2 DE AGOSTO DE 1894 - LISBOA: O CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO NA "FESTA ARTÍSTICA" DE FERNANDO DE OLIVEIRA




CHRONICA DAS TOURADAS

Campo Pequeno

19.ª corrida da epocha — Espada: Juan Gomez de Lesaca — Touros do sr. Victorino Froes e o "Caraça" de El-Rei

Ninguem esperava que a uma quinta feira a praça do Campo Pequeno tivesse tão grande concorrencia como a que assistiu á festa do distincto cavalleiro Fernando de Oliveira, artista estimadissimo e que conta grande numero de admiradores. A praça quasi cheia. Algumas falhas — poucas — na sombra e nas galerias do sol. Aldeagallega despovoou-se, para vir á festa do Fernando, pois que faluas e vapores trouxeram d'ali 540, que vieram applaudir o amador Salgado, que é natural d'aquella villa e que ali é querido de toda aquella gente.

Biblioteca nacional de Portugal

ESPADA

O matador Lesaca, que se apresentou pela primeira vez em Lisboa, embora tenha reputação em Hespanha, não poude brilhar. Em primeiro logar Lessaca ignora a lide que se dá aos nossos touros, e em segundo não eram os touros proprios para deixarem brilhar artista algum.

Com as bandarilhas pouco fez, mas no entanto cita bem, estando sempre de frente. Com a muleta e o capote bailou muito, mas tambem ha a accrescentar que aquelles que passou procuravam mais o vulto do que o engano.

Simulou duas estocadas, uma á volapié, bem marcada e outra á meia volta, de que o nosso publico não gostou, porque ignora que é assim que se mata um touro, quando elle offerece difficuldades para a lide, como aconteceu com aquelle em que Lesaca simulou uma estocada d'aquella fórma. Um touro n'aquellas condições mata-se de um mete e saca á carreira ou á meia volta, mas o publico pensa que se não matam touros d'essa maneira e assobiou. Pois foi talvez o que o espada fez de mais acertado em toda a tarde. Esperamos vel-o novamente, e então fallaremos.

CAVALLEIROS

José Bento (de Araújo) no 1.º touro trabalhou correctamente, aproveitando quanto poude o animal, collocando ferros á tira e á volta muito bem rematados, e fechou com um par de bandarilhas que ficou um pouco dianteiro. No que lidou com Manuel Casimiro fez uma sorte de gaiola como poucas vezes temos visto. Em seguida poz 2 ferros á volta e nada mais poude fazer porque o Botas tinha pressa. José Bento (de Araújo) foi muito applaudido.

Manuel Casimiro no 3.º trabalhou com correcção, pondo na sorte da gaiola 1 ferro um pouco descaido, collocando depois dois á tira, um á volta e rematou com dois pares de bandarilhas, sendo 1 á volta e outro á tira, magnificos. Mediu perfeitamente o terreno e consentiu os touros, do que resultou um trabalho luzido. No que lidou com José Bento (de Ataújo), poz dois ferros e nada mais poude fazer, pelo motivo que acima apontamos. Manuel Casimiro foi muito victoriado.

Fernando d'Oliveira pouco mais poude fazer, que demonstrar o grande desejo de trabalhar e de fazer luzir a sua lide. Em primeiro logar largaram-lhe dois garraios que não queriam nada com o cavallo, mas nos quaes ainda assim Fernando poude collocar 2 ferros. Em segundo logar Fernando de Oliveira acha-se agora mal montado, em vista do desastre que o cavallo soffreu, posto que na quinta-feira, com aquelles touros, o cavallo preto tivesse feito serviço. Fernando foi applaudido.

Ao sr. Victorino Froes coube o afamado Caraça, que já fez a fineza de o derrubar, e por isso o distincto amador andou com uma cautella que já não nos parece muito justificada porque o Caraça está já muito mudado. A gana ao cavallo continua a mesma, mas como já não carrega tanto, torna-se menos perigosa a sua lide. Nos dois garraios que lidou Fernando d'Oliveira, pouco poude fazer attendendo á qualidade d'elles. Collocou ainda assim 1 ferro á tira muito bom. o distincto amador foi victoriado.

BANDARILHEIROS

Dos bandarilheiros temos a mencionar Theodoro e Cadete, que no 9.º touro tiveram um trabalho excellente, pondo ferros de cara e a cuarteo magnificamente rematados. Foram applaudidos. Minuto teve tambem tres pares magnificos. Penita, no 11.º, collocou dois pares muito bons e Torres Branco 1 par magnifico no 12.º. Este discipulo continúa a correr os touros com grande precisão, sendo em toda a tarde um trabalhador incansavel, pelo que tem direito aos applausos do publico.

O amador Salgado, de Aldegallega, que já conheciamos, toureou com grande precisão dois touros, collocando bem os ferros. Cita bem, sempre de frente e para se muito na cabeça dos touros, o que faz com que o seu trabalho tenha todo o luzimento. Tem futuro se assim continuar. Foi alvo de grandes ovações.

TOUROS

Apresentados pelo sr. Victorino Froes eram deseguaes. Alguns sairam bravos e voluntarios mas outros ordinarios, mal armados, pequenos, mal tratados e não dando lide capaz.

O Caraça, que foi do sr. Emilio Infante e hoje é propriedade de Sua Magestade El-Rei, já não é o mesmo animal, o que não admira porque conta já 9 corridas, com a de quinta-feira, além de ter andado na padreação. Está muito quebrado e com menos pé. No entanto ainda vae com grande vontade ao cavallo apenas o vê, mas depois de receber o ferro já não carrega.

FORCADOS

Nada fizeram de notavel e com semelhantes rezes não se pode exigir mais.

DIRECÇÃO

A cargo do Botas, regular.

Emfim a corrida, se não satisfez por completo o publico, este no entanto nao saiu desgostoso.

Fernando recebeu grande quantidade de brindes dos seus amigos.

D. JOSÉ TENÓRIO

Cruz Quebrada

Foi muito interessante a tourada de domingo n'esta praça. O publico riu a bom rir, pelos episodios que se deram durante a lide, havando pancadaria de crear bicho, da qual compartilhou o tal espada Chicorrito. Salvaram-se apenas os cavalleiros Serra, Fernando Ricardo Pereira e os forcados. Os tourtos da Companhia das Lezirias eram corpulentos.

Porto

Lê-se no Primeiro do Janeiro :

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"Tinoco e José Bento (de Araújo) lidaram magnificamente, collocando ferros d'uma forma magistral. José Bento (de Araújo), que, repetimos, havia annos não trabalhava no Porto, está um cavalleiro distinctissimo, como o demonstrou com o seu magnifico trabalho no domingo.

O sympathico artista rematou o trabalho no touro que lhe coube, a sós, com dois pares de ferros curtos, que offereceu á saude da bella rapaziada do Porto.

Tinoco e José Bento (de Araújo) trabalharam sempre no meio de grande enthusiasmo dos espectadores, que prerompiam com bravos e palmas.

Muito nos alegramos.

Landezes : este grupo agradou muito. Estes artistas deram saltos arriscadissimos sobre um touro, parchearam e passaram-no de capa. O trabalho seria mais completo se o touro se prestasse mais áquelle genero de lide.

Fressura : este arrojado rapaz enthusiasmou o publico portuense, com uma rija pega de costas".

Agora nós. Não se encontra um unico jornal portuense, que chame palhaços e Pae Paulino, aos artistas landezes. A rasão explica-se : não estavam ensaiados, não tão pouco a imprensa portuense se presta a ouvir o canto das sereias.

Espinho

PORTO, 9, tarde. — A tourada em Espinho esteve boa. O gado era regular. Muito applaudidos o cavalleiro José bento (de Araújo) e os amadores Felix Saraiva, Jorge Burnay e um hespanhol da colonia balnear. Alfredo Tinoco, que dirigia a corrida, metteu um par de ferros, sendo applaudido.

In A TOURADA - 12 de Agosto de 1894

8 DE JULHO DE 1894 - LISBOA: UMA CORRIDA QUE NÃO FOI DAS PIORES...


 

Chronica das touradas

 CAMPO PEQUENO

14.ª corrida da epocha. — Espadas: Antonio Fuentes e EmilioTorres (Bombita). — Touros do sr. Emilio Infante da Camara.

Realisou-se no domingo mais uma corrida n'esta praça, e com franqueza, a par de algumas a que alli temos assistido, não foi das peiores. O vento prejudicou sobremaneira o trasteo de capote e muleta dos espadas. A praça não se encheu, mas a concorrencia eram muito regular. A´s 5 horas, hora feliz para alguns que assistiam á tourada cheios de enthusiasmo para verem Fuentes e Bombita, os dois matadores da epocha, principiou a tourada, da qual vamos dar um resumo.

Biblioteca nacional de Portugal 

Espadas. — Antonio Fuentes, que tanto tem agradado entre nós, e que, como se sabe, é um artista de muito merecimento, viu se hontem a braços com alguns touros maus, e com o vento que lhe prejudicou por completo o trasteo. Teve alguns passes de peito muito bons. Com bandarilhas, no 6.º touro, que é a peior coisa que temos visto, citou a quiebro sem resultado, pondo depois uns dois pares a cuarteo, sendo um de primeirissima ordem. Tentou pôr outro a cuarteo, sendo colhido sem consequencias. Depois o director da corrida mandou passar o touro, ao que Fuentes se recusou, mas o sr. Botas teimou, e o espada depois de dar dois passes teve de abandonar a rez, e o sr. intelligente manda então tocar. A este facto nos referimos mais adeante.

Fuentes foi applaudido.

Bombita, outro toureiro que bastantes sympathias conta entre nós, luctou com as mesmas difficuldades que o seu collega. Sobresahiu no 1.º touro que passou de muleta muito bem, tirando passes de peito primorosos. No resto nada pôde fazer por causa do vento. Com as bandarilhas poz um par a cambio, regular, e dois á topa carneiro, deseguaes. Foi applaudido.

Cavalleiros. — José Bento (de Araújo) trabalhou correctamente nos seus dois touros, pondo ferros á tira e á volta de grande luzimento. O 1.º touro era brando, improprio para fazer brilhar um artista. D'isto não tem culpa o cavalleiro. O festejado artista foi muito applaudido.

Bandarilheiros. Minuto, Theodoro e Cadete trabalharam correctamente, pondo bons pares, pelo que foram muito applaudidos. Dos bandarilheiros hespanhoes sobresahiram Blanquito, de Fuentes; e Valencia, de Boçmbita, recebendo palmas.

Forcados. — Fizeram boas pegas de cara. Apresentaram se muito unidos, sendo dignos de applauso.

Touros. — Pertenciam ao sr. Emilio Infante da Camara. Sahiram alguns bravos, mas na maioria mal intencioandos e difficultando muito a lide. Estavam bem tratados e eram deseguaes.

Direcção. — Como sempre, a cargo do sr. Botas. Temos poupado o mais possivel o director das corridas da praça do Campo Pequeno, attendendo a que é um chefe de familia, e que não tem outros meios de subssistencia, embora muitas vezes precisasse de levar verdadeiros correctivos.

O que no domingo se passou com Fuentes, foi o mais extraordinario que temos visto e que precisa uma lição severa, para que se não torne a repetir. O sr. Botas via perfeitamente  que o 6.º touro não era animal capaz, difficultoso para a lide e portanto pondo em periogo o artista. O director não attendeu a nenhuma d'estas cousas e obrigou o espada a saltar á arena para passar similhante rez. Bem depressa teve a certeza do fiasco que fez, pois que o artista teve de abandonar o seu intento. Ora isto não se faz e representa para o sr. intelligente, nada mais e nada menos que a sua pouca competencia.

Obrigar um artista a ser maltratado por um touro n'aquellas condições, simplesmente por um capricho ou por outro qualquer motivo que ninguem comprehende, revela bem que o sr. intelligente não deve ocupar aquelle logar. O intelligente tem obrigação de se fazer respeitar, obrigando o artista a cumprir o seu dever, mas é preciso tambem que as ordens que partem d'esse intelligente sejam sensatas.

Fuentes por principio nenhum devia ter saltado á arena, e visto o sr. director instar com elle e querer substituil o por Bombita, que certamente não cumpriria o seu mandato, o que deveria ter f eito era dirigir-se á auctoridade e dizer-lhe que não cumpria a ordem do sr. Botas, por que essa ordem era inepta. O sr. Botas deve manter-se no seu logar, mas primeiro que tudo deve saber o que faz, para não acontecer o que no domingo presenciámos que o desauctorisa por completo. Ficamos hoje por aqui.

Em resumo a corrida se não satisfez por completo, não se pode no entanto dizer que fosse um desastre. Á tourada assistgiram Sua Magestade a rainha D. Amelia, El.rei e o sr. infante D. Affonso.

D. JOSÉ TENORIO

In A TOURADA, Lisboa - 12 de Julho de 1894

11 DE OUTUBRO DE 1891 - PARIS: 21ª CORRIDA DA TEMPORADA COM TOUREIROS ESPANHÓIS E CAVALEIRO PORTUGUÊS



Bibliothèque nationale de France

Petites Nouvelles

— Dimanche prochain à deux heures et demie, vingt et unième course de taureaux aux arènes de la rue Pergolèse. 

Au programme: Angel Pastor, Valentin Martin et leurs cuadrillas; José Bento de Araujo, caballero en Plaza et les picadores.

A. B.

In LE RADICAL, Paris - 10 de Outubro de 1891

22 DE JULHO DE 1894 - LISBOA: FESTA ARTÍSTICA DO CAVALEIRO ALFREDO TINOCO COM JOSÉ BENTO DE ARAÚJO




CHRONICA DAS TOURADAS

Campo Pequeno

17.ª corrida da epocha — Espada: J. Navarro (Quinito) — Touros do sr. Palha Blanco

Acabada a a serie de touradas que a empreza da praça do Campo Pequeno se propoz realisar, seguem-se as corridas promovidas pelos artistas, corridas que principiaram no domingo com o beneficio do festejado cavalleiro Alfredo Tinoco, artista estimadissimo de todo o publico.

A lide annunciada tinha na verdade elementos para agradar, pois que n'ella figurava todo o toureio a cavallo, um bom turno de bandarilheiros, o espada Quinito e touros do sr. José Palha Blanco. E se não foi uma tourada de primeira ordem, no entanto o publico saiu plenamente satisfeito, correndo a lide por vezes com grande animação.

Biblioteca nacional de Portugal

Houve, apezar d'isso uma nota discordante: o tempo apresentou-se com um aspecto sombrio e carrancudo. Pela volta das 6 horas o ceu escureceu de repente, cobrindo-se de espessas nuvens. Dir-se-ia que ia desabar uma tremenda batega d'agua. Mas as nuvens ameaçadoras passaram, deitando apenas uns borrifos, para refrescar os espectadores e principalmente alguns do sector 3, que por vezes, ao que parece, sentiram calor de mais, tendo um policia que intervir, mandando sahir um que mais enthusiasmo se mostrava, e que já tinha dado logar umas poucas de vezes a discussões acaloradas.

CAVALLEIROS

José Bento (de Araújo) no 1.º touro, que a principio se acobardava, trabalhou bem, embora a sua lide não tivesse grande brilho, em parte devido á rez não ter grandes condições. Collocou 3 ferros á meia volta, sendo dois muito bons, e 1 á tira superiormente rematado, fechando com dois pares de bandarilhas, um á garupa bom e outro á meia volta.

No 11.º com Tinoco, trabalhou muito bem pondo ferros perfeitamente rematados. A lide d'este touro passou desapercebida em consequencia da chuva que principiou a cair em abundancia. José Bento de Araújo) foi applaudido.

Fernando de Oliveira trabalhou notavelmente no 3.º touro, esperando, citando e rematando todas as sortes de fórma que honra sobremaneira o distincto artista. Na 1.ª sorte, citando e esperando com o cavallo parado, rematou um ferro á estribeira de uma maneira admiravel. Continuou depois a lide mettendo 1 ferro á meia volta, 3 á tira e 1 á garupa, fechando-a com um par de bandarilhas citado de cara e rematado á garupa. Consentindo muito os touros teve a sua lide uma brilhantismo extraordinario. Foi chamado e muito applaudido. No 9.º com Manuel Casimiro, um touro de lide difficilima, porque obrigava o cavalleiro a chegar-se e só arrancava pela certa, tornou-se notavel pela valentia com que toureou, mettendo um ferro á garupa, esperando, e 1 á estribeira. Foi applaudido.

Manuel Casimiro, no 5.º touro trabalhou bem, pondo 4 ferros á meia volta, sendo dois bons, e fechou a lide com 2 pares de bandarilhas em sorte egual muito bem postos. No 9.º com Fernando, n'uma rez cuja qualidade já descrevemos, tambem metteu 2 ferros á garupa, sendo na ultima sorte o cavallo apanhado, visto o cavalleiro ter citado muito curto, para que o touro arrancasse. Com um animal n'estas condições não ha toureio possivel sem risco, e só se pode executar com grande força de vontade e muita valentia. Manuel Casimiro foi muito applaudido.

Alfredo Tinoco, no 6.º touro, trabalhou correctamente e com a arte que possue, pondo 2 ferros á meia volta, 1 á garupa e depois pegando em bandarilhas, collocou com grande luzimento e consentindo o touro, 2 pares á garupa, 1 á meia volta e 1 á tira. No 11.º com José Bento (de Araújo), pondo bons ferros, mas a lide, como acima dissemos, passou desapercebida. Tinoco foi applaudido na lide dos dois touros.

ESPADA

Quinito agradou e ddá esperanças. Não é um toureiro feito, mas tem muito merecimento. Falta-lhe ainda aprender muito, o que com tempo conseguirá se continuar d'aquella fórma. Principia a trastear de muleta bem, mas no final atrapalha-se um pouco, e isto deve-o apenas á grande indecisão que d'elle se apodera. Com o tempo é provavel que perca esse defeito e então tornar-se-ha um artista completo. Com a muleta teve um passe de peito magnifico, parando e cingindo-se, e uns redondos rasoaveis. N'uma das sortes tentou receber, sendo quasi apanhado e saindo por los piés. Teve uma estocada n'outro touro muito boa. Com capote o seu trabalho foi por vezes magnifico, parando muito e n'uns passes galleando de costados andou acertadamente. Com as bandarilhas teve um bom par á gaiola e depois pedindo a cadeira poz um par a quiebro bom, mas, precipitou-se depois um pouco, o que lhe deu em resultado não rematar bem outros dois cambios que citou. Poz em seguida outro par a cambio muito bem. Esteve muito trabalhador e com grande vontade de agradar, o que conseguiu. O publico applaudiu-o durante toda a lide.

BANDARILHEIROS

Distinguiu-se Cadete que bandarilhou o 8.º touro magistralmente pondo ferros a cuarteo magnificos, rematando com um sesgo primoroso. O publico applaudiu-o e com justiça. Pescadero teve uma gaiola boa, Raphael, 1 par bom, Minuto e João Roberto infelizes e com maus touros. Pipo, de Quinito, teve 1 par muito bom e nada mais.

Torres Branco bandarilhou o ultimo touro, que lhe foi cedido por Calabaça, fazendo uma sorte de gaiola magnifica e pondo depois 1 par tambem muito bom.

O publico applaudiu-o.

Porque será que Torres Branco não figura no detalhe da corrida, um principiante com tão grande vocação como tem mostrado n'estas duas touradas.

TOUROS

Pertenciam ao acreditado ganadero sr. José Palha Blanco. Deseguaes, notando-se falta de esmero no tratamento, mas teve touros bravos, especialmente o 6.º que saiu um boyante. Um ou outro mau, mas o curro no geral cumpriu, pelo que deve estar satisfeito o illustre lavrador.

FORCADOS

Estiveram muito unidos e fizeram boas pegas de cara, áparte alguns leves trambulhões.

DIRECÇÃO

A cargo do Botas, acertada.

Em resumo : O publico satisfeito.

Á corrida assistiram Suas Magestades El-Rei e a Rainha D. Amelia.

Alfredo Tinoco foi chamado e muito applaudido, recebendo grande quantidade de brindes.

D. JOSÉ TENORIO


In A TOURADA, 29 de Julho de 1894

15 DE JULHO DE 1894 - LISBOA: MAU VENTO NA PRAÇA...




CHRONICA DAS TOURADAS

CAMPO PEQUENO

16.ª corrida da epocha. — Espada: Cara Ancha; touros do sr. Faustino da Gama.

Fechou de uma maneira desgraçada a serie de corridas que a empreza se proporcionou realisar na praça do Campo Pequeno. E se assim aconteceu, deve-se em parte á grande ventania que no domingo atravessou Lisboa e muito mais ao espada Cara-Ancha, que receioso e desconfiado, esteve na verdade muito mandrião.

Cara-Ancha foi para vista. Admittamos que o vento prejudicasse a lide, mas o que é certo é que o que Moyano executou com vontade de trabalhar e de agradar, o poderia ter feito Cara-Ancha.

Não se admitte de fórma alguma, que um bandarilheiro do matador esteja sempre opportuno aos quites dos picadores, e a todo o trabalho sempre prompto, e o espada da tarde se achasse a ditancia, olhando descançado para tudo aquillo. O publico por vezes manifestou-se contra o espada, que na verdade abusou muito da sua benevolencia. Os touros do sr. Faustino da Gama, tambem concorreram para o mau exito da tourada, que tinha attractivos para agradar e fechar com chave de ouro.

 

Biblioteca nacional de Portugal

A praça teve uma enchente collossal. Nem um logar devoluto. Os contractores é que ganharam, porque se lhes proporcionou um bello dia de negocio. Bilhetes de sol venderam-se a 1$000 réis, sombra a $500, e alguns de barreira, que aquelles possuiam não os largaram por menos de réis 2$000. As senhas renderam bom dinheiro.

Vamos dar um resumo da tourada de hontem que pouco animada correu:

Espada, — Nada de notavel fez, como acima dizemos, o espada Cara-Ancha.

Muito desconfiado e receioso, delegou quasi toda a lide no seu bandarilheiro Moyano, que foi o espada da tarde. Cara-Ancha deu apenas uns passes de capote e muleta e nada mais. N'um dos touros foi colhido sem consequencias.

No 6.º touro poz 2 pares a quiebro, sendo um bom. Depois entregou as bandarilhas a Moyano.

PICADORES. — Muito trambulhão, muita risada, e boas varas dos picadores Trijo e Carriles, que ouviram palmas.

MOYANO. — Tratamos d'este artista em separado, porque na verdade foi o espada da tarde.

Que maneira de citar com as bandarilhas, que correcção e que remate de sortes: tudo de grande luzimento. Com o capote teve uma brega excelente e aos picadores sempre opportuno: ao contrario do espada que se conservava a consideravel distancia. Com a muleta pouco fez, devido ao vento, mas n'esse pouco mostrou grande vontade de agradar. O publico applaudi-o freneticamente e com toda a justiça.

CAVALLEIROS. — José Bento (de Araújo), no 1.º touro trabalhou correctamente, fazendo uma sorte de gaiola magnifica, e collocando em seguida com grande arte e precisão 4 ferros á tira, 1 á garupa e rematou a sua excellente lide com 2 pares de bandarilhas, rematados com grande luzimento, á garupa. No 2.º tambem o seu trabalho foi de todo luzido e artistico, principiando por uma sorte de gaiola soberba, 1 ferro á meia volta, 1 á tira e rematou o seu trabalho com um par de bandarilhas á garupa.

O publico applaudiu-o com toda a justiça.

Fernando de Oliveira, no seu 1.º touro principiou a tourear com infelicidade, mas depois collocou com arte 4 ferros á meia volta, 2 á tira e rematou o seu trabalho com dois pares de bandarilhas, sendo 1 á tira e outro á volta muito bem postos.

No 2.º que lhe coube trabalhou bem, fazendo boas sortes e consentindo muito o touro. Foi muito applaudido no final da lide dos seus touros.

Bandarilheiros. — Calabaça e Minuto fizeram por agradar pondo no entanto bons pares. Raphael tambem collocou 2 pares muito bons e intentou dar o salto de vara, o que não conseguiu. Pipo e Pedro de Campos nada fizeram de notavel.

TORRES BRANCO. — Outro artista que tratamos em especial, que nos parece que será assim o melhor meio de o pôr em evidencia como merece e como se viu pelas manifestações de agrado que recbeu da parte do publico e pelo seu trabalho.

É incontestavelmente um rapaz com habilidade: cita, entra e sae com grande limpeza da cabeça dos touros. O publico fez mal em pedir o 8.º touro para ele bandarilhar, quando é certo que o animal estava defendendo-se, porque ja tinha 5 pares de bandarilhas. Lidou depois o 12.º touro muito bem, pondo um par de primeirissima ordem. Na brega muito trabalhador e fazendo quites muito opportunos, sendo alguns d'elles a corpo limpo. Será bom que de hoje para o futuro Torres Branco figure no detalhe da corrida, bandarilhando pelo menos um touro. O publico fez-lhe uma grande ovação, que se prolongou até fóra da praça quando se mettia para o trem.

FORCADOS. —Apenas fizeram duas pegas de cara boas e uma de cernelha sem luzimento.

TOUROS. — Pertenciam ao sr. Faustino da Gama. Apenas cumpriram os de cavallo. Os restantes mal intencionados, cobardes e difficultando a lide. Não foi feliz o sr. Faustino da Gama. Mais um para a conta.

DIRECÇÃO. — Como sempre a cargo do velho Botas. Nas varas um pouco demorado. O Botas estava a gostar, assim como todo o publico.

No resto á altura da corrida.

Em resumo. O publico muito descontente e furioso com o mandrião do espada.

D. JOSÉ TENÓRIO.


In A TOURADA, Lisboa - 22 de Julho de 1894

1894 - UM OLHAR CRÍTICO SOBRE AS TOURADAS EM PORTUGAL


Biblioteca nacional de Portugal

 AS TOURADAS EM PORTUGAL

N'este paiz nem ha touros, nem touradas, ha simplesmente praças e toureiros. E é bastante.

Aquillo a que eu e todos ouvimos chamar touradas, para mim não passa d'uma simulação do grande divertimento hespanhol, onde a arte é um dever e a coragem uma gloria.

Aqui nada d'isto acontece e para quê?

Para que é necessaria a coragem onde se lidam touros sem defesa?

Para que é precisa a arte onde ha um publico que só gosta de estrangeiros e que apupa os seus quando os veem imitar o que os mestres fazem?

Para quê, pois, o mortificar-se um homem, quando se é toureiro n'um paiz em que não ha touradas, mas tourinhas.

Deixemo-nos de gracejos e entremos em assumpto serio.

Eu sou um afficionado que ninguem conhéce, que todos perguntam d'onde veiu, mas sou pelos touros em hastes limpas, touros de morte, touros que sejam touros e não carneiros.

Desde o momento que as touradas são uma lucta do homem com o boi selvagem, em que aquelle vence este pela arte e pela intelligencia, ou então fica vencido pela força bruta do seu inimigo, tanto um como o outro deve vir á arena tal como é, um com o peito replecto de coragem e ávido de triumpho, outro ávido de sangue e ferocidade em busca do inimigo para o ferir e despedaçar.

É uma lucta desegual; um tem a arte com todos os enganos, outro tem a raiva de se ver vencido.

Um tem uma muleta e um estoque para matar, outro tem as astes limpas e afiadas para matar tambem; eis aqui a unica egualdade da lucta.

Muitos, ás touradas hespanholas chamam barbarismo, porque ha sanguem e ás touradas portuguezas em que há covardia o que lhe chamarão?

Um domador lida com os seus leões e as suas panthéras e não lhe's tira os dentes nem as garras; lida pois com ellas no seu estado natural; um dia porém morre-lhe nas garras; eis aqui o valor do seu trabalho que era o perigo, o risco e a morte, o mesmo pois deve succeder a um homem que se filiou na arriscada arte de Montes, Chiclanero, Romero e Costillares e muitos outros tão celebres e valentes.

N'este paiz de tanta protecção para com os animaes, ha touros que têem sahido á praça a serem corridos mais de 10 ou 20 vezes, e o que succcede, é o touro enganar o toureiro em vez de ser o contrario. É celebre!


Em Portugal, um paiz que á força quer ser toureiro, vão-se construir mais praças, mas não ha gente para n'ellas trabalharem e por isso teem que vir de Hespanha todos os maletas e toureiros de enchurrada para suprirem essa falta.

Não aconteceria porém, outro tanto, se aqui houvessem touradas, mas as genuinas, as verdadeiras, em que cada qual com mais ou menos habilidade e estudando sempre, se fizesse matador e formasse quadrilhas, fizesse excursões ao estrangeiro como fazem os artistas hespanhoes, porque não faltaria gente que quizesse seguir a arte tauromachica; mas infelizmente aqui quem quizer ser toureiro, já não digo artista, mas amador, tem de arranjar empenhos para n'uma tarde mostrar as suas aptidões.

As touradas n'este paiz são o mesmo que prender os braços a um homem e dar-lhe depois umas poucas de bofetadas, estas significam os classicos pares de bandarilhas, e a manietação do homem significa a immunda embolação.

Ah! Hespanha, Hespanha! se tu não fosses já celebre, o teu grandioso e destemido divertimento que se chamas as— Corridas de touros — t'o fariam ser.

O que estimarei é que em breve a nojenta embolação uma das vergonhas na tauromachia nos fins do seculo XIX, seja para sempre demolida, para depois podermos gritar: Vivan los toros.

EDUARDO AGUILAR.

In A TOURADA, Lisboa - 8 de abril de 1894

25 DE OUTUBRO DE 1891 - PARIS: TOUREIROS ESPANHÓIS E PORTUGUESES NUMA DAS ÚLTIMAS CORRIDAS DA TEMPORADA

Bibliothèque nationale de France

LA 23ème COURSE

À PARIS

Y sale la cuadrilla

De los toreros,

Valentin y Joseito

Son los primeros.

Cette fois le président agite son mouchoir à l'heure fixée, et les timbaliers sonnent la salida pour:

1.— Cabrillo, portant la devise blanche; il ne réalise pas l'idéal du taureau brave; les picadores sont gris comme le temps, les banderilleros placent quatre paires pour donner à Valentin Martin, en violet et or, le temps de déplier la muleta.

Le coup d'épée, bien marqué, reste un peu court.

2. — Gatidano, devise blanche, ranime la course. (José) Bento de Araujo place trois javelines, dont une déplorable, et deux banderilles, l'une trop basse, l'autre régulière.

Les banderilleros posent une paire et demie, et Joseito (grenadine et or), sur une demi-douzaine de passes naturelles, indique une estocade, de devant, au pas de banderilles.

3. — Corazon, une bête de choix, dont la vigueur et le courage ont résisté à l'action émolliente de notre climat pluvieux. Ce noble animal, qui porte les couleurs de Tres Palacios, reçoit une vilaine pique (marronazo) du Rubio qui doit réintégrer le patio. Cirilo et l'Amateur français, en revanche, obtiennent un énorme succès, et les quites de Joseito sont très remarqués.

Valentin Martin prend le taureau sur la quatrième paire et le cape avec bonheur; une trentaine de passes dont six de poitrines, et une estocade à volapié très bonne qui lui vaut des applaudissements nourris.

4. — Bandolero, de Orozco, ne jalouse pas les lauriers de Corazon, et, à la demande du public, il est changé aussitôt.

C'est un ardent et féroce Mazpule qui se présente; ses bonds désordonnés, ses mugissements rauques épouvantent les chevaux qu'il attaque éperdument et que les picadores défendent comme ils peuvent, car l'animal croit à la pique (crecer el palo), se transforme, colle.

Valentin exécute des passes de cape, Joseito enlève la devise; la cuadrille se dévoue, deux paires sont placées entre temps. Une dame enthousiasmée jette son éventail dans l'arène; à qui l'hommage s'adresse-t-il?

Tengo un amante hechichero,

Que vale mas que un Peru,

Y su oficio es de torero,

Torerito y Andaluz.

Elle est extraordinairement jolie et blonde de ce blond de limaille d'or fauve qu'on ne rencontre que chez les Espagnoles de la province de Valence.

Los cabellos de mi rubia

Se los ha robado al sol;

A mi, me ha robado la vida,

El alma y el corazon.

Joseito a pris la muleta et, seul, au milieu du cirque il exécute un court mais brillant assaut, terminé par un magnifique coup d'épée donné à taureau reçu.

Ovation méritée; chapeaux, cigares et fleurs.

5. — Lagarto sort, comme le taureau suivant, de la fameuse ganaderia du duc de Véragua (rouge et blanc). (José) Bento (de Araújo) lui place cinq javelines parfaites et une autre trop basse, puis une banderille très bonne.

L'animal est brave et franc, Valentin le cape, puis lui place une paire de banderilles avec la chaise, passable, et une seconde paire al cuarteo, bien. Il salue alors le taureau al recorte avec le chapeau d'un aficionado et revient prendre la muleta, pour une longue série de passes que couronne l'estocade à volapié de rigueur qui reste contraire et de biais.

6. — Zar est formidable, noir, goulu de chair. Ce monstrueux animal est reçu para la cuadrille qu'il disperse. Joseito le passe en véronique; le taureau donne avec une telle violence sur la pique, que le brave Antonio vide les arçons; "Descends donc de ton cheval, hé, feignant!"

L'amateur se met sur les rangs, et avec Cirilo tient tête à ce rude jouteur qui prend en tout onze varas.

Zar s'arrête juste devant la belle dame à l'éventail, et la contemple avec intérêt.

Si el hoyo de tu barba

Fuera pilita,

Mas de quatro (sic) tomaran

Agua bendita.

(Si la fossette de ton menton était un bénitier, plus de quatre y prendraient l'eau bénite).

Il est trés espagnol ce taureau russophile, mais il n'accepte qu'une paire et demie, avant que Joseito lui décerne son estocade à volapié et de devant, qui termine la journée.

ESCAMILLO.

In LE TORERO, Organe officiel des Arènes de France, Paris – 1 de Novembro de 1891

4 E 5 DE MARÇO 1894 – PORTO: QUATRO TOURADAS PARA AS CELEBRAÇÕES HENRIQUINAS


Biblioteca nacional de Portugal
 

PELAS PROVINCIAS

Porto, 6 de março. — Ao encetar as minhas correspondencias para a revista A Tourada, cumpre-me felicital-a pelo seu apparecimento e agourar-lhe um futuro prospero. Egualmente me cumpre agradecer a honra que immerecidamente me fizeram, pedindo-me para eu acceitar o encargo de ser correspondente n'esta cidade.

Não possuo dotes jornalisticos, mas farei tudo quanto poder para da melhor forma desempenhar o meu logar.

— Para commemorar o quinto centenario do infante D. Henrique, promoveram-se grandes festas no Porto. Entre ellas, houveram quatro touradas, sendo duas na praça da Serra do Pillar e duas no Colyseu Portuense.

No dia 2 effectuou-se a primeira na Serra. Os artistas eram todos bons, porém não puderam fazer brilhar o seu trabalho pela razão do gado fornecido pelo sr. Duarta d'Oliveira, ser ordinarissimo, de mau sangue.

Alfredo Tinoco, pouco poude fazer em vista do que atraz exposemos.

Guerrita, trabalhou sempre sob continuos applausos. Esteve incansavel com o capote e muleta. Com as bandarilhas infeliz, sendo colhido pelo 5.º touro ao collocar-lhe um par á sahida.

Dos bandarilheiros sobresahiram Minuto e Pechuga, que lidaram com preceito o 8.º touro, estando aquelle como sempre aos quites.

Mogino, Primito, Almendro e Antonio Guerra, regulares.

No dia 5, o gado pertencia ao mesmo lavrador e os artistas eram os mesmos.

Nada de notavel houve. Tinoco nada poude fazer, por os touros se não prestarem.

Guerrita, bem com o capote e muleta e regular com as bandarilhas.

Dos bandarilheiros distinguiu-se Minuto.

Os forcados em ambas as corridas, detestaveis.



A primeira corrida no Colyseu (Porto) effectuou-se no dia 4.

O gado do sr. Emilio Infante saiu regular.

José Bento (de Araújo) trabalhou com arrojo e vontade.

Bombita, foi muito applaudido pela sua vontade de agradar, porém falta-lhe a pratica.

Calabaça, bem. José dos Santos, regular, e Theodoro e Cadete, superiores.

Ostioncito e Saleri, da quadrilha de Bombita, bem.

No dia 5 realisou-se a 2.ª, sendo o gado do mesmo lavrador, que saiu regular como o da corrida anterior.

José Bento (de Araújo), bem. Bombita com vontade de agradar.

Os bandarilheiros andaram conforme poderam, distinguindo-se Theodoro e Cadete que bandarilharam um touro superiormente, recebendo muitos applausos.

Os forcados nas duas corridas muito desunidos. Uma desgraça…

Até outra vez.

Dourado.

In A TOURADA, Lisboa – 1 de Abril de 1894