6 DE NOVEMBRO DE 1898 - RIO DE JANEIRO: REALIZAÇÃO DA TOURADA INICIALMENTE PREVISTA PARA 30 DE OUTUBRO, QUE FOI ADIADA POR CAUSA DO MAU TEMPO (na imprensa brasileira)

 

Biblioteca nacional do Brasil

SPORT

TOUROS


Depois de adiada pela chuva realisou-se ante-hontem a corrida, ou antes, a, festa artistica do amado cavalleiro Adelino Raposo.

Era magnifico o aspecto da praça das Laranjeiras, com os camarotes todos guarnecidos e compacta concurrencia na sombra e nas cadeiras. Apenas falhou o Sol, o que é realmente para se notar, pois é essa parte da praça a geralmente mais concorrida.

Á hora de começar a corrida, o actor Mattos occupou a cadeira da intelligencia e mandou roncar o clarim.

Appareceu o cortejo a fazer as cortezias do estylo. O beneficiado, naturalmente por um requinte de delicadeza para esta terra hospitaleira, vinha de verde e amarello.

Fitas de iguaes cores enfeitavam o cavallo. Depois de cumprimentar o publico, a quem dirigiu phrases de agradecimento, Adelino esperou o primeiro touro bem socegado.

Adelino aproveitára bem a gaiola, e depois ficou-lhe um rico ferro á garupa e outro a meia-volta, e ainda outro á garupa sómente de uma cite á estribeira. Palmas, bravos, ovação.

Calabaça e Xavier lidaram o 2º touro, que o Cabeça teve o luxo de pegar.

O 3º coube a Rocha e a Morenito, que o aproveitaram com grande felicidade.

Adelino picou o 4º touro, a ferros curtos e a sós na arena. Offereceu todas as sortes a todos os amigos e companheiros, e não se póde dizer que lhes offerecesse cousa de pouco valor, pois todas ellas foram de primeirissima ordem, enchendo o chachaço do touro de ferros curtos, a dar idéa de uma pregadeira de alfinetes.

Um trabalhinho riquissimo. O publico chamou Adelino e então, foi um chuveiro de ramalhetes, de caixas de charutos, de mimos, de palmas e de bravos.

Xavier deu o salto de vara por cima do 5º touro, depois do que o elegante Pechuga pôz um par de ferros em quiebro e depois outros.

Martinez tambem collocou alguns. O touro não quiz nem muleta nem capote porque está com a idéa de partir a cara de um forcado, como de facto partiu. Outro com mais olho, ficou-lhe bem na cabeça.

O sexto touro foi menos mal lidado por Calabaça e Rocha.


A Adelino e José Bento (de Araújo) coube o setimo touro. Adelino enfeitou-o com ferros curtos e curtissimos, alguns o que se póde chamar uma belleza. José Bento (de Araújo), infeliz no primeiro ferro, conseguiu pôr um ferro curto que foi outra belleza. Applausos, barvos, amplexos, emfim, enorme ovação aos dous cavalheiros.

Terminou a funcção com a troupe do Pai Paulino. O touro deu bordoada por uma pá velha.

Zé Cabeça e Pai Antonio voaram mais de uma vez, sacudidos pelo bruto. Afinal, Zé Cabeça segurou-o com unhas e dentes. E o publico festejou-o e sahiu para jantar, alegre e satisfeito.

In GAZETA DE NOTICIAS, Rio de Janeiro - 8 de Novembro de 1898