27 DE AGOSTO DE 1893 – MARSELHA : PRAÇA DE TOUROS INCENDIADA NUMA CORRIDA COM O CAVALEIRO PORTUGUÊS JOSÉ BENTO DE ARAÚJO É NOTÍCIA NO BRASIL


 

Biblioteca nacional do Brasil

            A corrida de touros, que no dia 27 de Agosto se realisou em Marselha, deu logar a incidentes escandalosos. Neste momento, póde dizer-se que era uma vez a praça do Prado ! Os bancos foram feitos em estilhas e em seguida incendiados, e tiveram egual sorte as barreiras, as cadeiras, etc. Um destroço geral e completo !

            Eis como se passaram os factos :

            A corrida começou na melhor ordem. O cavalleiro portuguez José Bento de Araujo chegou mesmo a enthusiasmar o publico, mas depois delle a corrida perdeu todo o interesse.

            Os touros eram matreiros, á custa de haverem já sido corridos n’outras praças, e os espadas e bandarilheiros não prestavam tambem para nada !

            Á vista disso, o publico entrou a vociferar desesperadamente ; o correndo que o lavrador tinha enviado de proposito um curro pessimo, afim de que as corridas de Marselha fossem inferiores ás de Nimes, mais se exaltaram os animos. Os espectadores começaram a assobiar e a gritar como possessos, e em breve encheram o redondel de projectis de toda a ordem, tendo de intervir immediatamente a força dos gendarmes, tão grande era a algazarra !

            Cinco mil pessoas invectivavam ao mesmo tempo os espadas e a «cuadrilha», e accusavam a empreza de roubar o publico.

            Nisto, doze rapazes saltam para o meio da arena, e, pondo em monte as cadeiras, os bancos, os fragmentos das barreiras, etc., largaram fogo a tudo. A policia quer intervir, mas é impedida de o fazer, ao mesmo tempo que outro grupo de exaltados se engalfinha nos artistas.

            Ás 6 horas e um quarto as fogueiras ao meio da praça eram já sete, alimentadas com toda a especie de combustivel que os desordeiros podiam haver ás mãos. Elevavam-se a mais de 12 metros as labaredas, e a faina e a algazarra multiplicam-se desesperadamente. O calor é atroz, e parte do publico retira-se suffocado. Mas os fanaticos prosseguem na sua obra de destruição, e em breve lançam fogo ao pavilhão central, de onde a musica fugira espavorida.

            Chamados pelo telephone, vêm os bombeiros, que se empenharam dedicadamente na extincção do incendio, ao mesmo tempo que a policia e os gendarmes faziam evacuar a praça.

            Dentro desta, porém, não escapou coisa alguma !

In CORREIO PAULISTANO, São Paulo – 6 de Outubro de 1893