Biblioteca nacional de Portugal
O CAMPEÃO nas provincias
Figueira da Foz, 22. ― Promovida pela empreza do
elegante Colyseu, realisou-se, com uma casa á cunha, a anunciada tourada, no
dia 17 do corrente, que esteve á altura dos creditos que tem grangeado a actual
empreza, pois agradou bastante pela maneira como correu.
O trabalho equestre estava a cargo dos arrojados
cavaleiros José Bento de Araujo e Adolfo Machado, que se houveram como dois
valentes.
Depois das cortezias do estilo, que foram executados
com toda a correção, entra na arena José Bento (de Araújo), a quem largaram um
touro, que embora de poucas carnes, arrancava voluntariamente, empregando, á
volta, 4 ferros compridos, e rematando com um curto, bem apontado, pelo que
ouviu bastantes palmas. No 6.º que era um belo touro e leal, José Bento (de
Araújo) brilhou, colocando 6 ferros compridos e 2 curtos, medindo bem os
terrenos, como manda a arte. Tendo chamada especial, foi muito aplaudido.

José Bento (de Araújo) apezar da idade, ainda mostra
que é o antigo Zé Bento. Adolfo Machado, que é cos novos, e com recursos, é um
bom cavaleiro. No 4.º da tarde, que era um touro corpolento, de muito pé,
cortando terreno, foi logo de principio colhido contra as taboas, mas sem
consequencias de maior; recolhendo, verificou-se que o cavalo não estava
inutilizado para o toureio. Voltou e conseguiu ainda prender 4 ferros compridos
com muito custo. Sendo chamado fez-lhe a plateia uma grande ovação. No 9.º, que
lhe coube, e que era um animal bastante corpolento, muito mais que o seu
antecessor, e de muitas carnes, só poude conseguir, Adolfo Machado, colocar
dois ferros compridos á volta; nada mais podendo fazer por o touro ter saltado
duas vezes a trincheira, numa das quais esteve quasi na plateia, partindo a
corda de arame que a defende dessas envestidas, e tendo-se desembolado, teve de
ser recolhido.
Notamos que a distribuição do gado para os cavaleiros,
não foi equitativa, pois que para o mestre José Bento (de Araújo) soltaram
dois novatos, e para o novato Adolfo Machado soltaram dois grandes mestres!!!
Seria proposito?... Seria combinação?,,, Não sabemos,
porque não assistimos á distribuição, o que daqui para o futuro faremos, o que
é para não errar. Da gente de pé temos que especialisar uma gaiola de Teodoro
no 2.º da tarde, outra da Ribeiro Tomé no 5.º, e um sesgo de Caxdete tambem no
2.º. Os outros artistas, que eram Malagueño, Tomaz da Rocha, Tadeu e Alexandre
Vieira, empregaram bons pares de ferros, trabalhando todos com boa vontade, e
arrojo. Houve trez pegas, sendo a 1.ª, no 3.º touro rijissima. Os touros, que
eram muito deseguais em corpo, a maior parte cumpriu, e alguns sairam mesmo
muito bravos, á exceção do 7.º, 8.º e 10.º, que por mais exforços que os
artistas empregassem, nada poderam fazer deles. Emfim, a tourada agradou, pois
todos os aficionados sairam satisfeitos, porque houve para todos os paladares.
No intervalo foram todos os artistas chamados á arêna,
incluindo o lavrador, sr. Antonio Luiz Lopes, de Villa-franca de Xira, sendo
todos muito aclamados. A inteligencia, a cargo do sr. Jaime Henriques, teria
sido acertada, se tivesse feito cumprir as suas ordens, pois os artistas não as
acatando, abuzam. E haja em vista o que succedeu com o 5.º touro, que era
bravissimo e voluntario; depois de dar uma bela lide, tendo passado ao 2.º estado,
e tendo o inteligente mandado tocar a cesssar bandarilhas, continuaram a
aperta-lo, e, desrespeitando as orden dos inteligente, fizeram com que o boi se
desmanchasse, apanhando querença ás taboas, nada mais dando, podendo dar tudo
até final se fosse aproveitando nos seus estados. O sr. Jaime Henriques deve-se
impôr e fazer-se respeitar; doutra maneira é melhor não aparecer lá.
Abrilhantou a corrida a distinta filarmonica 10 de
Agosto, que executou as melhores peças do seu variado reportorio. Para o dia 7
de setembro, por occasião das festas da Senhora da Encarnação, em Buarcos,
anuncia-se já outra corrida promovida pela empresa,com os distintos e arrojados
cavaleiros Manuel e José Casimiro, e os melhores artistas portuguezes, sendo o
gado fornecido pelo escropuloso creador de Vale de Figueira, sr. Emilio Infante
da Camara, que promete ser uma deslumbrante corrida, em virtude da empreza
não se poupar a trabalhos e despezas.
Aos touros, pois, no dia 7 de setembro.
In CAMPEÃO DAS PROVINCIAS, Aveiro – 23 de Agosto de
1913