A CAVALARIA TAUROMÁQUICA PORTUGUESA - CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO MENCIONADO


 

"FADOS, MULHERES E TOIROS"
Pepe Luiz, Lisboa - 1945

A CAVALARIA TAUROMÁQUICA PORTUGUESA

E a alta expressão do seu valor artístico gravado numa gloriosa história de séculos

O toireio eqüestre significou sempre uma escola de destreza demonstrada primitivamente nos torneios em que fulgiam galas e intervinham monarcas e aristocratas..

Os séculos foram rodando e obedientes ao pensamento de Platão, de que «o belo é o esplendor da verdade», os cavaleiros sorteavam reses bravas, aprumados e de figura bem construída, palpitantes de vida, cavalheirismo e galantaria. E arrogantemente, empunhando o garrochão, pelejavam inspirados na magnitude e exaltação de primores toireiros.

A arte do toireio a cavalo, provindo de épocas recuadas da história da Península Ibérica, criou raízes vigorosas na Pátria Portuguesa, onde progrediu de maneira profunda.

É vulgar chamar-se arte de Marialva ao toireio eqüestre. Esta denominação não tem rigorosa propriedade, por que o célebre titular que desempenhava as funções de Estribeiro-Mor de Sua Majestade D. José I não foi um lidador, mas um potente impulsionador dos métodos de ensinar cavalos e da forma mais apropriada à utilização dos mesmos animais por parte dos ginetes.

Os processos do Marquês de Marialva contribuíram muitíssimo para o aperfeiçoamento das artes e trabalhos vários do manejo dos cavalos e adestramento dos soldados para a campanha, e disso muito aproveitaram os cavaleiros que se entregavam à caça e a outras diversões e torneios sob os bons preceitos de bem cavalgar.

Desde tempos longínquos, que os portugueses não eram dispensados nas festas de toiros celebradas em Espanha, promovidas pela côrte, e onde toireavam e matavam o rojão

Sòmente nos princípios do século XIX apareceram alguns cavaleiros de sangue plebeu, desenvolvendo-se depois o profissionalismo, sem, contudo os fidalgos deixarem de toirear nas magnificentes  corridas organizadas para comemoração de datas históricas, coroações, casamentos, e baptizados reais, e ainda em festejos de significado filantrópico.

No decurso aproximado de século e meio, alguns nomes ficaram exarados nos fastos da arte de toirear a cavalo: Duque do Cadaval, os Sedvem — grandes companheiros do rei D. Miguel de Bragança, que também toireava, servindo-se de fogosas montadas — D. João de Meneses, Marqueses de Castelo Melhor e de Belas, Diogo de Bettencourt, Visconde das Galveias, Carlos Relvas, D. António de Portugal, Conde da Esperança, José Casimiro Monteiro, Carlos Cipriano Batalha, Conde de Fontalva, Manuel Mourisca, Alfredo Tinoco, Alfredo Marreca, D. Luiz do Rêgo, Conde de S. Martinho, Vitorino Fróis, Joaquim Alves, Fernando de Oliveira, José Bento de Araújo, Simão da Veiga (pai), D. Rui da Câmara (filho do Conde da Ribeira), Manuel e José Casimiro de Almeida, Conde da Tôrre, Adelino Raposo, Morgado Covas, Eduardo Macedo, D. Alexandre e D. João de Mascarenhas e outros.


O momento das cortesias numa corrida de gala, no Campo Pequeno, vendo-se, no primeiro plano, os cavaleiros Simôes Serra, Manuel Casimiro, José Bento de Araújo, Fernando de Oliveira, Joaquim Alves e Eduardo Macedo.

Passando em revista os feitos assinalados em peleja heróica com os toiros, encontramos páginas doiradas escritas nas arenas não apenas do México, mas também da Espanha, França, Brasil, Argentina, e de algumas cidades africanas, pelos cavaleiros de Portugal, que, de casaca de sêda e brocados de oiro, tricórnio emplumado, sujeitando cavalos de raça e lidando reses bravas, nunca deixaram de realizar fainas arriscadas e temperadas por uma refulgente arte. E em tôda a parte arrancam entusiasmos ferventes e alcançam um predomínio justificador da felicíssima frase do ilustre escritor e dramaturgo, Presidente da Academia das Ciências de Lisboa, Dr. Júlio Dantas: «Uma guitarra nas mãos, um bom cavalo entre os joelhos, um toiro pela frente, e aí temos o português!»

In FADO, MULHERES E TOIROS, Pepe Luis, Livraria Popular de Francisco Franco, Lisboa - 1945