21 DE JULHO DE 1896 - RIO DE JANEIRO: FIM DE MAIS UMA TEMPORADA (na imprensa brasileira)


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Partiram no Amazonas, os cavalleiros tauromachicos Alfredo Tinoco e José Bento de Araujo. Alfredo Tinoco é inquestionavelmente o primeiro dos nossos cavalleiros. A elegancia da sua figura, a maneira como dirige o cavallo, que lhe obedece sem revolta, a coragem destemida com que cita o touro, a correcção com que mette os ferros, grangearam-lhe grande reputação. É cavalleiro que enche a praça, como se costuma dizer. Uma vez Pinheiro Chagas, indo a uma festa em Nazareth, vio o Tinoco tourear. Ficou enthusiasmado, enthusiasmo que se revelou em palmas e bravos e n'uns bellos artigos que então escreveu.

Nunca vi nada assim, dizia-me o grande e mallogrado escriptor, eu por vezes tinha dó do touro. Aquelle Tinoco direito e firma na sella, com o sorriso nos labios, fazendo manobrar o cavallo como se o animal fosse de molas, e representando na sua bella musculatura a força, a destreza e a elegancia, fazia com que eu me puzesse do lado do fraco, isto é do lado do touro.

Tinoco é novo ainda, quarenta ou quarenta e dois annos. Pertence a uma familia abastada e começou entrando só em touradas de curiosos. Depois passou a artista. Toureou em Hespanha bois desembolados , e foi muito das relações de Afonso XII, que ia com elle para o campo fazer tentos e derribas. De uma vez que Fontes, então presidente do conselho de ministros foi a Madrid, acompanhando o fallecido rei D. Luiz, Afonso XII, depois de lhe apertar a mão, perguntou-lhe logo:

- Y Tinoco, ese, como va?

O Fontes, grave, que não conhecia o Tinoco, ficou muito embaraçado. Tinoco ficou tambem ha annos nas praças de Paris e teve grande successo.

O José Bento (de Araújo), é tambem um optimo cavalleiro. Quando mette as farpas no boi, está a gente sempre á espera que o animal fique varado de lado a lado, tal é a rijeza do seu pulso.


Com o Tinoco foram bandarilheiros e moços de forcado. Vão tambem touros dos lavradores D. Caetano de Bragança (duque de Lafões), José Palha, Emilio Infante, Paulino da Cunha, Luiz Patricio e Estevão de Oliveira.

Os bois de D. Caetano e do Palha, parente do finado escriptor Francisco Palha, têm fama na Hespanha.

In A NOTICIA, Rio de Janeiro - 22 - 23 de Julho de 1896