13 DE AGOSTO DE 1893 - LISBOA: OS JORNALISTAS AMADORES DE OUTROS TEMPOS...



Praça de touros

Em um dos dias d'esta semana, a empreza da praça de touros do Campo Pequeno offereceu aos representantes da imprensa a corrida de um garraio matinal e reservado.

Já sabiamos que todo o jornalista tem obrigação de, nas questões sociaes mais complexas e difficeis, prendre le taureau par les cornes - no sentido figurado da phrase. Mas d'ahi a arrostar um touro de carne e osso, ainda quando tanto a carne como o osso sejam tenros, vae uma grande distancia. Pois essa distancia venceram-n'a ha alguns dias redactores de diversos jornaes de Lisboa. Apenas appareceu na praça o novilho, os jornalistas pondo de parte a penna e empunhando as bandarilhas, saltaram a farpear o animal, com a destreza, a galhardia e o denodo de verdadeiros capinhas! Houve pégas de cara, pégas de cernelha e pégas de rabo!

O garraio corria e pulava, perseguido pelos ares de ferros que o ameaçavam de todos os lados! Foi um verdadeiro sucesso tauromachico! E ao cabo de alguns minutos, o pobre animal escorria mais sangue, do que o que corre dos adversarios politicos aggredidos pelos mesmos jornalistas. Provou-se ainda uma vez que mais magôa e mais fere um bom par de farpas, do que um bom par de tropos!

A imprensa toda rejubilou com o exito dos collegas, e lançou o nome dos vencedores á posteridade!


In A SEMANA DE LISBOA - SUPPLEMENTO DO JORNAL DO COMMERCIO, Lisboa