Tauromachia
A festa de hontem, em beneficio do bandarilheiro Silvestre Calabaça, foi excellente sob todos os pontos de vista. Satisfeitissimo, pois, deve se achar esse distincto artista, que hontem, valha a verdade, trabalhou como um artista consummado que demonstrou ser.
Infelizmente, para nós, só hontem é que tivemos a certeza de que Calabaça é artista; correu pouco e trabalhou bem.
Lidaram-se seis magnificos touros portuguezes e cada qual, melhor, deixava os artistas exhibirem as suas sortes, todas com felicidade e delirante applauso.
Os dois cavalleiros, como sempre, trabalharam os bichos que lhes foram destinados, com arte, gosto e pericia; as estrepitosas salvas de palmas que a cada ferro apontado se fazia ouvir, isso deixou bem patente.
O animal destinado a Gordito e Chicorrito deu occasião a que esses dois artistas demonstrassem, mais uma vez, o valor da sua arte e a correcção de seus trabalhos. Os afficionados e não os jagunços os applaudiram com o enthusiasmo a que sempre fazem jús.
Só uma péga foi ordenada, e essa arrebatadora: o touro, ainda fresco para as bandarilhas e para a capa, foi mandado pegar, e com uma pericia indescriptivel foi elle sustentado por José Cabeça, que atirou-se ao valente animal, e aos trambolhões percorreu parte da arena, agarrado sempre ao gordo cachaço do bicho; auxiliado depois, pelo resto do pessoal, foi elle, a custo, arrancado do animal, onde parecia que uma força magnetica o prendia. Fez jus, já se vè, aos mais enthusiasticos applausos do publico e particularmente, aqui o dizemos, aos nossos.
Silvestre Calabaça, além das merecidas palmas que carregou aos montões, tambem carregou uma boa porção de presentes, alguns valiosos.
A festa, pois, a parte algumas vaias que os jagunços entenderam dever dar, para interromper o trabalho dos artistas, foi o que se póde desejar, e devemol-o registar como uma das excellentes festas que aquella empreza tam offerecido aos seus concurrentes.
In O PAIZ, Rio de Janeiro - 13 de Setembro de 1897