23 DE MAIO DE 1895 - INAUGURAÇÃO DA PRAÇA DE TOUROS DE ALGÉS


 


A POPULAR PRAÇA DE ALGÉS

 

A antiga praça de touros de Algés, nos arredores de Lisboa.
Foto: Internet

 O conflito aberto entre alguns cavaleiros que desejavam ganhar, por corrida, mais uma dezena de milhar de réis do que os cento e vinte mil que a empresa do Campo pequeno lhes pagava, levou à iniciativa da construção duma praça de toiros, em Algés, alguns aficionados entre os quais Teodoro e reinaldo Pinto Basto, Silva Bruscki, Scarlatti Quádrio e Manuel Figueira, do Clube Tauromáquico Português.

(NOTA: Esta informação só parcialmente é verdadeira. Na realidade os cavaleiros pretendiam mais dinheiro, informação antecipada sobre os programas das corridas, etc... Este assunto será desenvolvido neste blogue um dia destes.)

A inauguração efectuou-se em 23 de Maio de 1895 com os cavaleiros Alfredo Tinoco, José Bento de Araújo, Fernando de Oliveira e Manuel Casimiro; os bandarilheiros João Roberto, Teodoro, Jorge Cadete, Saldanha, Minuto, Pescadero, Rodas e Moyano e toiros de Vitorino Fróis. Várias corridas formais se realizaram nessa temporada, inclusive a da festa artística de Teodoro e Cadete, algumas delas com a caolboração dos amadores: cavaleiros João Gagliardi e D. José Manuel da Cunha Meneses, ambos equitadores de fama; e os forcados Aires de Serpa, Finzi, Armando da Fonseca, Alberto Albuquerque, Manuel Esteves, Couto paixão, Júlio Nunes e Fernando Cifka.

Já no final da temporada exibiram-se: Mateito, Currinche, o negro El Chileno e a tão reclamada toireira espanhola La Guerrita, a qual, segundo a crítica do tempo... lembrou a intervaleira Cartuxa!...

Em 1898 toireou o grande Guerrita, mas a casa teve apenas uma escassa meia entrada, porque nesse dia o Campo Pequeno apresentava no seu cartaz, António Reverte e Algabeño (pais) com os seus bandarilheiros e picadores. E, a propósito, conta-se que o califa cordovês exclamara ao obervar tão pouca gente nas bancadas: «Estes, sim, são meus amigos verdadeiros, porque vêm aqui, propositadamente, para me ver!»

Na alegre e arrabaldina praça houve, em 1900, umas dezasseis corridas de toiros con bons artistas, como Algabeño (pai), Emílio e Ricardo Bombita e Faíco, procurando a empresa competir com a do Campo Pequeno, mas o resultado foi algo funesto para ambas as partes. Já nesse tempo se verificava não ser possível, no mesmo dia, conseguir espectadores suficientes nas duas praças.

Em consequência de a empresa primitiva não ter satisfeito alguns compromissos tributários, a Câmara Municipal de oeiras pôs a praça em hasta pública, sendo adjudicada a Eduardo Pedroso, cujos herdeiros são os actuais proprietários.

Foi em Algés, no ano de 1903, que se despediu o velho João Calabaça, e na organização dessa corrida em que entraram Fernando de Olievira e Manuel dos Santos, foi instituído o prémio de uma bengala com castão de prata para o toireiro amador que melhor estivesse nessa tarde. Concorreram João de Oliveira, Alexandre Vieira, Inocêncio Angelo, Augusto de Sousa e Alfredo dos Santos, sendo o último quem triunfou.

Na época de 1908 enveredou-se pelo género dos festivais, e foi, então, que apareceram os «Pauliteiros de Miranda», os negros de Luanda que montavam uns garraios; os toireiros marrecos; e o popularíssimo cavaleiro José Borges, dos Correios. Todavia, a nota de grande sensação foi dada pelos dois niños sevilhanos Gallito e Limeño, o primeiro dos quais, tempo depois, se revelou a figura mais completa do toireio, cuja recordação viverá eternamente na alma de todo o mundo aficionado. E, por este pormenor, à história da vida artística de Joselito, o Gigante de Gelves, está ligada a praça carabanchelera dos lisboetas.

Vieram a seguir La Reverte e Madame Mayestrick, havendo depois, uma vez por outra, qualquer corrida formal que atraía a atenção dos amantes da Festa Brava; mas os espectáculos mais frequentes eram organizados à base do género cómico em que se destacava o popular e engraçado António Preto.

Em certa altura — 1913 — realizou-se uma corrida em benefício de Manuel e José Casimiro, ficando este sem um lindo cardão que lhe fora oferecido pelo Dr. Augusto Assis, de Alhandra. O cavalo recebera uma perfuração no ventre, não podendo ser evitado o triste percalço, apesar da intervenção rápida do capote de Teodoro. Fomos testemunhas do episódio e da consternação produzida no espírito do público que enchia a praça.

(NOTA: A praça de touros de Algés acabou por ser demolida muitos anos depois. No entretanto, serviu de armazém de compra e venda de papelão e de metais. Hoje, existe no local um parque de estacionamento. No comments!)

In LISBOA DAS TOIRADAS, Pepe Luis, Livraria Popular de Francisco Franco, Lisboa - s.d.