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Tauromachia
Com uma tarde desenxabida e tristonha, amenisada por um chuvisco pulverulento, que aos poucos, parecia semear entre os espectadores o temor e o receio de prejudicar a festa classica dos descendentes de Tato, entra o sympathico Luiz Guimarães a fazer de intelligente e deu o signal convencionado para pisar o redondel o primeiro “cornupeto” do programma.
A quadrilha “flamenga” fez sua entrada trimphal na arena do circo e os “caballeros” José Bento (de Araújo) e Victor Marques executaram as ceremonias rituaes, com toda a “elegampcia” que ordenam os codigos cavalleirescos.
Os touros, nem máos nem bons, foram soffriveis, o que indica que a emprreza guarda no curro (como ouro em sacco) os vinte e um cornupetos que trouxe da Europa e que, com o favor dos deuses, teremos prazer dde aprreciar nas proximas touradas.
Os cavalleiros cumpriram sua sagrada missão, coroada de nutridas salvas de palmas.
José Bento (de Araújo), para não disvirtuar suas passadas glorias, desarrolhou sua coragem e sua intelligencia, cravando tres ferros largos bons e dous curtos superiores; Victor Marques adornou o “morrilli” de seu rival com tres largos e dous curtos. Marques, em seu prejuizo, deslustra o seu trabalho, pela pouca energia que mostra durante “la breja”; Marques indubitavelmente deve ser lymphatico; carece da alegria que engrandece José Bento (de Araújo), e, por essa razão, o publico não o festeja como merece.
Dos de “a pié”, justissimo nos parece citar como notavel o sympathico Maera, que é um incomparavel “peon de brega” e um bandarilheiro de primeira plana; pôs quatro pares superiores e fez varios “quites” magistraes e manejou o capotte como o proprio Juan Molina em seus bons tempos. Maera indubitavelmente vae conquistar as sympathias do publico e colherá muitas palmas durante a temporada.
O popular Manuel dos Santos, tão estimado entre os bons “aficionados” do publico carioca, voltou a pisar o nosso circo taurino com mais “facultades” e mais brios do que nunca; bem se conhece que o sympathico bandarilheiro portuguez tem trabalhado nas praças de Hespanha, capitaneado pelo celebre Fuentes.
A sua “faena” foi luzida, pôz quatro pares bons, fez um “quiebro de rodielas” (NOTA: rodillas) superior e “coléo” o terceiro touro com muita opportunidade.
Cantarito, que é um toureiro de poucos annos e muitos “veaños” (NOTA: veaños ou reaños?), demonstrou com a muleta não ser leigo na sorte de matar. Approximou-se muito e, sem duvida pelo desejo de agradar, fez “valentias deslucidas”.
Nós somos de opinião que o dextro hespanhol ganhará muitas palmas nas proximas touradas, quando, com mais calma e maior sangue frio, fizer o que sabe.
Alfredo dos Santos portou-se muito bem, espetou varios pares regulares e um “al cambio” archi-monumental que lhe valeu uma tempestade de palmas.
Oliveira cumpriu bem sua obrigação, pondo alguns pares bons; Thomé fez o mesmo, com pouco luzimento, dada a fama de bom, que trouxe da Europa.
A pantomina do setimo touro teve resultado diveertido, molhada por um aguaceiro.
Justo Verdades.
In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro – 18 de Janeiro de 1907
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