18 DE JULHO DE 1909 - LISBOA : SEGUNDA CORRIDA NOCTURNA DA TEMPORADA COM GRANDES TOUREIROS DE ESPANHA E DE PORTUGAL

 
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Campo Pequeno

Segunda corrida nocturna

            Devido á arrojada iniciativa dos emprezarios srs. Albino José Baptista e Luiz de Lacerda, terão esta noite os amadores occasião de admirar o incomparavel matador e grande toureiro Ricardo Torres Bombita, que fará a sua reapparição depois da grave colhida que soffreu em Algeciras, no dia 6 de junho.

            A illuminação electrica produz um effeito deslumbrante, mas a empreza ainda a reforçou mais no interior da praça e tambem o largo do Campo Pequeno será brilhantemente illuminado por conta da empreza. (NOTA : A electrificação das praças do Campo Pequeno e de Algés foi realizada por uma empresa alemã.)

            O cartel organisado é superior.

A lide equestre estará a cargo dos festejados cavalleiros José Bento (de Araújo) e Eduardo (de) Macedo.


Na lide a pé figuram, além dos famosos bandarilheiros da quadrilha de Bombita, os nossos festejados artistas Jorge Cadete, Manuel dos Santos, Ribeiro Thomé e Alexandre Vieira.


A corrida d'esta noite deve ser superior, e aconselhamos os aficionados a que não faltem a ella, porque será a ultima em que o grande toureiro Ricardo Torres Bombita toma parte, pelos muitos contractos que tem em Hespanha e França.

A corrida começa ás 9 horas e meia da noite e é assim distribuida :

DETALHE DA CORRIDA

1.º touro — para      José Bento (de Araújo).

2.º       »                      Jorge Cadete e M. dos Santos.

3.º       »                      R. Thomé e A. Vieira.

4.º       »                      Eduardo Macedo.

5.º       »                      Bandarilheiros do ESPADA.

6.º       »                      José Bento (de Araújo).

7.º       »                      Cadete e Patatero.

8.º       »                      Bandarilheiros do ESPADA.

9.º       »                      Eduardo Macedo.

10-º     »                      M. Santos, Thomé e Vieira.

O espada BOMBITA bandarilhará um dos touros destinados aos seus bandarilheiros.



In REVISTA TAURINA, Lisboa - 18 de Julho de 1909

11 DE JULHO DE 1909 - LISBOA : CORRIDA COM 2 ESPADAS DE ESPANHA E 3 CAVALEIROS DE PORTUGAL

 


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A corrida de hoje

            A corrida que hoje se realisa na elegante Praça do Campo Pequeno é em beneficio da empreza Albino José Baptista e Luiz de Lacerda, que durante a sua gerencia da nossa primeira arena, tem empregado os seus melhores esforços e boa vontade, em prooporcionar ao publico boas corridas, sempre organisadas com os mais artisticos elementos ; no entanto a aficion não tem correspondido aos bons desejos dos sympathicos emprezarios.

            A corrida d'hoje tem elementos de geral agrado e por isso é de esperar que tenha uma boa concorrencia.

            Além de dois espadas que gosam em Lisboa de geraes sympathias, o madrileno Saleri e o sevilhano Manuel Torres Bombita III, os nossos festejados cavalleiros José Bento (de Araújo), Eduardo Macedo e Morgado de Covas.

            Além dos nossos melhores bandarilheiros tomará tambem parte na corrida o valente novilheiron sevilhano José Moyano, que é além d'um excellente bandarilheiro, um bom peão de bréga.

            Haverá dois touros em lide á hespanhola, que foram comprados expressamente ao acreditado lavrador sr. Luiz Patricio, de Coruche.

            A corrida será dirigida pelo distincto sportman e notavel cavalleiro-amador sr. Victorino Froes.

            A Revista Taurina envia aos estimados emprezarios sinceras felicitações.


In REVISTA TAURINA, Lisboa - 11 de Julho de 1909


CAMPO PEQUENO


É hoje a grande festa dos pimpões

Emprezarios do grande redondel

Que aprezentam toureiros de cartel

E festa de primor, os maganões.

 

Esta tarde teremos ovações,

Muitos brindes, dos chics, e abraços

Que o Albino e Lacerda são 'scassos

Em dar ao grande Zé (Bento de Araújo), grandes funcções!

 

Não é de 'sperar, a casa esteja fraca

Nem que faça pirraça o Zé povinho

Pois não merecem elles tal macáca.

 

Aquelle par, é emfim tão direitinho

Que se o Lacerda é um cara unhaca

O Albino nada perde no caminho.

 

Zé da Herdade.


Detalhe da corrida


1.º para         José Bento d'Araujo

2.º       »          Theodoro Gonçalves e Jorge Cadete

3.º       »          Lide á hespanhola

4.º       »          Eduardo de Macedo

5.º       »          Saleri e Bombita III


INTERVALLO

 

6.º para         Morgado de Covas

7.º       »          Bombita III e Saleri

8.º       »          Manuel dos Santos e José Moyano

9.º       »          Lide á hespanhola

10.º     »          Jorge Cadete e Alfredo dos Santos



In REVISTA TAURINA, Lisboa - 11 de Julho de 1909

23 DE MAIO DE 1909 - CACILHAS : UMA CORRIDA DECENTE...

 


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Touradas

Cacilhas

            N'esta elegante praça, que está situada a cinco minutos do caes de desembarque e n'um ponto onde se disfructa um panorama lindissimo, organisou o seu empresario e proprietario sr. Luiz de Lacerda para o domingo passado, uma boa corrida com elementos nacionaes, compostos dos festejados cavalleiros José Bento (de Araújo) e Morgado de Covas e dos bandarilheiros Theodoro, Cadete, Manuel dos Santos, Ribeiro Thomé, Alfredo dos Santos e Alexandre Vieira, com touros do acreditado lavrador de Alcacer do Sal, sr. Joaquim Mendes Nuncio.

            O dia não podia estar mais propicio para estes divertimentos mas as varias festas que n'esse dia havia nos arredores de Lisboa, impediu que a praça tivesse uma concorrencia como era de esperar, apesar d'isso, os logares de sombra e camarotes estiveram quasi todos occupados, o sol é que fraquejou ou pouco.

            A corrida apesar de não ter espada, não resultou má de todo. Os touros do sr. Mendes Nuncio, estavam bem apresentados e alguns bonitos, é facto que alguns mansorronearon, mas devido á boa vontade dos artistas e intelligencia como os lidaram, foram bem aproveitados.

            Para José Bento (de Araújo) saiu o 1.º e 6.º, n'aquelle deixou-lhe 4 ferros bons, um á tira e os restantes á meia volta, ouvindo palmas e n'este, ouvindo palmas e n'este, a muito custo, um ferro, porque o touro se defendia nas taboas.

            Morgado de Covas, que é hoje o melhor calção que temos, está toureando com muita serenidade e arte, medindo bem os terrenos e procurando sangrar como manda a arte. Lidou o 4.º, que era una perita en dulce, com muito lusimento, cravando tres ferros no mestre, ouvindo justos applausos ; no 8.º sangrou duas vezes, mas com muita intelligencia, pela forma como preparou as sortes e a limpesa como as rematou. O publico premiou o sympatico artista com bastantes palmas.

            Para Theodoro e Cadete saiu o 2.º que foi bwem bandarilhado, ouvindo os dois artistas bastantes applausos.

            Para estes artistas saiu tambem o 7.º collocando-lhe tanto Cadete como Theodoro, superiores pares de bandarilhas, ouvindo bastantes palmas, pela fórma artistica como preparam as sortes.

            O 3.º saiu para Manuel dos Santos e Thomé. O primeiro, um pouco resentido da colhida que apanhou na quinta-feira ultima, pouco fez. Ribeiro Thomé, teve um par superior e outros regulares. O 9.º tambem foi para estes dois artistas, deixando-lhe Manuel um bom par e Thomé, dois superiores.

            O 5.º saiu para Alexandre Vieira e Alfredo dos Santos.

            Vieira, que está bandarilheiro de grandes recursos, teve n'este touro tres pares de bandarilhas de primeira ordem, principalmente os dois primeiros que foram superiores, ouvindo da assistencia justos applausos. Alfredo dos Santos, que é um dos novos, com grande vontade, n'esta corrida tuve el santo de espaldas, apenas teve um quiebro de rodillas, regular no 3.º e um salto de vara no 8.º.

            Alexandre Vieira deu um magnifico salto de vara no 6.º e correu bem alguns touros.

            Na brega incansaveis Theodoro e Ribeiro Thomé.

            A gente de barrete fez algumas pegas rijas, principalmente uma feita por Mocadas no 10.º ; Carraça e o Fressura foram colhidos, mas sem gravidade, este pela teimosia de querer pegar de costas e aquelle por lhe cahir mal na cabeça, mas a culpa tambem foi do sr. intelligente em mandar pegas touros sem estarem convenientemente passados ; na restante direcção esteve acertado.

            Agora até ao dia de Corpus Christi em que a empreza nos apresenta um cartel cheio de novidades, que com certeza chamarão a esta elegante praça grande concorrencia.


In REVISTA TAURINA, Lisboa - 30 de Maio de 1909

20 DE JUNHO DE 1909 - LISBOA : FESTA BRAVA E BOA EDUCAÇÃO...

 


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José Bento d'Araujo

D'este festejado cavalleiro recebemos o seguinte agradecimento, cuja publicação gostosamente fazemos.

Sr. redactor da Revista Taurina

            Rogo a v. a subida fineza de me ceder umas linhas no seu estimado jornal, para tornar publico o quanto estou reconhecido para com os meus amigos e bondoso publico, que se dignaram honrar com a sua presença a minha festa, realisada no Campo Pequeno, no domingo 20 de junho, e especialmente aos amigos que me offertaram valiosos brindes.

            Permita-me, sr. redactor, especialisar a illustrada imprensa da capital, a quem sou devedor de numerosas deferencias ; aos distinctos amadores Perestrello e D. Carlos de Mascarenhas, pelo valioso concurso que deram á corrida ; a todos os artistas, pela boa vontade que demonstraram ; ao meu amigo Anastacio Fernandes ; emfim, a todos os amigos que directa ou indirectamente contribuiram para o bom exito da minha festa, o meu sincero reconhecimento.

            Lisboa, 1 de Julho de 1909.

José Bento d'Araujo


            Este festejado cavalleiro, está organisando uma extraordinaria corrida, que se realisará brevemente na praça da Alegria, no Porto.

            Dadas as sympathias que José Bento (de Araújo) conta na cidade do norte, deve ser uma das mais attrahentes corridas que ali se teem realisado.  

In REVISTA TAURINA, Lisboa - 11 de Julho de 1909

22 DE AGOSTO DE 1909 - FARO : HÁ DUAS SEM TRÊS...

 


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Touradas em Faro

Notas d'um afficionado

Contra a espectativa geral a praça encheu-se provando o facto quanto o divertimento se vae arreigando no animo da população algarvia, e como elle será sempre querido se houver accordo na sua organisação.

As duas touradas anteriores, realisadas pelas festas de Faro, (NOTA : 12 e 13 de Junho de 1909) foram um poderoso chamariz para esta concorrencia, e porventura contribuiu tambem o attractivo de La Reverte, uma mulher a tourear.

Começou a tourada ás 5 horas da tarde com a lide do primeiro touro pelo José Bento (de Araújo). O bicho sahiu manhoso e matreiro, apenas permittindo um ferro, pelo que foi recolhido.

Os subsequentes foram tambem maus, excepto dois garraios espertos, que, bem aproveitados, teriam salvado a situação, se La Reverte a quem elles foram reservados tivesse sabido lidal-os na arrancada, não os poupando com o maneio das capas, para só forçal-os depois de cansados.

Infeliz em tudo esta artista. Mal empregado dinheiro que se gastou com ella.

María Salomé Rodríguez Tripiana «LA REVERTE»
FOTOS : DIARIO DE ALMERÍA

NOTA : O jornal DIARIO DE ALMERÍA dedicou um artigo a María Salomé Rodríguez Tripiana «LA REVERTE» com o título «¿Hombre o mujer?». 

LINK : https://www.diariodealmeria.es/almeria/SENES-Hombre-mujer_0_1615038724.amp.html 

O grupo dos bandarilheiros, de uma fraqueza extrema. Valente quando o gado era manhoso, fugindo quando dava alguma cousa, mostrando a sua incapacidade na lida. N'uma outra praça que não fosse esta, entendida, os artistas não escapavam salvos da troça, menos Jorge Cadete que mais uma vez confirmou os seus superiores creditos, e Moyano, unicos que conseguiram metter os poucos ferros bons que houve. Ambos foram merecidamente applaudidos.

Quem se mostrou a toda a altura da situação, salvando do fiasco, foi o corajoso grupo dos forcados, que fez valentes pegas de cara e costas, ovacionadas com enthusiasmo.

Ao Nuncio, cremos, que não terá ficado de voltar ao Algarve com semelhante gado. 

Em suma. A terceira tourada descontentou a muita gente e bom será que nas futuras haja o maximo cuidado na escolha do curro, e na escolha do pessoal, não se olhando a despezas para o contractar superior e capaz, o que haja de melhor, se a empreza não quizer ver em terra um divertimento que com tão bons auspicios iniciou, e que tendo entrado como mostra pela concorrencia, tanto no gosto publico, dará sempre margem a que seja lucrativamente explorado e com satisfação de todos. 

Sei que a empreza não poupou deligencias nem esforços, nem despezas para se sair bem : a culpa da infelicidade não lhe cabe, salvo a de se não ter guiado por seguras informações na escolha dos artistas e curro, abonados uns e outros por creditos firmes, peritos aquelles, puro este.

Nas praças em começo, cuja reputação ainda está a formar-se, como esta de Faro, é necessario a todas as circunstancias que importem seguir a justa consagração da boa vontade empenhada em acertar.

Não se termina esta nota ligeira sem que se dirijam calorosas felicitações aos srs. João Arcanjo e Francisco Pinto Junior, que não se furtaram a cansaços e trabalhos para a realisação d'esta tourada, esperando que no futuro e no seu propio interesse serão mais cuidados, compensando com todas as vantagens o descontentamento actual.


In PROVINCIA DO ALGARVE, Tavira - 28 de Agosto de 1909

20 DE JUNHO DE 1909 - LISBOA : A FESTA DO CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO NA PRAÇA DO CAMPO PEQUENO


 


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José Bento d'Araujo

            Este cavalleiro realisa a sua festa no Campo Pequeno, no domingo 20 de junho.

In REVISTA TAURINA, Lisboa - 30 de Maio de 1909


3 DE AGOSTO DE 1902 - LISBOA : TOUROS DESGRAÇADOS E ARTISTAS INFELIZES NA FESTA DO CAVALEIRO SIMÕES SERRA...


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 CAMPO PEQUENO

Beneficio de Simões Serra

            Com uma concorrencia muito regular, realisou-se no domingo na Praça do Campo Pequeno a festa artistica do cavalleiro Simões Serra.

            O beneficiado deve ter ficado satisfeito pelas provas de sympathia que recebeu, mas o mesmo não lhe deve ter succedido com o resultado artistico da corrida, que foi o que se póde imaginar de mais sensaborão, em consequencia do ordinarissimo curro, fornecido pelo sr. Paulino da Cunha e Silva.

            Chega a parecer inverosimil, que haja um lavrador tão pouco cioso do credito do seu nome, que não duvide e, apresentar na primeira praça do paiz, um curro como o de que tratamos.

            Que cabeças, que cornos, que corpos e que bravura !...

            A armação de alguns, parecia mais de cabras que de bois (não confundir com touros !)

            Houve um, o 7.º, que se alguem o visse em uma estradanão fugiria, porque era o typo real dos bois de carro.

            Que pernas !

            Desconfiamos que se tivesse quem o ensinasse, não teria difficuldade em passar para dentro da trincheira, sem se incommodar a saltar.

            Até mesmo de carnes estavam n'um estado desgraçado.

            Alguns eram tão fracos, que o mais simples recorte os fazia cahir.

            Uma perfeita vergonha !

            Sabemos de um lavrador que a epoca passada nos apresentou dois dos melhores curros que foram corridos n'esta praça, que, tendo soffrido este anno o dissabor de lhe sahir um curro manso, mandou coar todos os touros que tinha para correr.

            Se o sr. Cunha seguisse o criterio do seu collega, teria até que mandar queimar as hervas que se criam nos campos onde comiam os animalejos que mandou para o beneficio de Simões Serra.

            Ainda se comprehende que este artista, não tendo talvez quem lhe fornecesse curro para a sua corrida, acceitasse tudo o que houvesse, mas o que não se comprehende, é que um lavrador não tivesse o pondunor preciso para se negar a trazer á primeira praça um curro d'esta ordem.

            Sabemos perfeitamente que, com raras excepções, os nossos creadores de touros de lide são meros commerciantes, mas procuraram sempre disfarçar o trapio com a gordura, a bravura com o trapio, etc. ; mas, este curro, não tinha nada nada que o recommendasse, nem mesmo para a choupa.

            Felizmente, houve um que se inutilisou antes da corrida, e tivemos portanto a vantagem de um desconto de 10 por cento na nossa indignação.

            José Bento (de Araújo), no primeiro, começou muito indeciso, não regulando o andamento do cavallo, tendo por isso mais de um pescanço, devendo-se no entanto citar um á volta e outro á tira, regulares.

            No 6.º tambem não conseguiu brilhar.

            Simões Serra toureou o 5.º com luzimento e muita vista.

            E note se, que o touro não era «una perita en dulce», como dizem os hespanhoes !

            Antes pelo contrario ; procurava constantemente os peitos do cavallo.

            Serra collocou-lhe uma farpa muito boa, e outras que o publico muito applaudiu.

            Desculpe-nos, Serra, o sahirmos das praxes usadas para os beneficiados, mas não podemos furtar-nos ao dever de lhe perguntar, qual a razão porque soube tourear aquelle bicho, e esta epocha tão pouco tem feito com touros nobres ?

            Pois reparámos que poucas vezes o seu cavallo se tem negado tanto como n'esta tarde !

            Emfim, o que desejamos é que Simões Serra iniciasse na sua festa uma nova phase de correcção artistica.

            No 8.º nada fez, porque aquillo não se toureia, e os peões não o ajudaram.

            A proposito : tocaremos mais uma vez no realejo a tal «polka da brega».

            É realmente uma vergonha que os nossos toureiros, com excepção de Theodoro, não saibam tirar um touro das taboas.

            Qual a razão porque Rocha abriu no primeiro touro o capote para o tirar, e, quando o touro entrou, em logar de repetir outro passe, para ficar no terreno de fóra e poder assim estar prompto a avisar, fugiu para as taboas, levando de novo o animal a onde o havia tirado ?

            Era então melhor fazer o que é costume entre nós : partir das taboas, metter-lhe o capote e saltar a barreira do lado opposto !

            Ao menos não nos fazia soffrer a decepção de julgar que ia-mos ver alguma coisa e não vermos nada !

            Os outros afinam sempre pelo mesmo diapasão, e por isso soffrem constantemente a desconsideração de verem o publico chamar os artistas hespanhoes, para que ponham em sorte os touros de cavallo.

            É duro, mas é assim ; e nós fazemos appello a todos os que se dedicam a escrever sobre assumptos «bicudos», para que se ponha de lado a nota patriotica, e se chegue duro sobre este assumpto, que nos parece merecer a mais severa attenção.

            Com as bandarilhas, apenas citaremos um par bom e outro muito bom, de Thomaz da Rocha, e um bom, de Torres Blanco.

            O espada Antonio Montes, nada poude fazer com a muleta ; em primeiro logar porque os touros se não prestaram, em segundo, porque era preciso fazer pegas, e, portanto, o trabalho do espada, a quem se paga um dinheirão era dispensado.

            Este assumpto promettemos aos nossos leitores tratal-o em artigo especial, no proximo numero.

            Com as bandarilhas, Montes, collocou um par de valor, pelo que ouviu palmas, assim como por ensinar aos nossos peões como se tira um touro das taboas.

            As honras da tarde, foram sem duvida para os valentes forcados, principalmente a Florindo que pegou á terceira, o quarto bicho, que apenas servia para dar derrotes.

            A intelligencia a cargo do publico.

M. T. David

In REVISTA TAURINA, Lisboa - 3 de Agosto de 1902

16 DE MAIO DE 1909 - LISBOA : PRIMEIRA CORRIDA COM PICADORES NA PRAÇA DO CAMPO PEQUENO

 


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A CORRIDA DE HOJE

            Dá-nos hoje a empreza Baptista & Lacerda, um espectaculo muito do agrado do nosso publico — a primeira corrida com picadores, o que constitue sempre um grande attractivo, não tanto pela sorte de varas, em si, mas pelos quites, o que dá logar a que os espadas mostrem o seu valor.

            Os diestros que tomam parte na corrida são os festejados toureiros sevilhanos Manuel García Revertito e Manuel Torres Bombita III, que tanto agradaram na corrida do dia 2, no Campo Pequeno.

MANUEL GARCÍA «REVERTITO» 
(1882-1924)
FOTO : Emilio Beauchy Cano

            Como se sabe, Revertito é um toureiro de recursos, de variado reportorio, tanto no manejo da muleta e capa como na sorte de bandarilhas, em que é eximio.

            Manolo Torres é um toureiro larguissimo e a sua muleta vae adquirindo as perfeições e os adornos que tanto distinguem a familia Bombitas.

MANUEL TORRES REINA «BOMBITA III»
 (1884-1936)
FOTO : La Razón

            Os touros pertencem ao conceituado lavrador Antonio Luiz Lopes e teem o ferro da ganaderia do sr. marquez de Castello Melhor.

            A lide equestre está a cargo de Eduardo Macedo e José Bento (de Araújo).

            Além d'estes attractivos, a empreza ainda lhe augmentou mais a reapparição do notabilissimo bandarilheiro e grande peão de brega Antonio Soriano Maera-chico, que conta em Lisboa, não só numerosos amigos, como grandes sympatias na aficion.

            Bem acertada foi a resolução da empreza em trazer Maera, pelo muito que em Lisboa é estimado o sympatico artista.

            Com taes elementos é de crêr que a elegante praça do Campo Pequeno tenha hoje uma enchente collossal.

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In REVISTA TAURINA, Lisboa - 16 de Maio de 1909

7 DE SETEMBRO DE 1902 - ALGÉS : «GRANDE FESTA ARTISTICA» DO CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO

 


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In REVISTA TAURINA, Lisboa - 7 de Setembro de 1902

7 DE SETEMBRO DE 1902 - ALGÉS : «GRANDE FESTA ARTISTICA» DO DECANO DOS CAVALEIROS, JOSÉ BENTO DE ARAÚJO, QUE CONCEDE A ALTERNATIVA AO JOVEM JOSÉ LUIZ BENTO

 


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As alternativas e... as opiniões

            O que são as alternativas ?

            Que importancia deve conceder-se a esta cerimonia ? e o valor d'ellas qual é ?

            É dada pelas praças ou pelos artistas ?

            Se é dada pelas praças, temos então muito a discutir ; se é dada pelos artistas, então, tanta validade tem a que dá o João como a que deu o Pedro. Sim, em apparencia, tem alguma coisa a mais a que deu Guerrita, que a que concede Mazzantini.

            Só em apparencia, já disse, pois o valor é o mesmo.

            Mas se conceder-mos alguma importancia á opinião de que o valor da alternativa é segundo a praça em que é dada, perguntamos aos que defendem tal theoria : Badajoz e Madrid, citamos estas praças por hespanholas ; e portanto onde se encaram os asumptos tauromachicos sob o ponto de vista que se devem olhar.

            Guerrita concede a alternativa a um novilho só na praça de Badajoz a este novilheiro, no domingo a seguir outhorga outra alternativa na praça de touros de Madrid.

            Por razão natural, sendo a praça a que dá o valor, o novilheiro que concedeu a alternativa ficou revestido de maior auctoridade.

            São formas de ver e portanto differentes maneiras de pensar.

            Agora vamos nós tratar da alternativa annunciada, para hoje, domingo. É em Algés. Mas quem a dá?

            Pois ... outhorga-a o cavalleiro José Bento (de Araújo) ;

            José Bento (de Araújo) ?...

            Este artista é o decano dos cavalleiros que na actualidade toureiam. José Bento (de Araújo), é artista de indiscutivel cathegoria. Qual é pois, a causa, as rasões que se impõem a que não tenha validade essa alternativa ?

            É talvez a importancia da praça ?

            É que a de Algés tem menos valor como circo taurino ou é que a parte de architectura influe na seriedade do espectaculo ?

            Não é Algés Lisboa ?

            Não é o mesmo publico aquelle que este ?

            Não será o cavalleiro José Bento (de Araújo) em Algés o mesmo artista que é quando trabalha na praça dos quatro balões ? (NOTA : A praça dos quatro balões é a do Campo Pequeno, em Lisboa)

            Pois se é o mesmo artista, em uma praça como na outra, por que carapuça não se concede valor ao facto de outhorgar a alternativa na praça de extra-muros ?

            Nada.

            Deixemo-nos de partidos, de questões de sympathia, e animadversão. Encaremos esta questão tal qual é ; dé-se o valor que tem a cerimonia, e o que hoje é para um, amanhã será para outro, e não é um costume que se estabelece, mas sim uma lei que triumpha é razão que impera.

Fiastol

In REVISTA TAURINA, Lisboa - 7 de Setembro de 1902