20 DE JULHO DE 1890 – ALDEIA GALEGA: O GRANDE FERNANDO DE OLIVEIRA PROMOVE TOURADA COM AMIGOS CAVALEIROS


 

Tourada em Aldegallega

Realisa-se no proximo domingo n’aquella praça, uma brilhante tourada promovida por Fernando d’Oliveira, o primoroso e arrojado cavalleiro que tantas sympathias conta entre os «aficionados».

Madame Maestrick vae honrar essa esplendida festa, lidando um touro, o que será mais um triumpho para a gentilissima lidadora.

Os touros, alguns de raça hespanhola, são offerecidos por acreditados lavradores.


São cavalleiros, José Bento (de Araújo) e F. d’Oliveira, trabalha um grupo de excellentes bandarilheiros, e uma valente «troupe» de moços de forcado.

Deve ser uma tarde de constante enthusiasmo, como são sempre as touradas promovidas por esse sympathico artista, tão querido do publico, que o applaude calorosamentena arena, e tão estimado de quantos conhecem o seu tracto delicadissimo e bellas qualidades pessoaes.

Á tourada de Aldegallega!

In DIARIO ILLUSTRADO, Lisboa – 16 de Julho de 1890

13 DE JULHO DE 1890 – SINTRA: “TOURADA SUPERIOR, ESPLENDIDA”


 

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Tourada em Cintra

Diremos tudo em poucas linhas: uma tourada superior, esplendida.

Tratemos em primeiro logar de madame Maestrick.

Coube-lhe o 6.º touro, que não investindo com o cavallo foi recolhido.

Veiu o 7.º que proporcionou á arrojada amazona ensejo para levantar os seus creditos.

O animal era refractario á lide. A cavalleira, porém, tanto o citou que o enfeitou com uma farpa e depois com um par de bandarilhas n’uma sorte da maior correcção e logo outro par não inferior.

Uma ovação, um delirio, que se propagou a todos os espectadores que enchiam a praça.

A carreira de madame Maestrick está feita.


 José Bento (de Araújo), como sempre, e Fernando d’Oliveira o mesmo rapaz atrevido e amigo de satisfazer os espectadores.

Da gente de pé pouco ha que mencionar.

Pegas valentissimas, mas poucas; quer dizer poucas mas boas.

Gado soberbo.

No intervallo da 1.ª e 2.ª parte madame Maestrick foi muito obsequiada.

In DIARIO ILLUSTRADO, Lisboa – 14 de Julho de 1890

13 DE JULHO DE 1890 - : A BELA AMAZONA E O MESTRE... – UM RETRATO DE MADAME CLOTILDE MAESTRICK


 

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A amazona Maestrick

Não caberia aqui a biographia da sympathica amazona, porque não seria mais do que uma repetição do que já publicámos, por occasião da festa artistica do arrojado cavalleiro José Bento de Araujo.


Madame Maestrick julgava-se já bastante lisongeada com os applausos que no Colyseu de Lisboa, como nos principaes circos da Europa, lhe tinham sido dispensados em recompensa do seu merito. Lembraram-lhe, porém, que novas glorias poderiam aureolar a sua carreira, que uma nova orientação dada aos seus passos no trilho da arte, poderia proporcionar-lhe outros triumphos eguaes, senão superiores aos que até então obtivera.

Lembraram-lhe que os portuguezes são em geral enthusiastas pelo toureio, e que ha n’esse genero de divertimento, o mais popular de todos, uma especialidade, a da lide a cavallo, que sobretudo os encanta pelas proprias difficuldades que encerra.


Se madame Maestrick, que já provara ser uma correcta cavalleira e uma notavel professora de equitação, reunisse a tudo isso a audacia, o arrojo indispensavel a quem se apresenta na frente de um touro, o seu nome viria a ser pronunciado com admiração pelas multidões que sem duvida a applaudiriam com frenezi.

Era justo esperar uma negativa. Mas puro engano.

— Coragem tenho eu, pensou de si para comsigo a artista; só me falta um requisito essencial: saber tourear.

E manifestou o seu pensamento.


— Pois se tem coragem não se importe com o resto. Vou guial-a nos seus primeiros passos no toureio. Ensino-lhe o que sei e não sou a mais obrigado.

José Bento (de Araújo) cumpriu o que promettera, e n’uma bella tarde fazia madame Maestrick a sua primeira experiencia na praça do Cartaxo, trabalhando sob a direcção do arrojado toureiro portuguez.

Já aqui dissemos que a estreia fôra brilhantissima, como o foi a primeira prova publica realisada na praça de Cintra na tarde da festa artistica de José Bento (de Araújo).

Depois dos applausos de Cintra, os do Colyseu Portuense, os da praça d’Evora e os da de Setubal.

Uma carreira ainda curta, no seu começo, por assim dizer, mas já gloriosa.

Poucos teem começado tão bem.


A sympathica amazona que é tida, com justa razão, por uma professora habilissima, reune a esse merito um arrojo pouco de esperar n’uma senhora.

Possuindo uma vocação decidida para o toureio, como o demonstra na maneira como cita um touro e na fórma porque realisa as sortes, possuindo além d’isso uma figura gentil, que se desenha elegantemente bifurcada n’uma sella, a nossa heroina disperta o enthusiasmo e arranca applausos espontaneos e estrepitosos do publico que enche sempre os palanques quando o seu nome é posto em um cartaz.


O apparecimento de madame Maestrick foi certamente a grande novidade da presente época tauromachica, novidade que se tornou extraordinariamente  sympathica a todos os amadores do toureio.

Imagine-se qual será hoje a concorrencia á praça de Cintra realisando-se ali a festa artistica da denodada amazona.

Não ficará um logar sem dono, tanto mais que o espectaculo está revestido dos maiores attractivos, taes como excellente gado e bons lidadores.

In DIARIO ILLUSTRADO, Lisboa – 13 de Julho de 1890

6 DE JULHO DE 1890 – SETÚBAL: AMAZONA CLOTILDE MAESTRICK BRILHANTE E CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO BOM


 

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Tourada em Setubal

SETUBAL, 6, ás 7 h. e 52’ da t. — Ao Diario Illustrado.

Casa á cunha. A Maestrick admiravel; grande e enthusiastica ovação. Touros regulares. Todos bem, principalmente José Bento (de Araújo).

C.


In DIARIO ILLUSTRADO, Lisboa - 7 de Julho de 1890

19 DE MAIO DE 1890 – PORTO: CORRIDA ANTECIPADA NO COLYSEU PORTUENSE


 

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Tourada no Porto

A tourada no Colyseu Portuense que devia realisar-se no domingo ficou transferida para hontem.

Segundo um telegramma que nos foi remettido sabemos que a corrida satisfez completamente os amadores.



Os touros de cavallo sairam muito bravos. José Bento (de Araújo) fez uma brilhante figura e obteve uma ovação. O gado de pé tambem era bom e permittiu que os artistas pantenteassem as suas aptidões.

Foi grande a concorrencia.

In DIARIO ILLUSTRADO, Lisboa – 20 de Maio de 1890

25 DE MAIO DE 1890 - CARTAXO: CORRIDA COM O ESPADA ESPANHOL JOSÉ RUIZ (EL JOSEITO) E O CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO PARA AJUDAR O HOSPITAL DA VILA


 
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In DIARIO ILLUSTRADO, Lisboa - 18 de Maio de 1890

11 DE MAIO DE 1890 – SANTARÉM: "GRANDES APPLAUSOS" PARA O CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO


 

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Tourada em Santarem

Por um telegramma que nos foi remettido sabemos que a tourada de hontem em Santarem deixou satisfeitos os amadores.


José Bento de Araujo, o valente cavalleiro que de dia para dia robustece os seus creditos, obteve grandes applausos.

Os touros que lidou eram valentes e de muito pé.

O habil cavalleiro, considerado hoje um dos primeiros picadores portuguezes, aproveitou-os admiravelmente.

José Bento (de Araújo) tanto tem progredido e sabido alcançar as sympathias dos amadores da tauromachia, que podemos dizel-o sem exagero, o seu apparecimento n’uma praça é sempre recebido com extraordinaria satisfação pelo publico. Ha a certeza pelo menos de que ali não ha medo e que os bois serão bem aproveitados.

In DIARIO ILLUSTRADO, Lisboa – 12 de Maio de 1890

8 DE JUNHO DE 1890 – SINTRA: “FORMIDAVEL TOURADA” EM PERSPECTIVA COM O CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO

 


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A tourada em Cintra

Ha sempre um receio, ainda mesmo quando para um torneio tauromachico se procuram todos os elementos, taes como da escolha de um bom grupo de artistas; esse receio é o de que o gado não preste. Pois fique-se sabendo que para domingo em Cintra nem mesmo se admitte duvida sobre a qualidade dos toiros.

Pertencem ao afamado lavrador o sr. Emilio Infante; são corpulentos e bravissimos. Os amadores que hontem os viram estão enthusiasmadissimos e dizem maravilhas em favor das feras.

Formidavel tourada! Difficilmente se arranjará outra assim.


In DIARIO ILLUSTRADO, Lisboa – 6 de Junho de 1890

8 DE JUNHO DE 1890 – SINTRA: MAIS UM RETRATO DO CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO COM HONRAS DE PRIMEIRA PÁGINA

 


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José Bento d’Araujo

Quem escreve estas linhas é um dos velhos aficcionados do toureio portuguez, e, em especial, um enthusiasta pelo toureio  a cavallo, por esse toureio elegante, artistico, arriscado, que só se executa do Caia para cá e que não encontra bellezas na lide tauromachica, quer a pé ou montada, que possam equiparar-se-lhe.

Desde Vimioso, o primeiro cavalleiro que nos arrebatou na velha arena do Campo de Sant’Anna, até aos cavalleiros actuaes, nem em um só deixámos de ter que admirar. Sedvem, Bettencourt, Mesquita, Batalha, Mourisca, José e António Monteiro, José Bento (de Araújo) e outros, além dos amadores, Tinoco, Luiz do Rego, e mais alguns tambem distinctos, teem-nos proporcionado tardes admiraveis, em que ao arrojo temos visto reunidos os conhecimentos da arte, e as maiores difficuldades d’esta postas em pratica.

Não pretendemos baralhar todos os nomes como que attribuindo a todos esses artistas egual merito. Não; mas o que é certo é que todos elles, do primeiro ao ultimo nos tem proporcionado ensejo de collocarmos o toureio a cavallo, pelo systema portuguez, em plana muito superior a tudo o que lá fóra temos visto. A Hespanha produz espadas quer de muleta em punho arrebatam a multidão. O que ella, porém, nunca produziu foi um cavalleiro, que exiba os prodigios de agilidade, de força de musculos, de conhecimentos de equitação e de toureio que em geral nos patenteiam os cavalleiros portuguezes e em especial os grandes mestres como eram Vimioso, Sedvem, etc.

Isto tudo vem a proposito de José Bento d’Araujo cujo retrato hoje publicamos.


Temos seguido dia a dia os progressos d’esse valente rapaz, d’esse extraordinario calção, d’esse toureiro de sangue, cujo nome é já tão querido, que collocado n’um cartaz é sempre garantia de bons lucros para uma empreza.

José Bento (de Araújo) reune a um typo deveras sympathico qualidades inexcediveis. Aquelle rapagão modesto, que bifurcado n’um cavallo nos faz lembrar pela firmeza uma estatua equestre desde muito que se tornou notado. Andou primeiro pela provincia toureando nas praças de segunda ordem. Apenas porém debutou, e logo o seu nome chegou a Lisboa como o d’um artista a quem estava destinado um largo futuro.

Os primeiros torneios em que compareceu na praça do Campo de Sant’Anna foram para elle outras tantas glorias.

As suas festas n’aquella praça assignalavam-se pelas grandes enchentes.

Para os beneficios podia-se dar como passado o sol. A gente d’Alcantara, sitio que é o seu, encarregava-se de não deixar ficar um bilhete na casa, como porém os admiradores de José Bento (de Araújo) não eram só os amadores d’Alcantara, mas os de toda a cidade os bilhetes do sol elevavam-se sempre a preços que se egualavam quasi aos dos logares superiores.

Quanto aos bilhetes de sombra e camarotes não chegavam para as encomendas. O José Bento (de Araújo) tem amigos e admiradores em todas as classes da sociedade.

Demoliu-se a velha praça e o nosso homem começou a fazer carreira pelo Porto, recebendo tão extraordinarias ovações que eccoavam em Lisboa. Dêem ao José Bento (de Araújo) o boi mais valente, leal ou desleal que seja, o boi mais difficil, o mais temivel, porque o publico vê sempre o valente cavalleiro collocar-se na frente da fera, e gritar-lhe como sempre, a todos, bravos ou mansos, leaes ou desleaes:

— Eh! real!

E solto este grito o cavallo, posto em acção, parte como um raio e o ferro é sempre collocado com perfeição, se o touro deu sorte, quer esta seja á tira, á meia volta, ou de qualquer outro genero.

O — Eh! real! — solto pelo José Bento (de Araújo) significa que o touro não tarda em ser enfeitado com uma bella farpa, valentemente e artisticamente collocada, porque o nosso briographado é sem duvida, hoje, um dos primeiros picadores portuguezes.

Temos a certeza, tem-a toda a gente, de que se José Bento (de Araújo) um dia fôr convidado para ir tourear n’uma praça de Paris, os parisienses, que se arrebatam ante todas as manifestações da mais rasgada coragem, lhe proporcionarão um dos maiores triumphos que um artista de tal ordem póde ambicionar.



José Bento (de Araújo) realisa no proximo domingo, em Cintra, a sua festa artistica.

A casa encher-se-hia sem mais attractivos que não fosse o nome do festejado cavalleiro. Mas dar-se ha uma novidade e essa de primeira ordem. Apresentar-se-ha a famosa amazona Maestrick, que lidará um touro, com um denodo de que já deu prova na praça do Cartaxo.

D’aqui felicitamos já o bom do José Bento (de Araújo) pelos seus triumphos d’essa tarde e pelos resultados monetarios que ha de auferir, porque com certeza lhe hão de sobrar espectadores, e por consequencia faltar  bilhetes para os pedidos.

Daremos tambem o retrato e biographia de madame Maestrick, a heroina da tarde de 8.

In DIARIO ILLUSTRADO, Lisboa – 5 de Junho de 1890

NOTAS: 

O concurso para a edificação da praça do Campo Pequeno foi lançado em 1890.

O cavaleiro José Bento de Araújo acabou por ser convidado para tourear em Paris em 1891. 

Depois da capital, o "caballero en plaza" português actuou até quase ao fim de 1893 em Nîmes e em inúmeras praças de França.

9 DE JUNHO DE 1890 – COLARES: CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO OFERECE JANTAR A AMIGOS ESTRANGEIROS (INCLUINDO UMA CAVALEIRA E UMA JORNALISTA) E PORTUGUESES


 

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O festejado cavalleiro José Bento (de Araújo) deu hontem um jantar no Eden Hotel de Collares.

Assistiram as madame Maestrick, misses Carry e Beatriz Heason, e miss Alice Oram; e os srs. Julio Silva, Rodrigo de Abreu, Jayme Fernandes, F. Forbes, Joseph Maestrick, Antonio Infante e Henrique Costa.



In DIARIO ILLUSTRADO, Lisboa – 10 de Junho de 1890

8 DE JUNHO DE 1890 – SINTRA: FESTA ARTÍSTICA DO CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO


 

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A festa artistica de J. Bento (de Araújo)

Está provocando enthusiasmo e é esperada com grande anciedade a festa artistica de José Bento (de Araújo), na tarde de 8 na praça de Cintra.

A noticia de que Maestrick, a famosa amazona, se houve com extraordinaria pericia e inexcedivel denodo na lide de um touro na praça do Cartaxo, faz com que os amadores anhelem pela tarde de 8, em que lhes será dado admirar a notavel artista, que a julgar pela sua experiencia de ha poucos dias, não teme confronto, no toureio a cavllo, com os mais destros picadores.

Maestrick apresentar-se-ha trajando rigorosamente á marialva.


In DIARIO ILLUSTRADO, Lisboa – 31 de Maio de 1890

25 DE MAIO DE 1890 – CARTAXO: CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO COM A AMAZONA CLOTILDE MAESTRICK E TOUREIROS AMADORES


 

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Tourada no Cartaxo

Ha corrida ámanhã no Cartaxo. Temos a melhor informação da qualidade do gado, o que constitue uma esperança de que a tourada seja boa. Mas do que felicitamos desde já os amadores que concorreram áquella é de terem a fortuna de poderem ver trabalhar o arrojado José Bento d’Araujo, um dos cavalleiros tauromachicos portuguezes, que maior fama teem.

Deve ser uma bella tarde.



In DIARIO ILLUSTRADO, Lisboa – 24 de Maio de 1890

NOTA: Agradeço a colaboração do blogue "Restos de Colecção" (https://restosdecoleccao.blogspot.com/), que teve a amabilidade de me facultar o link da Biblioteca Nacional.

8 DE JUNHO DE 1890 – SINTRA: FESTA DO CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO COM A AMAZONA CLOTILDE MAESTRICK


 

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Estreia de madame Maestrick

É no dia 8 de Junho que na praça de Cintra, por occasião da festa promovida por José Bento d’Araujo, se apresentará ao publico a distincta amazona madame Clotilde de Maestrick, a qual já teve occasião de experimentar a sua corajem na praça do Cartaxo, onde segunda feira picou um garraio com tal pericia, que causou verdadeiro enthusiasmo.

Nunca nenhum amador se houve, pela primeira vez tão correctamente.

A novel artista tauromachica collocou com elegancia e arrojo quatro ferros sendo dois á tira e dois á meia volta.

No dia 8 de junho toureará um touro, apresentando-se vestida á marialva, de casaca e calção.

In DIARIO ILLUSTRADO, Lisboa – 28 de Maio de 1890

NOTA: Agradeço a colaboração do blogue "Restos de Colecção" (https://restosdecoleccao.blogspot.com/), que teve a amabilidade de me facultar o link da Biblioteca Nacional.

11 DE NOVEMBRO DE 1906 - RIO DE JANEIRO: "CORRIDA DE PRIMEIRÍSSIMA" APESAR DA CHUVA...


 

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Tauromachia

Eram 3 horas da tarde.

No azulado Céo carioca, salpicado de brancas nuvensitas, luziam as douradas gadelhas do rubicundo Phebo.

A brisa marinha refrescava o ambiente, perfumando-o com aromas de algas, e os aficionados da soberba arte de Montes y Oliveira esfregavam as mãos de contentes.

Subito, mudou-se a decoração, as nuvensitas brancas tornaram-se nuvensonas plumbeas; o Céo, antes azul, vestiu-se de luto e o chuveiro celestial começou a funccionar...

Que lastima de tarde!

Chovia: uma chuva semi-pulverisada, lavava as caras dos poucos espectadores que occupavam as localidades o circo taurino.

Este, engalanado com escudos e galhardetes, ostentava com garridice o camarote especial, destinado ao Sr. Presidente de Republica, e a banda de musica (de não sei que regimento) amenisava o máo humor da concurrencia com alegres e escolhidas peças.

Á hora marcada no programma, occupa a cadeira intellectual o Dr. Daniel de Almeida; fazem as ceremonias rituaes os cavalleiros e começa a festa.

Impertinente chuva.

Sem ella, e com um poucohinho de sol, que inegalavel tourada!

Todos, todos trabalharam muito e trabalharam bem.


Os cavalleiros (José) Bento (de Araújo), Serra e Nobre Infante, portaram-se como tres heroes rivalisando em arte, em destreza e muita coragem.


Madame Clotilde Mejstrick ou Clotilde Maestrick, em Portugal no ano de 1890
Imagem: Câmara Municipal do Porto

Clotilde Mejstrik (NOTA: A cavaleira também é, por vezes, apresentada como Clotilde Mejstrick) trabalhou mais e melhor do que no dia da sua estréa, recebendo muitas e merecidas palmas.

Segurita e Machaquito estiveram immelhoraveis.

Em e outro, trabalhando muito toda a tarde, ganharam applausos, já pondo as bandarilhas, já passando a muleta nas respectivas féras, cambiando como Dios manda; um e outro deram soberbos passes em redondo e depecho (NOTA: de pecho).

Assim, assim é como se ganha applauso, assim se adquire reputação e fama... Olé! por los diestros con verguenza!

Vieira esteve bom, tão bom que, entre outros, pôz um par monumental. Muito bem, Chiquito!

Santos trabalhou como sempre, sympathico, mas sem a sorte de domingo passado.

Canario deixou dous pares bons e ganhou applausos merecidos; parece ter sahido em antypathia; o publico que o acclamou na estréa, recebe-o agora friamente, ironico.

A meu lado, dizia um guazonago.

«Este Canario transforma-se em arara»...

Ou quer dizer que que mais vale cahir em graça do que ser engraçado.

Pinheiro regular, só regular.

Dos moços, o Russo e Pouca Roupa fizeram duas boas pégas.


Resumo: tourada de primeirissima, e tão boa que o respeitavel publico não fez caso da chuva até o fim da festa.

Bem merece, pois, nossos applausos a empreza que soube organizar tão esplendida tourada.

Justo Verdades.

In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro – 12 de Novembro de 1906

NOTA:

A amazona Clotilde Maestrick ou Mejstrick actuou várias vezes com o cavaleiro José Bento de Araújo. 

Na tarde de domingo 3 de Agosto de 1890, por exemplo, celebrou a sua festa artística no Real Colyseu Portuense ao lado dos cavaleiros  José Bento de Araújo e Fernando d’Oliveira.

21 DE OUTUBRO DE 1906 – RIO DE JANEIRO: TOURADA COM ARTISTAS NOVOS E VELHOS, MAS TODOS BONS


 

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Tauromachia

O dia de hontem...

Ah! O dia de hontem foi simplesmente soberbo!

O sol, dourando o cume dos rochedos, ia soltando as rutilas madeiras.

Era tudo uma fanfarra jovial, estridula, alegre.

O redondel, embora estivesse como o cocuruto do José Bento (de Araújo), isto é, com alguns claros, valia ouro, pela alegria esfusiante e communicativa que lhe emprestara o sol que se dera ao luxo de ficar no alto, impassivelmente luminoso, langorosamente festivo, até ao fim da funcção.

A nota alacre dos vestuarios femininos vibrou, predominando o traje branco, a destacar-se aqui e alli nas nuvens de macambuzios que ainda têm a telha de vestuario preto.

Toilettes claras alegravam immenso aquella vastidão da praça, destacando-se uma manola trajada a caracter, con su mantilla e sus claveles... tão guapa e tan chirigotera... que nos arrrancou uma exclamação enthusiasta:

— Bemdita sea tu tierra...

Parecia que estavamos em plena Sevilha, com todos os matadores do estylo...

Mas não ha espaço hoje para divagações; vamos dar conta do nosso recado crítico.

José Bento (de Araújo), em conjuncto, esteve superior; nunca envelhece, passam-se os dias e os annos, e em vez de perder energia e pujança na dificil arte de Tinoco, rejuvenece, adquire alma e vapor, e trabalha com mais alegria do que nos seus bons tempos; José Bento (de Araújo) valerá sempre, e por muitos e muitos annos colherá palmas.

Simões Lessa deu conta do recado, com a galhardia que o distingue, embora estivesse um pouco desacertado, ao cravar dous ferros, sem partil-os. Machaquito demonstrou, palpavelmente, que não é erroneo o juizo da imprensa desde o dia em que tivemos o prazer de vel-o tourear no nosso circo tourino. Toureando, é elegante e sereno, sabe chegar á cara da féra e estender os braços. Hontem fez um preparo (???) digno de (???) e quebrou um par com as liligramas (???) que sabe fazer.

Segurita, muito bem nas bandarilhas e na sorte da muleta. É um toureiro que promette, emboraa algumas vezes perca a calma e seus nervos não o deixem ficar quiero, prejudicando a lide. Para ficar completo, falta-lhe socego... Porque não pára os pés? Receio? Não accreditamos. O muchacho vale, mais podia valer mais.

Vieira vale um thesouro, crava muito bem, estende os braços, sabe executar com ordem, a (???) TEXTO COMPLETAMENTE ILEGÍVEL A PARTIR DAQUI.


In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro – 22 de Outubro de 1906

21 DE OUTUBRO DE 1906 – RIO DE JANEIRO: “COMPETENCIA” ENTRE ESPADAS ESPANHÓIS E CAVALEIROS LUSOS


 

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Tauromachia

É de esperar para domingo, na praça do campo de Marte, a maior enchente da época, dados os attractivos de que se compõe a corrida de touros, para esse dia annunciada.

Segurita e Machaquito, os dous valentes espadas que têem conquistado os applausos do publico fluminense, trabalharão juntos no mesmo touro e parece estão dispostos a empregar o melhor do seu talento em conseguir o primeiro plano no conceito do publico.

Além disso, ha, por assim dizer, uma outra competencia entre os cavalleiros José Bento de Araujo e Simões Serra (que reapparece nessa tarde) lidando juntos dous touros da corrida, o que é sempre motivo para enthusiasmo do publico.


In JORNAL DO BRASIL, Rio de Janeiro – 18 de Outubro de 1906