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PASSES... DE PEITO
A primeira corrida nocturna - Nem sol nem moscas - Tudo com somno - O pesadello do Jayme Henriques e o despertar do ultimo bicho - Touro é cada um em sua casa...
Com uma noite, menos do que agradavel, que estava a pedir cama como o Zé do sol pede á unha, realisou-se na quinta-feira a inauguração das corridas nocturnas no Campo Pequeno.
A corrida resentiu se da falta de sol, que só existe para os contratadores, e de moscas que se encontravam no queixo d'alguns cavalheiros que não rapam a cara completamente.
Os touros estavam todos perdidos de somno e parece que tinham passado a noite na Feira de Alcantara ingerindo copinhos de aguardente.
O primeiro, que se fartou de jogar a cabra cega com José Bento de Araujo, andou aos saltinhos e fez rir a assistencia a bandeiras despregadas, o que irritou o valente cavalleiro.
Com touros d'aquella maneira nan sará fácel fazer boa figura.
Macedo foi quem teve as honras da noite, principalmente no seu 2.º touro. Toureou com elegancia e serenidade espetando no seu sitio bons ferros, entre elles um largo e um curto á tira superior magnificamente rematado.
Tambem foi o que valeu para não nos deixar dormir, porque quanto ao resto da corrida estava a pedir chuva, assim como a noite.
A não ser uma boa gaiola de Thomé no 3.º touro, um par a sesgo de Cadete no 2.º touro que resultou magnifico, nada digno de menção merece registar.
Os maestros andavam a escabacear com o João Pestana.
Morenito pegando na moleta andou de combinação com o bruto a dançar o chifarote inglez, com um sarilho de pernas, que até mettia n'um chinello o actor Raul Soares no tem tem, bate o maio...
Relampaguito lá fez mais alguma coisa, porque estava com insomnias. No 7.º touro deu uns capotazos consentindo a rez e não se desmanchando, o que lhe valeu algumas palmas da somnolenta assistencia.
Pegando en los palos os maestros deram-nos a ideia dos amadores da Praça de Algés no ultimo touro das corridas. Tanto Moreno como Relampago collocaram ferragem trazeira e pretendendo cambiar, falharam a sorte de todas as vezes; verdade seja que a maior responsabilidade deve recahir sobre os maletas que os acompanhavam.
Estes marmellos pescavam tanto de touros como o Mendonça e Costa de litteratura.
Emquanto o Jayme Henriques passava pelo somno, começaram a pedir forcados e o intelligente acordando sobresaltado manda os homens do barrete para o ultimo touro.
O forcado José Maria Neves fractura uma perna e o ??? a esfregar os olhos, para afugentar o pesadêllo.
Em duas linhas: touros na maioria ruins, toureiros com vontade de dormir e espectadores com vontade de ir para o seio da familia.
A um ouvimos nòs todo irritado.
- Ora adeus! Touro é cada um em sua casa com a mulher e o seu priminho Alfredo, tenente de cavallaria!...
... E chamava se Cornelio Xavier o raio do homem!...
REI LUSO
In O XUÃO, Lisboa - 2 de Junho de 1910