JOSÉ BENTO D'ARAUJO
Que gratas recordações nos evoca este nome. Faz-nos lembrar o tempo em que a tauromachia era para nós o nosso mais enthusiastico divertimento, no qual se salientavam nobres e plebeus, defrontando-se com os mais terriveis adversarios.
Aquellas touradas de fidalgos, em que os rapazes d'então faziam vibrar a alma nacional, vivem hoje apenas na tradição.
D'essa pleiade enorme pelo numero e pelo valor, poucos restam. Tudo passe, tudo o tempo destroe ! As «esperas», tão do agrado do alfacinha e que eram, por assim dizer, a primeira phase d'uma corrida, desappareceram por completo. Seguia-se a embolação, que não deixava dormir a manhã na cama e a que nenhum amador, digno d'esse nome, se furtava.
N'essa occasião se faziam conjecturas sobre a lide, se faziam previões sobre o que seria a corrida. E raras vezes os touros de Roquette ou do Bonacho desmentiam os vaticinios formados.
Foi n'esse tempo saudoso — mez de junho de 1878 — que na velha arena do Campo de Sant'Anna se apresentou, revestido do maximo arrojo, um rapaz novo, quasi imberbe, que mostrou logo as suas aptidões, fazendo prevêr o que mais tarde viria a ser : — um grande cavalleiro.
Talvez esse cavalleiro não goste que recordemos a epoca da sua estreia, que constitue como que uma certidão d'edade. mas os homens só teem a edade que parecem ter e José Bento d'Araujo, o cavalleiro a que nos referimos, ahi está são e vigoroso, servindo de exemplo aos novos e fazendo, com a alegria e a correcção do seu trabalho, levantar uma praça em fremitos de anthusiasmo.
Z.B.
In REVISTA TAURINA, Lisboa - 20 de Junho de 1909