbo!

O sol, dourando o cume dos rochedos, ia soltando as rutilas madeiras.

Era tudo uma fanfarra jovial, estridula, alegre.

O redondel, embora estivesse como o cocuruto do José Bento (de Araújo), isto é, com alguns claros, valia ouro, pela alegria esfusiante e communicativa que lhe emprestara o sol que se dera ao luxo de ficar no alto, impassivelmente luminoso, langorosamente festivo, até ao fim da funcção.

A nota alacre dos vestuarios femininos vibrou, predominando o traje branco, a destacar-se aqui e alli nas nuvens de macambuzios que ainda têm a telha de vestuario preto.

Toilettes claras alegravam immenso aquella vastidão da praça, destacando-se uma manola trajada a caracter, con su mantilla e sus claveles... tão guapa e tan chirigotera... que nos arrrancou uma exclamação enthusiasta:

— Bemdita sea tu tierra...

Parecia que estavamos em plena Sevilha, com todos os matadores do estylo...

Mas não ha espaço hoje para divagações; vamos dar conta do nosso recado crítico.

José Bento (de Araújo), em conjuncto, esteve superior; nunca envelhece, passam-se os dias e os annos, e em vez de perder energia e pujança na dificil arte de Tinoco, rejuvenece, adquire alma e vapor, e trabalha com mais alegria do que nos seus bons tempos; José Bento (de Araújo) valerá sempre, e por muitos e muitos annos colherá palmas.

Simões Lessa deu conta do recado, com a galhardia que o distingue, embora estivesse um pouco desacertado, ao cravar dous ferros, sem partil-os. Machaquito demonstrou, palpavelmente, que não é erroneo o juizo da imprensa desde o dia em que tivemos o prazer de vel-o tourear no nosso circo tourino. Toureando, é elegante e sereno, sabe chegar á cara da féra e estender os braços. Hontem fez um preparo (???) digno de (???) e quebrou um par com as liligramas (???) que sabe fazer.

Segurita, muito bem nas bandarilhas e na sorte da muleta. É um toureiro que promette, emboraa algumas vezes perca a calma e seus nervos não o deixem ficar quiero, prejudicando a lide. Para ficar completo, falta-lhe socego... Porque não pára os pés? Receio? Não accreditamos. O muchacho vale, mais podia valer mais.

Vieira vale um thesouro, crava muito bem, estende os braços, sabe executar com ordem, a (???) TEXTO COMPLETAMENTE ILEGÍVEL A PARTIR DAQUI.


In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro – 22 de Outubro de 1906

21 DE OUTUBRO DE 1906 – RIO DE JANEIRO: “COMPETENCIA” ENTRE ESPADAS ESPANHÓIS E CAVALEIROS LUSOS


 

SPORT

Tauromachia

É de esperar para domingo, na praça do campo de Marte, a maior enchente da época, dados os attractivos de que se compõe a corrida de touros, para esse dia annunciada.

Segurita e Machaquito, os dous valentes espadas que têem conquistado os applausos do publico fluminense, trabalharão juntos no mesmo touro e parece estão dispostos a empregar o melhor do seu talento em conseguir o primeiro plano no conceito do publico.

Além disso, ha, por assim dizer, uma outra competencia entre os cavalleiros José Bento de Araujo e Simões Serra (que reapparece nessa tarde) lidando juntos dous touros da corrida, o que é sempre motivo para enthusiasmo do publico.


In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro – 18 de Outubro de 1906

14 DE OUTUBRO DE 1906 – RIO DE JANEIRO: UMA CORRIDA DIFERENTE...


 


SPORT

Tauromachia

Poucas horas mais e o elegante redondel do Mangue receberá mais uma vez os aficionados, que desta vez terão a novidade de uma alternativa, dada com todas as honras da solemnidade.

José Bento de Araujo dá hoje a alternativa a Nobre Infante e além desse attractivo haverá a segunda apresentação do bandarilheiro Canario, assim como a competencia de Segurita e Machaquito, que nos darão certamente o melhor do seu talento...


IN JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro – 14 de Outubro de 1906

14 DE OUTUBRO DE 1906 – RIO DE JANEIRO: JOSÉ BENTO DE ARAÚJO DÁ A "ALTERNATIVA" AO CAVALEIRO NOBRE INFANTE


 

SPORT

Tauromaquia

Para a tourada de amanhã teremos na Praça do Mangue a alternativa do cavalleiro Nobre Infante, ceremonia de completa novidade para o nosso publico, além da segunda apresentação do festejado Canario, que na primeira corrida em que trabalhou, conseguiu enthusiasmar a concurrencia.

Aos touros, pois e que o tempo permitta desta vez que a praça tenha uma enchente.

In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro – 18 de Outubro de 1906

NOTA: A data do jornal está errada. A primeira página de O JORNAL DO BRASIL indica que se trata da edição de “Sábbado, 18 de Outubro de 1906”.


Ora 18 de Outubro de 1906 foi uma quinta-feira. A data correcta é Sábado, 13 de Outubro de 1906. E a tourada anunciada ocorreu no dia seguinte, domingo, 14 de Outubro de 1906.

7 DE OUTUBRO DE 1906 – RIO DE JANEIRO: ESTREIA DO NOTÁVEL BANDARILHEIRO AÇORIANO LUIZ CANARIO E...


 

SPORT

Tauromachia

Se o tempo permittir, podemos desde já contar com uma corrida soberba para o proximo domingo, na praça do Mangue.

A estréa do notavel bandarilheiro açoriano Luiz Canario, só por si constituiria attractivo de primeira ordem, mas á ultima hora surgiu outro com que a empreza não contava: a pedido de diversos aficionados portuguezes, os bandarilheiros Alfredo dos Santos, Alexandre Vieira e Luiz Canario bandarilhão o celebre touro que no passado domingo desfeiteou o bandarilheiro hespanhol Manuel Lelo, facto esse que originou applausos e protestos de uma parte do publico.


In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro - 5 de Outubro de 1906

23 DE SETEMBRO DE 1906 - RIO DE JANEIRO: CUADRILHA DO CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO PROMOVE TAUROMAQUIA NOS JORNAIS ANTES DA PRIMEIRA CORRIDA


 

SPORT

Tauromachia

Fomos hontem visitados pela cuadrilla tauromachica que trouxe o arrojado cavalleiro José Bento de Araujo e que debutará domingo, na praça do campo de Marte.

— Á noite veiu pessoalmente comprimentar o Jornal do Brasil o sympathico cavalleiro potuguez Antonio Nobre Infante, moço de grande merecimento para a arte que abraçou e que, pela primeira vez, vem ao Brasil.

A sua estréa, que vae constituir a great attraction da presente tamporada, é anciosamente esperada pelos aficionados, tanto mais que o seu nome é uma garantia de pleno succcesso.

— A cuadrilla a estréar é composta dos artistas:

Cavalleiros: José Bento de Araujo e Antonio Nobre Infante.

Espadas: Antonio Segura, Segurito e Trini Perez, Machaquito.

Bandarilheiros: Alexandre Vieira, Alfredo Santos, Manuel Pinheiro, Luiz Canario e Manuel Lola.

Todos são reputados de primeira ordem, o que quer dizer que a temporada vae ser tambem de primeira ordem.


In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro – 20 de Setembro de 1906

16 DE SETEMBRO DE 1906 - RIO DE JANEIRO: VAPOR COM CUADRILHA ATRASADO, TOURADA ADIADA...


 

SPORT

Tauromachia

Devido a ter chegado hontem muito tarde, o vapor Bahia, no qual veiu a cuadrilla tauromachica do cavalleiro José Bento de Araujo, não se realiza hoje a corrida annunciada.

In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro – 16 de Setembro de 1906

5 DE SETEMBRO DE 1906 - RIO DE JANEIRO: CHEGADA DOS PRIMEIROS TOUROS...


 

SPORT

Tauromachia

Pelo vapor San Nicolas, hontem chegado, veiu a primeira remessa de touros bravos, comprados pelo cavalleiro José Bento (de Araújo) ao ganadero D. Caetano de Bragança.

Estes touros, que já se acham no elegamte redondel do Campo de Marte e que váo ser corridos nas primeiras touradas a se realizar em breve, são puros, de linda estampa e mostram, pela sua corpulencia, serem de grande poder.

In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro – 6 de Setembro de 1906

10 DE FEVEREIRO DE 1906 – RIO DE JANEIRO: A TOURADA DA SOLIDARIEDADE


 

SPORT

Tauromachia

Realiza-se hoje, na praça de touros do Barreto, uma corrida em beneficio do conhecidissimo forcado Guilherme de Santarem, que, devido a uma colhida de que foi victima em Julho deste anno, acha-se impossibilitado de trabalhar e talvez para sempre.

Nunca tiveram os aficionados de tauromachia um ensejo tão justo de concorrer a um beneficio como este.

O pobre Guilherme, que veio para esta terra ha ja alguns annos, vê-se invalido e obrigado a appelar para a generosidade dos que tantas vezes lhe applaudiram o arrojo em sua arriscada profissão.

— Em continuação da nossa noticia de hontem, podemos accrescentar que o arrojado cavalleiro José Bento de Araujo acaba de fechar contrato com o valente espada Francisco Soriano Maera (montador de verdade) cujo nome dispensa reclames á sua cuadrilla de bandarilheiros.

Por esta noticia se vê que o arrojado cavalleiro José Bento (de Araújo) não poupa esforços nem despezas para nos deliciar com uma época tauromachica de primeira ordem.

Chamamos a attenção para a assignatura que a empreza abriu e cujo annuncio vae publicado na secção competente.

In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro – 10 de Fevereiro de 1906

NOTA

É impossível decifrar na totalidade o artigo publicado na véspera.

"Por carta do arrojado cavalleiro José Bento de Araujo" ????

8 DE MAIO DE 1904 – ALGÉS: TOUROS E BALÕES


 



AEROSTAÇÃO E TAUROMACHIA

Na praça de Algés, em Lisboa, deu-se no domingo passado este interessante e surprehendente episodio aero-tauromachico: — dous aeronautas deviam subir em um balão e um moço de forcado devia pegar um touro. Pois bem, o talão subia sem os aeronautas e o moço de forcado foi ao ar sem o balão!... Simplesmente o balão subiu levado pelo vento antes que os aeronautas se mettesssem na barquinha e o moço de forcado subiu atirado pelo touro, antes de lhe fazer a pega. Surpresas da aerostação tauromachica, ou da tauromachia aerostatica!


A praça de touros de Algés.
Foto: DR

In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro – 14 de Maio de 1904

5 DE ABRIL DE 1908 - RIO DE JANEIRO: INÍCIO DA NOVA TEMPORADA


 


In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro - 4 de Abril de 1908

23 DE FEVEREIRO DE 1908 - RIO DE JANEIRO: CORRIDA DE DESPEDIDA DA COMPANHIA


 

In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro - 22 de Janeiro de 1908

19 DE JANEIRO DE 1908 – RIO DE JANEIRO: CORRIDA COM CARNAVAL À PORTA


 

SPORT

TAUROMACHIA

Como em todos os annos, o popular D. José (Bento de Araújo), que é um semi-satanaz taurino, colleccionador de pontas emboladas, ao celebrar hontem o seu beneficio, dedicou-o á destemida rapaziada que compõe a miu nobre, leal, invicta e benemerita sociedade Tenentes do Diabo.

Por esse motivo, depois apagar o fogo das paixões vulcanicas e desoccupar as “calderas” do “buffet” social, os infatigaveis endemoniados, reunidos em “apretada piña” de franca amizade, abandonaram a caverna traslandando-se ao circo taurino.

O pharol solar illuminava os camarotes onde “acampaban” as hostes infernaes, capitaneadas por Lucifer, Belzebú, Barrabás, Mephistofeles e Pero Botelho. Alli, em meio da “soldadesca endemoniada” tremulavam os invictos pendões corcados de laureis. Alli, na deserta immenidade do vento, flammejavam com epilepticas saudades as bandeiras ganhas em cem batalhas carnavalescas. Alli... soava a trombeta da Fama immortalisando os Tenentes do Diabo, e o bombo proclamando rei do ruido a “Zé Pereira”.

A praça transformada em inferno taurino, assemelhava-se ao sensual paraiso de Mafoma, e nella, aromatisando o ambiente, mostravam seus feitiços ondinas e vencidas, “enjauladas” em gazes, tules e sedas; umas, luzindo mantilhas hespanholas; outras, chapéos afrancezados; e todas nardos, dahlias e cravos engarçados entre os brancos “encajes” de seus “corpihos” (????)  vaporosos.

D. José (o eterno beneficiado) parodiando Luis XV, luzia casaca de seda negra, bordada pelas “proprias” mãos das fadas. Seu secretario particular girava-lhe em torno como a lua ao redor do sol; os “idolatras” de Euterpe (????) tocaram uma “flamenca” melopéa incandescendo o sangue dos “anacletos”, e os marinheiros norte-americanos com suas jocosas excentricidades divertiam-se a mais não poder.

Assim as cousas, occupa a presidencia do tribunal taurino, o distincto “aficionado” D. José Vieira Duarte. Lisboa, o corneta de ordens, enche os dous “carrillos” e sopra, sopra e o clarim annuncia o desfile regio “de los diestros”.

A “cavalgata anti-torera” compõe-se de uma banda de clarins, a cavallo, vestindo “trajes” infernaes; um carro “a la Frederica”, conduzindo o beneficiado, cavalleiros Morgado de Covas e Victor Marques e os bandarilheiros”Maera” e Manuel dos Santos; outro carro (de aluguel) com o resto dos toureiros que compõem a “cuadrilla” e uma pequena escolta de forcados e pastores.

Que dizer da tourada?

Sendo-nos impossivel detalhal-a, por falta material de tempo, diremos resumindo que, em conjuncto, foi superior.

Os touros lidados, excepto os sexto e ultimo, deram jogo, demonstrando bravura.


Os cavalleiros José Bento (de Araújo) e Morgado de Covas mostraram mais uma vez a arte toureira que possuem e a intelligencia e valor que transbordam, quando querem luzir.

Victor Marques fez tão pouca cousa, que não merece qualificativo.

Os espadas Villa e “Cantaritos” ambos com muitas ganas de mostrar suas habilidades, ganharam muitas palmas, merecidas, conseguindo tirar do publico carioca essa glacial indifferença com que assiste á sorte mais arriscada e difficil que tem o toureio classico.

Villa usa terno granada e ouro e empolga “dos altos, uno de pecho” e varios naturaes. “Marcando los tiempos” e “por derecho” entra a “volapié” e assignala uma boa estocada.

Passes, 6; minutos empregados na morte, 4.

“Cantaritos”, que tem “enxundia” ????  toureira em todo o corpo, veste terno tabaco e ouro; alveja com a “muleta” a cabeça do seu rival, e mais fresco qo que uma “lechuga”, mettendo o pé esquerdo, dá um passe “alto”, dous “de pecho” com a “rodilla en tierra”, um “ayudado” e varios naturaes, que enlouquecem o publico soberano, pela elegancia, aprumo e valentia com que os executa o “diestro”. “Cantaritos” entra “a matar” per???? como Deus manda e assignala, nas “agujas”, uma estocada com uma bandarilha “de a curta” ????.

Passes, 1; minutos empregados na sorte, 3.

Em bandarilhas os dous “matadores” estiveram a boa altura; Villa, com um par superior, “aprovechando”, e “Cantaritos” com outro idem “al cuarteo”.

Dos “muchachos” nada de máo se pôde dizer, pois todos cumpriram bem. “Maera”, “ ????” com um touro “guasón” e “resabiado” fez o milagre de cravar um par “al cuarteo”. Immelhoravel, “tras” e uma bonita preparação que lhe valeu palmas. Manuel dos Santos poz outro idem superior e sofffreu um “encontronazo” sahindo “volteado”, sem consequencias. Alfredo poz um par “cambiando”, archi-superior e deu um “lance” de capa no penultimo touro, como dão os mestres. Thomé cravou um á sahida da gaiola, muito bom, e trabalhou muito com o capote, “aunque” sem luzimento.

Oliveira cumpriu com um par regular e Angelo deu o salto da “garrocha” com muita limpeza.

Ferros postos. 18.

“Encontronazos” soffridos pelos cavallos, 4.

Passes de “muleta”. 13.

“Desarmes”. 00.

Estocadas assignaladas. 2.

Bandarilhas postas. 29.

Justo Verdades.

In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro – 20 de Janeiro de 1908

7 DE MAIO DE 1893 - NÎMES: MAIS UMA CORRIDA HISPANO-PORTUGUESA NAS ARENAS


 

In LA MISE A MORT, Nîmes - 6-13 de Maio de 1893

6 DE MAIO DE 1894 – LISBOA: SUCESSO DO CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO


 


Les Toros hors de France

Lisbonne (Portugal). — La cinquième corrida de l’année a eu lieu dimanche avec la cuadrilla du novillero Francisco Gonzalez (á) Faïco et le concours également des caballeros en plaza Jose Bente de Araujo et Fernando de Oliveira.

Douzes toros provenant de la ganaderia de Silva Facao ont été combattus vaillamment par le jeune matador, secondé surtout par les banderilleros Primito et Pulguita.

Le premier et le septième toros ont valu des applaudissements mérités à (José) Bento de Araujo qui s’est surpasssé dans ses exercices.

In LE PICADOR, Nîmes – 13 de Maio de 1894

20 DE AGOSTO DE 1893 - NÎMES: "GRAN CORRIDA ESPANOLA" E DESPEDIDA DO CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO COM TOURO DESEMBOLADO


 


In LA MISE À MORT, Nîmes - 19 a 26 de Agosto de 1893

1 DE JANEIRO DE 1908 - RIO DE JANEIRO: O "CARTÃO DE BOAS FESTAS" DO CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO


 

In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro - 1 de Janeiro de 1908

29 DE DEZEMBRO DE 1907 – RIO DE JANEIRO: UMA TOURADA DE EXCEPÇÃO


 

SPORT

Tauromachia

Nunca melhor do que hoje, podem felicitar-se os que sabendo apreciar as difficeis sortes da tauromachia moderna, assistem, sem perder uma, ás touradas que se realizam no redondel do Campo de Marte.

E podem felicitar-se porque nunca foi organisado, nesta capital, um programma taurino no qual figurassem tres matadores de reconhecido merito, seis bandarilheiros de fama e dous cavalleiros como José Bento (de Araújo) e Morgado de Covas.

Esse soberbo espectaculo, que hoje offerece a empreza tauromachica aos bons aficionados, demonstra mais uma vez os gigantescos esforços que a mesma emprega, no intuito de arraigar no Brasil a festa favorita dos hespanhóes e portuguezes.

É, pois, de esperar que com tantos e taes attractivos a praça de touros regorgite esta tarde, ao sól e á sombra, não deixando os aficionados um unico logar vasio, maxime se o tempo concorrer, com o seu valioso contigente, para o brilho da festa.

In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro - 29 de Dezembro de 1907


29 DE DEZEMBRO DE 1907 – RIO DE JANEIRO: DOIS LEÕES NA ARENA...


 


SPORT

Tauromachia

Vae por ahi verdadeiro enthusiasmo pela tourada de domingo, em que José Bento (de Araújo) faz lutar com um touro dous leões...

Esse touro será o ultimo do programma e, até sua sahida, terá o publico occasião de ver o trabalho digno das melhores praças européas.

Assim assistiremos duas estréas: do matador Villa e do bandarilheiro Angelo, assim como a despedida de Juan Iglezias.

Não resta pois a menor duvida de que a corrida deve resultar superior.

In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro – 27 de Dezembro de 1907

ANÚNCIO


In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro – 28 de Dezembro de 1907

22 DE DEZEMBRO DE 1907 – RIO DE JANEIRO: ENTRADA DA “FESTEJADA TOUREIRA LA PEPITA” QUE BANDARILHA MONTADA A CAVALO


 

SPORT

Tauromachia

A tourada de hoje vae ser um successo enorme. La Pepita toureia a cavallo acceitando duelo com o touro.

Publicamos na secção competente o respectivo annuncio.

In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro – 22 de Dezembro de 1907


In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro – 22 de Dezembro de 1907

1 DE DEZEMBRO DE 1907 – RIO DE JANEIRO: UMA TOURADA CHEIA DE ENCANTO E DE POESIA...


 

SPORT

Tauromachia

Tarde soberba de luz! O céo era uma immensa turqueza a perder-se no engaste do horizonte longinquo. A praça apresentava aspecto garrrido; sombra animadisssima, sol com muitos claros, quasi não se via sombra de gente no sol.

Lá no alto, no renque dos camarotes, espoucava a graça feminina, com toilettes claras; em um delles, o 17, a toureira Pepita que vae estrear breve, em trajes da sua terra, a seu lado duas patricias sympathicas faziam pender da balaustrada o classico manton (NOTA: mantón) de seda bordado. Nisto os olhos do poeta chronista sentiram-se offuscados, em uma mirada para o camarote 22. Toda a salerosa graça de Sevilha alli estava resumida! Senhoril, graciosa, entrou Carmen Ruiz, a evolar alegria de seu sorriso vivo; a multidão acclamou-a, o alarido alacre das almas em festa traduziu-se em applausos, quando viram a rainha da festa derramar sobee o peitoril a seda brilhante de seu manton de manilla (NOTA: mantón de Manila), com as cores hispanicas. O poeta sentiu vibrar as cordas do enthusiasmo:

Dá que eu veja, como esmola

Ou como excelsa offerenda,

O teu perfil de hespanhola

Sob a mantilha de renda!

Seu traje, lilaz claro, perdia-se sob o rendado da mantilha, que, em rendilhados finos acariciava-lhe os cabellos. Rubros claveles (NOTA: cravos) redolentes alcatifavam-lhe o collo, com a graça infinita que só ella possue, e tanta, que o poeta não resistiu:

Vive minh’alma confusa

Ao ver belleza tamanha,

No teu olhar de andaluza

Toda a volupia de Hespanha!

Bello porte aristocrata,

Maneira da raça antiga!

— Trouxeste o punhal de prata

Atravessado na liga?

Nisto sôa o clarim e o companheiro Justo Verdades toma o lapis para fazeer a resenha da corrida:

«A intelligencia desta vez encontrou pessoa com geito, o cavalheiro Victor Marqques, que se portou correctamente.

Entra a cuadrilla para as solemnes cortezias, com todas as regras do estylo.

Em seguida, o clarim toca o signal para o 1º touro, côr de lusco-fusco, mais claro do que escuro, que foi o melhor cornupeto da tarde. Com elle fez o cavalheiro Morgado de Cóvas uma estréa garrida e brilhante, cravando-lhe cinco ferros largos esplendidos, al quite e um curto magnifico, com intento.

Ganhou applausos em penca, muitas flôres e muitos charutos; uma bella ovação.

O 2º touro já é sarado, malandro como elle só, mas assim mesmo procurou dar conta do recado, recebendo de Maera um par al quarteo (NOTA: al cuarteo) superior e outro supimpa, pois o bravo hespanhol, sem deixar as bandarilhas, preparou a féra com bellos passes de capote para tal fim.

Oliveira cravou um par regular e outro aproveitando.

Maera, em seguida, fez varios passes magnificos com a capa.


Ao cavalleiro José Bento (de Araújo), um bravo que bebeu o elixir da juventa e não diz a ninguem o segredo da sua eterna mocidade, a esse veterano destemido coube o terceiro touro. Alfredo Santos fez a sorte da vara com resultado. A féra, a princcipio, fez negaças, depois resolveu-se a arremeter e José Bento (de Araújo) cravou-lhe tres ferros largos de primeirissima, dos quaes um en tabla, e um ferro curto muito bom. Applausos e ovações a José Bento (de Araújo). Nesse momento appareceu a figura do Camarão, o mais celebre dos afficcionados, os espectadores saudaram-no com effusão, emquanto o poeta, embevecido, perpetrava mais umas rimas para o guapo camarote.

Teu olhar vibra scentelhas,

Teu labio inspira desejo,

Que mette milhões de abelhas

Zumbindo dentro de um beijo.

Sôa de novo o clarim, e entra o quarto touro, Manuel Santos mette-lhe meio par, Alfredo Santos faz um bello cambio de rodillas, Cantarito mette meio par, intentando cambiar com valentia.

Manuel Santos faz um luzido preparo e a féra, depois de capeada optimamente por Maera, recebe de Manuel Santos um bello par de castigo.

Cantarito intenta com ardor a sorte da cadeira, a féra não ajuda, mas recebe um par magnifico.

Maais outro par bonito de Manuel Santos e Cantarito então pratica a sorte da muleta, passe natural, é desarmado, mas rapidamente faz um bello passe de peito pela direita, outro em redondo muito bom e faz a sorte da morte cravando no animal uma boa estocada.

Applausos em penca.

O 5º touro, negro, dorso estriado, saltador, cachaçudo, coube ao cavalleiro Morgado de Cóvas, que montava um soberbo tordilho andaluz, puro sangue, ginete adestradissimo, que elegantemente fazia a manobra sem o menor castigo.

Apezar das negaças da féra, Morgado crava-lhe tres ferros largos superiores e mais um á meia volta, recebendo muitas palmas.


Houve ahi uma interrupção: onde está o homem está o perigo, na sombra armou-se um sarilho de repente, assustando as damas e obrigando os homens a alguns safanões e cotoveladas.

Faz-se de novo a paz tranquilla, graças á conferencia de Haya du supplente que presidia á corrida.

Entra o 6º touro, preto; Alfredo crava-lhe um par al quiebro, mas foi volteado pela féra, crava-lhe outro par, aproveitando, a meia volta. Thomé crava tres pares bons, bem lançados, Alfredo mais dous pares e meio, um delles entrando no terreno do cornupeto. Foi capeado luzidamente por Maera, Cantarito, Thomé, Oliveira e Alfredo. Seguiu-se a pantomina Córta jaca, muito parecida com a de domingo passado, dando os rapazes muita sorte com o touro que lhes coube, entre dansas, saracoteios, tambalhotas e saltos mortaes. Resumo: tarde esplendida, gado um pouco melhor do que o das corridas passadas, sortes soberbas, animação completa e a poesia, lá em cima, completamente integrada nessa figura dominadora e gracil que prrendia e empolgava, perturbadoramente linda, soberbamente encantadora. E o poeta, á sahida, monologava, inspirado:

Senhora de mago encanto

Que extasia e maravilha,

És como a flor de amarantho

De um castello de Sevilha!

Justo Verdades e Raul.

In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro – 2 de Dezembro de 1907