1851-1924 — LISBOA: A HISTÓRIA DO CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO NA ENCICLOPÉDIA TAUROMÁQUICA

 



            ARAÚJO (José Bento de) — Cav. (NOTA: Cavaleiro) prof. (NOTA: profissional) natural de Lisboa (NOTA:  Os seus pais, naturais de São Pedro de Merelim, Arcebispado de Braga, residiam na Travessa da Boa-Hora, Paróquia de Nossa Senhora da Ajuda, Lisboa), onde nasceu em 1952 (NOTA: A data de nascimento correcta é 18 de Setembro de 1851).

            Com notável predisposição para o toureio, desde muito novo o praticou; a sua apresentação em público porém só teria lugar na temporada de 1874, na antiga praça da Junqueira. Foi um êxito essa estreia a denunciar a presença de um dos mais sólidos valores que o toureio equestre nacional registaria.

            Triunfante em quantas corridas toureou seguidamente nas arenas da província, apresentou-se em Lisboa, no Campo de Santana (NOTA: Praça de Sant’Anna), confirmando de tal forma o seu valor que em breve alternaria com os melhores cavaleiros do tempo, tais como Manuel Mourisca, Casimiro Monteiro e António Monteiro.

            Gozava pois de uma sólida e justificada fama quando, em 1892, foi inaugurada a praça do Campo Pequeno, onde voltou a repetir actuações brilhantíssimas, que tornaram José Bento de Araújo dos mais populares e apreciados toureiros dos primeiros tempos da actual arena lisboeta.

            A sua fama, depressa ultrapassou as fronteiras pátrias, levando-o a tourear nas praças de Espanha (NOTA: Madrid, Barcelona, San Sebastián, Santander, Caudete, etc.) e de França, sobretudo neste último país onde com tanta frequência se exibiu nas arenas de Paris, Avinhão, Nimes, Marselha (NOTA: Béziers, Mont-de-Marsan), etc., que por lá andou durante quase duas temporadas (NOTA: 1891, 1892, 1893), grangeando admiradores e colhendo as mais entusiásticas ovações.

            Em 1896, com Alfredo Tinoco (NOTA: os dois cavaleiros eram amigos e parceiros de negócios), foi também ao Brasil (NOTA: Rio de Janeiro, Belém, no Pará, etc.) onde actuou com igual êxito.

            Valente como os que mais o eram e com extraordinária visão dos terrenos da arena, lidava toiros corridos (NOTA:  e desembolados!) com tão espantosa facilidade que o público, por vezes, se não apercebia do facto.

            Colhido com gravidade na praça do Cartaxo, quando os médicos admitiram a necessidade de terem de lhe amputar a perna atingida, a isso tenazmente se opôs José Bento (de Araújo), declarando que a ficar inutilizado para o toureio, então preferia morrer. Felizmente registaram-se melhoras podendo assim salvar-se o simpático toureiro que durante algumas épocas mais ainda brilhou nas praças portuguesas que só abandonou quando já tinha atingido os sessenta anos!

            Certa tarde em Cascais, tendo caído da montada em consequência de uma tontura, ao erguer-se diria para o bandarilheiro Manuel dos Santos, que acorrera ao quite: — «Acabou-se! Já não posso: vi dois toiros em vez de um. Não quero mais!» Era a sua derradeira corrida, o crepúsculo de uma famosa carreira.

            Faleceu em Lisboa (NOTA: Rua da Sociedade Farmacêutica) a 2 de Setembro de 1924.


In ENCICLOPÉDIA TAUROMÁQUICA ILUSTRADA, Jayme Duarte de Almeida, Editorial Estampa, Lisboa, 1962