1 DE NOVEMBRO DE 1909 - LISBOA: PRAÇA DO CAMPO DE SANT'ANNA - BERÇO DOS GRANDES CAVALEIROS PORTUGUESES...



CAMPO DE SANT'ANNA

Recordações de então


Arquivo Municipal de Lisboa

Ao tratarmos dos cavalleiros e do toureio a cavallo - o toureio portuguez por excelencia -, seja-nos permitido divagar um pouco, e primeiro que tudo, ácerca das condições em que trabalhavam antigamente esses artistas.

Ao passo que a principal preoccupação do toureiro equestre de hoje são os cavallos de combate, ha cincoenta annos era o que menos preoccupava os lidadores d'esse tempo.

João Sedvem, Antonio Sedvem, Pedro Sedvem e José Caetano de Brito (NOTA: José de Brito, que teve a sua época no Campo de Sant'Anna, foi um artista de conhecimentos, e que recebeu morte quasi instantanea na corrida de inauguração da antiga praça de Setubal, a 29 de maio de 1841: um touro, desmontando-o, levou-o de encontro á parede de resguardo do publico, fracturando-lhe o craneo), por exemplo, nunca conheceram a necessidade de ter que sustentar cavallos durante todo um inverno para poderem tourear no verão seguinte; quando tinham que trabalhar, iam ao primeiro alquilador que se lhes deparava, e alugavam um ou dois cavallos.

Diogo Bittencourt, Manuel de Mesquita e Francisco Batalha, ainda procederam de egual fórma por muito tempo.

O unico que nunca montou cavallos alugados, foi Antonio Maximo de Amorim Vellozo.


E, seja dito de passagem, n'esses tempos de saudosa memoria, lidavam-se touros a valer - d'esses que, quando sahiam do curro e se collocavam no centro da arena a sacudirem-se da terra que traziam em cima de si, faziam estremecer até o proprio espectador!

Francisco Batalha em certa tarde teve que ir tourear a Almada. Os cavallos que alugára em Lisboa, por qualquer motivo, não appareceram. E essa circumstancia, que hoje impressionaria um collega, não incomodou nada a Batalha: desceu rapidamente a Cacilhas, adquiriu na primeira cocheira dois cavallos, e entrando na arena á hora marcada só deixou de cumprir o programma no respeitante ás cortezias, porque as montadas não ladeavam.

Agora, porém, já não succede assim. E se nos disserem que este ou aquelle artista fez trinta ou quarenta corridas n'uma época e que o lucro de tanto trabalho e tanto risco não lhe chegou para o prejuizo que teve na compra e venda de montadas, temos que nos calar, porque sabemos que é verdade!


É certo que o publico d'esse tempo era menos exigente do que o actual; mas não é menos verdade que os toureiros antigos sabiam mais da arte de equitação do que a maioria dos actuaes, ao ponto de não terem cavallos proprios e tourearem perfeitamente e com a maior facilidade em cavallos de aluguer, nem dando então o triste espectaculo de que somos testemunha em muitas occasiões actualmente, do artista ser tocado pelo numero de ferros que colloca!

O que succedia, porém, era haver determinados alquiladores que tinham melhores cavallos do que outros, o que fazia com que lh'os preferissem, dando o caso ás vezes occasião para a bella intrigasinha. E quando então já existia, não é de admirar que ella agora ande por ahi tão accêsa como anda...

É curioso vêr o que nos diz um jornal de ha quarenta e oito annos, o Portuguez de 10 de agosto de 1861, sobre um e outro assumpto:

"N'este negocio dos cavalleiros tem havido uma intriga nojenta contra os srs. Mesquita e Silveira (NOTA: Silveira era um amador da época).

"Affirmam-nos que o sr. João Sedvem, de accôrdo com o sr. Diogo Bittencourt, tem procurado por todos os modos evitar que os srs. Mesquita e Silveira vão picar. O sr. Sedvem não anda bem n'este negocio, e o seu procedimento é improprio de quem tantas provas tem recebido de agrado por parte do publico do Campo de Sant'Anna. Diz-se que o sr. Diogo tratou de alugar para si alguns cavallos, que os srs. Mesquita e Silveira queriam tambem alugar, e de que o sr. Bittencourt não carecia, porque não vae picar n'essa tarde.

"Felizmente este facto não ha-de impedir que vão picar os srs. Mesquita e Silveira, e os empenhos do sr. Sedvem para que não picasse o sr. Mesquita foram baldados, sendo digno de louvor o modo porque andou o sr. governador civil n'esta questão."

Isto, entretanto, succedia ha quasi meio seculo, no tempo em que os senhores governadores civis se mettiam nos negocios de touros. Mas essa época já lá vae: hoje tão elevadas personagens, no respeitante ao popular divertimento, pouco mais se incommodam do que... a ir assistir ao espectaculo!

Os alquiladores que mais cavallos alugavam para tourear eram José Amador, José Caetano, o Bairro Alto, José Bento (de Araújo) e José Maria, o Cabelleireiro, este estabelecido na Rua Larga de S. Roque e os restantes no Poço do Borratem. Era no Cabelleireiro que geralmente se encontravam as melhores montadas, e aonde José Caetano de Brito as alugava sempre; os Sedvem preferiam as de José Bento (de Araújo) e José Caetano. Mais modernamente, o Antonio Hespanhol e o Ezequiel de Carvalho tambem alugavam cavallos.

Vellozo, Sedvem, Brito, etc., ganhavam oito libras por corrida; Bittencourt, Mesquita e Batalha fizerem logo subir o preço para dez e dezeseis libras, consoante tivessem que lidar dois ou quatro touros.

João Sedvem, Diogo Bittencourt e Francisco Batalha, foram artistas por demais valentes e arrojados, como Manuel de Mesquita foi o mais receoso de todos, apesar de bom toureiro. Mesquita, quando tinha que tourear, ia na vespera para o oratorio, onde orava até ao momento de ir para a praça.

Tempos houve em que se faziam cortezias por dóse dobrada em cada espectaculo, umas no começo e  outras ao terminar.

Comquanto cousa alguma explique as segundas - como talvez até as primeiras -, o que é certo é que não foi sem alguma difficuldade que se acabou com as ultimas, pelo costume em que o publico já estava de as presencear. N'esse tempo, porém, poucos eram os espectadores que sahiam da praça antes da corrida haver terminado por completo.

Observando-se o mesmo preceito tanto n'umas como nas outras, entretanto as finaes não decorriam com a seriedade que sempre se observou nas primeiras, ainda agora mesmo.

Depois de se lidar o ultimo touro, apenas os cavalleiros entravam no redondel e os bandarilheiros e forcados occupavam os seus logares em fila, era da praxe o rapazio saltar logo á arena, fazendo uma segunda corrida em volta dos lidadores.

E as cortezias terminavam, e o rapazio lá ficava, continuando com o seu simulacro de tourada, saltando ora para dentro da trincheira oara para a arena...

Tudo isso acabou!

Mas talvez por acabarem estas e outras pequenas cousas, a aficion vae diminuindo, mas diminuindo extraordinariamente, até ao ponto talvez de ás praças de touros se ter que dar outra applicação.

O Carnaval está por assim dizer agonizante, desde que de lembraram de o civilisar; o divertimento tauromachico, desde que perdeu o tom popular que tinha, com a sua liberdade e as suas piadas, para lá caminha tambem, e a passos agigantados...

As cortezias finaes acabaram com a ultima corrida da época de 1879.

Isso, porém, não impediu que o pequeno aficionado continuasse a divertir-se na arena por largo espaço de tempo ainda, sahindo d'alli ancioso por outra tarde de festa para tornar a brincar aos touros na propria praça.


Manuel Mourisca e Casimiro Monteiro foram os cavalleiros que iniciaram a revolução no toureio a cavallo, começando pela fórma de vestir.

Já poucos são os aficionados que se lembram da antiga farda - a casaca single, o collete simples, a polaina um tanto extravagante e o bicorneo de fivella dourada ou prateada na frente, com tres plumas, uma branca e duas azues.

Quem não  fôr do tempo d'essa toilette - que deve ter sido abolida ha uns bons trinta a trinta e cinco annos, pelo menos -, queira-a vêr nos retratos que damos adiante, de Casimiro Monteiro, Batalha, Antonio Monteiro e Augusto Calhamar. Por ahi o leitor fará uma idéa.

Foram aquelles dois artistas que introduziram a farda usada actualmente, chamada á Marialva, sem duvida muito vistosa e elegante, começando então tambem os cavalleiros a tourear só em cavallos proprios, e a apresental-os ajaezados com desusado gosto, como até então não era dado admirar.

No emtanto, Casimiro Monteiro foi o que a todos sobrelevou sempre, chegando o seu bom gosto ao ponto de adquirir chaireis com guarnições de ouro e prata, e arreios com peças dos mesmos preciosos metaes, alguns d'elles avaliados em mais de um conto de réis.

No dia da festa annual do estimado cavalleiro, havia sempre uma romaria de curiosos, aficionados e admiradores d'arte, ao corredor aonde se encontravam os cavallos, a examinarem as preciosidades artisticas que ornavam os corceis de José Casimiro Monteiro.

Manoel Mourisca tambem foi possuidor de um riquissimo arreio completo em prata macissa, avaliado em um conto de réis, offerta de um aficionado.

Pouco depois de Mourisca e Monteiro começarem a apresentar-se á Marialva, logo os seus collegas mais modernos os imitaram, ficando assim dentro em pouco tempo operada uma grande transformação na fórma de trajar dos nossos cavalleiros.

Comtudo, antes, de Mourisca e Casimiro Monteiro se apresentarem em publico com o novo trajo á Marialva, já Manuel de Mesquita tinha tentado a innovação, que não vingou, talvez por muito espectaculosa. Mas o antigo e considerado artista fel-o ainda com mais propriedade e rigor, visto que trazia tambem espada á cinta, que o acompanhava não só ás cortezias como quando toureava.

Para melhor completar a nossa noticia, continuamos a dar os perfis das individualidades que mais ou menos de destacaram no circo que vimos historiando:

O cavalleiro Manuel Mourisca foi justamente considerado o Mestre do toureio a cavallo.

Nascendo em Freixiendas, proximo de Ourem, a 14 de setembro de 1844, teve a guiar-lhe os primeiros passos na arriscada arte, o não menos artista João dos Santos Sedvem, que então dava leis Discipulo de tal mestre, não foi, pois, por favor que tambem alcançou a melhor classificação entre todos os mais distinctos collegas do seu tempo.

Mourisca, de um valor, serenidade e sangue frio sem egual, poupando os seus cavallos como ninguem, era inexcedivel e primoroso na execução de todas as sortes do toureio, sendo devidamente apreciado pelo publico entendedor.

Sem o querer, sem contribuir em cousa alguma para isso, viu formarem-se na sua época dois aprtidos entre o publico - um que lhe era favoravel, o da sombra, e outro, o do sol, que acompanhava Batalha. Ás vezes travavam-se verdadeiras luctas com as duas partes. O partido de Mourisca era todo pela arte e classisismo, o de Batalha pelo arrojo e valentia.

Mourisca foi eximio na lide a ferros curtos, que empregava sempre aos pares, pois reconhecia ser um erro o collocar um ferro de cada vez. Assim executou algumas vezes lides completas em corridas de seu beneficio.

Com a retirada de Mourisca, porém, tão artisitica fórma de tourear cahiu no desuso, não porque não tivesse razão de ser a opinião do mestre - que elle baseava e defendia em o bandarilheiro sahir sempre aos touros com um par de ferros de cada vez -, mas porque é mais difficil collocar um par do que meio, e a quéda de um ferro traz desaire para o lidador.

Manuel Mourisca ha muitos annos que se encontra retirado das lides; entretanto, ainda em 1908, na tarde de 2 de agosto, veiu ao Campo Pequeno tourear dois touros, revelando-se o mesmo toureiro intelligente e de raro saber de então.


Alfredo Tinoco da Silva, que nasceu em Lisboa a 5 de Julho de 1855, foi o mais gentil e o mais garboso dos cavalleiros que teem pisado arenas portuguezas.

Enthusiasta pelo divertimento desde os mais tenros annos, foi na demolida praça do Campo de Sant'Anna que fez por assim dizer todo o tirocinio do toureio que tanto honrou, desde o logar de neto, que nunca mais foi desempenhado como por elle, até o de cavalleiro, em que por demais elevou a nobre arte de tourear a cavallo, quer no seu paiz quer no estrangeiro.

Apresentou-se em Hespanha, França e Brazil, por bastas vezes, causando sempre desusado enthusiasmo.

Tendo começado por tourear obsequiosamente n'uma ou em outra corrida, de tal fórma o seu trabalho distincto se foi radicando no gosto e apreço dos aficionados que, comprehendendo-o Tinoco, o levou mais tarde a abraçar a arte como profissional. Essa resolução não podia deixar de ser bem acolhida, como foi, devido aos muitos meritos do notavel lidador.

Em extremo elegante, vestindo com distincção tanto a farda de toureiro como a casaca aristocratica, destacando-se a cavallo na arena como em passeio, Tinoco sobrelevou a todos os lidadores do tempo pela finura do seu toureio e raros conhecimentos.

Creando um publico seu, um publico especial, que via no brilhante artista o mais lidimo successor do celebre Marquez de Marialva, Tinoco vangloriou-se de poder contar com uma geração completa de admiradores, que o impunha ás emprezas em todas as corridas. Por isso, Tinoco só deixava de tourear quando não podia ou não queria.

Esse publico, porém, que tudo esquece, que glorifica artistas com a mesma facilidade como os inutilisa, um dia começou de hostilisar Alfredo Tinoco, tratando-o como a o mais infimo dos lidadores!

Tinoco, então, cioso do seu nome e do que valia, medindo o succedido em uma vil intriga, desgostou-se e começou a abandonar a arena. Não contente ainda, deliberou deixar o torrão patrio, não sabemos se em procura de novas glorias se da morte que havia de o fazer esquecer tanta ingratidão...

Fosse como fosse, ahi por outubro do anno de 1895 abandonava Lisboa, em direcção ao Brazil, sem tenção de voltar a tourear no seu paiz, vindo a fallecer no Pará a 16 de setembro de 1899.


Se o toureio a pé desde longa data vem atravessando grande decadencia, o de cavallo, porém, em todas as épocas tem estado florescente, sendo cultivado quer por artistas quer por amadores, alguns dos quaes da aristocracia, e todos o teem mantido de fórma a não poder notar-se o seu enfraquecimento; antes, pelo contrario, podemos mencionar que tem grangeado justa fama, até mesmo no estrangeiro, onde os cavalleiros portuguezes gosam da reputação de inexcediveis n'esta parte da arte tauromachica.

Um dos que mais concorreu para esse brilhantismo foi, sem duvida, D. Luiz do Rego, que descende de uma das mais illustres familias da sociedade portugueza.

Difficilmente elle esquecerá as provas de elevado apreço em que foi sempre tido na praça do Campo de Sant'Anna e na praça de Madrid, onde, em companhia de Tinoco, lidou touros em pontas, merecendo o mais enthusiastico applauso nosso e dos nossos visinhos. Muitas vezes o publico ficava indeciso se devia n'elle admirar mais a sua coragem e conhecimento da arte tauromachica ou os seus poderosos recursos como cavalleiro, pelo modo como dominava sempre o corcel que montava, despertando a admiração e applauso ainda dos maiores entendedores, a maneira como subjugava o famoso Leotard, o seu favorito cavallo de combate.

D. Luiz do Rego executou com proficiencia todas as sortes do teoureio a cavallo, algumas das quaes já haviam quasi cahido no esquecimento, e foi, tambem com Alfredo Tinoco, um dos cavalleiros contratados para inaugurar a praça da rua de Pergolèse, em Paris, em 1889. Tendo-se retirado do toureio pouco depois, foi geralmente sentida a sua falta.

O distincto toureiro, que conta actualmente cincoenta annos, nasceu em Lisboa a 31 de agosto de 1859, foi o companheiro inseparavel, em tardes e épocas consecutivas, de Alfredo Tinoco. Ambos começaram como amadores, e ambos terminaram como artistas.

Depois que se retirou da arena, tem-se apresentado uma ou outra vez, simplesmente em corridas de caridade.


Francisco Carlos Batalha nasceu em Lisboa a 18 de fevereiro de 1841. Foi um cavalleiro valente até á temeridade.

Conhecia as regras da equitação como poucos, sendo educado n'esta arte pelo professor Antonio de Figueiredo, a expensas do marquez de Castello Melhor. No toureio teve como mestre João dos Santos Sedvem, de quem recebeu as melhores lições, e que tinha verdadeira predilecção pelo discipulo.

Valente como era, essa qualidade fez-lhe crear um partido de admiradores tão numeroso como especial, que o idolatrava, frequentando simplesmente as corridas em que elle tomava parte. Esse publico era o do sol; e ás vezes tão fanatico se mostrava pelo popular toureiro, que ultrapassava os limites.

Certa tarde, por exemplo, em que toureava no Campo de Sant'Anna com Mourisca, e cabendo a cada artista dois touros, os seus amigos e admiradores não consentiram que Mourisca lidasse o segundo que lhe pertencia, exigindo que fosse toureado por Batalha! Apesar dos protestos, os partidarios de Mourisca não conseguiram fazer respeitar o programma!

Batalha foi um cavalleiro distincto, de recursos e muito saber, mas tambem immensamente infeliz. Póde dizer-se que durante o largo espaço de tempo que exerceu a sua profissão, mesmo depois dos cavalleiros começarem a ter cavallos proprios, nunca teve um animal verdadeiramente para toureio. Em compensação, não tinha duvida em montar o primneiro que lhe apparecia, e sahir com elle á arena! E quantas vezes o fez! De muito lhe valeu, para isso, os raros conhecimentos que possuia da equitação.

Uma doença cerebral pôz termo á vida do infeliz artista a 7 de abril de 1882, na casa que habitava nas Escadinhas de São Lourenço.


José Maria Casimiro Monteiro foi um cavalleiro habilidoso e elegante, digno companheiro de Manuel Mourisca. Nasceu em Lisboa a 8 de abril de 1850.

Conscienciosissimo no seu trabalho, nunca procurando as palmas nos artificios mas simplesmente em fazer arte, todo o publico estimava e respeitava Casimiro Monteiro como a poucos, classificando-o de artista completo. Toureava muito de cara e aproveitava bem as gaiolas, e foi no seu tempo o cavalleiro que com mais precisão executou a sorte á tira.

Lidando a ferros curtos, acompnhava a opinião de Manuel Mourisca, o Mestre, empregando sempre um par de cada vez.

É do conhecimento de todos o gosto que possuia na apresentação das suas montadas, chegando a reunir quatro rquissimos apparelhos de cortezias, bordados a ouro e a prata: isto só prova o amor que mantinha pela sua arte querida, adorando a carreira que seguira e de que era apostolo fervoroso.

Como n'outro logar dizemos, deve-se a Casimiro Monteiro a substituição dos antigos trajos de picaria, que os cavalleiros usavam, pelas vistosas e flamantes vestimentas de agora. Foi elle quem primeiro começou a usal-as, seguindo depois os outros o exemplo na adopção do trajo á Marialva, trocando as polainas pelas botas altas.

Casimiro Monteiro deixou de tourear ha muitos annos, em virtude da avançada edade e falta de vista.


Antonio Maria Monteiro foi um cavalleiro que teve algum renome, comquanto nunca chegasse a alcançar o grau artistico que na arte de Vimioso obteve seu irmão Casimiro Monteiro.

Muito destemido, chegando até a fazer alarde da sua valentia, Antonio Monteiro era dos artistas que annualmente mais corridas toureava.

Nas suas festas artisticas conseguia sempre fazer uma revolução no meio, taes eram as idéas mirabolantes que apresentava no cartaz para chamar concorrencia, sahindo-se geralmente bem succedido.

Antonio Monteiro nasceu em Lisboa a 13 de junho de 1850, vindo a fallecer de uma doença mental, no manicomio de Rilhafolles, a 5 de dezembro de 1888.


D'esse honroso grupo de cavalleiros que pisaram a extincta arena do Campo de Sant'Anna, é José Bento de Araujo actualmente o unico representante em exercicio.

Justamente consagrado pela critica e aficionados d'esse tempo, como ainda agora pelo publico que frequenta as nossas praças, José Bento (de Araújo) soube sempre impôr-se pela valentia e desejos de agradar, salientando-se muitas vezes ao lado de collegas de superior categoria.

José Bento de Araujo obteve em todas as épocas grande popularidade, o que, junto aos seus meritos incontestados, fez com que alcançasse um bom logar entre os mais distinctos cavalleiros portuguezes.

Rijo como poucos, alegre na arena, possuidor de invejaveis faculdades apesar dos seus cincoenta e sete annos, pois nasceu em Lisboa a 16 de janeiro de 1852 é ainda dos toureiros que presentemenet mais agrada e enthusiasma os publicos.

Como piadista é unico, fazendo ás vezes rir o publico a bandeiras despregadas, e correndo os seus ditos de bocca em bocca por largo espaço de tempo...


Augusto Calhamar Pinto e Silva, mais conhecido pelo Pintasilgo, embora alternasse com os cavalleiros mais antigos e de mais nomeada da sua época, nunca chegou a salientar-se. Entretanto toureou muito, quer em Lisboa quer nas praças da provincia, e principalmente na do Porto e Santarem, das quaes por bastas vezes foi emprezario.

Calhamar nunca teve cavallos de toureio: ou os alugava quando tinha que trabalhar, ou, em casos de grande aperto, recorria á primeira feira, onde comprava uma ou duas montadas, para logo depois as vender.

CARLOS ABREU

In SERÕES - REVISTA MENSAL ILUSTRADA, Lisboa - Novembro de 1909

7 DE JUNHO DE 1903 - SETÚBAL: O DIA DE "TROMBA LINDA"



TAUROMACHIA 

Campo Pequeno — Foi interessante e animada a corrida que hontem se realisou na praça do Campo Pequeno, não faltando ovações, algumas d’ellas, na verdade, bem pouco merecidas.

O clou da tourada consistia principalmente no certamen de gado bravo, embora o cartaz reunisse outros elementos valiosos.
.
Tratava-se de ver quem era o lavrador que apresentava o touro mais bravo, visto que já se sabia qual tinha sido o feliz que possuia o mais lindo bruto que tem nascido nas Lezirias.

O publico esperou com impaciencia a entrada na arena do animal premiado.

Era elle um animal negro retinto, chamado “Carapuço”, mas que fica alcunhado de “Tromba Linda”, para todos os dias da sua triste vida.

Respeitamos muito a opinião do jury que concedeu o premio ao referido touro, por signal, manso como burro, que é das manadas do sr. Faustino da Gama; mas, francamente, o nosso voto seria para o segundo touro, de Emilio Infante, porque era um animal com uns pés muito bem feitos, bastante risonho e com uns olhos encantandores.

E n’isto de gostos não ha discussões.

Os dois touros bravos que appareceram foram o setimo, do marquez de Castello Melhor, e o oitavo, de Emilio Infante.

O que pregou mais sustos, pondo em fuga soldados da guarda municipal, policias, creados de servir e toda a gente, que estava na trincheira, foi o sexto, de Correia Branco, que saltou umas poucas de vezes as taboas, sempre com vontade de fazer mal.

Este é que, a nosso ver, merecia o premio.

De resto, o certamen não foi grande cousa.

O touro 5º, de Gama, cumpriu e era nobre, e o 3º, de Castello Melhor, tambem cumpriu no primeiro tercio, e nada mais.

Os cavalleiros José Bento (de Araújo), Fernando de Oliveira, Manuel Casimiro e Alves prenderam poucos ferros, sendo todos chamados e muito applaudidos.

Alves foi quem melhor figura fez na parte que diz respeito á equitação e a governo do corcel.

O mestre Faico bailou uns passes de muleta, não indo, comtudo, a compasso da musica. O que foi pena.

No ultimo executou um bom cambio.

Montes esteve bem com a muleta, especialmente no 6º, em que a faina foi muito laboriosa e luzida.

Os bandarilheiros estiveram diligentes, mas os touros muito apurados no primeiro tercio da lide, e na maioria mansos, chegavam sem faculdades ao segundo tercio.
.
O José Russo pegou valentemente o 3º do curro.

O bandarilheiro Limeño, que, segundo parece, está praticando para moço de forcado, fez tambem uma rija péga de cara, e tão atrapalhado ficou com os derrotes do brutinho, que perdeu o seu habitual sangue frio. Pobre homem!

Estranhámos que a musica não fizesse ouvir os seus melodiosos sons n’um lance de tanto effeito, quando é tão prodiga em nos matar o bicho do ouvido depois dos mais terriveis bornaes.
.
A praça estava cheia.

Assistiu a parte da corrida a rainha senhora D. Amelia.

Zé Jaleco

In O SECULO – 8 de Junho de 1903

LISBOA - BREVE HISTÓRIA DA PRAÇA DE SANT'ANNA



"Ao longo dos séculos que em Portugal a Tauromaquia ocupou um lugar de relevo na nossa expressão cultural, chegando os reis D. Miguel ou D. Carlos a dar o exemplo no amor à Festa dos Toiros.

Em todo o país se foram construindo praças de toiros, especialmente em Lisboa e desde meados do séc. XVI, tendo sido a primeira mandada edificar pelo rei D. Sebastião em Xabregas.

Em 1741 e 1760, respectivamente nos reinados de D. João V e D. José I, tiveram lugar no Campo Pequeno algumas touradas, conforme consta em documentos dessas épocas. Ficaram célebres dois tauródromos situados no Campo de Sant'Ana.

Lisboa: Campo de Sant'Anna e praça de touros em baixo à esquerda - Arquivo Municipal de Lisboa

O primeiro autorizado pelo decreto régio de 29 de Julho de 1830, que foi inaugurado a 3 de Julho de 1831 pelo rei D. Miguel e na presença da Infanta D. Maria da Assunção. Mais tarde foi edificado outro recinto no mesmo local, tendo aí havido corridas de toiros durante cinquenta e seis anos.

Ficaram célebres a corrida realizada por ocasião do casamento do rei D. Luís e a que teve lugar quando D. Afonso XII de Espanha visitou Lisboa.

O último espectáculo taurino (na praça do Campo de Sant'Anna) sucedeu a 6 de Dezembro de 1887, com actuações dos cavaleiros Casimiro Monteiro, Alfredo Tinoco, José Bento de Araújo e D. Luís do Rêgo, tendo a praça sido demolida em Janeiro de 1889 por já não reunir as condições de segurança necessárias."

 Praça do Campo de Sant'Anna - Arquivo Municipal de Lisboa

In A Praça de Toiros do Campo Pequeno, p. 20 - A. Manuel Morais

NOTA: Texto retirado da Agenda Cultural da CML - Agosto de 1993 - Contributo de Alexandre Ramos, descendente de José Bento de Araújo.

24 DE MAIO DE 1891 - MADRID: TRÊS CORRIDAS E JOSÉ BENTO DE ARAÚJO


TRES CORRIDAS

La Empresa de la Plaza de Toros de Madrid, no es de las que se duermen en las pajas. Aun á costa de cansar al público, y á conciencia de que en muchas funciones, las utilidades, si las hay, han de ser muy reducidas, nos viene dando corridas á turnos par é impar, repetidos; y en el mes de Mayo actual, que tiene nueve días de fiesta, quiere que presenciemos más de una docenita de ídem, por sólo el placer de agradar á los aficionados.

Porque dirá, y dirá bien: no les gustan á ustedes tanto los cuernos? pues yo se los proporcionaré á docenas hasta hartarles, y verán como yo no me harto de recibir pesetas mientras quieran dármelas.

En ayuda de tan buenas intenciones, vino la Sociedad benéfica de peluqueros y barberos de Madrid, titulada "La Precursora", (?) que organizó otra corrida para el jueves 21, destinando sus productos á beneficio de la misma, "para atender al hermoso pensamiento de caridad y de ciencias, para que ha sido fundada."

Y la tal Sociedad debe estar en fondos. Después de costear un espléndido banquete para los amigos, hizo extender lujosos programas y carteles, en que Regino Velasco ha hechado el resto, para una corrida de ocho toros, seis de ellos de la famosa ganadería del Duque de Veragua, que lidiaran Mazzantini, Espartero y Guerrita, y los otros dos de Benjamín Arrabal, que rejonearian los cavalheiros portugueses (José) Bento d'Aranjo y Almeida, lo cual prueba que no se habian escatimado los gastos para llamar la atención.

Biblioteca nacional de España

Pero como contra este ciclón de corridas, el cielo ha dispuesto - segun dice Noherlenson - otro cuyos primeiros efectos se anunciaron en la noche anteriro al jueves, hubo necesidad de suspender la función y trasladar su verificativo - frase mejicana - al día de ayer, domingo, con gran extrañeza de los abonados, que todavia no aciertan á comprender qué razones haya tenido la Empresa para perder un día festivo utilizable para el abono. En fin, diremos con el refrán "jesuíta y se ahorcá, cuenta le tendría."

Los que es objeto de anunciadas conversaciones en todos los círculos de aficionados á nuestra gran fiesta nacional, es la corrida proyectada para el día 30 del corriente, en la histórica Plaza de Aranjuez.

No se han fijado aún carteles, ni siquiera dado noticia de precios, horas, etc., y la animación es grande, y los billetes se encargan con febril empeño. Siempre las corridas en el Real sitio, han despertado interés en los madrileños, porque han sido, aparte de la afición á los toros, el pretesto para pasar un día de campo en aquellos deliciosos jardines, bajo sus frondosas alamedas; pero este año se ha acrecentado el deseo, y se ha promovido mayor entusiasmo, porque ha de torear alli, solo como espada, seis hermosos toros de Veragua, el renombrado cordobés Rafael Molina, Lagartijo, á quien tienen alejado de nuestro Circo rencillas y diferencias que todos conocen. Sus admiradores se preparan á repetir aquellas delirantes manifestaciones que le tributaron en la célebre corrida del 29 de Junio de 1886, y el veterano matador se apresta á demostrar que, á pesar de todo y de todos, es hoy el que más sabe de cuantos pisan el redondel. Lo conseguirá? Creemos que sí. De todos modos, su presencia en Aranjuez ha de ser una ruidosa protesta que harán sus numerosos apasionados contra su ausencia de nuestro Circo, y una calurosa felicitación de cuantos en él le han aplaudido por espacio de tantos años.

No faltan tampoco preparativos para la corrida de Beneficceecia, que ha de verificarse el día 14 del próximo Junio, nada menos que con los cinco espadas, Lagartijo, Cara ancha, Mazzantini, Espartero y Guerrita, que lidiarán diez toros de las ganaderías del Duque y de Muruve. Mucha gente y muchos toros nos parecen, para tragarlos de una vez y sin descanso, por mas que una y otros sean de lo más aceptables, dados sus antecedentes; de tal modo creemos que ha de resultar pesada la fiesta, que á disponer nosotros de la función, la repartiríamos, dando por la mañana á las once, cuatro toros, y los seis restantes, por la tarde, á las cuatro y media, haciendo que un mismo billete sirviera para ambas entradas, y que Lagartijo, que hoy es la novedad importante, trabajase por la mañana en unión de cualquier otro espada, para segurar la buena concurrencia, que la de la tarde asegurada está.

Sometemos esa idea al examen de la Comisión de la Diputación provincial, porque nos parece más practicable y de mejores resultados, que otra salida de... pie de banco, que dicen ha ocurrido á un padre de la provincia, y es nada menos que sacar á subasta los billetes la de tal corrida. Cuidado con el pensamiento! Ni á Gedeón se le hubiera venido á las mientes! Se subastarián uno á uno los diez mil billetes libres de abono? Se subastarían por grupos de doce ó veinte? El el primer caso, imposible con solo intentarle, duraría el remate días enteros, se imposibilitaría á una familia ó á unos amigos estar juntos, y hasta sería muy dificil, á cualquier pastor, acercarse á oir el pregón que anunciase la localidad que se enajenaba; en el segundo, haciendo lotes, se demostraría palpablemente que los revendedores serían los únicos dueños de todos los billetes, porque quien si no ellos han de comprar por junto las entradas? No queremos perder el tiempo en rebatir tan absurda idea, porque la consideramos juzgada, y á sua autor arrepentido de haberla expuesto; pero si nuestro compañero Sobaquillo quisiera tomar el pelo al tal padre provincial, asegúrole que se le había de tostar de lo lindo, volviéndosele, si es cárdeno, en negro brillante, sin usar nitratos, y si es negro, en oro pálido, sin echar mano de tintes de horizontales.

No sabemos por qué, las corridas de Beneficencia que en Madrid se realizan, no suelen resultar de las mejores del año, y eso que, como sucede en el presente, se ha procurado reunir lo mejor en fama de ganado y de toreros. En éstos y en los dueños de los toros, ha de consistir, principalmente, que tal creencia salga fallida, siquiera por esta vez, y para ello no hay que hacer más que querer y... querer.

J. SÁNCHEZ DE NEIRA

In LA LIDIA, REVISTA TAURINA ILUSTRADA, Madrid - 25 de Maio de 1891

24 DE MAIO DE 1891 - MADRID: OS CAVALEIROS MANUEL CASIMIRO DE ALMEIDA E JOSÉ BENTO DE ARAÚJO NA CORRIDA DOS BARBEIROS NA CAPITAL DE ESPANHA


 Biblioteca nacional de España

TOROS EN MADRID

CORRIDA EXTRAORDINARIA. - 24 MAYO 1891.

Dicho queda que esta corrida, suspendida el jueves por el mal tiempo, iba para reforzar los fondos de "La Precursora", sociedad compuesta de la gente de afeitar (en el buen sentido de la frase) á los habitantes de la villa; siquiera los individuos que la componen no obrigasen esos propósitos respecto á los aficionados, procurando combinar una fiesta variada y con alicientes bastantes para hacerles pasar el rato del mejor modo posible.

Al efecto el programa contenía dos partes: la primera, con dos toros de Arrabal (ganadería obligada como postre ó entrada en cualquier festín con cuernos), para que luciesen su pericia los rejoneadores portugueses señores José Bento d'Araujo y Manuel Casimiro d'Almeida, y los estoquease el medio espada Lesaca; y la segunda con seis reses de Veragua, para lidiarlos las cuadrillas de Mazzantini, Espartero y Guerrita.

Conque á las cuatro y media de la tarde (hora algo retrasada para tan larga sesión), dieron principio los preliminares de rubrica, pisando la arena la comitiva.

Los caballeros portugueses, montando dos hermosos caballos tordos, y luciendo (José) Bento (de Araújo) casaca de seda negra, y Almeida, de terciopelo azul y trenzadas las monturas con los colores nacionales, y encarnado y verde respectivamente, preparandose para la suerte y apareció el

1.º Vinatero, de Arrabal: negro zaino, grande y cornalón. A las primeras de cambio, le dió por quedarse, haciendo premiosas las entradas de los rejoneadores, clavándose (José) Bento (de Araújo) tres buenos y Almeida dos, uno de ellos bueno también, siendo alcanzado su caballo en el último sin consecuencias.

Sin castigo suficiente y alargando el hocico, pasó el toro á manos de Lesaca, de corinto y oro, que tras algunos telonazos desde lejos se pasó una vez sin herir, volvió á entrar en seguida, dejando una estocada desprendida, siendo enganchado frente á la puerta del 8, suspendiéndole el toro en el aire tres ó cuatro veces, y llegando por entre barreras por su pie hasta el burladero del 7, desde cuyo punto fué conducido por cuatro mozos á la enfermeria. Los demás matadores no digamos que estuvieron muy eficaces en acudir al socorro del sobresaliente, puesto que el bicho le zarandeó á su sabor. Retirado éste al corral, apareció el

2.º Jaquetón, de la misma ganadería; castaño, ojinegro, bragado, bociblanco y bien puesto. Si el anterior se quedó, éste no quiso ser menos, quebrando (José) Bento (de Araújo) solo dos rejones, que no clavaron, y Almeida otros dos, de los que sólo agarró uno. Luego ambos caballistas tomaron un par de banderillas y las dejaron que ni pintadas en las péndolas del de Arrabal, siendo extraordinariamente aplaudidos por ello y por su pericia como jinetes consumados.

Después de lo que el toro fué también retirado al corral, sin que sepamos hasta qué punto estuviera bien ó mal tomada tal resolución.

3.º Monito, primero del Duque; negro bragado, fino, bien criado y corniabierto. Con voluntad tomó siete varas, propinó dos caídas y mató un caballo. Regaterillo deja medio por malo y repite con otro buento á toro parado, y Galea sale del compromiso con uno pasado.

Mazzantini, de azul y oro, empieza perdiendo terreno, y luégo abusa de los pases, dificultándose él mismo la faena. Tras un desarme, atiza un pinchazo en hueso, estando el toro abierto de remos, y saliendo acosado, y termina con una estocada á volapié, un poco ida.

4.º Culebro, cárdeno chorreado, brgado, gordo, caribello y también abierto de astas. Espartero le saluda con tres verónicas, una de farol y dos de frente por detrás, bastante aceptables, y el toro también con voluntad, acepta ocho puyazos, á cambio de dos caídas y dos caballos muertos. Julián Sánchez coloca un buen par de frente, y medio al cuarteo, regular, y el Morenito otro entero, en la misma forma, y también bueno.

Espartero, de perla y oro, da siete pases naturales, uno de telón y uno preparado, y se arranca con una estocada hasta el puño, en buen sitio (Aplausos.)

5.º Forjador, cardeno chorreado, bragado, careto, fino y abundante de astas. Bravo y recargando, aguanta nueve varas, ocasiona seis tumbos y mata cuatro caballos. Espartero y Guerra hacen dos buenos quites. Primito suelta dos pares de banderillas, por el sistema eléctrico, y Mojino cuartea otro superior.

Guerrita toma al bicho en corto, y le trastea bonitamente, para una estocada á volapié en las tablas, un poco trasera, y tres intentos de descabello, tocándole algo en el último.

6.º Fosforero: cárdeno mulato, bragado, careto, bonito y ancho de cuerna.

Más blando que sus hermanos cumple con siete puyazos, origina tres caídas y deja tendido un caballo. Galea cuelga un buen par enmendándose, y después otro á toro parado, y Regaterillo tira medio.

Mazzantini pasa con bastante movimiento y deja cumplida su misión con un pinchazo á volapié bien señalado, pero tomando hueso; media estocada á volapié bien puesta y un descabello á pulso.

7.º Clavellino: negro bragado, grande y bien puesto. Tardeando y hasta doliéndose al hierro, lo prueba cuatro veces, tumbados á los piqueros y estropea dos caballos. Morenito sale del compromiso con un par cuarteando bueno, y otro á la media vuelta, y Julián Sánchez con otro de buena calidad sobaquilleando.

Espartero estuvo cerca y trabajador con el buey, que lo fué en este tercio, y con fatigas, le suministró un pinchazo en hueso, un sablazo perpendicular, un intento de descabello, un pinchazo en lo alto, otro intento, otro pinchazo sin soltar y otro soltando.

8.º Agujito: negro y del mismo corte y hechuras que el anterior. Empezó recelándose y se creció al hierro, tomando siete varas, por dos caídas sin más desperfectos. Mojino y Primito cierran el segundo tercio, correspondiendo al primero medio par de sobaquillo y uno al cuarteo bueno, y otro al segundo en la misma forma, regular.

Guerrita termina la fiesta, ya anocheciendo, sujetando como puede al de Veraguas que está huído, con un pinchazo en hueso y media estocada aceptable.

RESUMEN

Concretando en general, pues á ello obliga la falta de espacio, juzgamos: el ganado de Arrabal y el del Duque ha sido bien presentado, en particular este último; las condiciones de lidia de los primeros, no han podido ser más detestables; y los de Veragua han cumplido en los dos primeros tercios, y se han dejado manejar en el último, excepción de los corridos en 7.º y 8.º lugar, que han llegado huidos á la muerte. De todas maneras, hay que convencerse que aquellas moles de carne y de nobleza han desaparecido, por lo visto, de las dehesas del descendiente de Colón.

Mazzantini. - Persiste en la costumbre de entablerarse al jugar el trapo, y si no fuera por sus excepcionales condiciones, se veria expuesto á un disgusto. Hiriendo le encontramos ayer el defecto de arrancarse con el toro desnivelado; cuando asi no lo hizo, logró pinchar con acierto como en su segundo. Dirigiendo y bregando como de costumbre.

El Espartero. - Engendró una de sus mejores faenas, trasteando con parsimonia y adornándose y entrando de cerca. Esto por lo que hace á su primero; en el segundo trabajó con ahinco; y dadas sus condiciones no le faltó más que abreviar tendiendo á deshacerse el enemigo. Muy voluntario en la brega y bien en lso lances de capa.

Guerrita. - Se floreó con la muleta en su primero, pasándole en todas formas y sobresaliendo los en redondo y un preparado. Se metió con valor y exposición, por no estar el toro lo suficiente colocado en las tablas para facilitar la salida, resultando quizá por esto algo pasada la única estocada que le propinó, y en el último, con arreglo á la situación del bicho y del tiempo. Bregó también como acostumbra, y hubo frialdad en el público al premiar su trabajo.

Respecto á Lesaca, demostró un valor temerario y mucho desconocimiento de la res que abrió plaza, siendo la herida experimentada, según el parte facultativo, en la región inguinal izquierda, de ocho centímetros de extensión por veinte de profundidad, subcutánea, con magullamiento y desgarradura de los músculos abdominalçes, y de pronóstico reservado, y de la que deseamos halle pronta curación.

Cumplieron los banderilleros menos mal que de ordinario, y los picadores á ratos, sobresaliendo el Chato y Pegote.

No hubo insinuación desagradable para la Presidencia; se sostuvo el tiempo, y fué considerable el producto pecuniario de la fiesta, puesto que la entrada resultó un lleno completo.

DON CÁNDIDO

Biblioteca Nacional de España

In LA LIDIA, REVISTA TAURINA, Madrid - 25 de Maio de 1891

1 DE JUNHO DE 1910 - MADRID: UM RETRATO DE JOSÉ CASIMIRO


LOS TOROS

ÁLBUM BIOGRÁFICO

JOSÉ CASIMIRO

Es el más joven de los rejoneadores portugueses que pueden con justicia ser calificados de primera categoría y se le puede comparar con los que llegaron á adquirir gran fama, como fueron Carlos Relvas, Alfredo Tinoco, Luis Donego, Fernando d'Oliveira, (José) Bento d'Araujo y Manuel Casimiro d'Almeida, padre del que presentamos en estas líneas.

Lástima es que el el reino vecino no se lidien los toros con los cuernos limpios y con todas las consecuencias de emoción que peuda ofrecer el verdadero peligro. En tal caso, los buenos rejoneadores, como José Casimiro, ganarían mucho dinero, porque habría más fiestas de toros en las que se buscara su concurso en esa fase del toreo en la que tanto florecieron los caballeros españoles de otros siglos, y en la que hoy son más prácticos y diestros los portugueses.

Tendrá ahora José Casimiro unos veintiocho años, y hace más de doce que se presentó en público, dando arrogantes pruebas de ser un buen jinete y un hábil rejoneador en aquella época en que casi era un niño.

Pronto acreditó su buen arte y buscaron las empresas su cooperación.

A Madrid han venido, aunque de tarde en tarde, los rejoneadores más renombrados de Portugal, y de todos ellos los que más gustaron en estos últimos fueron Tinoco, Donego, Fernando d'Oliveira y Manuel José Casimiro.

Estos dos se presentaron por primera vez en esta plaza el 31 de Mayo de 1906, y el trabajo que realizaron fué completamente satisfactorio para el público, que aplaudió con gran entusiasmo la labor de los Casimiros.

Muertos hace tiempo Fernando d'Oliveira y Tinoco, y ya en el ocaso de su carrera José Bento d'Araujo, son los dos Casimiros los que más cartel tienen, y José, como más joven, es en el que aquellos aficionados tienen mayores esperanzas.

DULZURAS


ABC, Madrid

In BLANCO Y NEGRO, Madrid - 1 de Junho de 1910

21 DE SETEMBRO DE 1891 - MADRID: LA LIDIA


Biblioteca nacional de España

18 DE JUNHO DE 1882 - LISBOA: O CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO A CONTAS COM UM TOURO BRAVO NA PRAÇA DO CAMPO DE SANT'ANNA



PRAÇA
DO
CAMPO DE SANT'ANNA

Domingo 18 de Junho de 1882

FESTA ARTISTICA DO CAVALLEIRO

MANOEL MOURISCA JUNIOR

Corrida á antiga portugneza
Convidativo, attrahente e aprasivel torneio tauromachicoem que tomam parte


4 CAVALLEIROS

bem como os mais distinctos bandarilheiros portuguezes, e neto

José Luiz Ferreira, vulgo o menino gordo


Bonitos, gordos, corpolentos e bravissimos

QUINZE TOUROS


Pertencentes ao opulento lavrador e creador, o exmo sr.

EMILIO INFANTE DA CAMARA


herdeiro de J. da Motta Gaspar, apartados pelo benefficiado que tão feliz foi na escolha da época passada, vindo entre elles o touro que na tarde de 23 de abril desfeiteou o cavalleiro J. Casimiro Monteiro, para n'esta corrida ser lidado pelos tres cavalleiros, J. C. Monteiro, A. M. Monteiro e J(osé) Bento de Araujo, sendo concedido un valioso premio ao que mais se distinga na difficuldade de tão bravissimo touro.


9 DE NOVEMBRO DE 1897 - LISBOA: A PRAÇA DO CAMPO PEQUENO


LISBOA

Plaza do Campo Pequeno



Fué inaugurada en 18 de Agosto de 1892, habiendo sido dirigida su construcción, según tenemos entendido, por el Arquitecto B. Diaz da Silva, quien se inspiró tal vez en el estilo de la plaza madrileña, con la que, exceptuando los remates, tiene gran parecido.

El edificio, que es de estilo árabe, mide en junto 80 metros de diámetro y 18 de altura, teniendo en sus cuatro vértices cuatro artísticos torreones.

Tiene sobre los palcos elegantes columnas igualmente árabes.

Su cabida es de 10.000 espectadores, correspondiendo á cada persona un lugar de medio metro.

Dan ingreso al público de los tendidos, gradas y andanadas, 16 puertas.

Los tendidos de sol y de sombra constan de 14 filas, denominándose barreras la primera y segunda, estando estas dos defendidas por bandarillas de hierro.

Costa de 86 palcos: uno destinado á la Casa Real, varios de servidumbre y autoridades, tres para la presidencia, uno para el ganadero y otro para la prensa, con quince asientos; quedando disponibles para el público un total de 66 palcos.

Para la familia Real hay destinado un excelente antepalco, con cuartos para toilet, situados en uno de los cuatro torreones, y un magnífico salón que mide 48 pies cuadrados, teniendo estas habitaciones entrada particular. El piso bajo de estos departamentos está dedicado á los carruajes de la Real familia.

El patio ó habitación destinada á los encierros mide 16 metros en cada uno de sus lados, y está rodeada de una galería, por la que pueden verse los toros. Al lado de este patio hállanse los dormitorios de los vaqueros, desde donde éstos, por medio de pequeñas mirillas, pueden observar fácilmente todos los movimientos del ganado.

Existe una caballeriza destinada á los caballos de los vaqueros, teniendo una superficie de 160 metros cuadrados.

Los dos restantes torreones están ocupados por los despachos de billetes, salón restaurant, contaduría, escaleras para los asientos de andanadas y para los pasillos, teniendo además ocho crujías de dos metros que conducen á los tendidos.

El edificio contiene, á más de los destinados á la Real familia, 12 magníficos salones y buffets.

En el segundo torreón hay una buena enfermería, que mide 60 metros cuadrados; una caballeriza capaz para 20 caballos, á disposición de los espectadores que gusten utilizarla para sus cabalgaduras durante el interregno del tiempo de las corridas, y por último varios camarines y patios que en junto miden 45 metros cuadrados y se destinan á los caballos de los rejoneadores ó caballeros en plaza.

L.C.


Biblioteca Nacional de España

In PAN Y TOROS, Madrid - 9 de Novembro de 1897

9 DE NOVEMBRO DE 1897 - MADRID: EL TOREO PORTUGUÉS


EL TOREO PORTUGUÉS

        De la misma manera que Francia va tomando nuestras costumbres en lo que á tauromaquia se refiere, ejecutando la lidia en la forma que se ejecuta en nuestras plazas, y con los mismos toreros españoles, relegando poco á poco al olvido las faenas de sus famosos saltadores, demasiado primitivos para distraer hoy á los aficionados, Portugal adopta la fiesta española también, pero con más retraso que el Mediodía de Francia. Todavía repugna en el vecino reino la fiesta con toros de puntas, y aunque los inteligentes periodistas taurinos de allá combaten esta sensiblería, lo cierto es que toro que salta á su coso tiene la obligación de besar antes el mueco y soportar las bolas.

Biblioteca nacional de España

        La suerte característica de los portugueses es la de rejonear, pero la ejecutan de manera distinta á la usada antiguamente en España. El rejón es de muerte y no se clava, yendo hacia el toro con los peones al estribo y citándole por derecho, sino correteando alrededor de la res, esquivándola, hasta encontrar un momento favorable para pasar tan cerca, que en el instante de humillar no haya sino meter el brazo con rapidez y quebrar el rejón por la muesca que lleva en la parte media de la vara y quedarse con el puño como trofeo. Tampoco llevan los caballeros portugueses traje á la antigua usanza española y portuguesa, sino á la Federica, con casaca de terciopelo, calzón ajustado de punto, bota de montar hasta la rodilla, sombrero de tres candiles y el pelo empolvado en vez de la peluca, que sofoca, pero que es propia de semejante indumentaria.

        Entre los modernos caballeros portugueses que más se han distinguido en la suerte del rejoneo, se pueden citar los siguientes:

        Alfredo Tinoco da Silva, nació en Lisboa en 1855, y en 1873 se presentó ante el público en la plaza del Campo de Santa Ana. Ha sido forcado y banderillero y ha toreado en Madrid.

        José Bento D'Araujo, nació en la Junquería (NOTA: Nasceu na Ajuda, Lisboa) en 1852 (NOTA: 18 de Setembro de 1851), presentándose por primera vez á rejonear en 1874. En 1893 toreó en Nimes (Francia),(NOTA: Em 1891 e 1892 toureou em Paris e seguidamente em Nimes, Marselha, Mont-de-Marsan, Béziers, etc.) con mucho éxito y luego en Madrid (NOTA: Em 1880 a primeira vez) alcanzó grandes ovaciones. (NOTA: Actuou nas praças de Madrid, San Sebastián, Caudete, Santander, Barcelona...)

        Luis do Rego, Es nieto del famoso político Magalhaes y nació en Lisboa en 31 de Agosto de 1859. Rejoneó por primera vez en la plaza de Villafranca de Xira en 8 de Agosto de 1880. En 1883, y en cierta función celebrada en honor del Rey de España D. Alfonso XII, este caballero demostró su habilidad clavando rejoncillos cortos, siendo el primero que ejecutó esta suerte en tales condiciones. Ha toreado con general aplauso en Madrid y Sevilla.

        Adelino de Senna Raposo, natural de San Pedro de Sul, donde nació en 23 de Febrero de 1857. Salió á rejonear por primera vez en la plaza de Campo Pequeño en 1893 y estuvo contratado en Madrid, donde toreó en 25 de Julio del mismo año.

        Manuel Casimiro D'Almeida, nació en San Pedro de Sul en 1858 y salió á rejonear en 1879. En Madrid figuró en la corrida celebrada el 4 de Mayo de 1891.

        Fernando D'Oliveira. Vió la primera luz en Benavente el 12 de Marzo de 1859, y á los veinte años rejoneó en la plaza de Villafranca de Xira; y

        Fernando R. Pereira, otro de los más brillantes rejoneadores portugueses, cuya biografía desconocemos, y que es uno de los que han conseguido más triunfos en la suerte en que tanto se distinguieron, además de los ya mencionados, hombres como Relvas, Sedren y Castel-Mehor.

        Una de las particularidades más curiosas de la fiesta de toros en Portugal es el paseo como se celebraba antaño. Salen todos los individuos que han de tomar parte en la lidia y saludan al Presidente en colectividad, haciéndole luego aisladamente lso caballeros, volviendo grupas desde el centro del redondel y marchando en la dirección del palco presidencial de dos en dos ó en fila, caracoleando después de esta cortesia y luciendo sus habilidades de jinetes. El primero que entra en el redondel, antes del paseo es el cabo de forcados, conduciendo á una mula cargada con el cajón de las farpas y rejones.

        En cuanto á las principales suertes después del rejoneo, diremos que todas se reducen á los quiebros y saltos y á sujetar á los toros. La forma de poner banderillas á porta gaiola, consiste en cambiar al animal con los palos á sua salida del toril ó esperarle á distancia y alegrarle en el momento en que sale, pareando después al cuarteo.

        Los banderilleros más notables de Portugal han sido:

        Vicente Roberto, José Joaquín Peixinho, Joao da Cruz Calabaça, Joao do Rio Sancho, Theodoro Gonçalves, Jorge Cadete, Rafael Peixinho y José Gonçalves Peixinho.

        El trabajo que ejecutan los pegadores ó mozos de forcado no es seguramente de los más lucidos, puesto que consiste únicamente en entregarse al toro sin más auxilio que la fuerza de los brazos y una musculatura hecha á prueba de coscorrones. El caporal ó director seguido de su cuadrilla se adelanta hacia la res y la cita, consintiendo todo el mérito de su acción en arrojarse sobre el testuz y asirse fuertemente de los cuernos del toro, que lo campanea brutalmente mientras llegan los demás forcados y derriban al bicho.

        Los forcados detienen también á los toros llamándoles hacia la barrera, en donde se sitúan de espaldas á los tableros, en los que apoyan los cuentos de unas horquillas de hierro con que lo reciben. Como se puede ver facilmente esto da origen á situaciones cómicas cuando el toro deshace las filas; pero no resulta nada artistico. Hay también otra manera de detener, y consiste en que cuando el toro va siguiendo á los bueyes que á propósito sueltan á la plaza, el caporal se arroja por detrás y se cuelga á un cuerno, mientas otro forcado hace lo mismo por el lado opuesto.

        Tales son, á muy grandes rasgos, los detalles del toreo portugués en que descuella principalmente la vistosa suerte del rejoneo. Merece consignarse que los toros que se lidian alli, por las muchas veces que salen á la plaza, suelen saber más que los mismos toreros, lo cual peude servir de disculpa á los lidiadores y como un motivo de censura continua á los muchos é inteligentes periodistas taurinos que existen en Portugal, ardientes enamorados de la fiesta española y que claman inúltimente contra la exhibiciión de toros embolados.

Biblioteca nacional de España

In PAN Y TOROS, Madrid - 15 de Novembro de 1897