TAUROMACHIA
Teve ante hontem logar a toirada em beneficio do cavalleiro José Bento de Araujo.
Dizer-se que esteve má, seria injustiça, apesar de poder ter sido melhor se tivesse havido mais ordem que, no emtanto, foi mais respeitada do que nas corridas anteriores.
Ás quatro e meia horas, o clarim deu signal para começarem as cortezias, entrando no redondel os tres cavalleiros e toda a cuadrilha. Os cavalleiros ao chegarem ao meio da praça, pararam os cavallos para que o sr. Fidanza, que se achava n'um camarote de sombra, os photographasse.
Após as cortezias do estylo, principiou a corrida, sahindo o primeiro toiro portuguez para Adelino Raposo, que offereceu o primeiro ferro ao beneficiado. A féra foi castigada com quatro farpas á garupa, muito bem postas e um ferro curto admiravel.
Adelino Raposo vae para o combate com sangue frio tal, que está ficando mestre na difficil arte de Montes. Continue o sympathico cavalleiro e não se deixe levar por arrebatamentos e verá como continuará a ser o querido do nosso publico.
O segundo toiro, portuguez, coube a Pechuga e Xavier, este, castigando a féra com dois meios ferros, sem valor, e aquelle com um par de bandarilhas, que enthusiasmou os aficionados.
O toiro era de difficil lide, por ser muito corrido e marrando sempre ao vulto, desprezando os trapos.
O terceiro toiro, nacional, foi bandarilhado por Gordito e Rufino, que o enfeitaram com quatro e meio ferros.
Parte do publico continúa a mostrar-se falto de conhecimentos tauromachicos, vaiando Gordito, que ainda não vimos desviar-se da linha de toireiro. Rufino esqueceu-se de que ainda é simples principiante, para dar a volta á praça agradecendo applausos.
O quarto toiro, também nacional, cumpriu bem, dando occasião a que Faculdades lhe espetasse tres bandarilhas e Xavier uma soffrivel á gaiola e mais duas e meia, razoaveis.
O quinto toiro, portuguez, o Charuto sahiu para José Bento (de Araújo), esperado á gaiola por Xavier, que fez um magnifico salto de vara; o animal tão enraivecido sahiu, investindo rapido para o cavalleiro, que o aproveitou bem, mettendo-lhe mais tres farpas e tres ferros curtos.
No intervallo, o beneficiado recebeu diversos ramalhetes de flôres naturaes, entregues por tres creanças e alguns mimos de amigos particulares que desceram á praça, indo abraçá-lo entre outros, os srs. Figueiredo, José Gomes e Cunha Ozorio. Toda a quadrilha acompanhada por estes senhores, deu volta á praça com o beneficiado, agradecendo as palmas do publico.
O sexto toiro, portuguez, foi farpeado por Eduardo Lopes de Macedo, montado no Carocho, que muito a nosso pesar vimos com o bridão direito bastante tezo, o que denota receio do animal, que conhecemos tão leal, quando montado pelo inolvidavel Alfredo Tinoco.
Lopes de Macedo aproveitou bem a féra, mettendo-lhe cinco farpas e um ferro curto.
O setimo toiro, portuguez, para Rufino e Xavier, recolheu-se com dois e meio ferros d'aquelle e dois d'este.
O oitavo animal, nacional, foi bem aproveitado por Gordito e Faculdades, com tres e meias bandarilhas, havendo um quiebro por este artista, que foi fóra de proposito e de perigo, pois esta sorte só deve ser feita com toiros puros.
O nono, portuguez, o celebre Real, mimo a José Bento (de Araújo, de El_rei de Portugal, sahiu quasi de noite, tendo as lampadas electricas negado luz.
O toiro pouco via o vulto, sendo por isso de difficil aproveitamento, levando, ainda assim, tres farpas e um ferro curto.
O decimo toiro, o Punhão, não quiz massadas e assim que sahiu investiu contra a troupe do Pae Paulino, que estava no brigue Mondego e de uma só vez reduziu o brigue a pedacinhos e obrigou a tripulação a pôr-se em logar seguro, findando a toirada ás seis e um quarto da tarde, já noite escura.
O terceiro toiro foi pegado de cara por Santareno, aguentando-se razoavelmente no derrote.
A casa estava, quasi se póde dizer, repleta, quer no sol quer na sombra e os camarotes estavam literalmente cheios.
Para domingo annuncia-se a festa artistica do bandarilheiro Xavier.
Tinoco Junior
In O JORNAL, Belém do Pará - 16 de Outubro de 1900