Touradas em Faro
Notas d'um afficionado
Contra a espectativa geral a praça encheu-se provando o facto quanto o divertimento se vae arreigando no animo da população algarvia, e como elle será sempre querido se houver accordo na sua organisação.
As duas touradas anteriores, realisadas pelas festas de Faro, (NOTA : 12 e 13 de Junho de 1909) foram um poderoso chamariz para esta concorrencia, e porventura contribuiu tambem o attractivo de La Reverte, uma mulher a tourear.
Começou a tourada ás 5 horas da tarde com a lide do primeiro touro pelo José Bento (de Araújo). O bicho sahiu manhoso e matreiro, apenas permittindo um ferro, pelo que foi recolhido.
Os subsequentes foram tambem maus, excepto dois garraios espertos, que, bem aproveitados, teriam salvado a situação, se La Reverte a quem elles foram reservados tivesse sabido lidal-os na arrancada, não os poupando com o maneio das capas, para só forçal-os depois de cansados.
Infeliz em tudo esta artista. Mal empregado dinheiro que se gastou com ella.
NOTA : O jornal DIARIO DE ALMERÍA dedicou um artigo a María Salomé Rodríguez Tripiana «LA REVERTE» com o título «¿Hombre o mujer?».
LINK : https://www.diariodealmeria.es/almeria/SENES-Hombre-mujer_0_1615038724.amp.html
O grupo dos bandarilheiros, de uma fraqueza extrema. Valente quando o gado era manhoso, fugindo quando dava alguma cousa, mostrando a sua incapacidade na lida. N'uma outra praça que não fosse esta, entendida, os artistas não escapavam salvos da troça, menos Jorge Cadete que mais uma vez confirmou os seus superiores creditos, e Moyano, unicos que conseguiram metter os poucos ferros bons que houve. Ambos foram merecidamente applaudidos.
Quem se mostrou a toda a altura da situação, salvando do fiasco, foi o corajoso grupo dos forcados, que fez valentes pegas de cara e costas, ovacionadas com enthusiasmo.
Ao Nuncio, cremos, que não terá ficado de voltar ao Algarve com semelhante gado.
Em suma. A terceira tourada descontentou a muita gente e bom será que nas futuras haja o maximo cuidado na escolha do curro, e na escolha do pessoal, não se olhando a despezas para o contractar superior e capaz, o que haja de melhor, se a empreza não quizer ver em terra um divertimento que com tão bons auspicios iniciou, e que tendo entrado como mostra pela concorrencia, tanto no gosto publico, dará sempre margem a que seja lucrativamente explorado e com satisfação de todos.
Sei que a empreza não poupou deligencias nem esforços, nem despezas para se sair bem : a culpa da infelicidade não lhe cabe, salvo a de se não ter guiado por seguras informações na escolha dos artistas e curro, abonados uns e outros por creditos firmes, peritos aquelles, puro este.
Nas praças em começo, cuja reputação ainda está a formar-se, como esta de Faro, é necessario a todas as circunstancias que importem seguir a justa consagração da boa vontade empenhada em acertar.
Não se termina esta nota ligeira sem que se dirijam calorosas felicitações aos srs. João Arcanjo e Francisco Pinto Junior, que não se furtaram a cansaços e trabalhos para a realisação d'esta tourada, esperando que no futuro e no seu propio interesse serão mais cuidados, compensando com todas as vantagens o descontentamento actual.
In PROVINCIA DO ALGARVE, Tavira - 28 de Agosto de 1909