17 DE AGOSTO DE 1913 – FIGUEIRA DA FOZ: UMA TOURADA DEVERAS ATRIBULADA…



O CAMPEÃO nas provincias

Figueira da Foz, 22. — Promovida pela empreza do elegante Colyseu, realisou-se, com uma casa á cunha, a anunciada tourada, no dia 17 do corrente, que esteve á altura dos creditos que tem grangeado a actual empreza, pois agradou bastante pela maneira como correu.

O trabalho equestre estava a cargo dos arrojados cavaleiros José Bento de Araujo e Adolfo Machado, que se houveram como dois valentes.

Depois das cortezias do estilo, que foram exceutados com toda a correção, entra na arena José Bento (de Araújo), a quem largaram um touro, que embora de poucas carnes, arrancava voluntariamente, empregando, á volta, 4 ferros compridos, e rematando com um curto, bem apontado, pelo que ouviu bastantes palmas. No 6.º que era um belo touro e leal, José Bento (de Araújo) brilhou, colocando 6 ferros compridos e 2 curtos, medindo bem os terrenos, como manda a arte. Tendo chamada especial, foi muito aplaudido.

José Bento (de Araújo) apezar da idade, ainda mostra que é o antigo Zé Bento (de Araújo). Adolfo Machado que é dos novos, e com recursos, é um bom cavaleiro. No 4.º da tarde, que era um touro corpolento, de muito pé, cortando terreno, foi logo de principio colhido contra as taboas, mas sem consequencias de maior; recolhendo, verificou-se que o cavalo não estava inutilizado para o toureio. Voltou e conseguiu ainda prender 4 ferros compridos com muito custo. Sendo chamado fez-lhe a plateia uma grande ovação. No 9.º, que lhe coube, e que era um animal bastante corpolento, muito mais que o seu antecessor, e de muitas carnes, só poude conseguir, Adolfo Machado, colocar dois ferros compridos á volta; nada mais podendo fazer por o trouro ter saltado duas vezes a trincheira, numa das quais esteve quasi na plateia, partindo a corda de arame que a defende dessas envestidas, e tendo-se desembolado, teve de ser recolhido.

Notamos que a distribuição do gado para os cavaleiros, não foi equitativa, pois para o mestre José Bento (de Araújo) soltaram dois novatos, e para o novato Adolfo Machado soltaram dois grandes mestres!!!

Seria proposito?... Seria combinação?... Não sabemos, porque não assistimos á distribuição, o que daqui para o futuro faremos, o que é para não errar. Da gente de pé temos que especialisar uma gaiola de Theodoro no 2.º da tarde, outra de Ribeiro Tomé no 5.º, e um sesgo de Cadete também no 2.º. Os outros artistas, que eram Malagueño, Tomaz da Roche, Tadeu e Alexandre Vieira, empregaram bons pares de ferros, trabalhando todos com boa vontade e arrojo. Houve trez pegas, sendo a 1.ª, no 3.º touro, rijissima. Os touros, que eram muito deseguais em corpo, a maior parte cumpriu, e alguns sairam mesmo muito bravos, á excepção do 7.º, 8.º e 10.º, que por mais exforços que os artistas empregassem, nada poderam fazer deles. Emfim, a tourada agradou, pois todos os aficionados sairam satisfeitos, porque houve para todos os paladares.

No intervalo foram todos os artistas chamados á arêna, incluindo o lavrador, sr. Antonio Luiz Lopes, de Vila-franca de Xira, sendo todos muito aclamados. A inteligencia, a cargo do sr. Jaime Henriques, teria sido acertada, se tivesse feito cumprir as suas ordens, pois os artistas não as acatando, abuzam. E haja em vista o que succedeu com o 5.º touro, que era bravissimo e voluntario; depois de dar uma bela lide, tendo passado ao 2.º estado, e tendo o inteligente mandado tocar a cessar bandarilhas, continuaram a aperta-lo, e, desrespeitando as ordens do inteligente, fizeram com que o boi se desmanchasse, apanhando querença ás taboas, nada mais dando, podendo dar tudo até final se fosse aproveitado nos seus estados. O sr. Jaime Henriques deve-se impôr e fazer-se respeitar; doutra maneira é melhor não aparecer lá.

Abrilhantou a corrida a distinta filarmonica 10 de Agosto, que executou as melhores peças do seu variado reportorio.  Para o sia 7 de setembro, por occasião das festas daa Senhora da Encarnação, em Buarcos, anuncia-se já outra corrida promovida pela empresa, com os distintos e arrojados cavaleiros Manuel e José Casimiro, e os melhores artistas portuguezes, sendo o gado fornecido pelo escropuloso creador de Vale de Figueira, sr. Emilio Infante da Camara, que promete ser uma deslumbrante corrida, em virtude da empreza não se poupar a trabalhos e despezas.

Aos touros, pois, no dia 7 de setembro.

In CAMPEÃO DAS PROVINCIAS, AVEIRO – 23 de Agosto de 1913