30 DE DEZEMBRO DE 1901 – RIO DE JANEIRO: O CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO E A NOVA PRAÇA DE TOUROS DO RIO DE JANEIRO (EM CONSTRUÇÃO)...


 

Tauromachia

— No terreno onde já houve uma praça de touros, em Villa Isabel, procede-se á construcção de um novo circo, cujas obras já foram começadas, no qual José Bento (de Araújo), com sua quadrilha, se apresentarão brevemente.


In JORNAL DO BRASIL, 30 de Dezembro de 1901

23 DE OUTUBRO DE 1898 – RIO DE JANEIRO: UMA TOURADA, POR VEZES, DIVERTIDA COM ALTOS E BAIXOS...


 

Biblioteca nacional do Brasil

A tourada de hontem

Arte?!... Ora, a Arte!... Où va t’elle se nicher? N’uma praça de touros! Póde ser que assim seja na Hespanha e mesmo em Portugal. Mas no Rio de Janeiro? Aqui, onde a Arte, não se encontra nos seus respectivos templos, por mais que a procurem, fazer questão de Arte n’uma arena toureira?

E’ catonismo dispensavel, francamente.

Dispensavel mesmo porque póde chegar ás fronteiras do injusto. Que se façam exigencias onde tudo existe apparelhado para o nom exito, e se não exhibe o que é bom é porque não querem, sim, senhor. No caso, porém, das touradas no Rio de Janeiro a boa razão manda ser tolerante.

E’ o que temos feito, é o que faremos sempre. Não deixaremos de protestar só quando houver proposito de enganar o publico ou não se tiver para com elle o respeito que elle merece. Foi o que se deu algumas touradas atraz, en que houve um pouco de infelicidade misturada com pouco caso: é o que se póde dar ainda hoje, mas só pelo facto de ter constatado do programma uma sorte que não se realizou. O publico fica justamente amolado quando lhe promettem uma coisa para muito facilmente não lh’a dar. Foi o caso da cavalleira Josepha Goni, (NOTA: J. Goñi é uma das cinco niñas toureiras) que é á ultima hora deu parte de doente.

Tudo quanto a empreza não tenha seguranças de poder apresentar não deve garantir, porque causa um enorme máo effeito; ninguem a livra da pecha de haver enganado para attrair concurrencia.

Tudo mais o publico lhe tolera, porque elle o que quer é divertir-se. Desde que haja disciplina na praça (o que aliás não tem havido: hontem, até vimos um bandarilheiro de cigarro na bocca correndo um garraio), desde que haja empenho manifesto de agradar dando bons espectaculos, o publico fica satisfeito, e dá o devido desconto ás ligeiras imperfeições, áquillo a que os aficionados muito exigentes chaman falta de Arte.

Como é que se póde ter aqui as exigencias naturaes em Hespanha e Portugal, quando aqui tudo aquillo é exotico?

O touro é importado, fazendo uma viagem que muito o quebranta, e submettendo-se a um regimem de alfalfa e milho (tudo importado) que, alliado ao acanhamento de um curral coberto de zinco, muito deve concorrer para diminuir-lhe as qualidades.

O toureiro é attrahido ao Rio a poder de ouro. A certeza de que aqui não se coroam de glorias, e o terror da febre amarela, não deixa sair dos centros tauromachicos por excellencia os artistas que ahi tem nome feito e o pão garantido; e uma quadrilha que se consiga organizar para vir ao Rio, mesmo composta de Calabaças, é uma quadrilha de forasteiros que fica onerando a empreza, só trabalha quatro vezes por mez, e está louca para se fazer de vela.

E os cavallos? Quanto soffrem aqui esses animaes, e quantos se tem perdido na praça velha e na das Laranjeiras?

E’ licito considerar tudo isto para não exigir a Arte purissima, de uma empreza que está divertindo, effectivamente divertindo, a grande massa dos espectadores.

Ahi está o espectaculo de hontem. A primeira parte correu muito satisfatoriamente. Talvez não nos deixe mal nessa asserção o incontentavel João Matheus.


Apenas o primeiro touro andou mal com José Bento (de Araújo) ou o José Bento (de Araújo) com elle. Os demais cumpriram, e os artistas cumpriram tambem. Foi uma tourada como se póde ter com tudo... emprestado, tudo vindo de fóra. E, se dos artistas se póde dizer que essa circumstancia não altera, o mesmo não de póde dizer dos touros que são profundamente alterados, e não se podem substituir com facilidade.

A 2ª parte da corrida foi a parte grotesca: niñas e Pai Paulino. pois foi ainda interessante, divertiu e divertiu muito. Felizmente foi a ultima exhibição de garraios e mulheres de calças; mas o povo que não pagou para ficar macambuzio, serio, reverente, de joelhos diante da arte, riu até arrebentar os cós das calças. Sem ousar uma pateada, regalou-se com os baldões daquellas creaturas, que por amor de alguns mil réis vão offerecer o lombo ás marradas de uns bezerrotes de sangue máo.

Cruz, um dos beneficiados de hontem, fez uma lindissima sorte de gaiola, recebendo o touro com o Lisboa aos pés, e brindando a fera com um par de ferros admiraveis.

Os applausos foram estrondosos e geraes. O rapaz ficou que não cabia em si de contente.

Logo em seguida, porém, o touro maltratou-o. Indo Cruz fazer-lhe um passe de rodilhas, o animal colheu-o, e calcando-lhe o rosto com o pesunho deixou-o dolorosamente assignalado.

Não obstante, Cruz, que fôra retirado em braços, voltou á arena querendo continuar a lide, no que foi justamente impedido pelos companheiros e pelo intelligente, que desde o 2º touro era o actor Mattos.

Cruz recebeu varios presentes e entre elles uma capa de seda; na praça mostrou-se agradecido a Pechuga, seu mestre. Morenito recebeu tambem alguns brindes.

Raposo que toureou o 6º foi muito bem succedido.

In O PAIZ, Rio de Janeiro – 24 de Outubro de 1898

16 DE OUTUBRO DE 1898 – RIO DE JANEIRO: UM ESTREANTE E TOUROS DE MUITO PÉ (ALGUNS DE POUCA BRAVURA)...


 

A tourada de hontem

Ora, ahi está uma situação difficil para o chronista das touradas. Dizer que foi uma corrida má, a de hontem, será manifesta injustiça, dizer que não foi boa, será faltar á verdade; dizer que não foi boa nem mã, nivela tudo, dá uma impressão geral de meio tom que não exprime bem o que a coisa foi.

Foi um claro escuro. Tal dia, qual tourada. O domingo esteve de sol e sombra (sem alusão); a tourada tambem teve trechos brilhantes e nevoas pesadissimas.


Começou esplendida. Oh! que bello o primeiro touro! Ou elle era puro ou não ha mais nada puro neste mundo. José Bento (de Araújo) é que montava um corcel puramente enfermo. Empedernido como o coração de um usurario. Que custo para o fazer procurar o touro! Pois, a despeito dessa arrelia, José Bento (de Araújo) castigou a fera com tres magnificos ferros largos e um curto que arrancou applausos calorosos.

Durante a lide salientou-se a diligencia de um estreante, El Martinito que, para collocar o touro segundo as conveniencias do cavalleiro, fez uns quites admiraveis. Tendo-o passado de capote, entregou-o aos moços de forcado que, obedecendo ao inteligente, empregaram mil esforços para realizar uma péga. Afinal, depois de negar-se o touro aos mais valentes forcados, arrancou para Lisboa que lhe batera palmas, e que lhe pegou muito bem.

O 2º, um bicho torrado, foi recebido por Xavier á porta do curro com um par de ferros vistosos que lhe ficaram bem postos no cachaço. Calabaça fez o que pôde. O touro era de muito pé. Xavier metteu outro par, e foi colhido; pareceu que o tombo o aniquilára, mas qual! saiu lesto e prompto, empunhando outro par de bandarilhas que metteu com muita felicidade n’uma meia volta elegantissima.

O 3º, vermelho, foi esperado pelo Rochinha que, á gaiola, fez-lhe um quiebro, e farpeou-o galhardamente.

Como o 2º este touro era vivissimo e colheu Rocha depois de um par de bandarilhas de Cruz. O rapaz, entretanto, fez de conta que aquillo não era nada e continuou a faena. O bicho levou nove ferros dos dois toureiros.

O 4º touro era no programma destinado para ser bandarilhado a sós por Pechuga, o beneficiado. Pechuga é um artista. Se não mostra o que vale é porque não está disposto physica ou moralmente, o que o póde indispor com o publico, ou porque o touro que lhe soltam não se preste para a lide. Isto foi o que aconteceu hontem. Que pena! Uma féra corpulenta que parecia capaz de pôr em prova o mais guapo artista. Pois saiu um trambolho que nem a puxar carro faria figura. Principiava o nevoeiro a sombrear a corrida.

O touro parecia duro de quartos quando corrria, feito cavallo; o touro arrancava de longe sobre o vulto e parava-se quando devia proporcionar a sorte. Burri-cego, disseram os entendidos que se classificava o touro, assim.

Classifique-se lá como quizerem, o certo é que o bucephalo deixou em talas o beneficado que não pôde fazer uma sorte brilhante; metteu-se alguns ferros á má cara; e ficou-se... vexadissimo.

Ao proprio salto da vara que Xavier procurou fazer quando elle entrou na arena faltou a perfeição que o artista costuma dar-lhe. O touro parára diante do bambú.

Depois de uns breves passes de capote, os forcados realizaram uma péga que tambem não enthusiasmou ninguem.

Depois vieram os garraios para as niñas que já toda a gente suppunha que tinham embarcado. Uma ninharia. Não vale mencionar. E’ verdade que ellas offereciam-se; mas de 4 garraios, quatro! que lhes soltaram, só o primeiro tinha laivos de bravura. Parece que ainda não embarca esta semana a niñaria. Se têm creado discipulas que lhes farão concurrencia domingo que vem!...

E diz-se, até, que a que o publico appellidou Viuva toureará á cavallo...

Para Martinito saiu um touro vermelho, tambem de máo sangue, feio, duro de quartos. Estavam infelizes os espadas! Em todo o caso, enfeitou-o; e no capote, ainda que um pouco embaraçado, mostrou que sabe o officio.

Foi pégado á unha para este touro. Depois deu um trabalhão para ser recolhido, e fez-se muita coisa mal feita.

Em seguida é que saiu o 4º garraio para as niñas que haviam descansado, entretanto.

O 8º touro coube a Morenito e ao Bernal que já naquella arena appareceu como espada. Cumpriram...

O 9º foi para Adelino Raposo que metteu uns excellentissimos ferros, saindo, porém, um pouco friamente. Não sabemos como, deixou fazer-se o silencio, e retirou-se com o fogoso corcel que acabava de lhe ganhar a vida fugindo bem do touro após um remate de garupa.

O 10º touro foi para Pai Paulino e seus companheiros. Não houve péga; não por falta de diligencia, mas porque a féra era de muitissimo pé e ludibriou todo o esforço, maltratando mesmo o pai Antonio.

A’s 6 horas e 15 minutos estava concluido o espectaculo.


In O PAIZ. Rio de Janeiro – 17 de Outubro de 1898

9 DE OUTUBRO DE 1898 – RIO DE JANEIRO: UMA CORRIDA PARA ESQUECER OU QUASE...


 

Biblioteca nacional do Brasil

A tourada de hontem

É uma cidade sem divertimentos esta do Rio de Janeiro; cidade triste, monotona, onde o povo aos domingos, não tem para onde ir, a não ser ser o Corcovado ou o Sylvestre, a Copacabana ou a Tijuca. D’ahi, dessa falta de distrações, a obsessão da politica. Todos discutem os mysterios da governação. É um emprego de ociosos. E machina-se, até o mal nessas horas de inactividade.

Por isso nos alegramos quando vemos cheia a praça das Laranjeiras para o espectaculo exotico de uma tourada. Em quanto se está ali, já não digo vendo arte (para concordar com João Matheus) mas para rir a bandeiras despregadas á vista de peripecias innumeras, riscos burlados, accidentes chistosos, e para applaudir sortes bem executados com destreza e pericia, o povo não se preoccupa com a politica nem machina maleficios. Divertimentos taes são uma verdadeira valvula de segurança... social.

Encheu-se a praça hontem, não litteralmente, mas satisfatoriamente para os cofres da Empreza. A’s 4 horas, quadrilha a postos, começou o espectaculo.


O 1º touro deixou José Bento (de Araújo) muito contrariado. O audaz cavalleiro affrontou-o sempre sem exito. Calabaça quiz despertar a attenção da féra com um par de garrochas; conseguiu apenas despertar a attenção do publico para a sua maladresse. Imaginem que metteu-lhe um dos ferros na testa... Depois quiz tiral-o. O touro deixava, ora se deixava! Tanto que deixou Morenito tirar-lh’o depois.

Rocha, El Saltador, metteu um par de bandarilhas no animal que continuou a fugir do cavallo. José Bento (de Araújo) desistiu e retirou-se da arena. O touro levou ainda alguns pares de bandarilhas de Rocha e Calabaça, sendo por ultimo pegado friamente pelo José Cabeça.

O 2º afugentou Calabaça que se postara em frente á gaiola; depois revelou-se parado e d’ahi por diante andavam Morenito, Calabaça e Xavier á procura de uma occasião para empregar os feros que empunhavam: o touro só arrancava quando os via pelas costas. Xavier, emfim, collocou bem um par. E nisso se ficou.

O 3º espantou da frente do curro El Brandão, que logo fez um cambio airoso mettendo-lhe um par de bandarilhas. Rocha foi colhido junto á trincheira pela féra que tinha muito pé. Xavier enfeitou-a muito bem com um par de lindos ferros. Cruz teve dois pares felizes. O touro era vivo e foi bem lidado. Quando ao signal dos forcados, tentaram pegar-lho á unha, rolou gente pela praça que foi um desespero. O touro não foi bem aproveitado.

Para Adelino Raposo saiu o veterano 58. Cumpriu. Levou cinco ferros largos postos a preceito, e mais um curto de quebrar. Terminada a lide, o cavalleiro appareceu na arena, e recebeu muitos applausos e flores.

Seguiram-se os garraios para as niñas. Muito tombo, muita gargalhada. Se as toureiras avançavam, fugiam os garrotes, se ellas fugiam elles avançavam. Um pagode! exclamavam os que estão se niñando para a arte das niñas, e o que querem é desopilar-se, rindo á custa de alguem.

El Pechuga teve uma faena menos brilhante do que no domingo anterior. O touro era perfeito e deu occasião, á saida, para Xavier executar o salto da vara. Os applausos que a sorte arrebatou tenta Rocha a imitar o collega; e apanhando a vara, saltou também. Não fosse elle El Saltador...

El Pechuga, depois de quatro ferros, fez a muleta e a mórte com pouco enthusiasmo.

Para Adelino Raposo saiu o 7º touro esplendido, arracando firmemente sobre o cavalleiro que o enfeitou, a seguir, com quatro ferros largos e um curto, cada qual mais excelente.

A troup Pai Paulino fechou a tourada, quando com a tarde cahia a temperatura. Muita cambalhota, muita pirueta e uma pega decidida levada a effeito pelo Zé Cabeça depois de varias tentativas do velhor preto armazem de marradas.

A’s 6 horas desciam pela rua das Laranjeiras, em carros de todos os feitios, em bonds e a pé, os tres mil espectadores da tourada.

Tres mil pessoas que passaram duas horas sem pensar nas agruras da vida.

In O PAIZ, Rio de Janeiro – 10 de Outubro de 1898

4 DE SETEMBRO DE 1898 – RIO DE JANEIRO: UMA TOURADA COM ARTISTAS ESPANHÓIS E PORTUGUESES AMEAÇADA PELA CHUVA...


 

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Tauromachia

Permitta o tempo... (Nós bem desejamos chuva, mas podia se passar sem ella durante o dia de hoje). Permitta o tempo que hoje regorgite a praça das Laranjeiras, repleta de admiradores para applaudir os bravos toureiros.


Tinoco, José Bento (de Araújo), Raposo lá estarão a postos; e com elles o Pechuga, disposto a maravilhar os aficionados, e com o Pechuga toda a guapa infanteria.

Permitta o tempo que a tourada se realize.

In O PAIZ, Rio de Janeiro – 4 de Setembro de 1898

25 DE SETEMBRO DE 1898 - RIO DE JANEIRO: UMA TARDE ATRIBULADA NA PRAÇA DAS LARANJEIRAS COM NIÑAS TOUREIRAS, PALHAÇOS E MAIS ARTISTAS DA PENÍNSULA IBÉRICA...


 

Biblioteca nacional do Brasil

A tourada de hontem

Emfim, o tempo abriu um espaço para a tourada; hontem apresentou-se um domingo, bello, primaveril, e a população elegante da cidade do Rio de Janeiro condensou-se na elegante praça das Laranjeiras.

D’ahi uma enchente real, uma praça replecta como nunca; para se ter idéa da concurrencia, bastará dizer-se que houve contendas e disputas para a obtenção de logares.

Ha o maldito costume de amontoaer-se gente na proximiddade das entradas, de sorte que fica um aperto enorme noss pontos que servem de passagem; e é um trabalho que demanda intrepidez como a de Serpa Pinto atravessando Africa, o esforço de alcançar na praça das Laranjeiras, um ponto dos mais afastados, onde se póde encontrar assento e commodidade.

A policia não se occupa com isso que é objecto de ordem publica; convidar os que chegam a não se deterem perto da porta...

Diante de uma enchente assim, o que esteve em maré de vasante foi a musica. Que pobreza! Os emprezarios da praça foram roubados. Meia duzia de figuras! Era uma charanga... não era a banda da brigada policial.

Eram 3 horas e 45 minutos quando se apresentou a quadrilha na praça. Formaram las niñas a direita, e os infantes a esquerda. Cortezias irreprehensiveis.

A’s 4 horas sahia o 1º touro para Alfredo Tinoco. Torrado, muito matreiro, conhecendo cavallo e cavalleiro, ah! fez suar o dennotado Tinoco para lhe metter... dois ferros.

Mas, assim como na adversidade se conhecem os amigos, assim com os touros velhacos se conhecem os bons toureiros. Alfedo Tinoco, arrancou sortes da féra sabida, e tratou-a com galhardia.

O 2º touro para Calabaça e Rocha, um touro preto, que ensarilhava terrivelmente offereceu a um e outro dos bandarilheiros occasião para fazerem figura. El Pechuga passou-o de capa, e tirou uma navarra limpinha. Dado o signal de forcados, Cabeça atirou-se á cabeça do bicho e fez-lhe uma péga sem brilhantismo.

O 3º foi para Morenito, Xavier e Cruz, que se houveram galhardamente na lide.

Adelino de Almeida Raposo lidou a 4ª féra, um touro negro, alentado.

Raposo viu-se doido para enfeital-o. Eram tantos os capotes a distrair o animal, que, quando o cavalleiro o conseguia em posição de ser affrontado, via logo a posição desmanchada pelos movimentos dos peões a que o touro dava grande attenção. Muitos vcapotes na praça. Afinal, metteu-lhe um ferro á meia volta, sem grande brilho; outro á meia volta, superior; os malditos capotes comprometteram varias sortes, e um ferro largo á estrilheira, e mais um curto, esplendido, á meia volta remataram a faena.

Após um intervallo em que os carpinteiros da praça collocaram os refugios destinados ás señoritas que não saltam trincheiras, reappareceram as ditas, que até então haviam ficado encobertas.

O tempo não nos permitte dizer aqui, já, alguma coisa a respeito do trabalho que exhibiu a quadrilha feminina. O intelligente cá de casa dirá aos povos amanhã como se houveram las niñas diante dos garraios que lhes soltaram. Nós, diante das niñas, ficamos apenas... admirados.

Deixemos as toreras guapas em seus calções multi-côres. Boas niñas, a outrem o vosso elogio.

Xavier esperou diante do curro o 7º touro, effectuando com extrema destreza e felicidade o salto da vara larga. El Pechuga, em seguida, bandarilhou-o com valor. Era um touro que ensarilhava, e um pouco parado, negando-se ás sortes e arrancando mal quando citado. Ainda assim, porém El Pechuga tratou-o com maestria.

Depois houve uma péga tão fraca como a primeira.


O 8º touro, negro, de muito pé, foi para José Bento (de Araújo). Pareceu-nos o melhor da tarde, José Bento (de Araújo) farpeou-o com ousadia; perdeu o 1º ferro, mas em uma meia volta farpeou-o bem, e logo terminou á garupa uma sorte bem iniciada á estribeira. Mais um á  meia volta, e dois curtos muito bem postos, sendo o cavallo colhido por ultimo, ainda que bem guiado para escapar-se.

O ultimo touro foi para a troupe pai Paulino. A pandega do costume. Apenas pai Antonio foi ligeiramente contundido na cabeça, mas voltou á lide com o mesmo denodo. A tourada findou com uma extraordinaria péga, effectuada de costas, pelo intrepido Zé Cabeça.

Foi uma péga quasi que acccidental, porque elle fugia ao touro, mas foi uma péga soberba, rara que deve ter feito... inveja a pai Paulino, o velho armazem de marradas.

A’s 5 3, 4 despejava-se a praça. A rua des Laranjeiras ficou por mais de meia hora apinhada de bonds, carros, cavalleiros e milhares de homens, zsenhoras e crianças que regressavam do esplendido divertimento.

In O PAIZ, Rio de Janeiro – 26 de Setembro de 1898

NOTA: A presença das 3 señoritas toureiras espanholas e das 2 francesas no Brasil não passou despercebida. 

Ver, por exemplo, estes posts sobre o mesmo assunto:

https://corridasportugalespanafrance.blogspot.com/2023/09/26-de-outubro-de-1898-rio-de-janeiro-as.html

https://corridasportugalespanafrance.blogspot.com/2023/09/27-de-outubro-de-1898-rio-de-janeiro.html

25 DE SETEMBRO DE 1898 – RIO DE JANEIRO: UMA TOURADA SEM CHUVA?


 

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Tauromachia

Ora, hoje parece que temos, emfim, tourada.

Por simples coherencia, não maldizemos da chuva, que tanto desejavamos ha 20 dias passados; mas, francamente, ella bem podia abrir umas treguasinhas por 24 horas, sómente para náo se perder mais um domingo de bella tourada.

In O PAIZ, Rio de Janeiro – 25 de Setembro de 1898

18 DE SETEMBRO DE 1898 – RIO DE JANEIRO: CHEGADA DAS CINCO SEÑORITAS TOUREIRAS QUE VÃO DAR QUE FALAR...


 

Biblioteca nacional do Brasil

Tauromachia

Vieram-nos hontem trazer os seus graciosos cumprimentos as señoritas Braulia Pascual, Isabel Geno, Angela Clemente, Antonia Salinos e Josefa Goni, as toureiras recentemente chegadas da Europa, onde, na Hespanha e em Portugal, produziram verdadeiro successo nas diversas cidades em que se exhibiram.

Contratadas para a praça de touros que se acha actualmente funccionando nas Laranjeiras, pelo director da cuadrila, o cavalheiro Juan Romero, devem se estreiar, se o tempo o permittir, no proximo domingo.

E se o tempo o permittir não faltaremos á magnifica tourada que se prepara.

Contamos vel-as victoriosas. Com tão gentis bandarilheiras e matadoras, não ha touro que se não deixe matar e bandarilhar.

In O PAIZ, Rio de Janeiro – 15 de Setembro de 1898

NOTA: A presença das 3 señoritas toureiras espanholas e das 2 francesas no Brasil não passou despercebida. 

Ver, por exemplo, estes posts sobre o mesmo assunto:

https://corridasportugalespanafrance.blogspot.com/2023/09/26-de-outubro-de-1898-rio-de-janeiro-as.html

https://corridasportugalespanafrance.blogspot.com/2023/09/27-de-outubro-de-1898-rio-de-janeiro.html

19 DE DEZEMBRO DE 1897 – RIO DE JANEIRO: DESPEDIDA DOS CAVALEIROS ALFREDO TINOCO E JOSÉ BENTO DE ARAÚJO


 

Biblioteca nacional do Brasil


Tauromachia

Chamamos a attenção dos leitores para o programma da grande tourada de domingo, a ultima da temporada, que publicamos na secção competente.

Se se pudesse alargar a praça das Laranjeiras para conter a multidão que vai ficar sem logar...

In O PAIZ, Rio de Janeiro – 18 de Dezembro de 1897

16 DE AGOSTO DE 1896 – RIO DE JANEIRO: “TOURADA MAGNÍFICA” COM DOIS CAVALEIROS PORTUGUESES


 

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A tourada de hontem

A’s vezes n’uma praça de touros o publico é victima de uma burla inesperada. A companhia tauromachica mostra os melhores desejos de bem servir, mas o gado furta-se a toda a sorte, e não ha meio de se ter uma tourada em regra. Hontem foi o inverso, tourada magnifica e o amphytheatro com immensos espaços vasios.

Concorreram de certo para isso a festa da Gloria, que nunca deixa de ser um grande attractivo, e a circumstancia de se manter aberta a maioria dos estabelecimentos commerciaes de nossa praça. Foram logrados, portanto, os que lá não foram.

Hoje, naturalmente, dia desoccupado, outra será a concurrencia.


A’s 3 ½ horas da tarde, o intelligente da praça mandou dar o signal para apresentação dos toureiros, entrando na arena a cuadrilha e os dois cavalleiros José Bento de Araujo e Alfredo Tinoco da Silva em soberbos corceis, ricamente ajaezados.

Feitas as solemnes continencias enthusiasticamente correspondidas pelo publico, Tinoco apresentou-se noutro cavallo e disposto a farpear o 1º touro que logo saiu.

Era um bom animal preto, ligeiro dos que a companhia trouxe de Portugal, escolhido entre os do creador Paulino da Cunha e Silva. Fez boa figura de bravo, e proporcionou a Tinoco sores felicissimas. Uma pega de cara terminou a lide a que o bicho se sujeitou e o publico ficou satisfeito.

O 2º touro veiu zangado; mas a sua colera não era provocada pela presença de Carlos Gonçalves e Luiz Homem. Elle tinha outros motivos que não revellou; e, justiceiro, não quiz exercer vinganças em quem não era culpado. D’ahi a falta de sortes. Quando lhe pegaaram á unha, não resistiu, submetteu-se e até deitou-se inoffensivo.

O 3º do creador Palha Blanco, de Portugal, foi lidado pelo espada Colon, que mostrou ainda uma vez a sua destreza e habilidade para citar a féra e fazer-lhe surpresas.

No intervalo que se seguiu foi largamente vendido um pequeno «orgão da arte tauromachica» Sol e Sombra, folha bem redigida e bem impressa de que já haviamos recebido um exemplar. Traz o retrato de José Bento (de Araújo) e algumas coisas de espirito.

O 4º touro, nacional, foi bandarilhado por Gonçalves da Silva, e deu que fazer. Cabeça alta e irrequieta, armação enorme, gargalhadas infinitas, até na péga, em que os moços de forcado andaram aos trambulhões.

O 5º, do Laranjal, tambem foi habilmente lidado por Luiz Homem e Manoel Brabo.


O 6º foi o grande touro do dia. Apresentou-se para farpeal-o o perfeitissimo cavalleiro José Bento (de Araújo), e o seu porte e a sua destreza arrancaram applausos justos de toda a assistencia. O touro arremettia sempre¸e o cavallo sempre sahia na tangente depois que uma farpa se firmava no cachaço do animal indomavel.

Durante essa corrida, levantaram-se os animos, e José Bento (de Araújo), com os seus feitos de perfeição, galhardia, perigo e firmeza de sella, foi alvo da mais estrepitosa ovação.

O publico saiu satisfeito, e reputou a corrida de hontem melhor do que as duas primeiras. A de hoje melhor será ainda, pois ha um animal para ser lidado por Tinoco e José Bento, juntos.

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O policiamento da praça não offereceu hontem os motivos de critica dos demais dias, deixando de espalhar o povo que se agglomerava nos pontos de entrada. Tambem, não havia agglomeração.

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O intelligente da praça foi soffrivelmente invectivado por alguns afficionados intransigentes, que não ficaram satisfeitos com certos pormenores. Se formos a achar-lhe algum defeito, será o de permittir que logo nos primeiros segundos se cubra um touro de farpas, obrigando a fazer recolhel-o com brevidade que podia deixar de ser tamanha.

Outra coisa de que não abusa esta companha é dos accidentes artisticos que muito animam a corrida e muito divertem o publico. Isso de vir o boi, farpeal-o, pegar-lhe á unha e recolhel-o, é muito rudimentar, e póde ser sufficiente ne Hespanha, onde tudo se passa ao vivo; mas n’uma corrida de touros embolados, o matiz funambulesco não é demais. Domingo passado não houve a sorte da mega? Hontem não houve a ligeira sorte da vara? Pois mais alguma coisa desse genero é bastante para acccidentar uma corrida.

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Uma coisa foi hontem notada com estranhesa: a ninguem foi permittido subir aos camarotes para cumprimentar familias que lá estavam. E’ esquisito isso. A gente é obrigada a ser insociavel n’uma praça de touros?

A excelente companhia deve se felicitar por ter reunido este anno dentro daquelle cercado pouco airoso uma sociedade muito selecta de cavalheiros e damas, que nunca haviam dado á praça a honra da sua presença; mas deve-lhes facultar os cumprimentos naturalissimos em uma assembleia de pessoas educadas.

Mas, á parte esses senões, restabeleçamos, concluindo, a nota do bello divertimento de hontem.

In O PAIZ, Rio de Janeiro – 16 de Agosto de 1896

15 DE AGOSTO DE 1880 – MADRID: TRAGÉDIA NA PRAÇA DE TOUROS


 

Biblioteca nacional de España

Ecos de Madrid

La corrida de novillos

Con un lleno casi completo, la tarde en un principio amenazando lluvia, y despues serena y despejada, se celebró la  corrida de novillos, segun los carteles, que teníamos anunciada.

Ocupaba la presidencia el teniente de alcalde Sr. Darribas y Dorrego, inteligente, al decir de varios, en aquellos asuntos que no se rozan con el arte taurino, el cual para él, para el Sr. Dorrego, es desconocido.

Dos toros embolados, que fueron picados, banderilleados y rejoneados, que se retiraron al corral, fué el principio de la fiesta.

Una cuadrilla de toreros, de invierno, á cuyo frente iban Gabriel Lopez (Mateito) y Tomás Parrondo (Manchao), hizo el paseo y se preparó á recibir el primer becerro, que pertenecia á la vacada de D. Donato Palomino, de Chozas de la Sierra.

Era el bicho de libras y poder, voluntarioso, hondo, retinto albardao, bragado y de buena cornamenta.

Lucia divisa amarilla, distintivo de la ganadería referida.

Los picadores castigaron á la fiera, que mató cuatro caballos y derribó cinco veces á los piqueros, resultando herido Ortega, levemente, en la cabeza.

En este primer tercio de lidia, y cuando le estaban los peones pasando de capa, el banderillero Nicolas Fuertes (el Pollo) sufrió una cogida.


Hé aquí el facultativo del doctor D. Antonio Alcaide Peña:

«El banderillero Nicolas Fuertes (el Pollo) ha sufrido, durante la lidia del primeer toro de puntas, una cogida, resultando con una herida penentrante de peecho, situada en la parte anterior y lateral izquierda del mismo, con cestrozo del centro cardiaco, á consecuencia de la que ha fallecido, sin dar tiempo más que á recibir la Extremauncion.»

El estupor que en el momento de dicho desgraciado incidente se produjo en el público pueden comprenderlo nuestros lectores.

Despues de retirado el infeliz Fuertes á la enfermería, la corrida continuó, con tales predisposiciones de ánimo en toreros y espectadores, que aquéllos no pudieron banderillearle bien ni mal, y Mateito, pasando ceñido, valiente y sereno, dió dos medias estocadas muy buenas, y hubiera concluido con la vida del cornúpeto, si la intempestiva órden del Sr. Darribao no hubiese mandado que le llevasen al corrral.

Tambien el referido becerro saltó la valla seis  veces; intentó hacerlo tambien por la contrabarrera, y dió en uno de los saltos una pisada á Vicente Carbonell (el Morenito), que le abrió una herida que le causó un toro há poco tiempo.


El caballero rejoneador Sr. (José Bento de) Araujo estuvo muy bien en todas las suertes, siendo muy aplaudido, y recibiendo en premio de su habilidoso trabajo muchos aplausos y una petaca de plata sobredorada.

Los dos toros que rejoneó el Sr. (José Bento de) Araujo, fueron muertos por Raimundo Diaz (Valladolid), bastante bien.

En el toro de puntas que se lidió despues, los banderilleros de Tomás Parrondo (el Manchao) estuvieron algo torpes, y éste, preocupaado con la fatal suerte de su compañero (el Pollo), aunque sereno en el pasar, hiriendo se mostró algo intranquilo, teniendo que mandar el presidente que el toro fuese echado al corral.

De los dos toros embolados no hablamos, porque es la barbaridad de las barbaridades.

P.

In GACETA UNIVERSAL, Madrid – 16 de Agosto de 1880

15 DE AGOSTO DE 1880 – MADRID: O CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO DE NOVO NA PRAÇA DA CAPITAL DE ESPANHA ANTES DE ACTUAR EM SANTANDER


 

Biblioteca nacional de España

SECCION DE ESPECTACULOS

El rejoneador portugués (José) Bento d’Araujo tomará parte en la corrida de novillos quee ha de verificarse en la Plaza de Madrid mañana domingo. — También se presentará en la plaza de toros de Santander dentro de pocos días.


In LA DISCUSIÓN, Madrid - 14 de Agosto de 1880