8 DE JULHO DE 1894 - LISBOA: UMA CORRIDA NA PRAÇA DO CAMPO PEQUENO QUE NÃO CONVENCEU POR COMPLETO



Biblioteca nacional de Portugal

Chronica das touradas

CAMPO PEQUENO

14.ª corrida da epocha. - Espadas: Antonio Fuentes e Emilio Torres (Bombita). - Touros do sr. Emilio Infante da Camara.

Realisou-se no domingo mais uma corrida n'esta praça, e com franqueza, a par de algumas a que alli temos assistido, não foi das peiores. O vento prejudicou sobremaneira o trasteo de capote e muleta dos espadas. A praça não se encheu, mas a concorrencia era muito regular. Ás 5 horas, hora feliz para alguns que assistiam á tourada cheios de enthusiasmo para verem Fuentes e Bombita, os dois matadores da epocha, principiou a tourada, da qual vamos dar um resumo.


Espadas. - Antonio Fuentes, que tanto tem agradado entre nós, e que, como se sabe, é um artista de muito merecimento, viu se hontem a braços com alguns touros maus, e com o vento que lhe prejudicou por completo o trasteo. Teve alguns passes de peito muito bons. Com bandarilhas, no 6.º touro, que é a peior coisa que temos visto, citou a quiebro sem resultado, pondo depois uns dois pares a cuarteo, sendo um de primeirissima ordem. Tentou pôr outro a cuarteo, sendo colhido sem consequencias. Depois o director da corrida mandou passar o touro, ao que Fuentes se recusou, mas o sr. Botas tiemou, e o espada depois de dar dois passes teve de abandonar a rez, e o sr. intelligente manda então tocar. A este facto nos referimos mais adeante.

Fuentes foi applaudido.

Bombita, outro toureiro que bastantes sympathias conta entre nós, luctou com as mesmas difficuldades que o seu collega. Sobresahiu no 1.º touro que passou de muleta muito bem, tirando passes de peito primorosos. No resto nada pôde fazer por causa do vento. Com as bandarilhas poz um par a cambio, regular, e dois á topa carneiro, deseguaes. Foi applaudido.

Cavalleiros. - José Bento (de Araújo) trabalhou correctamente nos seus dois touros, pondo ferros á tira e á volta de grande luzimento. O 1.º touro era brando, improprio para fazer brilhar um artista. D'isto não tem culpa o cavalleiro. O festejado artista foi muito applaudido.


Fernando teve um trabalho primoroso no seu 1.º touro, pondo ferros á tira, de cara e á volta, excellentemente rematados. No 2.º trabalhou bem e com correcção. O distincto artista foi muito applaudido.

Bandarilheiros. - Minuto, Theodoro e Cadete trabalharam correctamente, pondo bons pares, pelo que foram muito applaudidos. Dos bandarilheiros hespanhoes sobresahiram Blanquito, de Fuentes; e Valencia, de Bombita, recebendo palmas.

Forcados. - Fizeram boas pegas de cara. Apresentaram se muito unidos, sendo dignos de applauso.

Touros. - Pertenciam ao sr. Emilio Infante da Camara. Sahiram alguns bravos, mas na maioria mal intencionados e difficultando a lide. Estavam bem tratados e eram deseguaes.


Direcção. - Como sempre, a cargo do sr. Botas. Temos poupado o mais possivel o director das corridas da praça do Campo Pequeno, attendendo a que é um chefe de familia, e que não tem outros meios de subsistencia, embora muitas vezes precisasse de levar verdadeiros correctivos.

O que no domingo se passou com Fuentes, foi o mais extraordinario que temos visto e que precisa uma lição severa, para que se não torne a repetir. O sr. Botas via perfeitamente que o 6.º touro não era animal capaz, difficultoso para a lide e portanto pondo em perigo o artista. O director não attendeu a nenhma d'estas cousas e obrigou o espada a saltar á arena para passar similhante rez. Bem depressa teve a certeza  do fiasco que fez, pois que o artista teve de abandonar o seu intento. Ora isto não se faz e representa para o sr. intelligente, nada mais e nada menos que a sua pouca competencia.

Obrigar um artista a ser maltratado por um touro n'aquellas condições, simplesmente por um capricho ou por outro qualquer motivo que ninguem comprehende, revela bem que o sr. intelligente não deve occupar aquelle logar. O intelligente tem obrigação de se fazer respeitar, obrigando o artista a cumprir o seu dever, mas é preciso tambem que as ordens que partem d'esse intelligente sejam sensatas.

Fuentes por principio nenhum deviat ter saltado á arena, e visto o sr. director instar com elle e querer substituil o por Bombita, que certamente não cumpriria o seu mandato, o que deveria ter feito era dirigir-se á auctoridade e dizer-lhe que não cumpria a ordem do sr. Botas, por que essa ordem era inepta. O sr. Botas deve manter-se no seu logar, mas primeiro que tudo deve saber o que faz, para não acontecer o que no domingo presenciámos que o desauctorisa por completo. Ficamos hoje por aqui.

Em resumo a corrida se não satisfez por completo, não se pode no entanto dizer que fosse um desastre. Á tourada assistiram Sua Magestade a rainha D. Amerlia, El-rei e o sr. infante D. Affonso.

D. JOSÉ TENORIO

In A TOURADA, Lisboa - 12 de Julho de 1894

30 DE JUNHO DE 1892 - PARIS: UMA TOURADA "MUITO BRILHANTE" NAS ARENAS DA RUE PERGOLÈSE


Bibliothèque nationale de France

FOYERS ET COULISSES

Beaucoup de monde, hier, aux Arènes de la rue Pergolèse. La deuxième course de taureaux a été très brillante et a valu de nombreux applaudissements à Mlle Maria Gentis, José Bento de Araujo, Angelo Pastor, le Pouly et les picadores, qui se sont montrés à la hauteur de leur réputation.


In LE PETIT JOURNAL, Paris - 1 de Julho de 1892

8 DE SETEMBRO DE 1892 - PARIS: O "CABALLERO EN PLAZA" JOSÉ BENTO DE ARAÚJO NAS ARENAS DA RUE PERGOLÉSE


Bibliothèque nationale de France

Arènes du Bois de Boulogne;

Aujourd'hui jeudi à trois heures 22ème grande course de taureaux aux Arènes de la rue Pergolèse.

Au programme:

Courses Espagnoles.
Remigio Frutos (Ojitos) et sa cuadrilla: José Martinez (Pito), Raphael Llorens, Branlio, Nugel Adrado, banderillos, et les picadores Baulero, Manuel Sanchez et Niquet.

Courses Provençales.
Marius Monnier et son quadrille (Ecarteurs Sauteurs)
José Bento d'Araujo, caballero en Plaza.

Calchas.


In LA PRESSE, Paris - 8 de Setembro de 1892  

9 DE SETEMBRO DE 1894 - LISBOA: CAVALEIROS ALFREDO TINOCO E JOSÉ BENTO DE ARAÚJO TRABALHARAM "MAGNIFICAMENTE"



Biblioteca nacional de Portugal

CHRONICA DAS TOURADAS

Campo Pequeno

24.ª corrida da epoca - "Espada" Rafael Guerra "Guerrita" - Touros de D. José M. de la Camara, de Sevilha e do sr. Faustino da Gama

Brilhante corrida foi a de domingo promovida pelo nosso amigo sr. Antonio da Costa Guerra. Dominou no promotor simplesmente a vontade de engrandecer o espectaculo, não se poupando a despezas no intuito de apresentar uma festa a contento do publico, o que conseguiu, sendo por isso digno dos maiores elogios. Para gosar tão soberbo espectaculo ás 4 horas achava-se a praça completamente cheia de espectadores. A essa hora entra na arena o luzido cortejo, destacando-se d'entre elle com o seu fato lilaz e ouro e com uma capa preta com ricos bordados a ouro o grande Kalifa de Cordova, Rafael I da tauromachia e Rafael Guerra, Guerrito, o primeiro toureiro do mundo, sendo recebido no meio de grandes ovações.

Vamos dar um resumo d'essa brilhante corrida.

TOUROS

Pertenciam 6 ao sr. Faustino da Gama e 6 ao sr. D. José da Camara de Sevilha. Os primeiros, apesar de mal tratados, sairam bravos, excluindo o ultimo que saiu um boi. O 1.º era bravo e de vontade ao cavallo. O 2.º foi um animal bravo e fino. O 4.º saiu bravissimo. O 10.º tambem bravo e de vontade ao cavallo. O 11.º saiu brando, mas deu lide e o 12.º manso. Portanto o sr. Faustino da Gama merece elogios pelos touros que apresentou, que em bravura levaram a palma aos hespanhoes.

Os touros hespanhoes cumpriram no geral, mas sairam brandos alguns d'elles. O 3.º saiu mau e era aleijado. O 5.º cobarde. O 6.º regular, mas tardo ás varas. O 7.º saiu bravissimo. O 8.º cumpriu e 9.º bravo, acudindo ás varas. Bem armados e regularmente tratados. Em resumo um bom curro.

"GUERRITA"

Não ha descripção possivel a fazer do trabalho d'esse colossal artista. Simplesmente diremos que em toda a tarde executou o trabalho mais monumental que pode imaginar-se. Que passes de muleta, que passes de capote e que maneira de citar e bandarilhar. Emfim um artista como nunca houve, nem ha, nem hade haver. O publico applaudiu-o enthusiasticamente, como era merecedor.

CAVALLEIROS

Alfredo Tinoco e José Bento (de Araújo) trabalharam magnificamente, fazendo sortes de merecimento, pelo que foram chamados e applaudidos.


BANDARILHEIROS

Sobresaiu Almendro, quer em bandarilhas, quer bregando. Calabaça teve uma sorte de gaiola magnifica, assim como Minuto uma outra identica. Theodoro teve bons pares. Cadete regular e Guerra e Mojino regulares tambem.

PICADORES

Alguns paus - porque aquillo não são varas - de Pegote e Beao, que trabalharam com vontade. Alguns trambulhões e applausos. A Sociedade Protectora com toda a sua sabedoria, tem dó dos touros, não querendo senão um espigão com que os picadores não podem defender-se e não importa que os cavallos apanhem pancadaria, o que não acontecia se as varas tivessem uns bicos maiores, porque já o picador castigava o touro, defendendo ao mesmo tempo o cavallo. Muito intellihentes estes senhores da sociedade que devia chamar-se desprotectora.

FORCADOS

Não fizeram nada de notavel.

DIRECÇÃO

A cargo do velho Botas, acertadissima. Muito acertada a determinação da lide á hespanhola a cargo do matador.

CASA

Á cunha, vendendo-se bilhetes por preços carissimos.


PUBLICO

Maravilhado.

D. JOSÉ TENORIO


In A TOURADA, Lisboa - 16 de Setembro de 1984

4 DE AGOSTO DE 1892 - PARIS: O CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO NA GRAN PLAZA DA RUE PERGOLÈSE


Biblioteca nacional de França

Aujourd'hui jeudi, à trois heures, 12ème grande course de taureaux aux arènes de la rue Pergolèse.

Au programme:

Mlle Maria Gentis, caballero en plaza; José Bento d'Araujo, caballero en plaza; Francisco Granja, Juan Ripoll et leurs cuadrillas: les picadores; en enfin le quadrille provençal fin-de-siècle de Lombres, lauréat de France et de Belgique, qui a débuté dimanche dernier.


In LA PRESSE, Paris - 4 de Agosto de 1892

31 DE AGOSTO DE 1891 - PARIS: 15.ª CORRIDA NAS ARENAS DA RUE PERGOLÈSE FOI UM SUCESSO



Très belle chambrée hier aux arènes de la rue Pergolèse.

Beaucoup de jolies femmes qui se passionnent pour ce genre de sport.

La quinzième course a été très brillante. Bernardo Hierro, Ojeda, José Bento de Araujo, les picadores et l'amateur français piquant à la mexicaine, ont rivalisé de grâce et d'adresse.

Aussi ont-ils obtenu un succès mérité.

Mercredi prochain, reprise des soirées avec Cinq mois au Soudan et l'Avenir??


In GIL BLAS, Paris - 1 de Setembro de 1891

3 DE SETEMBRO DE 1894 - ARRONCHES: UMA CORRIDA BOA COM O CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO



Biblioteca nacional de Portugal

Arronches

A corrida realisada na segunda-feira, na praça d'esta villa, saiu boa. Os touros sairam bravos e deram boa lide e os artistas souberam tirar partido da boa qualidade das rezes, distinguindo-se o cavalleiro José Bento d'Araujo, que ouviu muitas palmas.


In A TOURADA, Lisboa - 9 de Setembro de 1894

1896 - UMA TOURADA NO CAMPO PEQUENO - LIVRO: "TOIREIROS E TOIRADAS COM RETRATOS" - JOSÉ PAMPILHO (com prefácio de TRINDADE COELHO)



Arquivo digital CML

NO CAMPO PEQUENO

Na vespera, á uma e meia da noite. Eu e o guarda nocturno d'uma rua onde morei ha annos.

- Então, o que lhe parece?

- Hum! Já esteve peior do que está. O do n.º 26, 3.º andar, já saiu; o do 37, 4.º, ainda não entrou; a cabrita do 58, 3.º, continúa na mesma...

- Homem. não é isso o que lhe pergunto. Não quero saber das vidas alheias. Desejo que me diga se chove ámanhã.

O homemsinho tomou pose, collocou bem a lanterna na barriga, olhou para as astros e disse:

- O tempo, até volta das tres horas, estará um pouco esquisito, mas depois ha de aclarar e o resto da tarde apparecerá delicioso.

Despedi-me do Bandarra nocturno e fui-me deitar.

Arquivo digital CML

O homem acertou. Ao começar a corrida o sol principiou a sorrir, aquecendo ao mesmo tempo a pelle dos espectadores, que sairam algo murchos da toirada, que não foi das melhores que se teem visto.

As cortezias, executadas pelos cavalleiros Manuel Mourisca e Fernando Ricardo Pereira foram um pouco nephelibatas.

Chegavam suas magestades ao camarote real, quando novamente deram entrada na arena os mesmos cavalleiros Mourisca e Ricardo Pereira, a fim do primeiro dar a alternativa ao segundo.

Após um pequeno discurso, que não se ouviu, o Mestre passou o ferro a Ricardo, o qual se poz em posição. Ainda o homem do cornetim tomava folego, já se via na arena:

O 1.º toiro, caraça, aberto de pitones, listão e de muito pé. Recebeu de Fernando Pereira um ferro á gaiola e em seguida sete ferros largos e um ferro curto em differentes sortes. Applausos.

Saiu do curral, sem ver o artista, o 2.º, preto, e de paus pequenos. Calabaça ferrou-lhe um bom par e Raphael um tambem bom. O bruto deu tamanha pancada nas taboas, que se desembolou d'uma das agulhas. Os Anacletos berram desesperadamente, que o boi está desembolado, e manuel Bottas manda tocar. João Calabaça ainda colloca um par e o mesmo quer fazer Raphael, mas não pôde satisfazer a vontadinha, porque o animalejo, que por signal era bonitinho, tratou de se raspar lá para dentro. Ao pé dos companheiros estava melhor.

Era manso como um cordeiro, e berrendo em preto, rabalvo e mal armado, o 3.º. Minuto, á gaiola, deixou-lhe um grande par e em seguida um á meia volta. O bandarilheiro de Torerito plantou um a toro parado. Tambem só assim. Ouvem-se algumas piadas ao lavrador, que se torna vermelho como um pimentão. Outros fazem-se pallidos, e ainda ha outros a quem nada faz mossa. Questão de temperamento.

Custou a sair o demo do 4.º, um bicho dotado de mansidão inverosimil. Uns dizem que a rez estava a dormir a somno solto; outros asseveram que era uma questão de portas ou de cordas. Em quanto se tratava de fazer apparecer o reles cornupeto, o publico do sol entreteve-se a pedir que Cadete, que se achava no sector n.º 1, descesse para bandarilhar, mas Jorge fez ouvidos de mercador, no que andou muito bem. Theodoro Gonçalves e João Roberto inutilisaram um par cada um.

Recolhido este, sae o 5.º, preto, mal armado, de muitas arrobas e um macacão de respeito. Mourisca fez a sorte de gaiola, tendo o cavallo beijado. Depois enfeitou o cachaço do tunante com quatro ferros largos, como Deus manda. O macaco entrou no toiril sem auxilio de cabestos.

Negro como uma amora e gaiolo era o 6.º, que foi bandarilhado pelo espada. Torerito collocou meio par á gaiola e tres pares a curteo, bonissimos. Pegando no capote fez cinco veronicas. Cambiando o percal pela muleta, brinda pelas buenas niñas (maganão) e pelos buenos aficionados (espertalhão), executando, após o curto discurso, alguns passes muito dançados, dando por terminada a faena com uma boa estocada. O toiro, que era duro de cabeça, atirou fóra dois forcados. O terceiro, mais feoliz ou mais valente, lá lhe ficou entre os paus.

Arquivo digital CML

Intervallo. Saem alguns pandegos. Vão refrescar as guellas. A maioria fica a ouvir um fadinho, deliciosamente tocado pela banda da guarda municipal. Já se achava no redondel o 7.º, quando retomaram o seu logar alguns retardatarios, que se tinham demorado a decilitrar. Devia haver uma campainha, como nos theatros. A despeza é pequena e a coneniencia de tal melhoramento salta aos olhos.

Mourisca, á gaiola, deixou um esplendido ferro, e em cinco minutos enfeitou o morrillo da rez com sete ferros largos. Apontou muito bem um par de curtos, que não ficaram. É porque n'aquelle sitio a pelle do boi era mais dura do que a pedra. Talvez callo da canga, salvo seja. Tomára eu um conto de réis por cada toiro, que anda ao trabalho! E fazem um serviço magnifico. Mas ás vezes fartam-se de escangalhar cangas e arados. São uns animaes, que se revoltam contra tudo e contra todos. A delicadeza chegou ali e parou.

Não desgostei do 8.º, preto, e que ma pareceu bom moço. Foi para Raphael e João Roberto. O primeiro chico metteu meio par á gaiola e cuarteou um bom par; o segundo aproveitou tres pares, que não alegraram ninguem. Calabaça, que quiz tamberm molhar a sua sopa, espetou um par. Torerito alanceia de capote. Um forcado, que tenta pegar de costas, vae de peitos ao chão. O outro, que pegou de frente, fechou-se bem com o toirito. Por onde se prova, que o trabalho de frente é menos perigoso e de mais seguro effeito.

Era para Theodoro e Minuto o 9.º, preto, listão e cornialto. Quando os dois muchachos se aprestavam para a lucta, a maioria do publico pede Cadete em alta grita. Theodoro collocou um par magistral, Minuto meio bom e o bandarilheiro de Torerito um rasoavel. A gritaria recrudesce. O sol, inflammado, e uma parte da sombra, pedem Cadete em grande gritaria. Este desce do seu logar, mas uma parte da sombra protesta e obriga Jorge a retomar a sua almofada. N'esta occasião o penante do Bottas oscillava na cabeça do sympathico director de corridas. Serenado o tumulto, Theodoro tira algumas veronicas, que lhe valeram muitas palmas. Um sujeito, que se sentava na contra-barreira, disse: 

― Hoje houve duas manifestações: uma a Elias Garcia e outra a Jorge Cadete; mas na ultima houve contra-manifestação e a minoria venceu a maioria.

Para Fernando Ricardo foi o 10.º, que foi castigado com sete ferros largos, sendo um na sorte de gaiola. Ricardo foi muito festejado pelos seus amigos e admiradores, que lhe offereceram algumas corôas e outros brindes. Piada d'um ratão:

― A este offereceram tanta coisa e a Mourisca nem uma rosa murcha!

Esclarece um amigo do citado ratão:

― Isto é da praxe; quando um artista toma a alternativa, recebe sempre presentes mais ou menos valiosos.

O 11.º e ultimo foi para os debutantes Carlos Felix, de Setubal, e Homem de tal, da Barquinha.

O 12.º não foi lidado, porque de manhã partiu um dos paus.

Quando o Homem, da Barquinha, foi para a gaiola esperar a investida do toiro, gritou dos sectores da banda do Lumiar um sujeito:

― Que lindos olhos tem o mocho!

O Homem, da Barquinha, estremece e perde a côr. Por pouco não cae. É porque elle imaginava, como uma vez succedeu em Alcantara, que aquillo tudo desanadava á bordoada. Felizmente não houve mortos nem feridos. O Homem, da Barquinha, não viu correrias de gentes de armas, mas viu-se azul com um bicho armado. O excellente rapaz lá collocou no toiro alguns ferritos. O mesmo aconteceu a Carlos Felix, que estava muito impressionado.

Resumo. Sete toiros maus e quatro rasoaveis. Manuel Mourisca bem, principalmente no seu segundo toiro. Fernando Ricardo Pereira, que ainda precisa estudar, esteve feliz, sobretudo na segunda parte. A gente não nasce feita. Tambem eu, quando vim á luz do dia, não sabia o que sei hoje. Tempo e estudo é o que se requer. Desejamos vel-o mais alegre e mais desempenado. Nada de tristezas.

Torerito, bem em bandarilhas e com o capote. Na muleta deixou a desejar. Muito trabalhador e muito modesto. O seu bandarilheiro não é nenhuma notabilidade. Theodoro, valente e fazendo coisas bonitas. Minuto teve bons pares de ferros. Calabaça e Raphael houveram-se bem. João Roberto parece ás vezes uma alma penada. Nunca ha de perder a maldita mania de deixar o capote na praça quando toma o olivo. Quanto a Carlos Felix e ao Homem, da Barquinha, pouco fizeram. Não admira; era a primeira vez que pisavam o chão da praça da capital.

Á saida abordei a conhecida amadora, que eu encontrei na toirada do Barreiro, e que me deu a sua opinião sobre a corrida, como então contei. Perguntei-lhe o que pensava da toirada a que acabavamos de assistir.

― Olhe, meu caro, a corrida não me satisfez em absoluto. Sol fraquito e pouca animação. Toiros detestaveis, na sua maioria, como presenceou. O trabalho de Mourisca agradou-me; Torerito, com as bandarilhas, encheu-me as medidas; Theodoro muito catita; a pega de cara em fórma. Não sabe? A noite passada tive um sonho bisarro. Sonhei... Mas o melhor é não lhe dizer nada, porque o senhor é muito indiscreto e conta tudo quanto lhe dizem.

― Juro-lhe, linda creatura, que ácerca do sonho nada relatarei.

― Então lá vae. Sonhei... com uma toirada. 

Era no Campo Pequeno. Dia esplendido. Corriam-se toiros do Emilio Infante. Bravos e de grande poder. Era a festa artistica d'um cavaleiro. Toireavam a cavallo os colligados, Alfredo Tinoco, José Bento (de Araújo), Fernando de Oliveira e Manuel Casimiro. Ah! meu amigo, que corrida, que animação! As garupas do Tinoco, as tiras do José Bento (de Araújo), as estribeiras do Fernando e os ferros curtos do Manuel encheram me a alma de alegria. Recolhido o penultimo toiro acordei. E fiquei a pensar n'aquelles guapos moços! Que elegancia e que destreza! Não imagina a vontade que tenho de os ver trabalhar. Tenho a nostalgia do seu toureio...

11 de Dezembro de 1903: o cavaleiro José Bento de Araújo na corrida em honra de Alfonso XII, rei de Espanha
FONTE: Arquivo digital CML


A formosa mulher nada mais disse e despediu-se de mim. Dirigi-me para casa, e pelo caminho ia pensando, que isto tudo anda fóra dos eixos. Por culpa de todos, está bem de ver.

In TOIREIROS E TOIRADAS COM RETRATOS, JOSÉ PAMPILHO (com prefácio de TRINDADE COELHO), M. GOMES EDITOR, Lisboa, 1896

1896 - UMA TOURADA EM ALGÉS - LIVRO: "TOIREIROS E TOIRADAS COM RETRATOS" - JOSÉ PAMPILHO (com prefácio de TRINDADE COELHO)



Praça de touros de Algés
Foto : DR

EM ALGÉS

        Não se encheu n'esse dia a praça de Algés. O publico concorreu na percentagem, talvez, de 75,5 por cento. Se não estiver certo, mandem a rectificação. É um caso, que, no futuro, póde dar de si.

        Aqui ha tempos um pandego metteu hombros á empreza e começou a contar; mas, quando operava no sector n.º 7, começaram ali a jogar a pancadaria e o homem perdeu o fio á meada. Ainda assim chegou ao numero 3:967. Elle ha cada maduro por esse mundo!

        E foi pena não se enchar á cunha, como era de prever e era mister, para satisfação plena do cavalleiro Fernando de Oliveira, o enfant gâté dos Montecchios e das Montecchias, que n'essa tarde apresentou uma casaca riquissima, a qual fez abrir desmesuradamente os olhos lindos de algumas gentis Capulettas (oh! infidelidade) e de alguns agiotas, que nunca apanharam coisas tão bonitas nas prateleiras sujas das suas sujissimas casas de prego.

        A arraia miuda distribuiu-se pelas outras corridas, pela feira de Belem e pelas hortas dos arredores de Lisboa, onde apanhou carraspanas tremebundas, que fizeram oscillar o madeiramento dos seus modestos domicilios. Algumas costellas femininas tambem adornaram por estibordo e bombordo. Por este enunciado se vê, ricos filhos, que a cafraria j´mais acabará!

        No sabbado á noite rosnava-se, que succederiam coisas espantosas; que a policia seria reforçada; que um grupo de Alcantara e outro de Bemfica viriam ás mãos; que se assistiria, finalmente, a uma batalha dura e encarniçada, em que serviriam de projectis grossos bengalões, bojudas garrafas, e apostrophes zolistas, que fariam fugir das arvores, que circundam o circo taurino, a pardalada espavorida.

        Felizmente, os grupos rivaes não se bateram. As durindanas não saíram das bainhas. Em compensação, as linguas ficaram escalavradas e algumas solas pedindo em agudos guinchos reforma no sapateiro.

        Que delirio, e que pandega!

        E assim é, e assim continuará a ser, emquanto o sol dardejar cá para baixo os seus raios ardentes, e a lua fôr a confidente de ternos arrulhos nas varandas amplas de alguns casinos de praias balneares.

        De Almeirim procediam os doze cornupetos lidados. Deixaram de bom grado a vastidão dos seus campos, onde impera a paz e harmonia, para virem a outro campo mais restricto deliciar com os seus rapidos e elegantes meneios os amadores de tão emocionante passa-tempo.

        E como vinham de bom grado, de boa vontade se desempenharam do encargo.

        Foi pena os dois toiritos, que largaram a Fernando de Oliveira, não serem para lide de pé. Se fossem bandarilhados teriam cumprido.

        Entre o curro havia toiros bravissimos e de tal pureza, que fizeram marejar os olhos d'uma peccadora, outr'ora estrella de primeira grandeza e hoje - cruel destino! - em caminho do seu ocaso.

        Os meus parabens (lá está um cafresito a sorrir-se) ao conde de Sobral por ter mandado a Algés um currosito tão catita.

        Dizer que Alfredo Tinoco, o elegantissimo toireiro, farpeou brilhantemente o 1.º toiro; relatar que José Bento de Araujo, impavido e valente como sempre, collocou ferros de castigo em sortes lindamente rematadas; referir que Manuel Casimirom metteu bons ferros, tendo duas saídas falsas primorosas; noticiar que Fernando de Oliveira obrigou a marrar os seus toiros, entrando e saindo das sortes com todo o preceito, é dizer a verdade. Todos elles foram applaudidos com enthusiasmo. São mestres consumados na sua arte.

        O espada Fabrilo agradou-me em bandarilhas e com o capote. Com a muleta deixou a desejar. Seu irmão é um bom peão; pareou e correu os toiros como deseja o José Pinto de Campos nos seus livros. É parecidissimo com o mano.

        Pescadero collocou um ferro em sorte de gaiola e mais não disse. Está muito pesadote, segundo a opinião d'um Anacleto, que no intervallo passou do sol para a sombra!

        Pechuga, que, com as fitas da montera atadas, dá-me ares de toireiro de operetta, pouco fez.

        Theodoro e Cadete trabalharam com luzimento, e os forcados houveram-se com valentia, fazendo boas pegas.

        Só um dos toiros saltou a trincheira.

        Ha muita gente que gosta que os toiros saltem para lhes darem bengaladas e arrancarem as farpas; mas estas mesmas almas ficam muito escamadas, quando os animaes lhes dão a sua beijoca, deixando-lhes a camisa ou o collete sujos de saliva cornupeta. Com as mulheres succede o mesmo. Ha algumas, que arredam com as mãosinhas, dando ao mesmo tempo um gritinho, as amabilidades corneas.

        Á saída dos toiros, todos os carros estavam voltados para a banda de Cascaes.

        Calino pergunta ao compadre, que o acompanhava, se Lisboa se tinha mudado para Caxias.

        - Como não pagava a renda de casa, esclarece o supradito compadre, o senhorio pôl-a na rua e a pobresita não teve remedio senão mudar de freguezia!

        E Calino começa a andar por ali fóra e deu fundo no Dáfundo, onde apanhou uma carraspana mestra. No dia immediato ainda andava aos bordos e foi visto nos restaurantes da Baixa a tomar canjas e capilés! E foi capaz de dizer á familia que gosou muito!

        Um dos cornupetos (?) tinha um olhar muito dôce. De vez em quando meneava a cabeça, erguia os olhos para o sector n.º 1 e parecia que olhava para uma determinada pessoa, que, por seu turno, ficava vermelha como um pimentão. Simples coincidencia!

        Outro, d'uma das vezes que saltou as taboas, caiu de costas, enterrando fundamente as bandarilhas pela carne dentro. O animal mugiu dolorosamente e nos seus grandes olhos mostrou a dôr que sentia. Houve alguem que viu n'esta occasião as faces d'uma elegante rapariga humedecidas por duas grossas lagrimas. Ainda ha corações sensisiveis, e que choram pelas desgraças alheias!

        In TOIREIROS E TOIRADAS : biographias, anedoctas, chronicas e narrativas / José Pampilho (António Ferreira Barros); com prefacio de Trindade Coelho, M. Gomes Editor, Lisboa, 1896.  FONTE : Biblioteca Digital de Castilla y León - LINK :https://bibliotecadigital.jcyl.es/es/catalogo_imagenes/grupo.do?path=10078702

1896 - UMA TOURADA NO BARREIRO - LIVRO: "TOIREIROS E TOIRADAS COM RETRATOS" - JOSÉ PAMPILHO (com prefácio de TRINDADE COELHO)




NO BARREIRO

Dia triste. As nuvens prenhes de fortes aguaceiros; mas os aficionados não recuaram um passo, e lá foram, uns de malvas e outros de casacos de borracha, assistir á corrida.

O vapor, que saiu ás duas horas, ia abarrotado. O que largou dez minutos depois tambem foi cheio.

Gente animada, anciosa por ver as prendas dos cornupetos do Ferreira Jordão. N'um grupo fallava-se de amor; mais além, dois nephelibatas discutiam a reforma do general Malaquias de Sá, e uns caturras, que iam á prôa, e que na estação tinham andado de Herodes para Pilatos, por causa do carimbo nos bilhetes, asseveravam, escanados, que o serviço do caminho de ferro do sul era muito moroso; que pegavam por qualquer ninharia. Um dos do grupo esclareceu, que aquella linha ferrea marchava a passo de boi, emquanto que a do norte e leste se movia a passo de toiro. O conselheiro Acacio não diria melhor.

Quando chegámos ao Barreiro, ainda a machina Loulé, que tinha arrastado dezesete carrugane com gentes de Setubal, de Palmella e da Moita, resfolegava como se tivesse lá nas entranhas um vulcão!

Pela comprida rua, que vae da estação á praça, centenares de machos e femeas marchavam açodados, de nariz no ar, e procurando nas algibeiras o bilhete dos toiros. Lá ao fim cortavam á esquerda, e, enterrando os pés na areia, davam a breve trecho entrada no circo taurino barreirense, que por um pouco não é beijado pelas aguas do rio. Visto de longe, o circo, parece mesmo que está á beira-mal plantado. É para um dia servir de delegação da alfandega, quando acabarem os toiros.

Nas bancadas do sol os seluvelões, os palmellões, os da Moita e de Alhos Vedros; na sombra, a rapaziada do Turf, do Marrare e do ministerio da fazenda, que é a secretaria de estado que conta mais amadores. Aqui e ali caras conhecidas: o Alfredo Tinoco, o José Bento (de Araújo), o Manuel Casimiro, e outros preclaros varões. De espaço a espaço uma senhora.

Depois de comprimentar os amigos e de tirar o chapeu reverentemente a um capitão reformado, que esteve para ser meu sogro, senti-me ao pé d'uma aficionada, para a abrigar, com o meu apara-chuva, de algum aguaceiro impertinente. No fim da corrida, perguntando-lhe eu as suas impressões, disse-me pouco mais ou menos o seguinte:

- A minha opinião é esta. Tenho assistido a corridas muito melhores, com cavalleiros consummados, com bandarilheiros de primeira ordem, com matadores insignes e com toiros de ganaderos de grande reputação; mas tambem tenho presenceado muito peior do que isto. Foi uma toirada regular. Eu esperava, attendendo ao tempo, que o gado estivesse mais magro, e, por consequencia, mais fraco. Olhe, o 1.º toiro era um animal bravo e voluntario ao cavallo; o 6.º, por exemplo, era um bom toiro, que não foi aproveitado como devia ser. Em summa, houve algumas rezes boas. Gostei immenso do trabalho do Fernando de Oliveira. Farpeou o seu primeiro toiro com arte e galhardia. Primoroso! No 2.º, que, como o senhor viu, era tunante formado em todas as faculdades, teve uma lide de mestre. Obrigar a marrar um calmeirão d'aquelles, só o póde fazer um grande artista. O seu primeiro cavallo é um lindo animal. Não conheço nada mais docil do que aquillo. É um toireiro. O segundo não é nada mau. Precisa, no entanto, mais lições. A cabeça está fóra do seu logar; olha ainda muito para os camarotes. O João Gagliardi deve pôl-o na afinação.

A gentil aficionada, após um momento de pausa, continuou:

- Adelino Raposo é valente, é corajoso, não conhece o medo, é modesto, é sympathico, mas necessita afinar o seu toireio. Teve dois ferros curtos de valor, é certo; porém nos compridos não me agradou tanto. Aconselhe o; diga-lhe a verdade sem refolhos. Os amigos ás vezes é que perdem os artistas. Dizem-lhes tanta coisa, que elles, ás duas por tres, já se julgam um conde de Vimioso ou um Manuel Mourisca.

Nova pausa. A minha formosa collaboradora pára a perguntar-me se quero que prosiga. Respondendo-lhe affirmativamente, diz ella:

- O trasteo de muleta e de capote de Conejito não me agradou. No entanto, gostei dos pares de rehiletes do seu bandarilheiro. Dos nossos artistas, Theodoro Gonçalves collocou bem tres pares; Jorge Cadete metteu dois bellos pares, e Minuto embebeu no morrillo do quadrupede alguns ferros de merecimento. Quanto ao amador Salgado, não gostei hoje d'elle. Apanhando um dos melhores toiros do curro, não se salientou como podia e devia. Foi timorato e precipitado. Entrava em sorte quando não devia entrar; e deixou perder sortes por abuso de precauções. Como o senhor viu, um dos grupos dos forcados esteve infelicissimo; o outro portou-se bem. parece-me que é de Palmella. Aquella primeira pega de cara foi archi-superior. É uma das melhores que tenho visto. Que alma... e que pulso! Valente homem! É pena ser tão feio. Se fosse bonito, tinha conquistado mais d'um coração. Finalmente a direcção da corrida, confiada a Jayme Henriques, não podia ser melhor, e a philarmonica de Alhos Vedros fartou se de desafinar.

Ao dizer isto, a amavel aficionada deu entrada no vapor, dirigindo-se immediatamente para a camara, para repousar um pouco. Eu fiquei em cima, a fallar com alguns amigos. Discutia-se acaloradamente. Fallava-se de toiros, de cavallos de combate e da reforma do general Malaquias de Sá. Encostei me á amurada, e emquanto o vapor, cheio como umovo (ou um odre), rasgava as aguas, e eu via desapparecer, a pouco e pouco, a praça de toiros, onde, minutos antes, se tinha verificado um dos espectaculos, que mais emocionam a alma dos peninsulares, um amigo dizia--e com a voz tremula:

- Olha que o vapor traz duzentas pessoas a mais. Se ha uma pequena desordem, muita gente cae ao mar; se a machina tem o mais pequeno desarranjo, vamos todos para o charco. Isto é uma grande pouca vergonha. Receber gente a mais da lotação, é uma patifaria.

Disse e repetiu isto umas poucas de vezes, mas eu pouca attenção lhe dava. Estava pensando n'um caso bizarro e estranho. Quando Fernando de Oliveira embebeu o ferro no cachaço do seu segundo toiro, o tal macacão, eu vi distinctamente o animal menear tristemente a cabeça, como quem pede compaixão, e uma lagrima cair-lhe dos olhos grandes e doces. Naturalmente, lembrava-se das noites de luar, nas lezirias, em companhia de algum ente querido...


In TOIREIROS E TOIRADAS COM RETRATOS (com retratos), JOSÉ PAMPILHO (com prefácio de TRINDADE COELHO), M. GOMES EDITOR, Lisboa, 1896

1896 - O CAVALEIRO JOSÉ BENTO DE ARAÚJO É «UM ARTISTA INSIGNE E BOM RAPAZ»...




José Bento de Araujo

Um dos mais valentes e dos mais distinctos cavalleiros tauromachicos.

José Bento (de Araújo), que conta hoje 44 annos de edade, iniciou-se na arte de toirear n'uma vaccada realisada em 1874 na praça da Junqueira.

Pouco depois toireou em Sacavem e mais tarde em Lisboa, na demolida praça do Campo de Sant'Anna, onde trabalhou muitos annos ao lado de Manuel Mourisca e outros cavalleiros.

Em 1892 foi para França, toireando em Paris, Nimes, Avignon, Marselha e outras cidades. Tambem trabalhou, com agrado geral, em varias terras de Hespanha.

E no Campo Pequeno tem continuado a revelar as suas boas qualidades de toireiro e de equitador.

No Brazil, para onde partiu ha tempo com Alfredo Tinoco, tem enthusiasmado, com o seu trabalho artistico e alegre, a população do Rio de Janeiro.


É dotado d'uma coragem extraordinaria e para elle não ha cornupetos, que se não possam toirear. Farpeia com o mesmo saber e serenidade um toiro sencillo como um matuto, que já tenha vindo oito ou nove vezes ao redondel.

Entra e sae das sortes com toda a frescura e luzimento. Seguro nas sortes de gaiola, em todas as outras é eximio. Consentindo muito os toiros, os ferros são collocados como prescrevem os regulamentos taurinos. É, emfim, um bom toireiro, na verdadeira accepção da palavra.

Se como artista é insigne, como homem é o que se chama - um bom rapaz.

JOSÉ PINTO DE CAMPOS


In TOIREIROS E TOIRADAS COM RETRATOS (com retratos), JOSÉ PAMPILHO (com prefácio de TRINDADE COELHO), M. GOMES EDITOR, Lisboa, 1896