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A tourada de hontem
A 13ª festa tauromachica deste anno podia ter sido uma festa melhor.
A circumstancia de ser offerecida ao Club dos reporters e ao Lyceu Litterario Portuguez levou á praça da rua S. Christovão uma concurrencia muito regular de senhoras e cavalheiros, que devem ter saido de lá bastante desiludidos.
Os touros, em numero de seis, foram lidados conforme o programma: força é dizer que attestaram publicamente sua antiga bravura, mas tambem mostraram que a respeito de farpas, elles estavam dispostos a evital-as o mais possivel.
Á cabeça do 1º touro que Alfredo Tinoco havia lidado a cavallo, mandou o intelligente que se lançassem os moços de forcado; e foi o mesmo que ordenar uma meia de duzia de bolèos. O animal estava valente, de armação alta, e lançou por terra os que lhe offereciam o peito.
O 5º touro foi tambem, depois de lidado por Gonçalves e Luiz Homem, entregue aos forcados que não conseguiram pegar-lhe á unha, tal a valentia da féra e a falta de união dos homens a quem cabe esse serviço.
O 6º touro pertenceu a José Bento (de Araújo) que o tratou bem, e teve por fim, occasião de ver-se que não ganhou muito, como artista, dando confianças ao publico. na sua franqueza rude, vendo que não podia metter mais um ferro curto que tinha em mão, retirou-se dizendo: "Adeus!" para aechibancada, e ouviu com dissabor um "ha mais tempo" bem dispensavel.
Para o touro que trazia ao pescoço 200$ ninguem appareceu. O animal percorreu a arena com frenesi procurando quem lhe offerecesse frente, e apenas via uma ou outra perna galgando a trincheira.
Comtudo isto, a tourada terminou ás 5 1/2 da tarde, no meio de um descontentamento geral.
In O PAIZ, Rio de Janeiro - 26 de Outubro de 1896