ESTIMADOS LECTORES
Regresamos después de las vacaciones,
lunes el 8 de septiembre.
—Historia de la Fiesta Brava en España, Portugal, Francia y Brasil -el rejoneador José Bento de Araújo y el arte del toreo a caballo. — L'histoire de la tauromachie en France, Espagne, Portugal et Brésil- le "caballero en plaza" José Bento de Araújo et l'art raffiné de l'équitation. — The History of bullfighting in Portugal. Spain, France and Brazil- José Bento de Araújo, and the refined art of horsemanship. — O cavaleiro José Bento de Araújo e a tauromaquia nos séculos XIX e XX.
AS FESTAS EM SANTAREM
19 DE MAIO
Está em festa a pittoresca cidade de Santarem.
É hoje que se realisa ali a inauguração da nova praça de touros, de construcção moderna ; é solida, commoda e apparatosa, e ficará sendo, sem duvida, a melhor praça do Ribatejo.
Para dar maior brilhantismo a esse acontecimento tauromachico, constituiu-se uma commissão composta de illustrados cavalheiros de Santarem, Almeirim e diversas povoações proximas, á frente da qual se encontra o distincto lavrador sr. Conde de Sobral.
Essa commissão não se tem poupado a exforços a fim de que se faça uma festa digna de uma cidade importante como é Santarem.
Os monarchas, que sempre da melhor vontade de prestam a presidir a estas festas, tambem auxiliaram a commissão, promettendo-lhe comparecerem a ellas.
Entre os commerciantes, agricultores, industriaes, operarios e demais habitantes da cidade de Santa Iria, foi aberta uma subscripção para occorrer ás despezas a fazer com os festivaes. Em pouco tempo essa subscrição subiu a perto de 800$000 réis.
Damos em seguida um resumo dos festejos, que começaram hontem á noite com marche aux flambeaux que, partindo ás 8 horas do lado da Penitenciaria, percorreu as ruas principaes até á Ribeira, atravessando a magestosa ponte, indo a Almeirim cumprimentar os membros da commissão presidencial, srs. conde de Sobral e Manuel Andrade.
20 DE MAIO
Hoje, 20 : — Alvorada por differentes bandas de musica, Ás 9 horas chegada de suas magestades. Ás 10 horas Te-Deum no sumptuoso templo do Seminario. Ás 11 horas recepção. Ao meio dia, almoço offerecido a suas magestades, pela commissão presidencial, na sala da antiga junta geral. Ás 2 horas parada agricola no Campo de Sá da Bandeira, partindo o cortejo do passeio das Amoreiras e desfilando deante do pavilhão real em direcção á calçada do Monte. Ás 5 horas inauguração da praça de touros. Ás 8 horas jantar de gala. Ás 11 horas partida de suas magestades para a capital, organisando-se n'essa occasião uma serenata no Tejo entre o penedo de Santa Iria e o bairro d'Alfange, em que devem tomar parte a Sociedade Recreio Ribeirense, a Academia Bellini e outras bandas de musica.
Como acima dizemos, a inauguração do novo circo taurino terá logar ás 5 horas da tarde, sendo corridos 10 touros pertencentes ao sr. conde de Sobral, que generosamente os offereceu para esta corrida.
O pessoal que n'ella toma parte é o seguinte :
Espada : — Fernando Lobo (Lobito).
Cavalleiros : — Alfredo Tinoco e Manuel
Casimiro.
Bandarilheiros : — João Calabaça, João
Roberto, Vicente Mendez (Pescadero),
Raphael Peixinho, José dos Santos e José Martins (Azeiteiro).
Forcados : — O valente grupo de Julio da Rafôa.
24 DE MAIO
A segunda corrida effectua-se na proxima quinta feira, 24, correndo-se 10 touros do afamado lavrador Maximo Falcão.
Espada : — Francisco Gonzalez (Faico). (NOTA : Francisco González Román «FAICO»)
Cavalleiro : — José Bento (de Araújo).
Bandarilheiros e forcados, os mesmos da
primeira corrida.
A Tourada far-se-ha representar nos festejos e nas corridas por um dos seus redactores.
In A TOURADA, Lisboa - 20 de Maio de 1894
A Câmara Municipal de Loures aprovou na tarde de 5 de Setembro de 1968 a numeração policial de uma praceta de Santo António dos Cavaleiros (Ponte de Frielas) com o nome do cavaleiro tauromáquico José Bento de Araújo. (NOTA : 18 de Setembro de 1851 - 2 de Setembro de 1924)
«Proponho que a Câmara Municipal (de Loures) aprove a numeração policial da Praceta José Bento de Araújo, Ponte de Frielas, com a seguinte discriminação : — um (lote C quatro) dois (Lote C três) três (lote C dois) quatro (Lote C um) cinco (lote D três) seis (Lote D dois) sete (Lote D um) oito (Lote A três) nove (Lote A dois) dez (Lote A um) onze (Lote B quatro) doze (Lote B três) treze (Lote B dois) catorze (Lote B um).
Posta à votação esta proposta foi aprovada por unanimidade.»
Quase dois anos antes, o município aprovara uma proposta diferente : José Bento de Araújo daria o nome de uma rua (e não a uma praceta como acabou por ser mais tarde) no novo bairro de Santo António dos Cavaleiros.
Pode ser um mero detalhe (porquanto nos tempos que correm o rigor é considerado cada vez mais algo irrelevante)...
A acta da «48.ª reunião ordinária» realizada em 2 de Novembro de 1966 ou 2 de Dezembro de 1966 é peremptória, apesar da discrepância de datas.
O cabeçalho do documento manuscrito da
sessão refere o dia 2 de Dezembro de 1966 e o texto com a narração das propostas
aprovadas indica outra data : 2 de Novembro.
Trata-se de um arreliador lapso, que passou despercebido até 12 de Abril de 1968. Foi corrigido na acta desse dia a propósito de mais uma informação sobre o nome de José Bento de Araújo. A data exacta da reunião inicial é, portanto, segunda-feira, 2 de Dezembro de 1966 (e faz tanto mais sentido quanto 2 de Novembro era um sábado)...
Seja como for, às cinco e quarenta e cinco da tarde de 2 de Dezembro de 1966, o presidente Joaquim Dias de Sousa e os vereadores Júlio de Freitas Borba, professor João de Almeida Santos e Raul de Sousa Otero Salgado, depois de lerem e aprovarem por unanimidade a acta da reunião anterior, começaram a debater a «Ordem do Dia».
«Visto o disposto no número quatro do artigo cinquenta do Código Administrativo, e o respectivo parecer da Comissão Municipal de Toponímia, proponho a aprovação das denominações de arruamentos na área de urbanização do Casal Bravo e Casal dos Cavaleiros, primeira fase, dez hectares, Ponte de Frielas, freguesia de Loures, conforme a seguinte discriminação : — Denominação e Designação no projecto : — Avenida João Branco Núncio — Rua C (troço) ; Rua Eduardo de Macedo - Impasse C onze ; - Rua Morgado de Covas - Impasse C doze ; - Rua Joaquim José Correia - Impasse C um ; - Largo Dom Duarte ; - Largo Francisco de Morais ; - Praça Dom Miguel Primeiro ; - Avenida Infante Dom Pedro - Rua B ; - Avenida Marquês de Marialva - Rua A (troço) ; - Avenida Manuel Carlos de Andrade - Rua A (troço) ; - Rua José Bento de Araújo - Impasse E - cento e onze ; - Rua António Luís Lopes - Impasse E onze ; - Avenida Conde de Avranches - Rua E ; - Rua Simão da Veiga - Impasse A um ; - Rua Carlos Relvas - Impasse E doze ; - Largo Doutor Rui de Andrade - Impasse B três ; - Rua Vitorino Froes - Impasse E um.
Desde logo posta à votação, foi esta proposta aprovada.»
A proposta inicial de denominação dos arruamentos de Santo António dos Cavaleiros com nomes de grandes cavaleiros tauromáquicos portugueses, segundo Fernando Correia, responsável do Gabinete de Comunicação Social da Câmara Municipal de Loures, partiu da empresa de construção civil ICESA, que construiu aquele bairro.
A ICESA - Indústrias de Construção e Empreendimentos Turísticos S.A.R.L. já não existe.
Um amigo fez-me, entretanto, chegar alguns dados que descobriu na internet (mais exactamente na Wikipedia) sobre esta firma.
«A ICESA, empresa de construção civil, era propriedade de Miguel Gentil Quina,banqueiro que dirigiu o Banco Borges & Irmão de 1970 até 1975 e fundou o Grupo Miguel Quina (3° maior grupo económico português até à revolução de 25 de abril de 1974), e irmão de Mário Quina, Medalha de Prata (em vela) nos Jogos Olímpicos de Verão de 1960, em Roma.»
Os investigadores João Cunha Borges, Patrícia
Bento d'Almeida e Teresa Marat-Mendes (ISCTE,
2022) estudaram a actividade da firma.
(NOTA : https://ciencia.iscte-iul.pt/publications/tecnologia-e-inovacao-nas-habitacoes-economicas-da-icesa/92643 )
«A ICESA era uma empresa que se destacava pelo fabrico de elementos pré-fabricados (Pinto, 1969), incluindo painéis resistentes de fachadas, paredes resistentes interiores, pavimentos e divisórias, lanços e patamares de escada, varandas, condutas de fumo, peças de cimalha e guardas de varanda (...)»
«A urbanização de Santo António dos Cavaleiros (SAC), concelho de Loures, foi a primeira realização da ICESA e a única que contemplou um projecto de enquadramento paisagístico por parte do arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles (Carapinha e Teixeira, 2003).»
Há documentos sobre a firma ICESA que podem
ser consultados no Arquivo Histórico da Presidência da República.
(NOTA : https://www.arquivo.presidencia.pt/details?id=2282 )
A praceta José Bento de Araújo tem cinco
edifícios (pintados de branco e com varandas vermelhas) de habitações
económicas de 3 e 4 pisos, mais um pequeno parque de estacionamento, que ocupam
hoje o lugar com o Código Postal é «2660-287
Santo António Cavaleiros».
A questão da toponímia de Santo António dos Cavaleiros não começa e não se esgota na aprovação da numeração policial que consta da acta datada de 5 de Setembro de 1968...
Com efeito, existem mais documentos sobre este assunto no arquivo da Câmara Municipal de Loures.
Acta da 3.ª reunião extraordinária da
Câmara Municipal de Loures, efectuada em 12 de Abril de 1968.
«Em
reunião ordinária do dia 2 de Dezembro de mil novecentos e sessenta e seis, (CORRECÇÃO DO ERRO DE DATA
DA ACTA ESCRITA CERCA DE DOIS ANOS ANTES) esta Câmara Municipal deliberou aprovar a
denominação "Rua José Bento de Araújo" para um determinado arruamento
do Bairro de Santo António dos Cavaleiros, precisamente aquele que, na planta
que acompanhou a sugestão da administração da empresa Icesa, SARL, foi designada
por Impasse 'E cento e onze'. — Em seis de Fevereiro último (1968) aquela
empresa informou que não foi aplicada a dita denominação porque se efectuou
posteriormente à referida deliberação uma alteração do esquema de arruamentos. Nestes
termos, Proponho que a Câmara Municipal delibere aprovar a revogação da
mencionada deliberação, por não ter existido o leito da artéria designada por
'Impasse E cento e onze' na área do Bairro de Santo António dos Cavaleiros.»
A «Rua José Bento de Araújo» não existe por causa de uma alteração do «esquema de arruamentos», decidida depois da acta inicial. Passou a ser designada «Praceta José Bento de Araújo» noutro local.
Esta
mudança abrangeu outros grandes nomes da tauromaquia nacional.
Eis a cópia
da acta da reunião ordinária realizada na Câmara Municipal de Loures em 18 de
Julho de 1968.
«Visto o parecer favorável da Comissão
Municipal de Toponímia, proponho que a Câmara Municipal delibere aprovar as
seguintes denominações para novos arruamentos no Bairro de Santo António dos
Cavaleiros, Ponte de Frielas : — Praceta Fernando de Oliveira, — Praceta Manuel Casimiro, — Praceta José Bento de Araújo, —
Rua Alfredo Tinoco, — Avenida
Francisco Pinto Pacheco, — Avenida Pedro Galego, — Avenida António Galvão de
Andrade, — Avenida Dom Luís de Meneses, — Avenida Dom Sebastião, — Rua Manuel
Mourisca, — Rua Conde de Vimioso, — Praça Dom Luís do Rego, — Rua Dom Alexandre
Mascarenhas, — Praça Dom Rui da Câmara, — Praça Roberto João Dambi.»
Assunto encerrado, portanto.
Santo
António dos Cavaleiros presta à Tauromaquia portuguesa e aos grandes cavaleiros
deste país, incluindo José Bento de Araújo, uma homenagem mais do que merecida.
Rui Araújo
NOTA FINAL
Sem o contributo de Fernando Correia (Gabinete de Comunicação Social da Câmara Municipal de Loures) e de Vera Estevão dos Santos (Arquivo Municipal de Loures) este «post» não seria uma realidade.
In ACTAS DO MUNICÍPIO DE LOURES - 1966 e 1968, ISCTE e ARQUIVO HISTÓRICO DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
MOITA
As corridas
que este anno se realisaram com motivo das festas á Senhora da Boa Viagem,
correram sem incidente.
A cavallo toureou José Bento (de Araújo) com a sua consumada valentia, sendo muito applaudido, assim como os bandarilheiros Theodoro, Saldanha, Manuel dos Santos, Luciano Moreira, Joaquim d'Almeida Chispa e Daniel do Nascimento.
Todos os artistas pegaram na muleta, á excepção de Theodoro, alguns mostraram muito geito.
In REVISTA TAURINA, Lisboa - 24 de Outubro de 1909
ORIGINALIDADES
No n.º 2 d'esta revista, escrevi um artigosito com o titulo acima, e era intenção minha continuar a escrever, sobre qualquer assumpto , que podesse figurar n'esta secção : — Originalidades. Porque, com franqueza, ás vezes apparece por ahi cada cousa que, na verdade, deve ser classificada conforme merece. (NOTA : O referido «artigosito» inicial pode ser consultado aqui : https://permalinkbnd.bnportugal.gov.pt/viewer/183957/?return=1&prev_next=0#page=1&viewer=picture&o=info&n=0&q= )
Por tanto principiei por dedicar esta secção para esses assumptos comicos e originaes. Mais tarde arrependi-me e atê mesmo de escrever o primeiro artigo simplesmente por não merecer a pena referir-me a esse escripto e mesmo lá está o proverbio : — «não vale a pena gastar cera com ruins defuntos. Mas tentei novamente inaugural-a e agora vae a valer, mas só para cousas que valham a pena e sejam dignas de referencia.
Vou tratar de um dos taes assumptos origimaes.
Na Folha do Povo, de sexta-feira, appareceu um communicado de um accionista, que tem mais de um voto — diz elle — em que se queixa de vinganças, de monopolios de artistas, dos cavalleiros que lá fóra já não eram applaudidos e que foram á procura de louros, de vinganças do sr. Costa Guerra (NOTA : Antonio da Costa Guerra era aficionado e foi, designadamente, gerente das praças de touros do Campo de Sant'Anna e do Campo Pequeno, em Lisboa. Faleceu na capital em 1897.) e muitas mais coisas que agora não me lembro.
Em primeiro logar o tal accionista, na sua opinião, quer transformar a praça do Campo Pequeno, o primeiro circo tauromachico do paiz, n'uma escola de toureio, ou por outra, em praça da Cruz Quebrada.
Quer para ali todos os bandarilheiros e cavalleiros que para ahi ha, não se lembrando sequer que aquella praça, para que concorreu com o seu capital, segundo elle proprio declara, visto ter mais que um voto, deve conservar os seus espectaculos á altura da primeira praça do reino.
As corridas de touros realisadas n'aquella praça não desmentem os seus creditos, pois que teem sido dignamente organisadas com elementos de primeira ordem. Se a empreza fosse a admittir os artistas que lá querem entrar, então são todos, porque todos na sua opinião, se acham com direito para isso e mais tarde viria a troupe Pae Paulino exigir tambem ali a sua entrada, pois que tem andando a praticar por essas praças das provincias. (NOTA : A troupe do Pae Paulino também chegou a actuar no Brasil)
Temos a trabalhar ali os bandarilheiros antigos como Calabaça, Sancho, Raphael, João Roberto, Minuto, Pescadero, Theodoro e Cadete, e alguns não trabalham em todas as corridas, tendo, á excepção de Cadete, Theodoro, Minuto e Sancho, folgas cada um na sua tourada.
Calcule-se o que seria, se por ventura entrassem para aquella praça mais artistas.
Está da parte da empreza, quando lhe apeteça ou veja que ha um outro bandarilheiro portuguez, mais moderno, com aptidões, mandal-o incluir no grupo dos artistas d'aquelle circo, e cremos mesmo que quando isso aconteça a empreza será a primeira a fazel-o, sem precisar que ninguem lh'o lembre. E para confirmar isto basta dizer-se que o bandarilheiro Sancho, velho como está e sem poder trabalhar, a empreza não o deixou de fóra e paga-lhe como se elle fosse um artista com todo o seu vigor.
Ora isto é
que é preciso tambem que se saiba. Não vamos só a dizer o que nos appetece,
levados n'uma ou n'outra influencia, e esqueçamos actos como estes. Portanto a
empreza, quando assim aconteça assim procederá.
No que respeita aos cavalleiros, simplesmente lhe digo que Alfredo Tinoco, José Bento (de Araújo) e Fernando de Oliveira, são três artistas distinctissimos e que os louros que os dois primeiros foram lá fóra á procura, já os levaram de cá, conquistador n'aquellas celebres touradas da praça do Campo de Sant'Anna, e portanto o articulista da Folha do Povo andou erradamente no que escreveu. Então agora entre nós e a empreza fez muito bem em apresentar os artistas mais dignos de figurar nos cartazes d'aquella praça.
Temos ainda Fernando d'Oliveira, um cavalleiro primoroso no seu trabalho, cujos louros conseguiu alcançar á custa de muita coragem e boa vontade.
Ha ainda um novo, Manuel Casimiro, que em tão pouco tempo tem feito progressos extraordinarios e dentro em breve devemos ter entre nós quatro cavalleiros distinctissimos, que honrarão sobremaneira a tauromachia portugueza.
Com respeito ao sr. Costa Guerra, cavalheiro respeitavel, o articulista a seu respeito escreveu o que lhe disseram. E portanto não tocamos n'esse ponto.
E mais coisas poderia dizer ao sr. accionista com mais de um voto, mas como o titulo da secção indica o escripto, fiacamos por aqui.
D. JOSÉ TENORIO.
In A TOURADA, Lisboa - 6 de Maio de 1894
Touradas
Campo Pequeno
A corrida que na ultima quinta-feira, 23, se realisou n'esta praça, tinha um fim altamente sympathico, e penna foi que a commissão organisadora não acceitasse o generoso offerecimento dos applaudidos cavalleiros Casimiros, pois temos a certeza que a receita seria muito maior ; mas a maldita politica...
A concorrencia foi diminuta.
Os nossos artistas foram recebidos com applausos pela assistencia, que assim premiava a gentileza de se associarem a tão sympathica obra de caridade, e o mesmo succedeu a Saleri, que tambem gentilmente se prestou a tomar parte n'esta festa.
Lidaram-se touros do acreditado lavrador Roberto, que estavam bem apresentados, saindo alguns bravos.
Damos uma breve noticia d'esta sympathica festa, por falta de espaço e por os jornaes diarios a já terem largamente noticiado.
A lide equestre estava a cargo dos festejados artistas José Bento (de Araújo), Macedo e Morgado de Covas, que procuraram tirar o melhor partido que puderam das rezes que lhes foram destinadas, sendo bastante applaudidos.
A lide a pé correu por vezes bastante animada por parte dos nossos habeis bandarilheiros Theodoro, Cadete, Manuel dos Santos e Ribeiro Thomé, que á porfia queriam enthusiasmar o publico com o seu primoroso trabalho, havendo pares superiores de todos elles, que foram muito applaudidos.
Manuel dos Santos sobresaiu em dois bellos pares a cambio e em dois quiebros de rodillas.
Saleri, que é realmente um bom toureiro, esteve incansavel, e no 5.º touro teve pares de bandarilhas que a assistencia applaudiu com justiça.
Fez uso da muleta tirando passes de boa escala, cingidos e valentes, e adornando se por vezes.
Ao novel bandarilheiro João Froes destinaram o ultimo touro, quando aliás o podiam fazer altertnar com outro collega, ou então não lhe dessem a alternativa, se não tinha meritos para alternar com os collegas. O sol, quando nasce, é para todos !
Faltaram, por justos motivos, Rocha e Alfredo dos Santos.
Na brega, além de Saleri, distinguiram-se Theodoro, Manuel dos Santos e Ribeiro Thomé.
Houve pegas muito valentes, e, cousa rara, opportunamente ajudadas.
A lide foi dirigida com acerto pelo conhecido aficionado sr. Jayme Henriques.
In REVISTA TAURINA, Lisboa - 30 de Setembro de 1909
As corridas em Villa Franca
Promettem
ser animadas e concorridas, como aliaz é costume, as corridas que por motivo da
grande feira annual em Villa Franca, ali se realisam em 3, 4, 5 e 6 do proximo
mez, sendo a ultima nocturna, facto este que leva aquella povoação ribatejana,
grande numero de pessoas tanto de Lisboa como dos arredores.
As corridas d'este anno, como sempre tem succedido, foram organisadas a capricho, figurando n'ellas como lidadores, os applaudidos cavalleiros José Bento d'Araujo e Macedo, e os nossos apreciados bandarilheiros Theodoro, Saldanha, Torres Branco, Manuel dos Santos, Thomé, João d'Oliveira e João Froes, que depois da sua alternativa se apresenta aos seus conterraneos pela primeira vez.
Tambem tomam parte nas corridas, os bandarilheiros amadores de Villa Franca, Francisco Rocha e Matheus Falcão.
Como se vê, o elenco dos artistas não pode ser melhor, e é segura garantia do luzimento que decerto terão as corridas.
Os touros que se hão de lidar, pertencem, no primeiro dia ao sr. Antonio Luiz Lopes ; no segundo, ao dr. Affonso de Souza, os do terceiro, são cedidos generosamente pelos lavradores, Antonio Luiz Lopes, dr. Affonso de Souza e Eduardo de Santos, de Vallada, o qual fornecerá os touros para a ultima corrida, isto é a nocturna.
N'essa noite a praça ostentará brilhante illuminação electrica.
Dirige as corridas, o estimado Carlos Martins.
Nos quatro
dias de corrida, haverá para Villa Franca comboios especiaes.
In REVISTA TAURINA, Lisboa - 30 de Setembro de 1909
Villa Franca
Como de costume, realisou se no primeiro domingo d'este mez e dias seguintes, (NOTA : 3, 4, 5 e 6 de Outubro de 1909) a feira annual, havendo 5 corridas de touros, sendo 4 diurnas, 3 por artistas e 1 de amadores, e outra nocturna.
As corridas deixaram
um tanto a desejar, devido á má qualidade dos touros da 1.ª e 3.ª, dando jogo
regular os da 2.ª, que pertenciam ao dr. Affonso de Souza, e seja dito em abono
da verdade, portou-se como um cavalheiro, enviando 5 touros puros.
Os cavalleiros em todas ellas foram os artistas José Bento (de Araújo) e Eduardo Macedo, que deligenciaram empregar todos os seus recursos e valentia.
Os bandarilheiros foram Theodoro, Saldanha, Torres Branco, Manuel dos Santos, Thomé, J. d'Oliveira, João Froes, «Punteret» e os dois amadores Francisco Rocha e Matheus Falcão.
Todos estiveram muito deligentes e contribuiram com bons pares de bandarilhas para o exito e animação das touradas, especisando Theodoro, Torres Branco, Thomé e João d'Oliveira nas corridas diurnas e Manuel dos Santos e «Punteret», bem como os dois amadores Rocha e Falcão na corrida nocturna que não resultou boa foi isso em parte devido á illuminação, que este anno esteve muito má.
A corrida de amadores foi uma das melhores, devido aos touros todos se prestarem, cabendo as honras da tarde ao cavalleiro Andrea, e o amador José Azevedo Coutinho em bandarilhas.
Em todas as
corridas houve magnificas pegas de cara e de cernelha, sendo dirigidas com
criterio e saber pelo distincto aficionado amador sr. João Marcelino d'Azevedo.
In REVISTA TAURINA, Lisboa - 24 de Outubro de 1909