9 DE MAIO DE 1909 - LISBOA - UMA "CORRIDA MAGISTRAL" PARA AJUDAR AS VÍTIMAS DO TREMOR DE TERRA (acabar)


Biblioteca nacional de Portugal

Passes... de peito


A corrida em beneficio dos sobreviventes da catastrophe do dia 23 não podia offerecer mais attractivos.

Foi o que se pode dizer uma corrida magistral. Talvez não tenhamos outra egual na presente época.

José Bento (de Araújo), sobresahindo no primeiro touro da corrida, animou a lide para toda a tarde.

Os outros artistas capricharam em salientar-se, especialisando José Casimiro.

ZÉ DA HERDADE

In O XUÃO, Lisboa - 11 de Maio de 1909


COMPLEMENTO DE INFORMAÇÃO

Terramoto de 1909


O sismo de 23 de Abril de 1909 é considerado o mais devastador em Portugal continental no século XX, destruindo quase por completo os aglomerados de Benavente, Samora Correia e Santo Estêvão.

Com uma magnitude estimada de 6,7 graus na escala de Richter, o sismo de Abril de 1909 provocou no concelho de Benavente cerca de 40 mortos e 70 feridos, balanço que só não foi mais dramático porque, à hora em que ocorreu, 17:05h, a grande maioria da população estava ainda a trabalhar nos campos.     

Testemunhos da época fazem referência a «nuvens colossais de poeira que se elevam nos ares», ao «barulho infernal dos prédios a cair», e aos «gritos de dor de uma população inteira».

Sem comunicação telegráfica, a notícia do sismo chegou à capital do distrito, Santarém, através de um lavrador que para aí se dirigiu de automóvel.

Com base numa observação feita na época, a duração do sismo foi de 22 segundos, no entanto, desde a manhã de 23 de Abril que se ouviam ruídos subterrâneos. Estes ruídos foram sentidos não só durante os abalos mais fortes, mas também com as réplicas, que se fizeram sentir durante muito tempo. A maior de todas foi sentida no dia 2 de Agosto de 1909.

Quanto à natureza dos movimentos, o sismo terá tido duas fases principais, iniciando com um movimento vertical, seguido por vários abalos horizontais mais violentos e de maior duração.

Em relação ao grau de destruição, a vila de Benavente foi sem dúvida a mais afectada tendo quarenta por cento das suas habitações ficado totalmente destruídas, outras tantas sem condições para voltarem a ser habitadas e apenas vinte por cento recuperáveis, após obras de reparação.

O património religioso foi sem sombra de dúvida o mais afectado, tendo ficado destruídas a Igreja Matriz, a Igreja de Santiago, e a Capela de Nª. Sra. da Paz (Benavente) e bastante danificada a Igreja Matriz de Samora Correia. Dos edifícios públicos, apenas os edifícios da Câmara Municipal e do actual Museu Municipal (em Benavente) e o Palácio da Companhia das Lezírias (em Samora Correia) resistiram, mesmo assim com danos relevantes.

No dia seguinte, o rei D. Manuel visita a zona sinistrada e as forças militares começam a instalar tendas de campanha trazendo consigo mantas, camas, roupas. O Hospital Militar da Estrela envia para o local médicos e enfermeiras.

Por todo o país e no estrangeiro foram feitas subscrições, bandos precatórios e récitas de caridade, com a finalidade de angariar meios para acudir aos mais necessitados. Destacam-se as iniciativas levadas a cabo pelos jornais: “Diário de Notícias”, “O Século” e ainda pela Associação Comercial de Lisboa e pelo Clube de Fenianos do Porto, contribuindo assim para a reconstrução e recuperação de habitações e escolas.

Fonte: 
Município de Benavente 
https://www.cm-benavente.pt/conhecer-benavente/historia/terramoto-de-1909

Biblioteca nacional de Portugal

NA IMPRENSA LISBOETA

Grande tremor de terra


O phenomeno sismico de hontem - O alarme na cidade - Desmoronamentos e incendios - Notas diversas - Telegrammas

A cidade foi hontem de tarde alarmada por um grande abalo de terra. Eram cinco horas e cinco minutos da tarde quando o phenomeno se produziu. Todo o dia estivera formosissimo, um pouco quente, como é proprio da estação primaveril que decorre. No céo limpido e sereno o sol brilhava ainda suggestionando a alegria de viver. Era a hora em que a população elegante, senhoras na grande maioria, deslisa pelos arruamentos da cidade baixa, movimentando os grandes estabelecimentos, dando-lhes esse ar de festa com que a presença das lindas lisboetas consegue favorecer os locaes onde apparecem.

Repentinamente e quando toda essa multidão formigava nas ruas e praças, sentiram-se dois enormes abalos de terra seguidos d'um grande e pavoroso ruido subterraneo. Immediatamente a população alarmada começou a fugir em todas as direcções n'uma confusão bem explicavel em momento de tamanho pavor. Das portas sahiam para a rua mulheres e creanças gritando e alarmando afflictivamente, ás janellas das habitações assomavam pallidas figuras implorando socorro. Não se via uma pessoa serena n'esses primeiros dez minutos a seguir ao phenomeno sismico; os que apparentavam tranquillidade e a recommendavam aos mais exaltados desmentiam essa apparencia pela lividez das physionomias. Toda a gente esperava a repetição dos abalos; e n'esse momento angustioso quantos cerebros visionaram a medonha catastrophe de Messina!...

Nas ruas do Bairro Alto a confusão foi indiscriptivel. A maioria da população que vive nas immediações do nosso jornal (Nota de Rui Araújo: Travessa da Queimada, 37) veio para a rua tal como se encontrava nas suas modestas casas; muitas mulheres e creanças ajoelhavam junto das portas implorando a misericordia Divina, não sendo facil a muitas d'estas augustiosas creaturas a resolução de voltar aos seus lares.

Nas ruas principaes da cidade, os trens crusavam-se em vertiginosa corrida levando pessoas que procuravam recolher o mais apressadamente possivel para suas casas, desejando estar junto das familias na previsão de que os abalos tivessem repetição mais desastrosa. E durante o resto da tarde, por toda a cidade, esses oito segundos de pavoroso risco, foram o assumpto de todas as conversas, sendo certo que por muito tempo essa recordação ficará em todos os espiritos.

Durante o abalo


Tudo leva a crer que o phenomeno sismico foi vertical, de norte a sul.

Immediatamente as janellas se encheram de gente que em altos gritos invocavam a piedade celestial, emquanto outros desciam as escadas a quatro e quatro e vinham para o meio da rua, imaginando já uma desgraça egual á d'Italia, e que tão grande impressão causou no nosso paiz.

Decorrido o primeiro susto - e melhor seria dizermos instantes de pavor -  os trens automoveis, os electricos foram tomados d'assalto e cada qual se dirigiu para suas casas afim de se inteirar se alli acontecera alguma novidade de maior.

As telephonistas não tinham mãos a medir, tantos eram os pedidos dos assignantes para que os pozessem em communicação, e ás redacções dos jornaes eram feitas insistentes perguntas, a que se respondia da melhor maneira, e sobre tudo na intenção de socegar espiritos sobresaltados, visto que o terror dera ao facto umas proporções assustadoras.

Nos hospitaes de S. José, Estephania e Desterro os doentes gritavam em altas vozes e os empregados fugiam em todos os sentidos, assim como nos quarteis e nas cadeias.

Nas repartições dos varios ministerios, sobre tudo no da Fazenda, que está muito velho, o effeito foi terrivel, e suppoz-se mesmo que tudo abateria.

Os operarios nos Arsenaes abandonaram o trabalho aos primeiros rumores da terra.

Na Camara dos Deputados


Quasi cerca das 5 horas, o sr. Alpoim referindo-se aos plenos poderes do sr. Rosado para assignar o tratado de Lourenço Marques, aventava a idéa d'aquelle senhor ter vendido a colonia e o Presidente do Conselho exclamou:

- Isso são hypotheses de v. ex.ª! Tambem se houvesse um terremoto como o de Messina...

Então o sr. João Arroyo, observou:

- Muito capaz de trazer o terremoto a esta camara, é v. ex.ª!

logo a seguir, o sr. José de Alpoim retomando a palavra, começou com estas palavras:

- Se o governo dissolvesse o parlamento, tudo se levantaria n'um formidavel protesto...

O orador não continuou a phrase. Subitamente, sentiu-se um arruido espantoso na sala. Toda a gente se poz de pé nas galerias, que oscillavam violentamente, emquanto os pares se erguiam sobresaltados.

As senhoras choravam, houve deliquios, braços que se erguiam a amparal-as, emquanto se procurava sahir o mais ordenadamente possivel pela escada estreita contigua aos logares da imprensa. Os continuos abriam as portas e na sala os tachygraphos deitaram abaixo a teia que os separa do hemicyclo da camara que se ia esvasiando pouco a pouco.

N'um terror profundamente marcado, dizia se que abrira uma parte do tecto e que tambem se esgarçara a abobada da sala dos Passos Perdidos. Foi n'esta situação que se conseguiu sahir da camara pela escadinha e chegar ao largo já apinhado de gente.

Entretanto, algumas das pessoas que se encontravam na sala, com o tumulto, soffreram ferimentos, como os srs. Barbosa Colen, Moreira de Almeida, João de Magalhães, Matheus de Sampaio, etc. Os ferimentos, porém, não são de gravidade.

O sr. ministro das Obras Publicas nomeou uma commissão de technicos para hoje de manhã passar uma vistoria rigorosiisima ao edificio das Cortes, visto terem-se dado alli algumas avarias importantes, recommendando á commissão que o resultado lhe seja communicado antes da hora que costuma funccionar o parlamento.

Prejuizos em varios edificios


Nos Armazens Grandella, no 4.º andar, o abalo tomou, grandes proporções. De repente, o edificio começou estremecendo horrivelmente, ouvindo-se o partir dos vidros, o agitar tumultuario de todos os objectos metalicos alli empilhados. No primeiro momento, as pessoas que lá se encontravam, julgaram tratar-se d'uma explosão em qualquer sitio pouco distante; mas como o abalo continuasse, crescendo a violencia, perceberam que se tratava de um tremor de terra. Então a gritaria foi ensurdecedora; todos, instinctivamente, procuravam as portas da rua, soffrendo as senhoras bastantes desmaios e uma enorme commoção.

- Na travessa do Forno cahiu a extremidade d'uma alta chaminé, do predio 23, loja de bebidas, causando prejuizos.

- Na fabrica de tabacos da Xabregas cahiu parte da cimalha do edificio.

- No palacio dos srs. Duques de Palmella, ao largo do Calhariz, ficaram rachadas algumas vergas das janellas e as duas chaminés dos fogões de sala, que se encontravam sobre o telhado, fenderam pela base e descrevendo grandes curvas na occasião do abalo.

- O palacio do sr. Conde da Figueira, na calçada de Santo André, tambem soffreu muito, ficando um cunhal de pedra deslocado.

- Na rua do Amparo, 25, predio com tres andares e aguas-furtadas, cahiu a cimalha, enchando a rua de caliça e telhas.

- No largo das Olarias, 12, predio de tres andares e aguas-furtadas, ficou todo fendido nas paredes da frente.

- No mesmo largo, 23, predio de rez-do-chão, 1.º e 2.º andar, desabou a cimalha da frente, torcendo uma varfanda e causando um enorme panico, tendo uma senhora da familia do inquilino Christiano Eugenio Rodrigues um ataque de nervos. A inquilina do rez-do-chão, a sr.ª D. Maria da Conceição Caldas, só soffreu o susto. O 2.º andar estava desocupado.

- Na estação central da Avenida ambas as pyramides lateraes que ornamentam o corpo central do relogio foram truncadas pelo terço superior. A do lado norte chaiu sobre o telhado e a do sul para o passeio, á esquerda e na linha do eixo da porta-sul central. O passeio soffreu grande depressão resultante da queda da grande massa de cantaria, que se fez em pedaços, estando a maior com um peso superior a 39 kilos, recolhido no interior da estação. Em varios pontos da estação, especialmente na fachada, ha grandes fendas, muito principalmente nas nesgas peitoris e no encordoado do painel de cantaria que adorna o corpo central.

- A cimalha da fachada principal da egreja da Graça desabou. Por um triz não cahe sobre um automovel com senhoras que tinham ido visitar o Senhor dos Passos.

- Na capella-mór, do lado direito, a parede abriu uma fenda; na capella onde está a imagem outra.

Tambem um dos vasos que ornava a platibanda do edificio da Companhia das Aguas cahiu a rua.

- Na rua da Amendoeira, n'um antigo predio, abriu se uma larga fenda.

- Na Academia de Bellas Artes, abriram-se fendas em algumas das paredes, e parte dos candieiros de illuminação ficaram quebrados.

- No deposito da livraria Bertrand, rua Anchietta, cahiram as  altas estantes com os livros, assim como nos Grandes Armazens do Chiado os fardos de fazendas pareciam impellidos por mola indo para o meio do chão.

- Abateu parte do telhado d'um predio na rua dos Remedios, a Alfama, havendo estragos em varias outras casas do velho bairro.

Tambem abateu uma chaminé na rua dos Castellinhos, no predio onde vive o sr. José Antonio Pimenta, administrador do "Correio da Noite".

- Da torre da egreja das Chagas cahiram dois dos quatro florões de pedra, indo um parar a um pequeno quintal onde estavam brincando duas creanças, e outro ao telhado da casa do sachristão.

- Uma chaminé das trazeiras do theatro de D. Maria, foi tambem a terra, e houve mais na rua da Magdalena, rua de S. Joaquim, Boa Vista, Caminho de Ferro, Alfama, Monicas, pateo de D. Fradique, rua d'El-Rei, Lumiar, Campo dos Martyres da Patria, rua Aurea e Graça.

- No predio do sr. Conselheiro Henrique da Gama Barros, rua Fernandes Thomaz, 3, abateu a chaminé, o que causou estragos enormes no telhado, e produziu um grande panico.

Habita alli a sr.ª Viscondessa de Alemquer.

Appareceu o pessoal de incendios, que immediatamente derruiu os restos da chaminé que ameaçavam ruina.

Compareceu o sr. governador civil, uma força de policia e guarda municipal de infantaria e cavallaria.

- No Hospital da Marinha abateram os tectos d'algumas enfermarias, havendo alguns ferimentos.

- No Asylo Maria Pia abateu uma parede.

- Na rua do Amparo uma das mansardas do predio 31 desabou.

- No pateo do Jordão, ás Olarias, abateu um grande pedaço de parede.

- No escriptorio da Vaccuum Oil Company, largo das Duas Egrejas, ficaram quebrados todos os vidros interiores.

- Na Cruz d'Oliveira, Villa pouca e proximidades da serra de Monsanto abateram alguns muros das quintas.

- Na Meia Laranja, aos Terremotos, no Casal Ventoso, abateram diversos telhados e chaminés.

Incendios, sendo um de vulto


O mais violento incendio rebentou no predio da rua dos Douradores 83. Teve começo nos ultimos andares, ameaçando comunicar-se aos predios dos lados contiguos.

Dizem que deu motivo ao incendio, com o abalo, ter-se tombado uma lamparina que estava acesa n'um oratorio ornamentado com flores de papel, pegando o lume n'estas, passando a umas trouxas de roupas, outros, que foi a oscilação que fez rebentar uns tubos de gaz, dando-se a explosão.

Foi requisitada policia e guarda municipal, sendo enorme ao mesmo tempo a agglomeração de povo, que tomava todas as embocaduras da rua.

Compareceu o pessoal superior dos incendios, com o seu inspector, sr. conselheiro Emygdio Lino da Silva.

O fogo rompia por todos os lados, sendo difficil localisal-o, o que se conseguiu á custa de muito trabalho.

No predio incendiado moram: no 4.º andar a familia Osorio e do lado opposto, a familia do sr. Antonio Martins.

O 5.º andar soffreu tambem prejuizos causados pela agua. Vive alli Petra Gomes, mulher do porteiro do predio. O senhorio é o sr. José Libanio Ribeiro da Silva.

O bombeiro 258 ficou com um grande ferimento na mão direita e o popular Manuel Rodrigues, com um dedo esmagado.

Houve mais incendios, mas de pequena importancia, na rua da Bella Vista, á Graça, na rua da Veronica, etc.

El-Rei


Sua Magestade fôra ao Paço da Ajuda visitar sua Augusta avó.

Após o primeiro sobresalto, - e alli, como em todos os palacios de pedra, o abalo fez se sentir com grande intensidade - depois de ter verificado que não se dera nenhuma desgraça, metteu-se no seu automovel, acompanhado pelos dignitarios srs. Marquez do Alvito, coronel Antonio Costa e Pinto Basto, e ainda pelo sr. Alfredo de Albuquerque, e dirigiu-se á rua dos Douradores, onde já estavam os srs. Infante D. Affonso, governador civil, Conselheiro Cabral Metello, e commandante das guardas municipaes, Malaquias de Lemos, visto ter recebido a noticia do incendio que alli lavrava.

Sua Magestade apeou-se do seu automovel, visivelmente commovido, apertou a mão de todos que se approximaram, bombeiros, povo, e até das mulheres, que afflictas choravam.

Viu os trabalhos de extincção do incendio, molhando.se todo, com a agua das agulhetas. Percorreu a rua e metteu-se no automovel para regressar ao Paço depois de se inteirar que o fogo da Graça não tivera importancia, visto que se dispunha tambem a ir alli.

Ferimentos


No hospital de S. José, receberam curativo as seguintes pessoas:

Sara Neves, de 9 annos, residente na rua do Sol, á Graça, 42, 1.º que cahiu d'um muro na mesma rua, facturando o braço esquerdo.

Gloria da Conceição, moradora no Largo do Regedor, cahiu-lhe um bocado da chaminé que abateu, causando-lhe um ferimento na cabeça.

Izaura Rosa, domiciliada na rua Silva e Albuquerque, 24, 1.º que cahiu d'um 3.º andar da rua da Prata, ficando contusa e ferida na perna esquerda.

José Amaro, pedreiro, residente na travessa do Castro, 4, 1.º que estando a trabalhar n'uma obra na rua de Santo Antonio, atirou-se do andaime para a rua, ficando contuso no pé esquerdo, recolhendo á enfermaria de S. José.

Izaura da Conceição, de 7 annos, filha de Antonio Jorge e de Maria Augusta, moradores na Quinta da Rapozeira em Chellas, cahiu da janella á rua, resultando-lhe ficar ferida na região frontal, com fractura do craneo, recolhendo á enfermaria de Santa Emilia.

NOTAS


Facto curioso é que as casas que mais fenderam são as novas, emquanto os predios velhos resistiram valentemente.

- A Sociedade de Propaganda de Portugal telegraphou para Londres e Paris e outras cidades, dando conta do occorrido, afim d'evitar noticias assustadoras.

- Felizmente, não ha mortes a registar.

Telegrammas


SOBRAL, 23

Ás 5 horas da tarde sentiu-se um violento tremor de terra que aterrorisou os habitantes d'esta villa. Habitações na maior parte fendidas, havendo receio de repetição.

Não consta pelas pessoas mais edosas d'esta villa que houvesse nunca tremor maior que o de hoje, chegando a tocar os sinos da torre, tal foi a violencia. Na occasião do tremor os habitantes fugiram todos espavoridos de casa para a rua. Cahiram alguns muros. (C.)

ALHANDRA, 22, 7. t

Sentiu-se violentamente ás 5 menos 10 um tremor de terra que causou grande panico.

Entre as casas damnificadas conta-se aquella onde nasceu o grande medico Sousa Martins.

Os prejuizos tanto aqui como nos arredores são de bastante importancia.

A estação está aluidissima e vem para cá uma carruagem do caminho de ferro para os empregados pernoitarem. Calculam-se os prejuizos em dezenas de contos. (C).

PORTO, 23, 5,45 t.

Pelas 5 e 2 minutos sentiu-se com grande violencia um abalo de terra. Os jornaes estão publicando supplementos. - (C.)

CEIA, 23, ás 6,45, t.

Acaba de se sentir um violento tremor de terra. (C)

LAGOS, 23, ás 5,23, t.

Ás 5 horas e tres minutos da tarde, forte abalo de terra. (C.)

VILLA REAL DE SANTO ANTONIO, ás 5,5, t.

Em direcção nascente e poente acaba de sentir-se aqui violento abalo de terra, duração quatro segundos, alarmando a povoação. (C.)

LEIRIA, 23, ás 5 25

Ás 5 da tarde violento abalo de terra, panico geral.

Uma mulher atirou-se da janella, fracturando uma perna. São raros os predios que não se resentiram. (C.)

CASTELLO BRANCO, 23, ás 5 e 15, t.

Acaba de sentir-se (5,3 da tarde), um forte abalo de terra. Duração cinco segundos. Grande ruido subterraneo. (c.)

SACAVEM, 23, ás 5 e 30, t.

Sentiu-se aqui ás 5 da tarde um grande abalo de terra como não ha memoria. Houve varios desmoronamentos, principalmente na Real Fabrica de Louço, onde os prejuizos attingem cerca de 5 contos de réis. (C.)

CINTRA, 23, 11, t.

Sentiu-se aqui um fortissimo abalo de terra.

Sua Majestade a Rainha a Senhora Dona Amelia soffreu um enorme sobresalto e partiu para ahi. (C.)

VILLA FRANCA, 23, ás 7, n.

Sentiu-se aqui muito o tremor de terra que durou 4 minutos. (C)

ALCAÇOVAS, 23, ás 8, n.

Ás 5 da tarde sentiu-se aqui um violento tremor de terra, que causou grande susto em toda a população. (C.)

ALANDROAL, 23, ás 5, 12, t.

Causou aqui dolorosa impressão o tremor de terra que durou 4 segundos. (C.)

SOUZEL, 23, ás 7, n.

N'esta villa causou muito pavor o tremor de terra, que durou cerca de 5 segundos. Muita gente abandonou as casas fugindo para o campo. (C.)

ERICEIRA, 23, ás 5,56, t.

O tremor de terra aqui foi sentido ás 5 e 4', durante cerca de 4 segundos. (C.)

LAGOS, 23, ás 6, t.

Ás 5 da tarde sentiu-se aqui um violento tremor de terra. (C.)

TAVIRA, 23, ás 7,35, t.

Sentiu-se ás 5,4' da tarde um grande tremor de terra que assustou a população, não havendo felizmente prejuizos nem pessoaes, nem materiaes. (C.)

MONCHIQUE, 23, ás 5,45, t.

Um grande abalo de terra que durou cerca de 5 segundos foi sentido aqui ás 5,4' da tarde (C.)

VILLA FRANCA, 23, 8n.

Grande panico com o tremor de terra que por aqui passou. (C.)

CAMINHA, 23, 7,45, n.

Com o tremor de terra, consta que desappareceram em Ancora dois barcos.

O mar estava encapelladisimo. (C)

POMBAL, 23, t.

Violento abalo sismico ás 5 da tarde. Paredes fendidas de quasi todos os predios.

Moveis no chão. Pavor geral. (C.)

MADRID, 23, ás 6,54, t.

Sentiu-se aqui um ligeiro abalo de tremor de terra ás 5,40 da tarde. Os instrumentos do observatorio registam que o movimento durou cinco segundos.

MADRID, 53, t.

Telegrammas de Cordoba, Sevilha e Badajoz annunciam ter-se sentido alli abalos de terra. Não houve nenhum desastre. O abalo durou dez segundos em Sevilha e 20 em Badajoz. Houve panico em toda a parte. Havas.


In DIARIO ILLUSTRADO, Lisboa - 24 de Abril de 1909