28 DE MAIO DE 1893 - NIMES: UMA TOURADA PARA ESQUECER...


 


LAS CORRIDAS


Nimes. — 28 de Mayo.

Estando en máquina el anterior número, recibimos los siguientes apuntes de nuestro corresponsal MOSCA:

            «Hoy tuvo lugar la corrida de los seis toros de Aleas, actuando Juan Jiménez (el Ecijano) y Enrique Santos (Tortero), este último en sustitición de pepete, herido ultimamente en Talavera de la Reina. El caballero en plaza (José) Bento de Araujo debía rejonear el primero y cuarto toros y los espadas estoquear los dos últimos.

            A las tres y cuarto dió principio el espectáculo bajo la presidencia del alcalde Sr. Reinaud. El paseo de las cuadrillas fué muy aplaudido. (José) Bento (de Araújo) escuchó palmas rejoneando con banderillas de á cuarta su segundo toro. El público silbó los toros embolados.

            El quinto toro embolado para los picadores y para los picadores y desembolado para las banderillas, llegó á la muerte conservando todas sus faculdades y en malísimas condiciones. Tortero lo despacha de varias esocadas y un buen descabello á pulso.

            El sexto apareció desembolado á petición del público y fué el toro de la tarde. Tomó 18 varas y el Ecijano, después de brindar por Francia y España, lo mató de dos pinchazos y una buena estocada. (Ovación, sombreros y ciagrros).

            En resumen, los cuatro primeros toros, bueyes de carreta. El quinto regular, y el sexto superior en todos los tercios.

            De los picadores, Telillas.

            De los banderilleros, Morenito, Dominguín y Albañil.

            Los espadas muy aplaudidos en brega y en quites, sobresaliendo el Ecijano con la muleta y estoque.

            La entrada un lleno.


In EL ARTE TAURINO, Madrid - 12 DE JUNHO DE 1893

31 DE JULHO DE 1909 - RIO DE JANEIRO: FILME COM CAVALEIROS TAUROMÁQUICOS PORTUGUESES EXIBIDO NA CAPITAL DO BRASIL

 


CINEMA-THEATRO

53 Rua Visconde do Rio Branco 53

EMPREZA CORREIA & C.

Operador e electricista, J. J. de Oliveira

Unico no genero nesta capital

HOJE  MAGISTRAL PROGRAMMA  HOJE


1ª parte — CAÇA AOS «BARBADOS».

Engraçadissima fita comica.

2ª parte — COSTUMES BEDUINOS.

Bellissima fita natural tirada em lindissimos sitios.

3ª parte — FESTAS EM LISBOA. 

Importante fita portugueza. Nesta fita verá o respeitavel publico as festas realizadas em Lisboa por iniciativa do jornal O Seculo, entre as quaes vêem-se corridas de bicyclettas por homens e senhoras, jogos athleticos, corridas de touros, exercicio do JOGO DO PÁO a pé e a cavallo, pelos cavalleiros tauromachicos JOSÉ BENTO (de Araújo) e MORGADO DE COVAS E MUITOS OUTROS DIVERTIMENTOS. Successo! Successo!

4ª parte — O FILHO DO PESCADOR.

Emocionante drama de amor filial.

5ª parte — ROUBO HYPNOTICO.

Importante fita comica. O «nec-plus-ultra» do humorismo. Rir!!! Rir!!! Rir!!!

6ª parte — Novos numeros de grande successo pelo eximio artista comico CESAR NUNES (o photographo humano).

Todos ao Cinema-Theatro, todos.

Sempre novidade ! Cinematographo e attracções. Preços: Cadeiras de 1ª, 1$; de 2ª, 500 réis.

In JORNAL DO BRASIL, 31 DE JULHO DE 1909 - Rio de Janeiro

1851-1924 — LISBOA: A HISTÓRIA DO CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO NA ENCICLOPÉDIA TAUROMÁQUICA

 



            ARAÚJO (José Bento de) — Cav. (NOTA: Cavaleiro) prof. (NOTA: profissional) natural de Lisboa (NOTA:  Os seus pais, naturais de São Pedro de Merelim, Arcebispado de Braga, residiam na Travessa da Boa-Hora, Paróquia de Nossa Senhora da Ajuda, Lisboa), onde nasceu em 1952 (NOTA: A data de nascimento correcta é 18 de Setembro de 1851).

            Com notável predisposição para o toureio, desde muito novo o praticou; a sua apresentação em público porém só teria lugar na temporada de 1874, na antiga praça da Junqueira. Foi um êxito essa estreia a denunciar a presença de um dos mais sólidos valores que o toureio equestre nacional registaria.

            Triunfante em quantas corridas toureou seguidamente nas arenas da província, apresentou-se em Lisboa, no Campo de Santana (NOTA: Praça de Sant’Anna), confirmando de tal forma o seu valor que em breve alternaria com os melhores cavaleiros do tempo, tais como Manuel Mourisca, Casimiro Monteiro e António Monteiro.

            Gozava pois de uma sólida e justificada fama quando, em 1892, foi inaugurada a praça do Campo Pequeno, onde voltou a repetir actuações brilhantíssimas, que tornaram José Bento de Araújo dos mais populares e apreciados toureiros dos primeiros tempos da actual arena lisboeta.

            A sua fama, depressa ultrapassou as fronteiras pátrias, levando-o a tourear nas praças de Espanha (NOTA: Madrid, Barcelona, San Sebastián, Santander, Caudete, etc.) e de França, sobretudo neste último país onde com tanta frequência se exibiu nas arenas de Paris, Avinhão, Nimes, Marselha (NOTA: Béziers, Mont-de-Marsan), etc., que por lá andou durante quase duas temporadas (NOTA: 1891, 1892, 1893), grangeando admiradores e colhendo as mais entusiásticas ovações.

            Em 1896, com Alfredo Tinoco (NOTA: os dois cavaleiros eram amigos e parceiros de negócios), foi também ao Brasil (NOTA: Rio de Janeiro, Belém, no Pará, etc.) onde actuou com igual êxito.

            Valente como os que mais o eram e com extraordinária visão dos terrenos da arena, lidava toiros corridos (NOTA:  e desembolados!) com tão espantosa facilidade que o público, por vezes, se não apercebia do facto.

            Colhido com gravidade na praça do Cartaxo, quando os médicos admitiram a necessidade de terem de lhe amputar a perna atingida, a isso tenazmente se opôs José Bento (de Araújo), declarando que a ficar inutilizado para o toureio, então preferia morrer. Felizmente registaram-se melhoras podendo assim salvar-se o simpático toureiro que durante algumas épocas mais ainda brilhou nas praças portuguesas que só abandonou quando já tinha atingido os sessenta anos!

            Certa tarde em Cascais, tendo caído da montada em consequência de uma tontura, ao erguer-se diria para o bandarilheiro Manuel dos Santos, que acorrera ao quite: — «Acabou-se! Já não posso: vi dois toiros em vez de um. Não quero mais!» Era a sua derradeira corrida, o crepúsculo de uma famosa carreira.

            Faleceu em Lisboa (NOTA: Rua da Sociedade Farmacêutica) a 2 de Setembro de 1924.


In ENCICLOPÉDIA TAUROMÁQUICA ILUSTRADA, Jayme Duarte de Almeida, Editorial Estampa, Lisboa, 1962

29 DE DEZEMBRO DE 1907 - RIO DE JANEIRO: UMA CORRIDA NA PRAÇA DO CAMPO DE MARTE COM UM TOURO E DOIS LEÕES...

 


Tauromachia

            Vae por ahi verdadeiro enthusiasmo pela tourada de domingo, em que José Bento (de Araújo) faz lutar com um touro dous leões...

            Esse touro será o ultimo do programma e, até sau sahida, terá o publico occasião de ver trabalho digno das melhores praças européas.

            Assim assistiremos duas estréas: do matador (Antonio) Villa e do bandarilheiro (Innocencio) Angelo, assim como a despedida de Juan Iglezias.

            Não resta pois a menor duvida de que a corrida deve resultar superior.

Biblioteca nacional do Brasil

In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro - 25 de Dezembro de 1907

23 DE FEVEREIRO DE 1908 - RIO DE JANEIRO: A DESPEDIDA DA COMPANHIA...

 


In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro - 22 de Fevereiro de 1908

1 DE JANEIRO DE 1908 - RIO DE JANEIRO: BOM ANO, BRASIL!

 




In JORNAL DO BRASIL, 1 de Janeiro de 1908

29 DE DEZEMBRO DE 1907 - RIO DE JANEIRO: UMA CORRIDA QUE PROMETE...

 


Tauromachia

            Nunca melhor do que hoje, podem felicitar-se os que sabendo apreciar as dificeis sortes da taurmachia moderna, assistem, sem perder uma, ás touradas que se realizam no redondel do Campo de Marte.

            E podem felicitar-se porque nunca foi organisado , nesta capital, um programma taurino no qual figurassem tres matadores de reconhecido merito, seis bandarilheiros de fama e dous cavalleiros como José Bento (de Araújo) e Morgado de Covas.

            Esse soberbo espectaculo, que hoje offerece a empreza tauromachica aos bons aficionados, demonstra mais uma vez os gigantescos esforços que a mesma emprega, no intuito de arreigar no Brasil a festa favorita dos hespanhoes e poruguezes.

            É, pois, de esperar que com tantos e taes attractivos a praça de touros regorgite esta tarde, ao sól e á sombra, não deixando os aficionados um unico logar vasio, maxime se o tempo concorrer, com o seu valioso contingente, para o brilho da festa.



 In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro - 29 de Dezembro de 1907

1 DE DEZEMBRO DE 1899 - RIO DE JANEIRO: A DESPEDIDA...

 


Biblioteca Digital do Senado do Brasil

JOSÉ BENTO DE ARAUJO

            Veiu despedir-se de nós o estimado artista tauromachico José Bento (de Araújo), que tantos applausos tem colhido na nossa praça de touros.

            D’esta vez, em logar do sympathico (Alfredo) Tinoco (da Silva), seu antigo e inseparavel companheiro, era um distincto cavalheiro que o acompanhava.

            Sentimo-nos um tanto tristes e trocámos algumas palavras sobre aquelle que lá ficou no Amazonas e nunca mais voltará!

In DON QUIXOTE, Rio de Janeiro - 2 de Dezembro de 1899

22 DE DEZEMBRO DE 1907 - RIO DE JANEIRO: DOIS CAVALEIROS PORTUGUESES E A FAMOSA «LA PEPITA», QUE BANDARILHA A CAVALO AO ESTILO MEXICANO...

 


In JORNAL DO BRASIL. Rio de Janeiro - 21 de Dezembro de 1907

1 DE DEZEMBRO DE 1907 - RIO DE JANEIRO: UMA TOURADA CHEIA DE ENCANTO...





Biblioteca nacional do Brasil

Tauromachia

    Tarde soberba de luz! O céo era uma immensa turqueza a perder-se no engaste do horizonte longinquo. A praça apresentava aspecto garrido; sombra animadissima, sol com muitos claros, quasi não se via sombra de gente ao sol.

    Lá no alto, no renque de camarotes, espoucava a graça feminina, em toilettes claras; em um delles, o 17, a toureira pepita que vae estrear breve, em trajes da sua terra, a seu lado duas patricias sympathicas faziam pender da balaustrada o classico manton de seda bordado. Nisto os olhos do poeta chronista sentiram-se offuscados, em uma mirada para o camarote 22. Toda a salerosa graça de Sevilha alli estava resumida! Senhoril, graciosa, entrou Carmen Ruiz, a evolar alegria de seu sorriso vivo; a multidão acclamou-a, o alarido alacre das almas em festa traduziu-se em applausos, quando viram a rainha da festa derramar sobre o peitorial a seda brilhante de seu manton de manilla, com as côres hispanicas. O poeta sentiu vibrar as cordas do enthusiasmo:

Dá que eu veja, como esmola

Ou como excelsa offerenda,

O teu perfil de hespanhola

Sob a mantilha de renda!

    Seu traje, lilaz claro, perdia-se sob o rendado da mantilha, que, em rendilhados finos, acariciava-lhe os cabellos. Rubros claveles redolentes alcatifavam-lhe o collo, com a graça infinita que só ella possue, e tanta, que o poeta não resistiu:

Vive minh'alma confusa

Ao ver belleza tamanha

No teu olhar de andaluza

Toda a volupia de Hespanha!

Bello porte aristocrata,

Maneira da raça antiga!

---- Trouxeste o punhal de prata

Atravessado na liga?

    Nisto sôa o clarim e o companheiro Justo Verdades toma do lapis para fazer a resenha da corrida:

«A intelligencia desta vez encontrou pessoa com geito, o cavalheiro Victor Marques, que se portou correctamente.

Entra a cuadrilla para as solemnes cortezias, com todas as regras do estylo.

Em seguida, o clarim toca o signal para o 1º touro, côr de lusco-fusco, mais claro do que escuro, que foi o melhor cornupeto da tarde. Com elle fez o cavalheiro Morgado de Cóvas uma estrêa garrida e brilhante, cravando-lhe cinco ferros largos esplendidos, al quite e um curto magnifico, com intento.

Ganhou applausos em penca, muitas flôres e muitos charutos; uma bella ovação.

P 2º touro já é sarado, malandro como elle só, mas assim mesmo procurou dar conta do recado, recebendo de Maera um par al quarteo superior e outro supimpa, pois o bravo hespanhol, sem deixar as bandarilhas, preparou a féra com bellos passes de capote para tal fim.

Oliveira cravou um par regular e outro aproveitando.

Maera, em seguida, fez varios passes magnificos com a capa.


    Ao cavalleiro José Bento (de Araújo), um bravo que bebeu o elixir da juventa e não diz a ninguem o segredo da sua eterna mocidade, a esse veterano destemido coube o terceiro touro.

    Alfredo Santos fez a sorte da vara com resultado. A féra, a principio, fez negaças, depois resolveu-se a arremetter e José Bento (de Araújo) crvou-lhe tres ferros largos de primeirissima, dos quaes um en tabla, e um ferro curto muito bom. Applausos e ovações a José Bento (de Araújo). Nesse momento appareceu a figura do Camarão, o mais celebre dos afficionados, os espectadores saudaram-no com effusão, emquanto o poeta, embevecido, perpetrava mais umas rimas para o guapo camarote:

Teu olhar vibra scentelhas,

Teu labio inspira desejo,

Que mette milhões de abelhas

Zumbindo dentro de um beijo.

    Sôa de novo o clarim, e entre o quarto touro, Manuel Santos mette-lhe meio par, Alfredo Santos faz um bello cambio de rodillas, Cantarito mette meio par, intentando cambiar com valentia.

    Manuel Santos faz um luzido preparo e a féra, depois de capeada optimamente por Maera, recebe de Manuel Santos um bello par de castigo.

    Cantarito intenta com ardor a sorte da cadeira, a féra não ajuda, mas recebe um par magnifico.

    Mais outro par bonito de Manuel Santos e Cantarito então pratica a sorte da muleta, passe natural, é desarmado, mas rapidamente faz um bello pase de peito pela direita, outro em redondo muito bom e faz a sorte da morte cravando no animal uma boa estocada.

    Applausos em penca.

    O 5º touro, negro, dorso estriado, saltador, cachaçudo, coube ao cavalleiro Morgado de Cóvas, que montava um soberbo tordillo andaluz, puro sangue, ginete adestradissimo, que elegantemente fazia a manobra sem o menor castigo.

    Apezar das negaças da féra, Morgado crava-lhe tres ferros largos superiores e mais um á meia volta, recebendo muitas palmas.

    Houve ahi uma interrupção; onde está o homem está o perigo, na sombra armou-se um sarilho de repente, assustando as damas e obrigando os homens a alguns safanões e cotoveladas.

    Faz-se de novo a paz tranquilla, graças á conferencia de Haya do supplente que presidia á corrida.

    Entra o 6º touro, preto; Alfredo crava-lhe um par al quiebro, mas foi volteado pela féra, crava-lhe outro par, aproveitando, a meia volta. Thomé crava tres pares bons, bem lançados. Alfredo mais dous pares e meio, um delles entrando no terreno do cornupeto. Foi capeado luzidamente por Maera, Cantarito, Thomé, Oliveira e Alfredo. Seguiu-se a pantomina Cortajaca, muito parecida com a de domingo passado, dando os rapazes muita sorte com o touro que lhes coube, entre dansas, saracoteos, tambalhotas e saltos mortaes. Resumo: tarde esplendida, gado um pouco melhor do que o das corridas passadas, sortes soberbas, animação completa e a poesia, lá em cima, completamente integrada nessa figura dominadora e gracil que prendia e empolgava, perturbadoramente linda, soberbamente encantadora. E o poeta, á sahida, monologava, inspirado:

Senhora de mago encanto

Que extasia e maravilha,

És como a flor de amarantho

De um castello de Sevilha!

Justo Verdades e Raul

 

In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro - 2 de Dezembro de 1907

17 DE OUTUBRO DE 1897 - RIO DE JANEIRO: UMA TOURADA GRANDIOSA...

 


Biblioteca nacional do Brasil

TOURADAS

Realisar-se-à manhã, na praça do Boulevard, mais uma grandiosa corrida de sete bravissimos touros.

Tomam parte Alfredo Tinoco, que farpeará o 1º touro, sendo o ultimo farpeado pelos dois cavalheiros Tinoco e José Bento (de Araújo), sendo que este farpeará só o 5º touro.

El Gordito bandarilhará o 6º touro. Um programma cheio, que não deixará um lugar na praça do Boulevard, tantos são os «aficcionados» do bello espectaculo, nesta Capital.

In GAZETA DA TARDE, Rio de Janeiro - 16 de Outubro de 1897

NOTA

Eis o anúncio com os detalhes da corrida (jornal O PAIZ, Rio de Janeiro - 6 de Outubro de 1897):

3 DE JULHO DE 1904 - LISBOA: FESTA DO CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO NA PRAÇA DO CAMPO PEQUENO

 


Hemeroteca Digital CM Lisboa


Praça do Campo Pequeno

11.ª corrida

    Esteve por vezes animada a corrida effectuada no ultimo domingo, em beneficio do popular e estimado cavalleiro José Bento de Araujo.

    Os elementos de que dispunha o cartaz eram dos melhores, podendo até dizer-se que era uma corrida mais para satisfazer ao publico do que para ganhar.

    Os touros pertenciam ao reputado ganadero de Paucas, sr. Estevam de Oliveira, que enviou uma corrida superior, tanto em typos como no respeitante a tratamento, grandes e eguaes, e se não enthusiasmaram quanto a bravura, deve-se isso unica e exclusivamente á lide que lhes deram, pois foram recortados escandalosamente, deixando-os sem faculdades nenhumas logo após a entrada no redondel. E é isto que actualmente succede, quando um creador tem o arrojo e o gosto de apresentar touros de presença e de respeito!

    Dos cavalleiros, foi José Bento (de Araújo) quem teve as honras da tarde na lide do 5.º, que toureou com desusada valentia, e no qual collocou alguns ferros magnificos, principalmente um á tira, que causou grande enthusiasmo, pela fórma como preparou e consumou a sorte.

    Manuel Casimiro toureou tambem com vontade e foi muito applaudido, sendo colhido e quasi desmontado pelo 1.º touro, ao collocar o primeiro ferro, pelo motivo de muito apertar. No fim da lide, o publico chamou á arena o estimado artista, dispensando-lhe uma carinhosa manifestação de sympathia.

    Eduardo Macedo esteve bem na lide do 6.º, terminando com um curto superior, que lhe valeu uma justa ovação.

    Victor Marques, a quem José Bento (de Araújo) concedeu a alternativa no 3.º, não passou de regular, toureando pouco, por motivo do animal se inutilisar logo depouis de sahir á arena.

    Os espadas Algabeño e Machaquito, não fizeram prodigios: com as bandarilhas tourearam com pouco luzimento, e com o capote e a muleta estiveram pode demais desconfiados, e com poucas ganas de se arrimarem e parar. Ainda assim, foi no 6.º que a assistencia mais gostou de vêr Machaquito, em que esteve deveras valente, e a Algabeño no 9.º, no qual tirou um ou outro passe de muleta mais artistico e em que se confiou tambem mais que nos restantes.

    Dos bandarilheiros, Cadete e Rocha tiveram alguns pares que foram applaudidos; dos das cuadrillas dos espadas, Patatero e Moyano, que mais uma vez se evidenciaram dois bandarilheiros disctinctissimos.

    Os forcados, com pouca fortuna, sendo um dos do grupo conduzido á enfermaria bastante maltratado.

    A direcção, má.

    Ao sr. Manuel Botas se deve uma parte do insuccesso do gado, ou seja de não cumprir como devia, pois de fórma alguma devia consentir na arena cinco e seis artistas propositadamente recortando os touros para lhe tirarem as pernas, como aconteceu do primeiro ao ultimo da corrida.

    Assim todos dirigem.

    Da mesma auctoridade que usou para com José Bento (de Araújo) e Manuel Casimiro, quando pretendiam collocar ferros curtos no 8.º, a que com muita e justificada razão se negou, era assim que desejamos procedesse com os bandarilheiros hespanhoes, não consentindo aquelles consecutivos grupos de peões, sempre de capote na mão em volta dos touros, que só faziam o seu jogo inutilisando-os por completo para a lide com uma série interminavel de capotazos e de recortes.

    Colloque-se o sr. Botas no seu logar, e imponha-se, pois ainda ha quem veja, e n'essas occasiões não se sentirá desacompanhado, póde ter a certeza. E ainda n'esta tarde teve a prova.

    C.A. (NOTA: iniciais de Carlos Abreu)

In O GRANDE ELIAS, Lisboa - 7 de Julho de 1904

NOTA : Eis outro artigo do jornalista Carlos Abreu sobre esta corrida, que foi publicado no SOL Y SOMBRA de Madrid :

https://corridasportugalespanafrance.blogspot.com/2020/04/3-de-julho-de-1904-lisboa-corrida-em.html

24 DE NOVEMBRO DE 1907 - RIO DE JANEIRO: 2.ª TOURADA DA NOVA CUADRILLA LUSO-ESPANHOLA NA PRAÇA DO CAMPO DE MARTE



Biblioteca nacional do Brasil

PRAÇA DE TOUROS

(CAMPO DE MARTE)

AMANHÃ

Domingo 24 de Novembro 1907

Ás 4 1/4 da tarde

2.ª apresentação da nova cuadrilha de toureiros portuguezes e hespanhoes, a melhor que tem vindo ao Brasil.

SURPREENDENTE CORRIDA DE 7 BRAVISSIMOS TOUROS PORTUGUEZES

Cavalleiros: José Bento de Araujo e Victor Marques

UM TOURO para o valente e estimado bandarilheiro Manuel dos Santos, para o formidavel PEÃO DE BREGA Antonio Maera.

Um grupo de 4 TOUREIROS EXCENTRICOS, fará, pela unica vez, nesta praça, A Grã Duqueza de Gerolstein (Successo de gargalhada).

Bilhetes á venda no armazem Derby, largo do Rocio cocheira Recreio, rua do Senado n. 35, e Confeitaria Castellões, rua do Rosario 33 A e rua de São Christovam 32 A.

AOS TOUROS!

NOTA — Tomam tambem parte na corrida os bandarilheiros Ribeiro Thomé, João de Oliveira e Alfredo dos Santos.

In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro - 24 de Novembro de 1907

23 DE MAIO DE 1895 - ALGÉS: INAUGURAÇÃO DA PRAÇA DE TOUROS

 


Hemeroteca Digital CM Lisboa

Inauguração da Praça d'Algés

VIVA A BELLA RAPAZIADA


NOTA

CAVALEIROS:

Fernando de Oliveira

Alfredo Tinoco

Manuel Casimiro

José Bento de Araújo (É o segundo cavaleiro, partindo da esquerda para a direita)

LINKS ÚTEIS

https://corridasportugalespanafrance.blogspot.com/2019/11/23-de-maio-de-1895-alges-inauguracao-da.html

https://corridasportugalespanafrance.blogspot.com/2019/11/23-de-maio-de-1895-alges-inauguracao-da.html

In O ANTÓNIO MARIA, Lisboa - 30 de Maio de 1895

1 DE JUNHO DE 1895 - LISBOA: A ESPERA DOS TOUROS...

 

Hemeroteca Digital CM Lisboa

A ESPERA DOS TOUROS

(LISBOA CONTEMPORANEA)

            Chegou quasi a ser tradicional em Lisboa a espera dos touros.

            Aos sabbados havia na capital uma animação desusada, promovida por um publico especial, que adorava aquelle divertimento sui generis, synthese das grandes patuscadas dos estroinas de então.

Ir esperar os touros era o que hoje se chama, em linguagem plebéa, um pagode de estalo.

            O mundo facil das peccadoras réles, dos fadistas emeritos, dos estravagantes notaveis, dos valdevinos, dos vadios, dos borgas e de toda uma sucia de rapazes estroinas e mulheres perdidas, mettia-se, ahi pelas tres da tarde, em trens especiaes, com cocheiros lirós, de calça de belbotina, bota de polimento, jaleco com alamares de prata, chapeu  desalbado de feltro branco e cinta vermelha, e, em corrida vertiginosa, mercê de vibrantes chicotadas applicadas nos lombos de desventurados pilecas lazarentas, batia aquillo tudo para a Cruz do Taboado, primeira estação de comes e bebes, a predispor o espirito e o estomago para as grandes sensações da noite.

            Ordinariamente o menú constava de bellas postas de peixe espada frito, salada de alface, azeitonas, vinho á discrição, laranjas e queijo saloio.

            Comia-se muito, bebia-se ainda mais, as guitarras gemiam desafinados acordes, cantandores celebres psalmeavam versos errados e ordinarios de sentimentaes oitavas de fado, discutiam-se assumptos ligeiros, trocavam-se ditos obscenos, as malhas do chinquilho vibravam metallicamente na terra, erguendo nuvens de peira, dois faias riscavam n'um cumulo de pericia infame, as mulheres riam doidamente ou alardeavam a sua miserrima situação contando, em alta voz. serenas ridiculas de nojentas aventuras e avinhados galanteios, ás vezes alguns murros serviam de prato de resistencia, e não raro se ouvia o estalido secco da mola d'umqa navalha, abrindo-se n'uma algibeira, traidora e covardemente.

            Ao cahir da noite toda aquella multidão entre a qual chafurdavam alguns dos mais antigos brazões da nobreza portugueza, trocando o tu de confiança com o mais desprezivel cocheiro de praça, mettia-se nos trens, e lá iam, no meio d'uma algazarra infernal, replectos de vinho e de instinctos bestiaes, esperar o gado á porcalhota.

            A chusma augmentava com uma multidão, de cavalleiros, janotas uns, outros pelintras, hespanholas de grandes olhos negros e pés de creança, envoltas em longas mantilhas de seda branca ou chales de Tonkin, membros da élite e do sport, e alguns pandegos engraçados, montados em miseros jericos, que serviam de alvo aos motejos de tods aquella gente berradora e agitada.

            Proximo da hora anciosamente esperada, o barulho decrescia de intensidade até as conversações se travarem a meia voz, e os ouvidos apuravam-se para recolherem o bater do primeiro chocalho.

—  Lá veem elles! grtava um engraçado, ao qual respondia uma voz forte:

— Cala a bocca, bruto!

            E então, uma gargalhada enorme, colossal, sahia d'aquellas trezentas gargantas, e os rostos avinhados dos boleeiros appareciam á luz das lanternas, accendendo os nauseabundos cigarros.

            Finalmente sentia-se ao longe o tinir sonoro d'un chocalho.

            Na semi-obscuridade d'aquella noite especial, viam-se erguer nos trens os vultos das mulheres, encostando-se tremulas e receiosas aos homens meio embriagados, com os chapeus cheios de pó descahidos sobre os olhos.

            O ruido dos chocalhos augmentava, ouvia-se já distinctamente, e o silencio tornava-se profundo, a ponto de se poder distinguir o zumbido d'um mosquito.

            Á luz avermelhada dos lampeões da estrada descortinava-se ao longe uma nuvem de poeira avançando rapida, como uma onda prodigiosa em mar revolto.

            Todos se recolhiam aos trens, os cocheiros saltavam para as almofadas, os cavalleiros recuavam os cavallos, os peões subiam ás arvores, abriam-se as janellas das casas proximas, e, rapidos como um relampago, rodeados pelas chocas e pelos campinos, de focinho quasi de rojo, cheios de pó e de cansaço, soprando ruidosamente, cegos de colera por aquella corrida vertiginosa, passavam os bois.

            Em seguida toda aquella alluvião de trens e de cavallos desfilava loucamente, em carreira fanthastica e febril, no encalço do gado.

            Resoava então uma agazarra formidavel, augmentada pelo rodar dos trens; assobios d'um som agudissimo silvavam sem interrupção, durante o caminho, as mulheres batiam as palmas e riam desordenadamente; entoavam-se hymnos a Bacho e ao Amor, n'uma phraseologia de bordel puro, e o cortejo augmentava sempre de velocidade.

            Subito estalavam no caminho algumas bombas, um dos bois rompia o circulo formado pelas chocas e desapparecia ao longe, em desenfreada carreira, seguido por um campino de meias altas, sapatos largos e pampilho em punho.

            Todas as conversações se encaminhavam para as desgraças que o touro fugido iria occasionar na cidade, e ás duas horas da madrugada a chusma entrava na capital, despertando com o seu ruido e o seu delirio o somno socegado e tranquillo dos cidadãos pacificos.

            Era raro quando a festa terminava sem terem havido algumas facadas, cabeças partidas, rodas despedaçadas, ciumes, arrufos, vinganças, e mil outras mesquinhas expressões das almas rudes da maioria d'aquella multidão, que só comprehendia uma pega de cara, um estomago á prova de odre e um risco dado com arte.

            O tempo veio demonstrar, com a sua inexoravel sensatez, que as esperas dos touros eram tudo quanto de mais indigno e indecente podia ser concedido ás predilecções brutaes d'um publico sem illustração nem finura, que adorava as grandes commoções como os antigos romanos no Circo, perante as luctas sanguinarias dos homens lançados ás feras, e dos gladiadores.

Rocha Vieira, 1903 - Museu de Lisboa

            Com as esperas dos touros morreram os fadistas celebres, os fidalgos esturdios, as rameiras pimponas, os guitarristas notaveis, e toda essa troupe inutil á sociedade, que tinha passado perfeitamente sem ella, troupe humana onde o bom gosto era um boi, e a civilisação um litro de vinho.

            Ainda nas touradas em Lisboa; mas touros, na verdadeira acepção que esta palavra em tempos teve entre nós, acabaram-se — felizmente.

ALFREDO GALLIS

In A ILLUSTRAÇÃO PORTUGUEZA, Lisboa - 1 de Junho de 1895