10 DE AGOSTO DE 1902 - LISBOA : A FESTA DO BANDARILHEIRO THOMAZ DA ROCHA COM OS CAVALEIROS SIMÕES SERRA, MANUEL CASIMIRO D'ALMEIDA E JOSÉ BENTO DE ARAÚJO FOI UM DESASTRE...

 


Biblioteca nacional de Portugal

CAMPO PEQUENO

A festa de Thomaz da Rocha

            Se satisfez o beneficiado pelo bom resultado pecuniario, não satsifez o publico que ficou devéras mal impressionado com o curro de garraios (infezados alguns) que o lavrador de Almeirim Sr. A. Rodrigues Santo, se dignou mandar para a primeira praça do paiz, com a mesma sem ceremonia como mandaria para a extincta Cruz Quebrada (NOTA : A praça de touros de Algés foi edificada posteriormente).

            Lamentamos que se preze tão pouco o bom nome de um ganadero e que não haja remorso de consciencia, em se explorar tão ignobilmente o publico.

            A auctoridade para quem poderiamos appelar visto que visa os cartazes que annunciam touros e depois vê correr bezerros, essa cruza os braços e serve para tudo menos para exigir a responsabilidade a quem competir pela falta de seriedade nos contractos.

            Ha rigor e demasiado nos pequeninos casos ; aos, porém, de mais importancia não se lhe liga interesse algum.

            Se o que succedeu no domingo se desse em Hespanha a empreza era auctoada e esta por seu turno iria pedir a responsabilidade a quem pertencesse ; aqui repetimos, os abusos succedem-se, o publico vê-se ludibriado, aborrece-se a acaba por deixar de frequentar o divertimento.

            Isto é consequencia, da brandura de uns e dos poucos escrupulos de outros.

            Como resultado da má qualidade da materia prima, pouco temos a dizer do trabalho artistico : no entanto mencionaremos José Casimiro no 1.º touro que obrigou a marrar dando-lhe uma lide de mestre. O seu cavallo Rolito por duas vezes se virou para a esquerda e o distincto amador mudando de montada collocou dois ferros curtos bem apontados.

            Foi applaudido com enthusiasmo, assim como seu pae Manoel Casimiro, que achando-se ainda doente, se encontrava no sector 1.

            José Bento (de Araújo) e Simões Serra, deligenciaram bastante, mas ao primeiro coube um manso e ao segundo um tunante que metteu respeito ao cavalleiro.

            Da gente de montera houve de todos muito boa vontade.

            Theodoro Gonçalves, como sempre incansavel e saliente.

            Bandarilhando collocou bons pares sahindo para os dois lados, caso que merece mensção por ser extraordinario nos nossos artistas ; aproveitando um resalto teve um par bastante trazeiro, não sendo cado, no entanto, para as manifestações de desagrado da parte do publico, que outras vezes tão indulgente é.

            Thomaz da Rocha variou a lide em bandarilhas que não sahiu luzida como seria seu desejo, mas que mostrou ser feita com conhecimento e consciençia.

            Calabaças pae e filho, Saldanha, Torres Branco e Martins repetimos, todos com muito boa vontade.

            Apreciado este trabalho resta-nos dizer que na muleta pegou Theodoro uma unica vez no que fez muito bem e o capote vimos abril-o ao mesmo Theodoro, Martins, Torres e Rocha.

            Mas para não melindrar ninguem abstemo-nos de dizer o que vimos e se nos dão licenca limitar-nos-hemos a dizer que sentimos a falta de um toureiro hespanhol.

            Os forcados portaram-se bem, tendo Fressura executado uma pega de costas de muito effeito.

            O velho Botas a contento de todos, menos do emprezario Batalha, que no fim da corrida o estava reprehendendo não sabemos porque, mas calculamos que estaria desorientado com a manifestação ao Manoel Casimiro.

            Coitado, apezar d'aquelle enorme e balofo corpanzil, é um mesquinho em tudo, o nosso amigo Batalhinha.

Zé do Sol.

In REVISTA TAURINA, Lisboa - 24 de Agosto de 1902